Max Arveláiz: Conheçam a Venezuela

Tempo de leitura: 3 min

TENDÊNCIAS/DEBATES

Conheçam a Venezuela

por Maximilien Arveláiz*, na Folha

A mídia brasileira não admite a nossa plena democracia, apoia a oposição e ataca Chávez com adjetivos elitistas de quem não conhece o país, como ‘populista’

Quando amanheceu o dia 8 de outubro, os venezuelanos puderam se sentir orgulhosos. Nosso sistema eleitoral, automatizado e seguro, foi respeitado por governo e oposição, acompanhado por entidades e personalidades internacionais e considerado o melhor do mundo pelo ex-presidente americano Jimmy Carter.

Nossa população, numa demonstração de consciência e politização, compareceu em massa às urnas desde a madrugada até que votasse a última pessoa na fila, já de noite. Alcançamos mais de 80% de participação do eleitorado em um país onde o voto não é obrigatório. Não se pode ignorar: a Venezuela é exemplo de democracia para o mundo.

Diante de tudo isso, constrange a forma com que os meios de comunicação internacionais, dentre os quais os brasileiros têm relevância, custam a enxergar a existência de uma democracia consolidada na Venezuela.

Seja por puro desconhecimento da realidade do nosso país, seja em união a uma campanha internacional contra os avanços da revolução bolivariana, a mídia privada brasileira fez uma cobertura desequilibrada do processo eleitoral no país.

É claro que utilizo aqui o recurso da generalização. Mas, numa leitura rápida das notícias, salta aos olhos o apoio deliberado da mídia pela oposição e a tentativa sistemática de deslegitimar o processo revolucionário em curso na Venezuela.

Grande parte das reportagens e editoriais priorizou ressaltar as críticas ao governo Chávez, deu exagerada importância a uma minoria de pesquisas que apontavam o empate ou a vitória de Henrique Capriles e ainda alardeou um caos político que viria da não aceitação do resultado das urnas por parte do governo, supostamente, “ditatorial” de Chávez.

Ainda mais graves foram as teses que tentavam buscar explicações para os mais de 8 milhões de votos a favor da reeleição de Hugo Chávez, como se não fosse nada menos do que natural a vitória do candidato que proporcionou uma série de mudanças positivas na vida dos venezuelanos, tendo reduzido à metade a pobreza extrema nos últimos 13 anos.

O favoritismo de Chávez foi creditado primeiro a um “populismo” do presidente “caudilho” e depois ao suposto uso da máquina pública e abuso de tempo de propaganda televisa. Tal análise, elitista e preconceituosa, pressupõe que a população, passiva e despolitizada, troca votos por casas, comidas e eletrodomésticos -o que é facilmente desconstruído com uma visita ao país.

Mais do que comparecer às urnas toda vez sempre (entre eleições e referendos, já aconteceram 16 pleitos desde que Chávez chegou ao poder), os venezuelanos, incentivados pelo presidente Chávez, constroem a cada dia mecanismos de participação direta na vida política do país.

O mais importante deles são os Consejos Comunales, microgovernos construídos no interior das comunidades, compostos e geridos por moradores. Se há um povo despolitizado e passivo, não é o nosso.

A liberdade de expressão, imprescindível na democracia, também é facilmente constatável. Os principais jornais da Venezuela hoje, o “El Nacional”, o “El Universal” e o “Últimas Noticias”, são claramente simpáticos à oposição e circulam sem qualquer censura ou boicote. Quadro similar se dá na TV e no rádio.

O que não foi divulgado em quase nenhum meio de comunicação internacional é que Capriles, cuja família é dona de uma cadeia de comunicação, teve, segundo estudo do Centro de Análise e Estudos Estratégicos Aluvión, mais tempo de propaganda eleitoral na televisão privada do que Hugo Chávez. A propaganda do presidente ocupou apenas 12% do tempo nos meios privados. A do candidato da oposição, 88%.

