Gravação da PF revela participação de Cachoeira na venda da casa de Marconi Perillo

Tempo de leitura: 5 min

por Chico de Gois, em O Globo

BRASÍLIA – Uma gravação da Polícia Federal, obtida pelo GLOBO, entre Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e o ex-vereador de Goiânia Wladmir Garcez revela a participação do contraventor na venda da casa de Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás. Cachoeira chega a ordenar que o dinheiro da venda seja levado para o governador no Palácio das Esmeraldas, sede do governo de Goiás. No diálogo, interceptado às 8h23m do dia 12 de julho do ano passado, Garcez diz que irá se encontrar com o presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), Jayme Rincón. A escritura da venda do imóvel ocorreu um dia depois do telefonema.

Perillo, que depõe nesta terça-feira na CPI do Cachoeira, tem afirmado que a negociação se deu por intermédio de Garcez e que não recebeu dinheiro pela transação, mas três cheques, que foram depositados em sua conta. Os cheques foram assinados por um sobrinho de Cachoeira, mas o governador afirma que não sabia disso. Na semana passada, o professor Walter Paulo Santiago, que se intitula administrador da Mestra Participações, em nome da qual está a casa, disse que pagou pela imóvel em dinheiro vivo, em pacotinhos de notas de R$ 50 e R$ 100.

Gravação não identifica emissário

Na ligação, Garcez dá a entender que está esperando um emissário. Não fica claro se se trata de Lúcio Fiúza, assessor especial de Perillo que pediu exoneração na semana passada, ou do professor Walter Paulo. O ex-vereador diz a Cachoeira que irá se encontrar com Jayme Rincón em um shopping. Antes, o contraventor questiona se seria bom ele estar presente, mas Garcez o desestimula, porque não vê uma boa explicação para justificar a presença do chefe no encontro.

— Tá aí? — pergunta Cachoeira, sem se referir a uma pessoa específica.

— Não. Ele ligou agora (disse) que tá chegando. Atrasou um pouquinho — responde o auxiliar.

— Quer que eu vá ai? — pergunta o contraventor.

— Precisa não, você que sabe — sugere Garcez, para complementar — O que você está fazendo aqui?

— É verdade, então não vou aí, não — admite Cachoeira.

— O Jayme já está indo lá no Alpha Mall, marcou comigo, qualquer coisa vou encontrar com ele na Agetop — informa Garcez.

Cachoeira fala para o auxiliar ligar para Jayme Rincón e dizer que atrasou, mas que é para ele aguardar Garcez na própria Agetop. E demonstra pressa na conclusão da transação. Na ligação, Cachoeira manda Garcez fechar o negócio no mesmo dia.

— Você liga para o Jayme, fala para ele te esperar na Agetop, que atrasou. Tô indo lá, encontrar com o menino. Vende este trem hoje, hein. Pega o dinheiro logo, urgente — ordena o bicheiro.

— Aquilo que nós combinamos. Não vou perder. Dois mil (milhões) a gente já fechou. Se ele não fizer mais nada que dois, mete bronca. Mas vou tentar os R$ 2.250. Se não der… aí eu te dou uma ligada disfarçada, daquele jeito, viu — combina o ex-vereador.

Cachoeira pede para o auxiliar dizer que é para entregar o dinheiro para o governador, no Palácio.

— Fala: é pro governador. Vamos lá pagar ele logo no Palácio, chega lá pro Jayme. Já manda ele levar o dinheiro. Já entrega a chave pra ele, entendeu. Depois tira os trens que tem que tirar aqui — diz o contraventor.

A casa de Perillo foi vendida com todos os móveis. O valor da transação informado na escritura, no entanto, é de R$ 1,4 milhão.

— Eu já liguei pro Lúcio, inclusive, falando que qualquer coisa eu estou indo lá, falar com ele — declara Garcez, em referência a Lúcio Fiúza.

Na semana passada, o professor Walter Paulo apresentou um recibo, no valor de R$ 1,4 milhão, em nome de Garcez e de Fiúza. Depois do depoimento de Walter Paulo na CPI, Fiúza pediu exoneração. Ele também é apontado pelo jornalista Luiz Carlos Bordoni como o responsável pelo pagamento da prestação de serviço durante a campanha de Perillo. Bordoni fez um trabalho de locução e R$ 40 mil de uma empresa ligada ao esquema de Cachoeira foram depositados na conta da filha dele.

