Mauricio Dias: Infraero contesta relatório que embasou decisão sobre privatização
Tempo de leitura: 3 minpor Mauricio Dias, em CartaCapital
Uma reação grevista contra a privatização de aeroportos, nos dias 20 e 21, inicialmente de pequena expressão política, mobilizou funcionários da Infraero nos três primeiros terminais, Guarulhos, Brasília e Viracopos, marcados para a privatização.
O movimento pode ter um conteúdo corporativista. Tem também o colorido de uma reação política a uma decisão política do governo. Mas é, inegavelmente, marcado igualmente por preocupações concretas com o que parece ser, desde o início, um jogo de cartas marcadas. Essa denúncia está embutida na manifestação formal do conselho de administração da Infraero em relação ao relatório da McKinsey & Company, sobre o setor de Transporte Aéreo do Brasil, ao falar a respeito dos operadores e investidores em infraestrutura que foram ouvidos e que, afinal, sustentou a decisão sobre a privatização.
O colunista teve acesso ao documento e selecionou alguns trechos:
“A seleção feita pela consultora não resiste à análise técnica; constou apenas de grupos interessados na privatização dos aeroportos lucrativos da Infraero”.
Diz a contestação da Infraero que a consultora “Não recorreu à experiência de grandes operadores europeus e americanos” talvez “porque sejam controlados pelo Poder Público”. E dá exemplos: Fraport, de Frankfurt, Aena, de Madri e Barcelona, além do JFK, de Nova York, entre outros.
Não por acaso, portanto, a McKinsey atesta a eficiência da Infraero: “De fato, o Brasil possui boa cobertura de infraestrutura e de malha aérea e, comparado aos padrões internacionais, o País não apresenta déficit de intensidade de utilização do modal…”.
O documento faz referência ao crescimento vertiginoso do setor aéreo (tabela) e constata que o mercado brasileiro “ainda é incipiente”, mas, segundo a Infraero, “deixa de criticar a redução do número de localidades atendidas pelas empresas aéreas”, que caiu de 189, em 1999, para 130, em 2010.
O relatório transita pela necessidade de investimentos, que, diante das restrições da crise internacional, pode ter empurrado mais rapidamente a presidenta Dilma para a decisão privatista:
“Mantido o crescimento histórico da demanda, o País teria de adicionar até 200 milhões de passageiros/ano em capacidade até 2030, ou seja, seria necessário construir infraestrutura comparável a, aproximadamente, nove aeroportos de Guarulhos no período”.
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Nas condições atuais, diz o documento, a Infraero necessitaria de transferências do Tesouro para realizar os investimentos planejados: cerca de 2 bilhões de reais por ano, nos próximos
“A consultora afirma que as receitas comerciais flutuam entre 20% e 25% do total de suas receitas operacionais, sendo inferior à media mundial, que seria de 40%. Constata-se que ela computou (…) aquelas oriundas das atividades de armazenagem e capatazia e de navegação aérea, que, geralmente, não fazem parte dos negócios sob administração da maioria dos aeroportos do mundo”.
Subtraídos esses valores da Receita Operacional, a participação das receitas comerciais da Infraero alcança 45% (tabela), porcentual dentro da média mundial.
Nos comentários, a Infraero conclui que “a parcialidade” do estudo da empresa McKinsey compromete a utilização dele “como referencial para a tomada de decisão quanto ao modelo institucional do setor”. Foi inútil.
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