Vencer o desconhecimento sobre o que ocorre na Venezuela é hoje nosso maior desafio. Por isso, transmito o convite feito pelo presidente Hugo Chávez em coletiva de imprensa aos meios de comunicação nacionais e internacionais logo depois de votar: “Aos que queiram ver uma democracia pujante, sólida e madura, venham à Venezuela”. Torço para que venham livres de preconceitos e dispostos a enxergar as verdadeiras razões pelas quais Hugo Chávez foi reeleito com 55,25% dos votos.

*MAXIMILIEN ARVELÁIZ, 39, é embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Brasil

PS do Viomundo: Uma das coisas que me encantaram na Venezuela foi ligar a TV e ouvir gente defendendo o governo e trocar de canal e ver gente criticando o governo. O mesmo vale para os jornais. Neste sentido, a mídia venezuelana é plural. E naquela terrível “ditadura” os eleitores podem usar o instituto do recall depois do cumprimento da metade do mandato de qualquer governante.

Leia também:

Paulo Moreira Leite: Quem não tem voto diz que eleitor está cansado

Amauri Teixeira: ACM Neto diz que é de seu avô o Bolsa Família criado por Lula

Obscurantismo faz ‘esquecer’ excelente vídeo educativo

Lentes da mídia turvam a mente do PSDB

O apoio de Marina a Márcio Pochmann, em Campinas

O Globo, Lula e a próxima “dedução elementar” no caso do mensalão

Gil apoia PT. Caetano fica com ACM Neto

Soninha, possuída, xinga Haddad em blog

Tucanos criam site falso de Haddad

Kotscho: Globo pagou pelo Datafolha mas não divulgou

Zé Dirceu: JN cola cobertura do mensalão na propaganda eleitoral do PT


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Leandro Fortes: Hugo Chávez, meu ditador preferido « Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Max Arveláiz: Conheçam a Venezuela […]

lia vinhas

Aos moradores da cidade do Riio de Janeiro, comunico que está programada para esta quarta-feira, dia 24, às 18,30hs, uma palestra do Consul da Venezuela. Certamente haverá muitos esclarecimentos sobre a realidade do país e as últimas eleições, para as quais o PIG brasileiro, que se imiscue nos assuntos internos de todos os demais países, vaticinava a vitória da direita e inclusive a morte de Chavez antes do pleito. Levaram mais uma paulada, mas não aprendem.

Jair de Souza

Para mim, está mais do claro que o embaixador está simplesmente fazendo um exercício de argumentação ao dizer que nossos meios de comunicação corporativos (também conhecidos como “máfia midiática”) divulgam uma visão tergiversada da Venezuela por falta de conhecimento. Logicamente, existe muita falta de conhecimento sobre a Venezuela entre os usuários desses meios, mas não entre os que os produzem. Os donos e os editores de nossos órgãos máfio-midiáticos sabem muito bem qual é a realidade vivida pelo povo venezuelano.

A razão básica para a prática da tergiversação se fundamenta nos interesses de classe que os representantes da máfio-midiocracia defendem, os quais nada têm a ver com aquilo que o governo bolivariano da Venezuela vem pondo em execução desde que assumiu em 1999.

Conforme já mencionei em outras oportunidades, na política, não há certo ou errado de modo absoluto. Tudo depende da posição social com a qual nos identificamos. Os donos dos órgãos máfio-midiáticos e seus editores não precisariam mentir nem falsificar nenhum dado sobre a Venezuela atual para se convencerem de que o “regime” (como eles gostam de chamá-lo) que lá existe é péssimo, dos piores imagináveis. Não poderia ser diferente. Para os que entendem que o Estado deve estar a serviço dos grupos oligárquicos minoritários, é completamente inadmissível que um governo se dedique a distribuir as principais riquezas do país de modo a favorecer as maiorias humildes. Já para essas maiorias humildes, por sua vez, um governo desse tipo tem outra valorização.

Se mesmo atendo-se às verdades os proprietários dos meios corporativos e seus chefes de redação (e toda a claque que gosta de ser-lhes subservientes) têm motivos de sobra para considerar que o atual governo da Venezuela é horroroso, por que eles se dedicam tanto a mentir e tergiversar? É que esses meios não funcionam para informar (ou desinformar) àqueles que sobejamente têm motivos para condenar esse tipo de governo. O interesse real é ganhar para seu bando amplos setores de gente que, concretamente, nada teria a temer de um governo como o de Hugo Chávez. Mais especificamente, o objetivo principal é ganhar o apoio das camadas médias da população.