Walter Paulo seria vice de Demóstenes

O contraventor também manda Garcez argumentar com Walter Paulo que não seria bom ficar negociando muito desconto na transação imobiliária, porque o professor podia se tornar candidato a vice na hipotética chapa de Demóstenes Torres (sem partido) para a prefeitura de Goiânia.

— Já resolve isso logo. Vai baixando, de R$ 2,3 milhões para R$ 2,2 milhões. Vamos fechar isso aqui logo. O cara não pode ter má impressão sua não. Mexer com picuinha. Você vai ser o vice do Demóstenes.

Numa outra ligação, no mesmo dia 12, às 8h52m, Garcez informa que está ao lado do professor Walter Paulo e que está concluindo a negociação. E informa a Cachoeira que, antes, Jayme Rincón esteve com eles.

— Tô (sic) com o professor Walter, já estou terminando. Assim que terminar, encontro com você. Mas o menino esteve aqui, o Jayme, tudo ok. Pode se despreocupar, que ele esteve com o cara ontem à noite — informa Garcez.

— Tá com o professor aí? Fechou? — indaga Cachoeira.

— O professor está mandando um abração para você. Tá louquinho. Nunca vi um homem duro igual esse não, Carlinhos — diz o ex-vereador, que solta uma gargalhada.

— Manda fechar logo, rapaz. Quanto? — quer saber Cachoeira, mas o valor não é informado.

Na sequência, ele informa que irá se encontrar com os negociadores:

— Eu vou dar um pulo aí daqui a pouco.

— Vem cá, nós estamos aqui. Vem cá — conclui Garcez.

O GLOBO procurou a assessoria do governador Marconi Perillo, mas não teve resposta até o fechamento desta edição.

Versões conflitantes

Marconi Perillo — O governador de Goiás diz ter recebido três cheques pela compra da casa, que vendeu para o empresário Walter Paulo Santiago. Segundo ele, o ex-vereador Wladimir Garcez foi o intermediador do negócio. Perillo divulgou um diálogo gravado pela PF que mostra que o bicheiro Carlinhos Cachoeira conversou com Garcez para que o ex-vereador enganasse Walter Paulo, fingindo que está conversando com Lúcio Fiúza, assessor do governador.

Walter Paulo Santiago — Diz ter comprado o imóvel por R$ 1,4 milhão em dinheiro, em notas de R$ 50 e R$ 100, e que o dinheiro foi entregue para Garcez e para Fiúza.

Wladimir Garcez — Disse que comprou a casa de Perillo por R$ 1,4 milhão, com dinheiro que pediu emprestado a Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Centro-Oeste, e a Cachoeira. Ao depor na CPI, disse que só repassou a casa para Walter Paulo por não ter conseguido pagar o empréstimo. Ele a vendeu por R$ 1,4 milhão e faturou comissão de R$ 100 mil.

PF — O delegado Matheus Mella Rodrigues diz que a casa foi paga com três cheques nominais a Perillo, assinados por Leonardo Ramos, sobrinho de Cachoeira. Os cheques seriam da Excitant Confecção, empresa da cunhada de Cachoeira e que recebeu dinheiro da Alberto e Pantoja Construções, uma das beneficiadas por repasses da Delta.

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Marcelo de Matos

Perillo será atacado amanhã pelo PT, mas, o contra-ataque do PIG chegou antes: a reportagem da revista Época sobre o desvio financeiro no Banco do Nordeste fala em “dólar na cueca” e outros chavões piguianos. No Jornal da Cultura de hoje o ex-petista Airton Soares, comentarista da emissora, lembrou que a investigação é da própria Corregedoria Geral da União (CGU). Os petistas que preparem o lombo e a salmoura: pelo visto, outros contra-ataques virão.

