Chevron: “O nosso negócio é o risco”

Tempo de leitura: 2 min

por Fernando Brito, no blog Projeto Nacional

Alguém quer entender porque uma companhia com a capacidade técnica – que ninguém nega – poderia ter assumido  deliberada e  irresponsavelmente riscos técnicos na perfuração do poço que vazou no Campo de Frade?

É só ler o artigo publicado em 2008 pelo Wall Street Journal, que citei no blog Tijolaço para explicar o reaproveitamento –  com um baita desconto – de uma sonda descrita pelo jornal como obsoleta.

Nele, o repórter Russel Gold  dá voz para o sr. Ali Moshiri, dirigente da empresa para a África e América Latina, dizer como pretende fazer a exploração do campo.

Russell conta que a Chevron, sob seu comando, trabalhou com a concepção de um plano de desenvolvimento de baixo custo para o campo.

“A equipe (técnica) de Frade queria perfurar mais poços para entender melhor o reservatório de óleo. Mr. Moshiri travou-a. O plano era muito caro e demorado. Ele apoiou um (outro) plano para perfurar menos, poços mais simples e  mais baratos.” (The Frade team wanted to drill more wells to better understand the oil chamber. Mr. Moshiri put his foot down. The plan was too expensive and time-consuming. He backed a plan to drill fewer, simpler and less-expensive wells.)

E como Moshiri explica isso?

“O plano original da Chevron era  perfurar cerca de metade dos 19 poços planejados, começar a produzir petróleo, então, estudar os dados de produção por 18 meses antes da perfuração dos poços restantes”.(Chevron’s original plan was to drill about half of the planned 19 wells, begin producing oil, then study production data for 18 months before drilling the remaining wells.)

Mas, como os geólogos da Chevron o aconselhavam a ir devagar, Mr. Moshiri decidiu, em meados de 2005  fazer uma aposta grande no Frade. Eles iriam furar os poços, um após o outro sem interrupção. Era o equivalente na  indústria do petróleo a ir “all-in” (sem fichas suficientes) em uma mão de pôquer”.

“Esse é o nosso trabalho, de correr riscos e ousar”, disse ele.(But as Chevron geologists counseled moving slowly, Mr. Moshiri decided in the middle of 2005 to place a big bet on Frade. They would drill all the wells, one after another without a break. It was the oil industry equivalent of going all in with a poker hand. “That is our job, to take risks and push the envelope,” he says.)

Dá para  entender, depois disso, em que contexto trabalhava a equipe da Chevron quando ocorreu o “erro de cálculo”. E o que significava o risco que  Mr. Moshiri disse ser o seu trabalho.

PS do Viomundo: Por solicitação do deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ), será realizada hoje, às 14h, audiência na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Camara dos Deputados sobre o derramamento de petróleo da Chevron-Texaco. A presença de representantes da empresa estadunidense ainda não está confirmada.

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Comentários

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Pedro

Risco para quem?

MataTrolls

Razoável seria a multa com base no faturamento da Chevron. Diz que foi de 8bi. A multa poderia ser de 50 a 95% desse valor. E ainda ter todas as suas plantas encampadas pela Petrobras. Isso seria mais razoável do que um pedido de desculpas esfarrapadas.

E pra não deixar passar: A Texaco é da Chevron. A Ipiranga diz que é da Texaco. Então, o slogan seria: "Apaixonados por destruir a natureza como todo estadunidense"?

SILOÉ-RJ

O governotem que se dedicar mais ao etanol e ao bio-combustível, o petróleo é energia do passado, e não temos capacidade de explorar o pré-sal. Então porque o mundo todo briga tanto por ele???
A gasolina não é o sub -produto mais rentável do petróleo. Ele tem mais de 1000 derivados, e derivados dos derivados, com aplicações das mais variadas nas industrias comuns e de tecnologias avançadas, com produtos usados até pela Nanotecnologia em medicamentos de última geração.
O que esse dr, Sergio Leitão, diretor de campanhas do greepeace e provavelmente também, membro da gota de merda, quis fazer, com uma argumentação ENTREGUISTA, MENTIROSA , XULA E RIDÍCULA, além da tentativa de detonar a DILMA e a PETROBRAS.
DESCARADAMENTE, NOS FAZER DE IDIOTAS!!!

    francisco.latorre

    carro elétrico.

    ..

Sr.Indignado

Esse negócio de risco é assim.
A corporação desenvolve tecnologias para transferir o risco para outros e só trabalhar com o filé. É assim com os bancos, é assim com as grandes empresas de alimentos, é assim com a indústria automobilística. É assim com a Chevron. Afinal, quais as empresas mais lucrativas: Bancos, Mineradoras, Petrolíferas e Gás, bacana, não é?
Tem um bom livro para ler a este respeito: Desafiando os Deuses. Com prefácio do Pérsio Arida e Daniel Dantas. Um primor quase yupe.
Eu ainda admiro mesmo o Zé da banca de verduras, ele sim é quem contribui para este país.

paulo

Risco que mais parece rabisco . Vai pra casa Chevron .

Rogério

Fico feliz de ter votado no jovem deputado Brizola Neto. Ele sempre toca adiante projetos e propostas de grande importância da Câmara dos Deputados, como essa de convocar a Chevron ao Congresso para ser inquirida. Vale a pena acompanhar o trabalho político e parlamentar desse político de 33 anos, que demostra grande coragem e extrema maturidade política.
Soube escolher o parceiro ideal para o seu blog Tijolaço: um "macaco velho" do bom Jornalismo, o Fernando Brito, que vai nos surpreendendo sempre com seu empenho e qualidade profissional.

