Saul Leblon: Golpismo age como se não houvesse amanhã

Tempo de leitura: 3 min

por Saul Leblon, em Carta Maior, sugestão de FrancoAtirador

Carlinhos Cachoeira e seu ubíquo braço-direito, o araponga Dadá, não estão mais à solta para emprestar artes e ofício às reportagens’ e ‘denúncias’ programadas por Veja. Quase não se nota. Se o plantel perdeu talento específico, o engajamento na meliância política ganhou em arrojo e sofreguidão. A constelação de colunistas que orbita em torno daquilo que Veja excreta arregaçou mangas e redobra esforços.

A afinação do jogral não deixa dúvida sobre o alvo mais cobiçado, como mostra a meticulosa análise de Marco Aurélio Weissheimer (leia aqui)

O troféu da vez é Lula, não a pessoa, mas o símbolo de uma barragem que reordenou a política brasileira criando espaço à ascensão do campo popular.

Buliçosos escribas do jornalismo isento sugerem nesta 2ª feira que podem superar as mais dilatadas expectativas na caça ao tesouro. As postagens do colunismo amigo de Demóstenes Torres –outro centurião da linha de frente abatido sem deixar vácuo– sugerem a travessia de um Rubicão.

O conservadorismo age como se não houvesse amanhã. A crise econômica não destruiu o governo do PT e o país retoma o crescimento neste 4º trimestre. Então, é agora ou nunca.

Com a ajuda das togas que atiçam o linchamento contra o partido no STF, a mídia demotucana arranca uma escalada preventiva vertiginosa. Comete-se de forma explícita aquilo que até mesmo Dadá e Cachoeira teriam pejo em praticar desguarnecidos das sombras: a chantagem ancorada em ‘provas’ improváveis, mas tornadas críveis através do incessante centrifugador de carniça de quatro hélices: Veja-colunistas- bancada demotucana-Procuradoria geral da República.

No manuseio dessa engrenagem exibem o que sabem fazer melhor: regurgitar guerra política travestida de jornalismo; incorporar denúncias palatáveis à heterodoxia jurídica; arredondar a massa informe em escândalo e criminalização de forças e lideranças que não derrotam na urna há três eleições presidenciais.

Nas últimas 72 horas uma não-entrevista do publicitário Marcus Valério a Veja, talvez pela pífia credibilidade e repercussão do meio e da mensagem, transformou-se em ‘entrevista gravada’ –mas cujo áudio a revista ‘estuda’ se vai liberar’, avisam os relações públicas do comboio em marcha.

Ato contínuo, o renitente vácuo de credibilidade é ocupado pelo anúncio da existência de um suposto vídeo, ‘de 4 cópias’ (sempre é oportuno um detalhe para granjear confiabilidade à impostura) em que um desesperado Marcus Valério faria revelações para divulgação imediata –‘ caso sofra um atentado’, acena um operador da usina de carniça midiática, exalando o odor característico que o inebria.

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Claro, o indefectível procurador Roberto Gurgel está disponível para dar uma pala, emprestando glacê jurídico aos fuzarqueiros do golpismo; porém, evocando parcimônia: ‘só’ posteriormente ao julgamento em curso no STF, as denúncias de Valério contra Lula –negadas pelo próprio e por seu advogado, até segunda ordem– poderão, eventualmente, ser examinadas pelo ministério público.

No fecho do rally desta segunda feira, o PSDB e seu rodapé gasto, Roberto Freire, ‘exigiam’ que Lula se pronunciasse sobre a maromba desatada. Esse é o idioma político adotado pelo dispositivo midiático conservador –que recebeu 70% da publicidade federal do governo Dilma– a dois anos da sucessão de 2014. A ver.

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