O antropólogo Márcio Meira, fotografado por Marcello Casal Jr., da Agência Brasil
por Luiz Carlos Azenha
Tive a sorte de crescer, repórter-menino em Bauru, frequentando a TI Araribá, dos Terena, Kaingang e Guarani, onde então trabalhava um dos irmãos Villas Boas, Álvaro, frequentemente visitado por Orlando e Cláudio. Bauru é marco zero da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que liga a cidade a Corumbá, em Mato Grosso. Dá para imaginar quantos indígenas foram mortos na “conquista do Oeste” brasileiro?
Muito mais tarde me assustei, já como correspondente nos Estados Unidos, com a riqueza e a miséria dos grandes territórios indígenas do Oeste, especialmente numa viagem de automóvel que fiz de Phoenix, no Arizona, a Salt Lake City, Utah. O curioso é que coisas que ouvi lá, faz tempo, frequentemente continuo a ouvir aqui em relação aos indígenas. Ouvir e ler.
Num texto que caberia numa ação de lobby da Norte Energia, a empresa que constrói Belo Monte, o jornal Valor Econômico se assustou com a lista de reivindicações dos indígenas (pobre Norte Energia, né mesmo!) e acrescentou uma frase que resume um misto de condescendência e indignação editorial.
Agora, segundo o jornal, está na hora de os indígenas desistirem das reivindicações e “passar a cuidar de suas roças de milho e mandioca, da pesca, das crenças e do artesanato”.
Acompanhem o trecho do texto:
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Mas, pera aí: os Navajo, os Sioux e os Cheyenne podem comprar tratores, cobrar por visitas a seus santuários ecológicos, defender seus direitos e cuidar de suas terras nos Estados Unidos como bem quiserem, mas os indígenas brasileiros, não?
Não podem negociar compensações, como a instalação de torres de telefonia celular?
Quer dizer que a Joênia Wapixana, que defendeu brilhantemente os indígenas da Raposa Terra do Sol no Supremo Tribunal Federal, não pode se formar advogada a não ser que cultive uma roça de milho?
Foi este o tema do início de minha entrevista com o antropólogo Márcio Meira, ex-presidente da Funai, quando tratamos de questões relevantes para os indígenas brasileiros, hoje.
Como foi uma longa entrevista, vamos apresentá-la em partes:
Na segunda parte, Márcio Meira propõe uma solução para a crise entre os Guarani Kaiowá e os fazendeiros em Mato Grosso do Sul e diz que os indígenas foram vítimas de “terrorismo informativo” no estado:
Clique aqui para a segunda parte
Na terceira parte, Márcio Meira fala de outra situação dramática: a dos Xavante de Marãiwatsédé
Clique aqui para a terceira parte
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