Amy Goodman: Luther King provavelmente apoiaria Ocupe Wall Street

Tempo de leitura: 4 min

por Amy Goodman, em Esquerda.Net

No domingo passado, foi inaugurado o monumento nacional em homenagem a Martin Luther King Jr. O Presidente Barack Obama falou sobre o Dr. King: “Se estivesse vivo hoje, creio que nos lembraria que o trabalhador desempregado tem todo o direito de denunciar os excessos em Wall Street, mas sem demonizar aqueles que trabalham ali”. A inauguração oficial ocorreu no momento em que o movimento “Ocupemos Wall Street” soma cada vez mais adeptos e se transforma num fenómeno mundial. O que Obama não disse é que se King estivesse vivo provavelmente estaria a manifestar-se contra as políticas do seu governo.

A poucos passos da cerimónia de inauguração, Cornel West, pastor, académico, escritor e activista foi preso nas escadas do Supremo Tribunal dos Estados Unidos. Antes de ser enviado à prisão, disse: “Queremos registar hoje que conhecemos a relação existente entre a cobiça empresarial e o que acontece frequentemente nas decisões do Supremo Tribunal. É significativo que neste dia de homenagem a Martin Luther King Jr. alguém seja enviado para a prisão porque Martin King estaria aqui, disposto a lutar connosco e o faria pelo seu profundo amor.”

O professor West, que foi preso juntamente com outras 18 pessoas, declarou: “Estamos aqui para expressar a nossa solidariedade com o movimento de protesto em todo o mundo porque amamos os mais pobres, amamos os trabalhadores e queremos que Martin Luther King Jr. saiba que não nos esquecemos da sua luta e sorria da sua tumba”.

Durante este mesmo fim de semana, a campanha de ataques com aviões não tripulados das forças armadas norte-americanas e a CIA, sob as ordens do Comandante-Chefe Obama, lançou o que foi chamado pelo Escritório de Jornalismo de Investigação (BIJ, sigla do nome original em inglês, uma organização independente sem fins lucrativos com sede em Londres) de “o ataque de número 300” com esses aviões, o 248º desde que Obama assumiu a presidência. Segundo a BIJ, das 2.328 pessoas mortas pelos ataques, entre 386 e 775 são civis, entre elas, 175 crianças. Imagine-se como iria responder King, Prémio Nobel da Paz assim como Obama, a estas cifras cruas.

Em 1963, King publicou uma recompilação de sermões intitulada “A força de amar”. O prefácio começa assim: “Nestes dias de revoltas e incertezas, os génios malignos da guerra e da injustiça económica e racial ameaçam inclusive a sobrevivência da raça humana”. Três dos 15 sermões foram escritos nos cárceres da Georgia, entre eles “Sonhos destroçados”. Nele, escreveu: “Cooperar passivamente com um sistema injusto converte o oprimido num ser tão malvado como o opressor”. King retomou a ideia dos sonhos destroçados quatro anos mais tarde, e oito meses antes de ser assassinado, no seu discurso chamado “Para onde vamos”. “Em certas ocasiões, os nossos sonhos serão destroçados e as nossas esperanças etéreas, quebradas. Quando os nossos dias se tornarem tristes e nos invadir uma nuvem de desesperança, e quando as nossas noites se tornem mais obscuras que mil meias-noites, lembraremos que há uma força criativa do universo que trabalha para derrubar as enormes montanhas do mal, um poder que é capaz de superar qualquer obstáculo e converter o passado obscuro em radiante porvir. O arco do universo moral é amplo, mas inclina-se para o lado da justiça”.

Nesse mesmo ano, 1967, um ano antes de ser assassinado, King fez o seu discurso “Muito além do Vietname” na Igreja Riverside da cidade de Nova York, onde proclamou: “Descobri que nunca mais vou poder lançar a minha voz contra a violência dos oprimidos nos bairros marginais sem antes falar do principal responsável pela violência do mundo actual, o meu próprio governo”.

Essas palavras e esse discurso marcaram o estado de ânimo que iria caracterizar o último e fatal ano da vida de King. Apesar das ameaças de morte e do conselho dos seus assessores para que não fosse a Memphis, King participou da marcha em solidariedade aos varredores dessa cidade. No dia 04 de abril de 1968, morreu assassinado de um disparo no balcão do Motel Lorraine.

