O DIREITO DE SABER
editorial de O Globo, 14.12.1989, véspera do segundo turno entre Fernando Collor e Lula
O povo brasileiro não está acostumado a ver desnudar-se a seus olhos a vida particular dos homens públicos.
O povo brasileiro também não está acostumado à prática da Democracia.
A prática da Democracia recomenda que o povo saiba tudo o que for possível saber sobre seus homens públicos, para poder julgar melhor na hora de elegê-los.
Nos Estados Unidos, por exemplo, com freqüência homens públicos vêem truncada a carreira pela revelação de fatos desabonadores do seu comportamento privado. Não raro, a simples divulgação de tais fatos os dissuade de continuarem a pleitear a preferência do eleitor. Um nebuloso acidente de carro em que morreu uma secretária que o acompanhava barrou, provavelmente para sempre, a brilhante caminhada do senador Ted Kennedy para a Casa Branca – para lembrar apenas o mais escandaloso desses tropeços. Coisa parecida aconteceu com o senador Gary Hart; por divulgar-se uma relação que comprometia o seu casamento, ele nem sequer pôde apresentar-se à Convenção do Partido Democrata, na última eleição americana.
Na presente campanha, ninguém negará que, em todo o seu desenrolar, houve uma obsessiva preocupação dos responsáveis pelo programa do horário eleitoral gratuito da Frente Brasil Popular de esquadrinhar o passado do candidato Fernando Collor de Mello. Não apenas a sua atividade anterior em cargos públicos, mas sua infância e adolescência, suas relações de família, seus casamentos, suas amizades. Presume-se que tenham divulgado tudo de que dispunham a respeito.
O adversário vinha agindo de modo diferente. A estratégia dos propagandistas de Collor não incluía a intromissão no passado de Luís Inácio Lula da Silva nem como líder sindical nem muito menos remontou aos seus tempos de operário-torneiro, tão insistentemente lembrados pelo candidato do PT.
Até que anteontem à noite surgiu nas telas, no horário do PRN, a figura da ex-mulher de Lula, Miriam Cordeiro, acusando o candidato de ter tentado induzi-la a abortar uma criança filha de ambos, para isso oferecendo-lhe dinheiro, e também de alimentar preconceitos contra a raça negra.
A primeira reação do público terá sido de choque, a segunda é a discussão do direito de trazer-se a público o que, quase por toda parte, se classificava imediatamente de ‘baixaria’.
É chocante mesmo, lamentável que o confronto desça a esse nível, mas nem por isso deve-se deixar de perguntar se é verdadeiro. E se for verdadeiro, cabe indagar se o eleitor deve ou não receber um testemunho que concorre para aprofundar o seu conhecimento sobre aquela personalidade que lhe pede o voto para eleger-se Presidente da República, o mais alto posto da Nação.
É de esperar que o debate desta noite não se macule por excessos no confronto democrático, e que se concentre na discussão dos problemas nacionais.
Mas a acusação está no ar. Houve distorção? Ou aconteceu tal como narra a personagem apresentada no vídeo? Não cabe submeter o caso a inquérito. A sensibilidade do eleitor poderá ajudá-lo a discernir onde está a verdade – e se ela deve influenciar-lhe o voto, domingo próximo, quando estiver consultando apenas a sua consciência.
PS do Viomundo: Isso do império de comunicações que deslocou uma funcionária para a Espanha para não criar embaraços à carreira política de um aliado, quando a jornalista engravidou. Soubesse, depois, que o filho não era do líder político, embora ele tenha assumido a criança.
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26 comentários
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Alexandre Colisse
29 de novembro de 2012 às 19h46Um pequeno e singelo conselho a todos aqui, com muito respeito a cada comentário feito, pois não sou dono da verdade…..política não é futebol, não torçam por seus lados políticos, avaliem o que é feito e o resultado de seus governos.
A Mídia e a Grande Imprensa tem o poder de usar as polaridades partidárias e extrair para seu uso o benefício de manipular as opiniões e os governos.
Nós somos o “Povo” e temos o poder absoluto, só não acordamos para isso, pois estamos dispendendo nossa atenção nas brigas partidárias e não prestamos atenção ao redor, no que acontece enquanto estamos distraídos….
Jair Orichio Junior
29 de novembro de 2012 às 19h00Eu já falei isso aqui e vou repetir. O que nós escrevemos e lemos aqui, não muda em nada a opinião da Globo, pois ela vai se rastejar por milênios, para quem pagar para ela…Como por ironia, O Governo Federal destina 60% das verbas de comunicação para as Organizações Globo, por que eu não sei…!!! Ela nem se preocupa em atacar dia e noite o Governo, pois sabe que quando o PSDB voltar ela vai voltar a receber 75% da verba… Logo, ela nunca perde…
Douglas Maia
04 de janeiro de 2015 às 20h24É amigo, mas essa mamata da globo está acabando viu, primeiro que o governo já cortou todas as propagandas dos bancos e projetos públicos lá, era onde eles lucravam muito, e agora com esse novo ministro das comunicações realizando o controle midiático no país, se ainda não percebeu, mas eles (PSDB) já estão desesperados lá no planalto! Querendo armar algo para impedir….
