Fernando Ferro: Será que existem deputados ou senadores ameaçados por dossiês do Cachoeira?

Tempo de leitura: 4 min

23 DE AGOSTO DE 2012 – 15H16

Ferro critica “pacto de silêncio” e pede convocação de jornalista

do Vermelho

O deputado Fernando Ferro (PT-PE) manifestou, no Plenário da Câmara, seu “estranhamento” com o “pacto de silêncio” na CPMI do Cachoeira para convocar representantes do Grupo Abril e o jornalista Policarpo Júnior. “Sob o discurso de liberdade de imprensa, vemos uma proteção a uma delinquência jornalística, em parceria com o crime organizado. Não há outro nome”, disse o deputado.

Fernando Ferro enfatizou que as recentes informações dando conta de que a namorada do Cachoeira ameaçou um juiz com um dossiê produzido pelo jornalista Policarpo “revelam a extensão desse problema e a ousadia desse grupo mafioso”. Para o deputado, “essas são práticas da máfia, de grupos criminosos, perigosos e altamente articulados: dossiês para chantagear juízes, produzidos por jornalistas a serviço de criminosos, como o sr. Carlos Cachoeira”, enfatizou.

O deputado considerou ainda que esse silêncio deixa outra dúvida: “Será que existem deputados ou senadores da CPMI ameaçados por dossiês do Cachoeira?”. Para Fernando Ferro, ao se recusarem a convocar o jornalista, “eles estão dando claramente sinais de que ou têm medo ou são cúmplices desses delinquentes”.

Na avaliação de Ferro, isso é extremamente preocupante. “Sugiro ao presidente da CPMI que inquira, que pergunte se está havendo alguma chantagem contra algum desses parlamentares”, completou.

Fernando Ferro lembrou que, por muito menos, na Inglaterra foi aberto um processo que culminou no fechamento de um jornal de grande expressão daquela nação devido a problemas de espionagem política patrocinada por esquemas que utilizaram jornalistas.

“Apelamos aos parlamentares que participam da CPMI para que convoquem o jornalista Policarpo, o Grupo Abril, para que falem sobre suas relações com Carlos Cachoeira. Isso é bom para a democracia e para desmascarar certo tipo de jornalismo que faz associação com o crime organizado para promover dossiês, ameaças e escândalos, como temos visto neste país”, finalizou o deputado.

“Código de Silêncio”

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O silêncio do ex-tesoureiro da campanha do tucano Marconi Perillo (PSDB) ao governo de Goiás Jayme Eduardo Rincón e do ex-corregedor da Polícia Civil Aredes Correia Pires, convocados para depoimento à CPMI do Cachoeira nesta quarta-feira (22), reforça a tese sustentada pela procuradora Léa Batista da existência de um “código de silêncio” que protege a organização.

“A quadrilha age de forma articulada e unitária, onde ninguém entrega ninguém e todos são protegidos pelo chefe Carlos Cachoeira”, enfatizou o relator da CPMI, deputado Odair Cunha (PT-MG).

Ambos compareceram à comissão protegidos por habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para permanecerem em silêncio. Em depoimento na terça-feira (21) à comissão, a procuradora disse que “o silêncio é um direito de todos, mas o código de silêncio adotado nos depoimentos à CPMI e à Justiça Federal é típico de organizações mafiosas”, declarou.

De acordo com o relator, os depoentes perderam a oportunidade de esclarecer as denúncias que pesam sobre eles. No caso do Jaime Rincón, presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras Públicas (Agetop), áudios da Polícia Federal apontam denúncias graves de “acerto” de licitações.

“Os áudios evidenciam que há interesse da Delta Construções na Agetop. Esse interesse foi materializado quando dois lotes de empresas que concorriam com a Delta foram desclassificados. Essa desclassificação ocorreu seis dias após pedido do Vladimir Garcez, braço político da organização criminosa”, denunciou Odair Cunha.

Além disso, as investigações da PF revelam um depósito do grupo de Cachoeira no valor de R$ 600 mil na conta da empresa Rental Frota Ltda, que tem Rincón como um dos sócios.

Da Redação em Brasília
Com agências

A íntegra:

O SR. FERNANDO FERRO (PT-PE. Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero manifestar meu estranhamento em relação ao pacto de silêncio que estamos verificando na chamada CPMI do Cachoeira no que se refere à convocação de representantes do Grupo Abril e do jornalista Policarpo Jr.

Sob o discurso de liberdade de imprensa, vemos a tentativa de se proteger uma delinquência jornalística praticada em parceria com o crime organizado. Não há outra definição.

As recentes informações dando conta de que a namorada do Sr. Carlos Cachoeira ameaçou um juiz com um dossiê produzido pelo jornalista Policarpo Junior revelam a extensão do problema e a ousadia desse grupo mafioso. Sim, porque é uma prática da máfia, de grupos criminosos, perigosos e altamente articulados a feitura de dossiês para chantagear juízes – dossiês produzidos por jornalistas a serviço de criminosos, como o Sr. Carlos Cachoeira.

Esse silêncio me deixa com outra dúvida: será que existem Deputados ou Senadores da CPMI também ameaçados por dossiês do Cachoeira? Porque, ao se recusarem a convocar esse elemento, claramente dão sinais de que ou têm medo ou são cúmplices desses delinquentes. E isso é extremamente preocupante. Sugiro ao Presidente da CPMI que inquira, que pergunte aos membros da Comissão se está havendo alguma chantagem.

Não encontro, Deputado Vieira da Cunha, explicações para esse silêncio, para esse medo de convocar o referido jornalista. Por muito menos, na Inglaterra foi aberto um processo que culminou no fechamento de um jornal de grande expressão, devido a problemas de espionagem política patrocinada por esquemas que utilizaram jornalistas.

Prefiro não crer que os Parlamentares da CPMI contrários à convocação estejam sob a ameaça de um dossiê. Prefiro até acreditar que seja uma blindagem de boa-fé, sob o argumento de que ainda não seja hora de convocá-lo. Mas paira-me uma dúvida neste momento em que há uma grande preocupação em se dar maior dimensão ao chamado escândalo do mensalão e praticamente se retira de cena fatos de tamanha gravidade.

Uma senhora chegou ao cúmulo, ao extremo de ameaçar um juiz com um dossiê, para tentar a liberação do seu comparsa! Isso é inaceitável em uma democracia!

Apelo, então, para os Parlamentares que participam da CPMI no sentido de que convoquem o Sr. Policarpo e o Grupo Abril, para que falem sobre suas relações com Carlinhos Cachoeira. Isso será muito bom para a democracia e para desmascarar certo tipo de jornalismo que faz associação com o crime organizado para promover dossiês, ameaças e escândalos, como temos visto ocorrer neste País.

É bom para a democracia e para a cidadania deste País reconhecermos que não há privilégios e que não se pode utilizar o argumento da liberdade de para impedir uma investigação. A liberdade de imprensa é garantida constitucionalmente – e a defendemos. Queremos uma imprensa livre e com capacidade de fazer investigações, mas não podemos admitir a associação e parceria da imprensa com o crime organizado. Isso, sim, merece investigação. E é o caso de Policarpo Jr, da revista Veja e do Grupo Abril.

Portanto, Sras. e Srs. Deputados, a CPMI tem a obrigação de fazer essa convocação para trazer os devidos esclarecimentos ao País e enfrentar esses criminosos. Caso contrário, a Comissão vai passar para a história como cúmplice ou como medrosa.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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