Dois jovens daquela época, que foram profundamente afectados pelo assassinato de King, permitiram-nos percorrer o caminho que vai do arco de justiça moral do Dr. King até ao movimento “Ocupemos Wall Street”. Um deles é John Carlos, um atleta olímpico norte-americano. Carlos ganhou a medalha de bronze na corrida de 200 metros do atletismo nos Jogos Olímpicos de 1968 na Cidade do México. Carlos e o seu companheiro de equipe, Tommie Smith, que ganhou a medalha de ouro, voltaram mundialmente famosos por terem feito a saudação do Poder Negro no pódio. Ambos subiram para receber as suas medalhas sem sapatos, num sinal de protesto pela situação de pobreza das crianças afro-descendentes nos Estados Unidos. Na semana passada, John Carlos manifestou-se no “Ocupemos Wall Street”. Em seguida disse-me: “Estou tão feliz de ver tantas pessoas aqui, reunidas para dizer: ‘Não pedimos mudanças. Exigimos mudanças’”.

O outro é o Reverendo Jesse Jackson, que estava junto de King quando o assassinaram. Na segunda-feira de madrugada, o Departamento de Polícia de Nova York parecia tentar avançar sobre a barraca de primeiros socorros do “Ocupemos Wall Street”. O Reverendo Jackson estava ali. Apenas dias depois de completar 70 anos, Jackson juntou-se aos jovens manifestantes para enfrentar a polícia. A polícia retirou-se e o arco do universo moral inclinou-se um pouco mais para o lado da justiça.

Artigo publicado no Democracy Now em 18 de outubro. Foi traduzido do inglês para o espanhol por Mercedes Camps. Rafael Cavalcanti Barreto traduziu do espanhol para o português e Carlos Santana revisou para o português de Portugal.

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Comentários

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Renato

Então por isso que o Martin Luther King não será salvo na volta de Cristo, pois todo socialista é satanico e portanto será lançado lá para os quintos.

Murdok

Para entender um pouco do nosso mundo.[youtube HVBTPjyaW-E http://www.youtube.com/watch?v=HVBTPjyaW-E youtube]

patrick

Não deixem de acompanhar o programa de rádio apresentado por Amy Goodman, de segunda a sexta, que pode ser baixado no http://democracynow.org

Jeca Tatu

E o Malcolm X, o que faria?

Conservador316

Que milagre. A esquerda elogiando um protestante.
Sabiam que Luther King era um PASTOR? Geralmente quando a esquerda fala sobre Matin Luther King, não fala que ele era pastor Batista. Só fala que ele era um "ativista pelos direitos cívis"
Eu pensei que os "progressistas" achavam que os protestantes eram ignorantes, uns idiotas,etc.
Barack Obama é protestante.
Nelson Mandela é protestante.
Jimmy Carter é protestante.
Desmon Tutu é protestante.
E agora? Os protestantes são ignorantes?

    Lucas

    Conservador316, a esquerda não acha que todos protestantes são ignorantes. Quem quer que tenha te dito isso não entende muito bem o que é a esquerda. Dizer que a esquerda odeia protestantes é uma generalização muito grande:

    É verdade que os marxistas clássicos são em sua maioria anti-religiosos (NÃO apenas anti-protestantes, mas contra qualquer religião, baseados principalmente no entendimento de que as religiões atrapalham o entendimento das pessoas sobre o mundo ao espalhar conceitos fantasiosos), mas grande parte da esquerda não vê problema nenhum com a religião, e muitos símbolos da esquerda, como Martin Luther King, Mohandas Gandhi e os padres da Teologia da Libertação, eram bastante religiosos.

    Rafael

    Que coisa mais sem sentido. Importa o que defende não a religião.

Regina Braga

Qualquer ser humano decente apoiaria o movimento…inclusive o da USP.Chega da militarização.Cansei!!!

Lucas

Martin Luther King foi assassinado pouco depois de ampliar seu movimento para, além de protestar contra o Apartheid que imperava no Sul dos EUA, protestar também contra as guerras iniciadas por seu governo e contra a pobreza e desigualdade de renda, e a favor dos trabalhadores e sindicatos. Coincidência?

FrancoAtirador

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Iniciado em Nova York, movimento de indignados cresce na Califórnia

As principais cidades são Oakland — palco de forte repressão policial — e Los Angeles

O movimento dos indignados norte-americanos vem ganhando cada dia mais apoio, especialmente no estado da Califórnia. Nesta semana, ex-combatentes de guerra, professores e milhares de outros representantes da sociedade se juntaram aos protestos.

Centenas de manifestantes desfilaram nesta quarta-feira (02/11) à noite em Los Angeles, Califórnia, para expressar sua solidariedade aos indignados de Oakland, cidade no norte do estado, que forçaram de forma pacífica o fechamento do porto marítimo local, já reaberto.
“Estamos fazendo algo que nunca aconteceu na história”, disse a ativista Jedidiah Lee, em referência ao movimento, que critica os “1%” da população que se beneficia da riqueza no país.