Ribas
29 de novembro de 2012 às 16h00Discordo do PS do Viomundo. O motivo de a Globo ter “escondido” sua funcionária não foi para evitar embaraços para FHC. A minha teoria para essa trama é que a Globo usou da situação e/ou da própria jornalista, para controlar, manter sob ameaça, o vaidoso e talvez até ingênuo (no que se trata de relacionamentos amorosos) FHC. Essa teoria passa a ser ainda mais plausível, agora que ficou provado que o filho da jornalista não é filho biológico do ex-presidente.
Robinson Damasceno dos Reis
29 de novembro de 2012 às 14h06Azenha: seja mais correto.Você bem sabe que a tal funcionária do GLOBO e o tal canditato já sabem há anos que o filho da moça não é do ex-presidente FHC. Ele assumiu assim mesmo, mas, biologicamente e na questão sexual e amorosa não é pai do garoto.Portanto,complemente seu texto. Aliás, seu não: do GLOBO.
valderli f
29 de novembro de 2012 às 15h34Engraçado este rapaz. A questão era se houve ou não a traição, que foi “devidamente” abafada pela grande midia (ao conrário do que foi feito com Lula). Se o exame de DNA deu negativo, significa que alem de traidor ele foi traido. FHC é sim símbolo de uma “pseudo-elite” cretina, que não consegue aceitar a situação atual demelhoria nas classes menos favorecidas.
João Brasileiro
29 de novembro de 2012 às 11h16Marcos André Lessa e demais crentes do PIG,
Collor não está sendo elogiado agora só porque é aliado do Governo Petista. Muito pelo contrário!!!
Ele recebe elogios por parte de quem defende o Governo Petista, agora, porque ele, Collor, está a favor do Brasil e do Povo Brasileiro!!
Antes, enquanto candidato e depois de ser eleito, ele estava contra o Brasil e contra o Povo Brasileiro, por isso ele recebeu críticas, naquela época!! Mas, era o queridinho do PIG!!
Hoje, ele é o DEMÔNIO para o PIG exatamente porque ele está a favor do Brasil e do Povo Brasileiro!!
Em outras palavras, ele está a favor de vocês, seus pais e dos seus filhos!!!
Não fiquem contra vocês!!
Um abraço!
Robinson Damasceno dos Reis
29 de novembro de 2012 às 14h09Pobre Marcos André!Até que ponto pode chegar a estupidez de um sicário obsidiado como este sujeito?
H. Back™
29 de novembro de 2012 às 11h13São as agruras dos cargos públicos. E quem se submete a um cargo público deve saber disso, mas que fique bem claro, essa norma tem que valer para todos.
Marcos André Lessa
29 de novembro de 2012 às 09h34E agora vocês pegam leve com o Collor porque ele é aliado do Governo… Que coisa, hein?
Antonio Lyra Filho
29 de novembro de 2012 às 10h38NÃO COLLOR ESTA SENDO CORAJOSO EM DIZER A VERDADE
Valdeci Elias
29 de novembro de 2012 às 12h55Leia ” A Privataria Tucana”, pra saber em qual governo o Brasil perdeu mais. Se no governo de Collor ou o de FHC ?
Ao menos collor teve alguma punição , já FHC é protegido pelo Ministério Publico e pela imprensa.
Mardones Ferreira
29 de novembro de 2012 às 09h24Só mesmo a falta de políticos corajosos para permitir que empresas como a Globo, Veja e a Folha de São Paulo continuem se autoproclamando representantes da opinião pública nacional, da ética, moralidade e qualquer coisa boa que o valha.
Houvessem mais senadores como o Requião – com todos os seus defeitos – o Brasil teria mais embates necessários sobre a necessidade de um contraponto a essa imprensa vendida.
Carlos Cruz
29 de novembro de 2012 às 10h57Coragem… Leonel Brizola, alguem lembra?
Caracol
29 de novembro de 2012 às 14h16O tempo todo, Carlos.
Colunista diz que é válido questionar vida pessoal de Lula no caso Rosemary « Viomundo – O que você não vê na mídia
29 de novembro de 2012 às 08h42[…] PS do Viomundo: É casado? Tem filhos? Quando é o Lula tudo vale, como nos lembra este editorial de O Globo… […]