23 ex-moradores do Pinheirinho farão exame de corpo de delito; número de feridos é maior
por Conceição Lemes
O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe-SP) promoveu na última segunda-feira, 30, um mutirão com moradores despejados do Pinheirinho, em São José dos Campos. Integrantes de movimentos sociais, entidades de direitos humanos e parlamentares participaram.
“Foram coletados depoimentos de 507 pessoas; 23 tinham marcas no corpo causadas por ferimentos de balas de borracha, estilhaços de bomba, cassetete de borracha e até agressões físicas e quiseram depor”, acusa Renato Simões, conselheiro do Condepe, onde representa o movimento nacional de direitos humanos. “Já protocolamos esses 23 casos na Delegacia Seccional de São José dos Campos, pedindo inclusive o exame de corpo de delito de todos.”
Mas o número de pessoas feridas na reintegração de posse do Pinheirinho, em 22 de janeiro, é maior.
Primeiro: entre essas 507 pessoas, algumas, apesar de terem marcas no corpo em função da operação policial, não quiseram formalizar queixa.
Segundo: o conjunto das 507 pessoas pesquisadas não inclui dois universos bastante importantes.
Um é o das famílias que não aceitaram ir para os abrigos, para não ficar sob a tutela policial, entre outros motivos. Foram para a casa de parentes, conhecidos. Boa parte das lideranças do movimento não está nos abrigos.
Outro universo ainda não pesquisado é o do Campo dos Alemães, bairro vizinho ao Pinheirinho, onde há centenas de casas. Muitos dos seus moradores saíram às ruas para saber o que estava acontecendo e apanharam também da Polícia Militar e da Guarda Civil Municipal.
“A violência foi generalizada não só contra os ocupantes do Pinheirinho, mas contra quem estava nas ruas do Campo dos Alemães. A polícia ‘fechava’ a rua e vinha batendo em que estivesse pela frente”, relata Simões. “Sobrava gente correndo pra todo lado. Tinha casa que abria a porta para o pessoal entrar. Tinha casa que não abria. Tinha gente que pulava muro para se esconder no jardim…Parecia época ditadura militar.”
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Detalhe: nenhuma dessas denúncias era do conhecimento da Delegacia Seccional. Pelo menos foi o que disse o delegado seccional assistente à comissão do Condepe que o visitou.
Na verdade, até segunda-feira passada, do ponto de vista das vítimas só havia dois inquéritos abertos pela polícia de São José dos Campos.
Um, referente à prisão de Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem-Teto (MTST). Guilherme foi preso por dano ao patrimônio e denunciou a polícia por violência contra ele e abuso de autoridade.
O outro diz respeito ao caso de David Washington Furtado, ex-morador do Pinheirinho, baleado pelas costas pela Guarda Civil Municipal (GCM).
“O inquérito do David é um vexame; na segunda-feira, ele ainda não tinha sido ouvido nem feito exame de corpo de delito”, prossegue Simões. “Apenas na terça-feira — nove dias depois de ele ter sido baleado! –, determinaram a apreensão das armas envolvidas naquela operação. E isso porque nós fomos lá, se não nem isso teria sido feito.”
Em tempo: A reintengração de posse ficou a cargo da Polícia Militar e da Guarda Civil Municipal (GCM). A polícia civil de São José dos Campos não foi avisada, ficou de fora da operação. Só soube dela volta de 9 horas do próprio domingo, dia da desocupação, quando a imprensa começou a noticiar.
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