Entre os novos manifestantes, se destacaram os professores, que foram em massa à manifestação na Califórnia. Brother Muziki, um educador da escola primária expressava em um cartaz o sentimento de seus colegas. "Salvem as escolas, não os bancos!”.

Conforme definiu Jaime Omar Yassin, um dos ativistas de Oakland, a marcha é um movimento popular para mudar o atual sistema financeiro. “Agora estamos crescendo e conseguindo expor os problemas da vida diária. Precisamos de mais escolas, bibliotecas, serviços sociais, mais atenção aos direitos humanos, menos polícia, menos repressão, melhor vida para toda gente e não à guerra”, afirmou.

Ester Hernández destacou a importância da união na hora de exibir os problemas e ressaltou a participação da comunidade hispânica nas manifestações: “nós também somos afetados pelo desemprego e pelas políticas anti-imigrantes”.

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/17

FrancoAtirador

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20 INDIVÍDUOS DECIDEM A SORTE DE 7 BILHÕES DE PESSOAS
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Cúpula do G20 começa sob clima de tensão numa Cannes sitiada

Esquema de segurança conta com milhares de policiais; livre circulação de pessoas foi suspensa na região

O balneário de Cannes, no sul da França, famoso por sediar o maior festival de cinema do mundo, começou nesta quinta-feira (03/11) a viver um clima um pouco diferente do glamour e dos artistas no tapete vermelho, com o início da reunião de cúpula do G-20 –grupo das 20 maiores economias do planeta.

A cidade está praticamente sitiada.

Na estação de trem, algumas dezenas de policiais observam atentamente quem chega e quem saí. Cerca de 8.000 pessoas estão presentes para os dois dias do encontro, cujo tema principal será inevitavelmente o clima de tensão entre a União Europeia e o governo da Grécia, que buscam uma saída para a crise da dívida do país mediterrânico, que pode arrastar todo o continente.

Cerca de 12.000 agentes fazem a segurança do encontro, em uma cidade de 70 mil habitantes
Há poucas horas, a cerimônia de abertura da cúpula aconteceu apenas na presença de fotógrafos e cinegrafistas, já que até mesmo os jornalistas tiveram o acesso negado.
A cidade de cerca de 70 mil habitantes foi divida em duas zonas de segurança controladas por 12 mil homens da polícia, polícia marítima e cavalaria, vindos de toda a França. A zona 1, onde se concentram os quatro hotéis de luxo, que acolhem as delegações dos vinte chefes de estado das principais economias mundiais e o Palácio de Festivais, sede do evento, foi totalmente privatizada, assim como sua famosa praia.

Apenas a zona 2 é acessível para a imprensa, moradores e comerciantes, que há dois meses estão sendo cadastrados para obterem uma credencial nominal de acesso. Ruas foram fechadas, circulação e estacionamento, proibidos. O controle de credenciais é feito mesmo dentro dos ônibus do transporte especial destinado aos jornalistas. Até o retorno das férias escolares, previsto para essa semana na França, em Cannes foi adiado para a próxima segunda-feira (07/11).

O plano de segurança elaborado pelo governo francês, que preside atualmente o G20, quer evitar qualquer tipo de incidente e ameaça terrorista a seis meses das eleições presidenciais no país. Cannes, graças a sua geografia e importante rede de câmeras de vigilância, facilita o trabalho. De acordo com a prefeitura, desde 2001 a cidade investiu em um sistema em expansão de câmeras de vigilância. Ao total 260 delas funcionam 24 horas, ou seja, uma câmera para cada 280 habitantes.

Nas estações de trem das cidades próximas, um anúncio sonoro informa que até o fim da reunião de chefes de estado, o acordo Schengen, de livre circulação de pessoas na UE, está suspenso. Foram reestabelecidas as fronteiras da região com a Itália. Cerca de 350 homens foram deslocados para controlar os pontos de conexão com o país, mesmo o grupo de resgate em montanhas foi transferidos para apoiar a operação. Imigrantes clandestinos ou militantes exaltados definitivamente não são bem-vindos.

O Contra-G20, movimento de protesto organizado na cidade de Nice, no sudeste da França, a 30 km de Cannes, recebeu um reforço de 2.500 policiais que estão a postos em praças e pontos estratégicos. Nas estradas o tráfego também foi alterado, o transporte de cargas está temporariamente proibido.

Apesar de todo o aparato de repressão policial, as manifestações contra cúpula do G20 já começaram. Um dos manifestantes vestiu uma máscara do presidente francês Nicolas Sarkozy e carrecagava um cartaz com o protesto:

"O G20 é sensível ao frio. Não há chances".