Clemente

Se não fosse a natureza, a fauna as maiores vítimas de mais essa tragédia anunciada, eu diria: "bem feito", pra que foram doar (disfarçado de "leilão") nossas riquezas para essa turma de depredadores globais, cujo único objetivo, independente de qualquer dano ambiental, é o lucro?

Se tivéssemos um governo nacionalista, que protegesse não só nossas riquezas exploráveis, mas principalmente a maior riqueza que é a nossa natureza, já teríamos dado um pé no traseiro desses crápulas. Mas Dilma não é Chávez, nem Lula…

Polengo

Já que o negócio deles é o risco, por quê não riscá-los logo do mapa?

FrancoAtirador

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PETROBRAS NÃO TERÁ DE ARCAR COM MULTAS APLICADAS À CHEVRON

O presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, explicou que, apesar da Petrobras ter 30% de participação na operação do bloco que registrou o vazamento, as autuações recairão somente à Chevron, que é a operadora.
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A depender dos resultados das investigações sobre as causas do acidente, a conta pode ficar integralmente com a Chevron. Os dois sócios da companhia [Petrobras (30%) e Inpex (18,3%) poderão se valer de uma cláusula constante no acordo de operação conjunta, que os exime da responsabilidade em caso de negligência grave por parte da operadora do poço. (!!!)

Na série de desinformações protagonizadas pela Chevron, o presidente da companhia no Brasil, George Buck, deu a seguinte resposta à pergunta sobre qual era a seguradora da empresa: "Isso não é importante". (!!!)

Buck tem repetido que a Chevron assume "total responsabilidade" pelo acidente, isentando a Transocean, dona da plataforma de perfuração, e a BJ Services, do grupo Baker Hughes, responsável pela cimentação.

A Chevron tampouco responde sobre acusações feitas pela ANP de que demorou a responder ao acidente por falta de equipamentos e até do cimento necessário para selar o poço. "Vamos avaliar todas as demandas e respondê-las de acordo com as leis brasileiras", diz a empresa.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_n

    Wildner Arcanjo

    Resta saber se a ANP vai agir segundo a cartilha das Agências Reguladoras (?) do Brasil em relação as multinacionais estrangeiras, ou será que ela só dispensa tratamento "vip" para a Petrobras? Quem sabe os próximos capítulos desta novela nos respondam.

Tomudjin

Essa guerra cibernética ficará exclusivamente limitada aos bêbados, aos especialistas e aos advogados.
Parece que ficou à cargo do advogado, pagar o especialista, para culpar o bêbado pela fatalidade do descarrilamento.

mac

Movimento gota de óleo
http://www.youtube.com/watch?v=Ln1U3xxmhb8

eduardo di lascio

Se você tem uma ferrovia, mais cedo ou mais tarde vai ter que lidar com um descarrilhamento. Se você tem uma companhia aérea, mais cedo ou mais tarde, vai ter que lidar com um acidente. Se você tem uma clínica de cirurgia plástica, mas cedo ou mais tarde vai ter que lidar com um choque anafilático e por ai vai. É estatístico.
Os erros ou falhas vão acontecer, não importa quem esteja operando o sistema. Acostumemo-nos pois, porque vai piorar. E muito.

    Eduardo Di Lascio

    Não existe forma segura de se explorar petróleo nessas profundidades, é quase como trabalhar no espaço, a probabilidade de acidentes é sempre muito alta e quem embarcou nessa aposta que aguente os riscos.

    Wildner Arcanjo

    E porque até então, não se sabe de nenhum erro da Petrobras ou de alguma outra operadora com estas proporções. Veja bem, estamos falando de campos de produção que já são explorados a mais de 15 anos, não é coisa de ontem. De tecnologia que está sendo desenvolvida para o pré-sal desde 2006 (no mínimo). Mas os espertos inventaram de economizar e deu no que deu! Por fim o problema não é e nem nunca será o risco inerente da exploração de petróleo, estes riscos são previstos e as medidas de contenção são igualmente previstas, e sim a forma como todo o processo, no caso deste acidente foi tratado, no mínimo negligência, mentiras, acobertação, conivência.

    Clemente

    Se você lê os blogs fatalmente vai ler estultícies como essa. Está escrito…

    Wildner Arcanjo

    Mais cedo ou mais tarde não se aplica em Engenharia de Petróleo, sobretudo em Off-shore (a área mais cara da exploração e produção de petróleo). Mais cedo é erro de projeto (na melhor das hipóteses), mais tarde é falta de investimento ou de manutenção (também na melhor das hipóteses).

Julio Silveira

A pior coisa que pudemos observar foi a postura arrogante desse grupo. Tão arrogante que até os arrogantes proceceres da direitista midia corporativa brasileira perceberam e tem comentado. Fico pensando como poderia ser caso o maior incentivador desse grupo na politica brasileira tivesse sido eleito, seriam os donos do Brasil e do pré-sal. Eles demonstram uma completa falta de respeito ao povo e as instituições brasileiras, sentem-se acima como seres ungidos que estivessem acima de mediocre criticos. Espero que o governo brasileiro faça a sua parte os proibam de virem desrespeitar nosso solo. E o povo brasileiro a dele, impedindo que gente que os apoia tenham qualquer chance de ter poder para decidir o nosso futuro.

Bonifa

Esta "ousadia" é o cerne do capitalismo selvagem. Por esta razão o imperialismo inglês estava tão embricado com a pirataria. O pirata cruel, desentranhado, que não confiava nem na própria sombra e podia matar o melhor companheiro para embolsar mais um punhado de ouro, é o grande protótipo do herói, admirado pelos americanos capitalistas.

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