Educadores lançam manifesto contra fechamento de escolas no meio rural

Tempo de leitura: 4 min

Da Página do MST

Um grupo de professores, intelectuais e entidades da área da educação assinaram manifesto lançado pelo MST, nesta sexta-feira (14/10), que denuncia o fechamento de 24 mil escolas na área rural e cobra a implementação de políticas que fortalecimento da educação no meio rural.

“Fechar uma escola do campo significa privar milhares de jovens de seu direito à escolarização, à formação como cidadãos e ao ensino que contemple e se dê em sua realidade e como parte de sua cultura. Num país de milhares de analfabetos, impedir por motivos econômicos ou administrativos o acesso dos jovens à escola é, sim, um crime!”, denuncia o documento.

Entre 2002 e 2009, mais de 24 mil escolas do campo foram fechadas. Os dados do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do Ministério da Educação, apontam que, no meio rural, existiam 107.432 escolas em 2002. Já em 2009, o número de estabelecimentos de ensino reduziu para 83.036.

O manifesto é assinado pela filósofa Marilena Chauí, professora de Filosofia da Universidade de São Paulo, os educadores Dermeval Saviani, doutor em Filosofia da Educação e professor da Universidade Estadual de Campinas, Gaudêncio Frigotto, professor titular aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Roberto Leher, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Entre as entidades, subscrevem o documento a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e a Ação Educativa.

Abaixo, leia o manifesto.

CAMPANHA FECHAR ESCOLAS É CRIME!

Mais de 24 mil escolas do campo foram fechadas nos últimos oito anos

A Educação é um direito fundamental garantido pela Constituição Federal (Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo III, seção I) – direito de todos e dever do Estado. Entretanto, nos últimos anos, milhares de crianças e adolescentes, filhos e filhas de camponeses, estão sendo privados deste direito.

Nos últimos oito anos, mais de 24 mil escolas do campo foram fechadas. Os dados do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do Ministério da Educação, apontam que, no meio rural, existiam 107.432 escolas em 2002. Já em 2009, o número de estabelecimentos de ensino reduziu para 83.036.

Para essas famílias camponesas, o anúncio do fechamento de uma escola na sua comunidade ou nas redondezas significa relegar seus filhos ao transporte escolar precarizado, às longas viagens diárias de ida e volta, saindo de madrugada e chegando no meio da tarde; à perda da convivência familiar, ao abandono da cultura do trabalho do campo e a tantos outros problemas.

O resultado comum desse processo é o abandono da escola, por grande parte daqueles levados do campo para estudar na cidade. É por essa razão que os níveis de escolaridade persistem muito baixos no campo brasileiro, em que pese tenha-se investido esforços e recursos para a universalização da educação básica.

Portanto, fechar uma escola do campo significa privar milhares de jovens de seu direito à escolarização, à formação como cidadãos e ao ensino que contemple e se dê em sua realidade e como parte de sua cultura. Num país de milhares de analfabetos, impedir por motivos econômicos ou administrativos o acesso dos jovens à escola é, sim, um crime!

A situação seria ainda mais grave não fosse a luta dos movimentos sociais do campo, por políticas de ampliação, recuperação, investimentos, formação de educadores e construção de escolas no campo. Importantes para reduzir a marcha do descaso dos gestores públicos para com os sujeitos do campo, mas insuficiente para garantir a universalização do acesso à educação no campo.

Denunciamos essa trágica realidade e conclamamos aos gestores públicos municipais, estaduais e federais que suspendam essa política excludente, revertendo o fechamento de escolas e ampliando o acesso à educação do campo e no campo. Conclamamos também a sociedade brasileira para que se manifeste em defesa do direito humano à educação, em defesa dos direitos das crianças, adolescentes e jovens do campo frequentarem a educação básica, no campo.

Defender as escolas do campo é uma obrigação, fechar escolas é um crime contra as futuras gerações e a própria sociedade!

