por Fernando Brito, no blog Projeto Nacional, sugestão de Cássia Ferreira Andrade
A crise europeia faz mais que abalar a economia de seus países.
Abala os fundamentos da democracia.
Dois governos foram derrubados e não se pode dizer que o foram livremente por seus parlamentos. Aconteceu sob a pressão dos mercados, que não a votos, mas a juros, exigiram suas cabeças – no caso do grego Georges Papandreou, pela heresia do referendo, e no de Sílvio Berlusconi, pela renúncia “demorada demais”.
Mas a intervenção não parou aí.
Os novos governantes não foram (ou serão, no caso da Itália) escolhidos pelos parlamentos.
O recém-empossado primeiro-ministro grego, Lucas Papademos, é um físico formado nos Estados Unidos, que foi vice-presidente do Banco Central Europeu até o ano passado e até agora lecionava em Harvard.
O provável (se é que hoje se pode dizer que algo é provável na Europa) novo primeiro-ministro italiano é Mario Monti, nomeado senador vitalício ontem para preencher os requisitos para o cargo. Tem a mesma origem de Papademos, era comissário da União Europeia.
À parte seus méritos e qualificações pessoais, são dois tecnocratas, ao contrário de Papandreou e Berlusconi que, com erros e acertos, eram figuras da vida social de seus países.
A crise consagrou soluções tecnocráticas e mais preocupadas em satisfazer os mercados “fora” do que a população de seus países.
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Se ambos fossem assumir e tocar nos problemas econômicos com varinhas de condão, fazendo-os desaparecer, muito bem.
O problema é que os dois terão de impor uma profunda recessão aos países que dirigirão.
A Europa não apenas está em crise, mas está se tornando um mar de ressentimentos.
Se eles pudessem se dissolver com a recuperação econômica, bem. Mas não haverá recuperação econômica nem no curto, nem no médio prazos.
Em 2008, os governos eram a saída para as crises. Em 2011, a crise faz saírem os governos.
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