Dr. Rosinha: “Rua Delegado Fleury, torturador e matador”

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Contestação a nomes de ruas, avenidas e praças [2]

Dr. Rosinha, especial para o Viomundo
No dia 30 de outubro, o Viomundo publicou (e agradeço muito) o artigo Contestação a nomes de ruas, avenidas e praçasde minha autoria. O texto teve uma repercussão acima do esperado, ou pelo menos do esperado por mim. Foi um texto de “protesto”, ainda que insuficiente em todos os sentidos. Protesto ao insuficiente ensino de história em nosso país e à maioria dos parlamentares, vereadores e deputados estaduais, que dão aos logradouros públicos nomes de figuras de biografia questionável. Não esqueço que prefeitos, governadores e presidentes também nomeiam praças, ruas, avenidas, jardins, viadutos, etc.
Ao mesmo tempo que o artigo era um “protesto”, também foi escrito de maneira despretensiosa, como uma reflexão, vamos dizer, um inconformismo com relação a certas homenagens e certos homenageados.
Em certa ocasião, um amigo me contou que, caso fosse indicado para receber a homenagem de determinada Assembleia Legislativa, teria dúvidas em aceitar ou não. Citou duas razões: a qualidade dos homenageados até aquele momento e a qualidade de quem oferecia a homenagem. Nada comentei, mas alguma razão ele tinha.

Meu artigo recebeu 24 comentários, muitos deles críticos, não ao artigo em si, mas às figuras históricas que emprestam nome a certos logradouros. Como por exemplo o delegado-torturador Fleury e o ex-presidente Floriano Peixoto. Um bom número das criticas, merecidamente, foi dirigida aos homenageados “jornalista” Roberto Marinho e “jornalista” Maurício Sirotsky Sobrinho.

Também houve contribuições sobre a Guerra do Contestado.

Não sou historiador, portanto o que escrevo é de ouvir falar (a chamada “história oral”), ler e sentir. Por muitos anos houve silêncio sobre a Guerra do Contestado. Pouco se falava e pouco se escrevia. José Maria Tardin, que não é o “monge” da guerra, mas sim ex-prefeito de São João do Triunfo, Paraná, interessou-se, quando ocupou o cargo, por buscar a história do Contestado entre os remanescentes de famílias de lá que tinham migrado para seu município. Segundo conta, ninguém queria falar sobre a guerra. Os poucos que falavam se diziam com medo de serem perseguidos.

De todas as contribuições ao meu texto, comento duas. Ernani Mundstock escreveu que na Guerra do Contestado pela primeira vez o avião serviu como máquina de guerra. Sim, mas apenas para reconhecimento de terreno. Parte desta história, e deste avião, está exposta no Museu Paranaense.

Hildermes José Medeiros afirmou ser importante uma revolução cultural, a fim de “banir aqueles sem qualificação para receber qualquer homenagem em nome do povo brasileiro”. Cita ele alguns nomes da história do Brasil. Para ele, para mim e para muitos, essas figuras não merecem a homenagem, mas aqueles que a ofereceram certamente entenderam diferente. O que fazer?

Creio que, primeiro, aprofundar o conhecimento da história do nosso país é fundamental. Com isso, o tempo corrigirá as “distorções”. Coloco entre aspas porque o que é distorção histórica para mim não é para outros. Talvez o mais importante fosse, ao dar o nome ao logradouro publico, colocar uma placa informando quem foi o homenageado. Imagine na Rua Delegado Fleury uma placa explicando: “Delegado, torturador e matador”. Será que alguém iria querer morar nessa rua? Ou Coronel Moreira César, como diz o Hildermes, conhecido como “terra-treme, o corta-cabeças, que era o que fazia com muitos prisioneiros”.

Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR) e vice-presidente brasileiro do Parlamento do Mercosul. No twitter: @DrRosinha

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