Jairo Beraldo

“…pelo jornalista Luiz Carlos Bordoni como o responsável…” Eu não entendi esta frase – Bordoni, é comentarista do programa de jornalismo Paulo Beringhs(aquele mesmo que pediu demissão da emissora no ar, por estar fazendo palanque para PERILLO – no governo Alcides-, e foi repreendido pelo então governador Alcides, que era aliado de Iris, Dilma e Lula), na estatal TBCNews, é forte aliado de Perillo, além de que Paulo Beringhs é filiado ao PSDB. Tá mal, muito mal contada esta história!

Bonifa

Por incrível que possa parecer, acreditamos que esta reportagem da Globo está bem arranjada para favorecer depoimentos de amanhã. Perillo vendeu seu imóvel, recebeu seu dinheiro e pronto, tudo bem, não importa o rolo que esteja por trás da negociação. O professor trapalhão comprou o imóvel, regateou, pagou, embora com as economias do cofrinho juntadas desde que era criança, recebeu a escritura da casa e tudo bem, não importa que rolo tenha se passado depois. Cachoeira telefonou desinteressadamente, só como incentivador do negócio, apressou um, apressou outro e tudo bem, ficou sem o imóvel e sem o dinheiro do cofrinho do professor trapalhão. A PF, passou à Globo algumas degravações de telefonemas que a Internet já conhecia há séculos. O Globo, fez sua parte. Publicou uma reportagem tecnicamente ingênua, descrevendo que todo mundo é inocente, embora haja algumas contradições, mas tudo bem. Ora, ora, tudo o que se passou na real, que não será pouca coisa, é inteiramente subjacente a esta historinha infantil. É preciso fazer a cachola funcionar para desvendar o que está por trás disso.

Marcelo de Matos

A varredura em Goiás deve ir longe. O UOL publicou: “A Justiça de Goiás determinou, em primeira instância, a suspensão dos direitos políticos do ex-senador e ex-governador do Estado Maguito Vilela (PMDB), que atualmente é prefeito de Aparecida de Goiânia (GO). A Justiça também cassou os direitos políticos dos ex-prefeitos da cidade Ademir de Oliveira Menezes (PSD) e José Macedo de Araújo (PR) por improbidade administrativa. Os três são pré-candidatos às eleições deste ano. Eles são acusados pelo Ministério Público de superfaturar contratos e indenizações em processos de desapropriações de terrenos no município. Se a decisão for mantida, a disputa pela prefeitura da segunda maior cidade de Goiás deve sofrer uma reviravolta. Maguito e Ademir lideram as pesquisas de intenção de voto. A candidatura do ex-deputado estadual Ozair José (PT), que ainda não decolou, seria beneficiada”. Agência de notícias da PF informa que “o MPF diz que, com documentos forjados, a Delta venceu licitações em Anápolis, Catalão, Palmas (TO) e Itanhaém (SP)”.

    Bonifa

    De Goiás nada mais pode surpreender. De repente uma varredura jurídica pode significar um ataque de facções contra facções dentro de um universo subpolítico.

Yarus

Fora de pauta. “Alckmin vai à Justiça contra remédio gratuito

Uma medicação importada – o Eculizumab 600 mg e 900 mg – que usa o nome comercial de Soliris, está tirando o sono dos gestores públicos de São Paulo. O caso tomou tal proporção que obrigou o governador Geraldo Alckmin a deixar o Palácio dos Bandeirantes para uma visita ao presidente da corte paulista, desembargador Ivan Sartori.

O Soliris, único no mundo usado contra uma doença rara conhecida como hemoglobinúria paroxística noturna (HPN), está provocando um rombo considerável no erário. Cada frasquinho do medicamento não sai por de R$ 11 mil. O custo anual do tratamento de cada paciente não sai por menos de R$ 800 mil, dependendo do grau da doença.

No ano passado, o Tribunal de Justiça negou recurso ao Estado em nove casos envolvendo a distribuição gratuita do medicamento. Este ano já são seis os casos perdidos pelo governo paulista para o tratamento com Soliris. Em 2010 foram sete recursos negados.

Levantamento da Secretaria da Saúde concluiu que com os cerca de R$ 700 milhões gastos por ano com as decisões judiciais que obrigam o Estado a custear medicamentos seriam suficientes para construir um hospital por mês. Segundo Alckmin, a judicialização da saúde é uma distorção do conceito da universalidade. O mesmo argumento é usado pelos procuradores do Estado nos recursos de apelação endereçados ao tribunal.