Assinam

Marilena Chauí – Professora de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP)

Dermeval Saviani- Doutor em Filosofia da Educação – Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),

Gaudêncio Frigotto, Professor Titular aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) mestre e doutor em Educação

Roberto Leher – Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Celi Zulke Taffarel – Doutora em Educação – Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Sergio Lessa, professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Elza Margarida de Mendonça Peixoto – Doutora em Educação – Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Attíco Chassot- Atua na área de Educação, com ênfase em Alfabetização científica e História e Filosofia da Ciência – Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

Gelsa Knijnik- Doutora em Educação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

Luiz Carlos de Freitas- é professor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Cláudio Eduardo Félix dos Santos – Doutorando em Educação – Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)

Mauro Titton – Professor do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Daniel Cara – Cientista Político – Coordenador Geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Entidades

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE)- Presidente Roberto Franklin de Leão

Ação Educativa – Sergio Haddad, economista, doutor em educação, coordenador geral

ActionAid

Centro de Cultura Luiz Freire – (CCLF)

Latinoamericana da educação – Campaña Latinoamericana por el Derecho a la Educación – (CLADE) – Coordenadora Camilla Crosso

Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (CEDECA- CE) -– Coordenadora Margarida Marques

E-Changer Brasil – Solidariedade, construção coletiva, intercambio entre os povos – Coordenação – Djalma Costa

Para assinar o manifesto, clique aqui

Leia também:

Aluna da USP: “Escrevi ditadura e massacre; placa me agrediu muito”

EM SP, cortadores de cana usam crack para “aumentar” a produção

Stédile: Desmatadores praticam duplo crime na Amazônia

Brasil de Fato: Ruralista foge de debate na TV

Mark Weisbrot: Um certo país que é refém dos banqueiros

“Vozes silenciadas” confirma exclusão do MST como fonte

Altamiro Borges: A Folha baba ódio contra o MST


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Regina Braga

Que maravilha a participação da Marilena Chauí…sempre presente e atuante.Assino, em baixo professora!

Leo V

Santuário dos Pajés contra a especulação imobiliária

15 de Outubro de 2011

Na urgência dos últimos acontecimentos, pouco sobra além de agir em defesa dos companheiros e companheiras em luta. Por Paíque
http://passapalavra.info/?p=47124

Klaus

Existe abaixo-assinado ou manifesto que Marilena Chauí não tenha assinado?

FrancoAtirador

.
.
A socialização do conhecimento é a luz que resgatará a Humanidade das trevas da ignorância.

Que os educadores planetários continuem iluminando cada vez mais seres humanos,
e que, ao dedicarem suas próprias vidas a todas as vidas,
nunca se deixem esmorecer na construção do sonho
de um novo mundo de Justiça e de Igualdade Social

para que as novas gerações possam continuar com Esperança
na realização deste Ideal de Solidariedade e de Paz entre povos e sociedades.
.
.
Assim como não morrerá
Quem planta uma Árvore
Ou quem escreve um Livro,

Não morrerá o Educador
Que planta na Alma
E escreve no Espírito

Bertolt Brecht
.
.
Um abraço camarada e libertário a todos.

Hoje, especialmente aos Educadores.
.
.
15/10/2011

    josaphat

    Evoê!

josaphat

Só não fecham escolas nas cidades porque são úteis como mantenedoras da segurança pública.
Depósitos de trombadinhas.
Os bons alunos que sifu.

Étore

Estes números de escolas existentes em 2002 e em 2009 lançados a esmo no texto dizem pouca coisa, só teriam algum valor prático se comparados pelo menos ao número de alunos candidatos a vagas no meio rural nestes mesmo anos.

    carlos

    Isso é o fundamental pra você?

    essa lógica é a mesma dos governos tucanos, que fecham a escola se, em vez de 30 alunos, tiver 20…

    os 20 que se lasquem…

Étore

Estes números de escolas existentes em 2002 e em 2009 lançados a esmo no texto dizem pouca coisa, só teriam algum valor prático se comparados pelo menos ao número de alunos candidatos a vagas no meio rural nestes mesmo anos.
Num exercício simplório, se a demanda tiver baixado 25% no período o número de vagas resultantes pode ter até aumentado, mesmo com o fechamento das escolas.

    carlos

    a lógica da educação nas áreas rurais não é a mesma que nas cidades, por conta da organização especial e desconcentração populacional.

    fechar uma escola significa que as crianças e jovens terão que se deslocar quilômetros e quilômetros para estudar na escola mais próxima.

Deixe seu comentário

Leia também