Na Venezuela (assim como no Brasil, No Equador, na Argentina, etc.), as camadas médias só tiveram ganhos com a atuação do governo de Hugo Chávez até agora. Foi o governo de Chávez que pois fim ao sistema de juros indexados que arrebentava com a classe média, foi o governo de Chávez que interveio no mercado da construção imobiliária para obrigar que as construtoras cumprissem seus compromissos com os compradores de imóveis na planta (quase todos eles de classe média), o governo de Chávez tomou medidas para impedir aumentos abusivos nas mensalidades das escolas particulares, nos planes de saúde privados, etc.

Então, para contar com essa gente do seu lado, os meios de comunicação das oligarquias não podem depender da verdade. Eles precisam explorar os preconceitos antipobre que se encontram sedimentados nas camadas médias. É preciso fazer com que as camadas médias se sintam ameaçadas pela ascensão dos mais humildes. É por isso que esses meios mentem e tergiversam descaradamente. As oligarquias sempre têm muitos recursos econômico, mas não dispõem de número humano suficiente para causar soçobra social apenas com seus integrantes. Como eles têm muita dificuldade para conquistar o apoio das maiorias trabalhadoras (devemos reconhecer que, em algumas ocasiões, eles conseguem isso), utilizam seus meios de comunicação para envenenar a mente da classe média.

Precisamos reconhecer a importância do trabalho de conscientização das camadas médias, de fazer com que entendam que só têm a ganhar com a melhoria de vida dos setores humildes (mais médicos, mais professores, mais engenheiros, mais todo tipo de profissionais de serviço). Não é uma tarefa fácil. O nível de seus preconceitos antipovo não é fácil de ser reduzido. É sempre muito mais fácil instigar esses preconceitos com slogans incendiários curtos e repetitivos do que introduzir consciência racional nessas pessoas. Mas, a tarefa está aí, e precisa ser executada.

    Jair de Souza

    Queiram ler “foi o governo de Chávez que pôs fim”. Obrigado.

maria ferreira

Diz o Embaixador
”Seja por puro desconhecimento da realidade do nosso país, seja em união a uma campanha internacional contra os avanços da revolução bolivariana, a mídia privada brasileira fez uma cobertura desequilibrada do processo eleitoral no país.”

Mas nao é só a mídia privada. Como aceitar que dois ex-embaixadores brasileiros desdenhem de presidente numa rede de televisao? É aceitável que um deles seja responsável pela área de estudos internacionais de uma grande e cara Faculdade de Sao Paulo? Sim, isto eu vi ontem no programinha do Willian Waack. Talvez esses dois senhores ainda pensem que a populacao ficou estagnada desde os tempos em que eram ministros do FHC.

Mariac

Que tal fazermos mais turismo na Venezuela?

    Andreia

    Tô nessa. Acho que nem precisa de visto, né? Quero chegar a minhas próprias conclusões.

Roberto Locatelli

O “recall” ou referendo revocatório é simplesmente SENSACIONAL. Depois de metade do mandato cumprido, a oposição pode convocar um plebiscito para a população dizer se aprova ou não o Governo. Caso a resposta seja NÃO, o mandato do presidente é imediatamente revogado e novas eleições são convocadas.

Será que Obama teria coragem de implantar isso nos EUA? Será que a oposição brasileira teria a coragem de propor isso, em nível federal E TAMBÉM ESTADUAL E MUNICIPAL? Será?

Marcio H Silva

No seu PS creio que voce esqueceu de citar que lá a urna é eletrônica, mas vomita um papelzinho que o eleitor deposita numa urna tradicional. Caso haja dúvidas/divergencias partem para a contagem manual. Muito diferente de nossa urna tupiniquim….

Willian

Só tem comunista na Folha.

P.S. Como sai artigo do PIG em Viomundo.

    Luiz (o outro)

    E como esse pessoal da direita é bobinho…

Deixe seu comentário

Leia também