A Justiça paulista, no entanto não se sensibiliza com os argumentos do Executivo e tem concedido medicamentos gratuitos a todos os pacientes que batem à sua porta. Ou seja, a Fazenda do Estado é vencida em todos os apelos que faz à corte paulista para reverter as decisões.

O argumento usado pelos procuradores que defendem o Executivo é de que a falta de registro do medicamento na lista da Anvisa seria fator para obrigar o governo a liberar o remédio. Em todos os julgamentos, o Tribunal tem dito não, pois, de acordo com a corte paulista, o direito à vida vem em primeiro lugar.

“A alegação de que o medicamento não está contemplado dentre os padronizados pelo SUS para o tratamento da doença que acomete a autora não afasta a obrigação da autoridade em atender ao pedido apresentado, na medida em que a preservação da vida da impetrante deve prevalecer sobre outros interesses”, concluiu na semana passada a desembargadora Maria Laura de Assis Moura, da 5ª Câmara de Direito Público ao negar recurso contra decisão que determinou o Estado a entregar o medicamento Soliris à paciente Rachel Soares Barbosa de Matos.

Segundo a desembargadora, há provas de que o medicamento Soliris já obteve registro para comercialização tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, bem como que o European Medicines Agency (EMEA) classificou tal remédio como órfão. Segundo a magistrada, os “órfãos” são medicamentos destinados a tratar doenças tão raras, que as indústrias farmacêuticas ficam relutantes em desenvolvê-los em condições normais de mercado por razões econômicas, mas que respondem a uma necessidade de saúde pública.”
http://www.brasil247.com/pt/247/saudeebemestar/64062/Alckmin-vai-%C3%A0-Justi%C3%A7a-contra-rem%C3%A9dio-gratuito.htm

    Julio Silveira

    Uma atitude como essa do governador passa despercebida por muita gente, que não se atem a oportunidade concedida de se aferir a capacidade criativa do governante e por conseguinte do estado por ele gerido. Percebemos de forma quase (para não generalizar) comum, a pouca disposição de governantes, para encarar desafios como esse, demonstrando a criatividade necessária para a qualificação de bom gestor. Via de regra o que vemos é isso, repetição, comodismo, conformismo, visão meramente empreguista, a ação quando vem é desqualificadora, despudorada. A mesmice transpassando governos, com pouca ou nenhuma contribuição que justifiquem, de forma lógica, suas aspirações a permanência nos cargos. Ainda assim,inexplicavelmente eles ambicionam, e mesmo com poucos méritos são atendidos.

Julio Silveira

Quando vejo uma noticia como essa, com esse teor de comprovação, não consigo tirar da mente o Maluf, que confrontado com todas as provas de propriedade de contas na suiça negou peremptóriamente serem suas.
Gente como essas sabem que poderão contar com seus parceiros, os de dentro, ou os admiradores desatentos de fora, para se elegerem sempre que fizerem chamadas de socorro. No Brasil, civismo e cidadania ainda são generos de segunda necessidade.

Marcelo de Matos

Deu na Folha de hoje: “Preocupado com o impacto na imagem do partido, o PSDB recorreu à base do governo Dilma na tentativa de blindar o governador de Goiás, Marconi Perillo, amanhã em seu depoimento à CPI do Cachoeira. Após acenar com um pacto de não agressão ao PT, que na quarta terá o governador Agnelo Queiroz (DF) na comissão, o tucanato apelou para o PMDB. Com participação do senador Aécio Neves (PSDB), o senador Cássio Cunha Lima e o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo, atuaram na operação para a blindagem de Perillo, que vai procurar membros da CPI hoje. “Queremos um ambiente de civilidade”, disse Cunha Lima”.

Marcelo de Matos

Amanhã será o dia D: Perillo irá depor na CPMI. Irá depor mesmo? Não sei: seu advogado é o famoso Kakay e poderá pedir para que ele fique em silêncio. Penso que é isso que ocorrerá. Se for o caso, Agnelo poderá ficar calado também, na quarta. Se Perillo falar a CPMI poderá tomar rumo imprevisível. Vejamos!

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