OperaMundi, com agências internacionais

FrancoAtirador

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POLÍCIA MILITAR DO PSDB DE SÃO PAULO FAZ ESCOLA NOS EUA
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Polícia usa gás lacrimogêneo contra manifestação em Oakland, EUA

Por Dan Levine e Noel Randewich, da Reuters

OAKLAND, Estados Unidos – Tropas de choque entraram em confronto com manifestantes na madrugada desta quinta-feira em Oakland, na Califórnia, disparando gás lacrimogêneo para dispersar a multidão que permanecia nas ruas após um dia de protestos em geral pacíficos contra a desigualdade econômica e a brutalidade policial.

Aparentemente, a polícia tentava impedir que os manifestantes, que já ocupam uma praça, se instalassem em ruas próximas.

Logo depois da meia-noite, mais de 200 agentes chegaram, inclusive em ônibus, e se posicionaram ombro a ombro, usando máscaras de gás. Em seguida, os policiais declararam que a aglomeração era ilegal, e dispararam bombas de gás. Os manifestantes então se dispersaram, correndo.

Alguns ativistas, no entanto, pararam para apanhar cápsulas de gás vazias, atirando-as nos policiais. Outros jogaram pedras durante a fuga.

“Isto estava pacífico, até vocês chegarem!”, gritavam os manifestantes aos policiais. Mais tarde, os agentes investiram contra os manifestantes na praça, usando cassetetes e mais gás, para empurrá-los para o meio da praça.

Na semana passada, um ex-fuzileiro naval ficou gravemente ferido durante um protesto em Oakland, num incidente que colocou a cidade na linha de frente das manifestações nacionais anti-Wall Street. Na quarta-feira, cerca de 5.000 pessoas participaram das manifestações, que paralisaram o movimentado porto local, mas não chegaram a interferir na rotina da cidade.

Pelo menos um manifestante foi retirado do local com um ferimento na perna, e outro, que havia sido posto em prisão domiciliar, ficou caído no chão, com as mãos algemadas para trás e sangue escorrendo pelo rosto.

Quase 40 ativistas foram detidos, e podiam ser vistos sentados lado a lado numa sarjeta, contidos por algemas de plástico, enquanto aguardavam para serem levados a uma delegacia.

Durante os confrontos da madrugada nos arredores da praça Frank Ogawa, junto à prefeitura de Oakland, a iluminação pública foi desativada por alguns instantes, mas não ficou claro o motivo para isso.

Em nota, a direção do porto local, que movimenta cerca de 39 bilhões de dólares por ano em mercadorias, disse que as atividades serão retomadas “quando for seguro”. Um porta-voz informou que isso deve ocorrer já na manhã desta quinta-feira.

A atmosfera nos protestos já estava tensa antes da chegada da polícia, quando um manifestante foi aparentemente atropelado no centro de Oakland. A polícia disse que o pedestre foi internado, mas não corre risco de morrer.

A TV mostrou posteriormente pequenos grupos correndo pelas ruas, tentando atear fogo a lixeiras e subindo nas vans das emissoras televisivas.

Várias agências bancárias e um supermercado da rede Whole Foods tiveram suas vidraças quebradas, e fotos disso foram divulgadas no Twitter. Um chefe de polícia disse que o vandalismo foi provocado por um pequeno grupo de “anarquistas.”

(Reportagem adicional de Dan Whitcomb, Mary Slosson, Steve Gorman, Emmett Berg, Matthew Ward, Bill Rigby e R.T. Watson)

http://correiodobrasil.com.br/policia-usa-gas-lac

Cenossaum

O Obama tinha tudo pra ser o Lula da história americana, não vai passar de um Celso Pitta…

    Vlad

    A comparação com Pitta é por causa da tez?
    Parabéns aos positivadores.

    leandro

    Sorte dele não ser um lula de lá. Deixa só o daqui pagar mico.

Rafael

Obama prêmio nobel da paz é tão terrível quanto um filho estuprar a mãe.

    Márcio

    Realmente é espetacular…Só pra começo de conversa, como que um cara que mantem Guantanamo funcionando recebe o o Nobel da paz.? Realmente fantástico!!

    EUNAOSABIA

    Tem coisa pior, se é que me fiz entender.

    Bonifa

    Toda a instituição que promove o Nobel está sob suspeita. Ninguém mais garante que nem mesmo o Nobel de Medicina não obedeça a critérios acima de tudo político-ideológicos.

    Cenossaum

    A mãe vinha sendo violentada há anos, aí o filho disse "mamãe, vou cuidar da sua saúde", vem comigo, nós podemos…

    o resto da história o Rafael contou

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