por Luiz Carlos Azenha
“A perspectiva mais provável é de que o desgastado presidente receberá mais um mandato de seis anos”.
Frase final de um editorial da Folha sobre as eleições na Venezuela. Pena que o jornal tenha extinto a revisão. Caso contrário, o revisor certamente apontaria a contradição evidente na frase. O presidente “desgatado” será reeleito. “Desgastado” com a Folha? Com o Merval?
Se vencer, Hugo Chávez não estará com certeza desgastado com a maioria dos eleitores venezuelanos.
Não é a única incoerência do texto. Outra diz respeito à afirmação de que o Executivo venezuelano, ou seja, Hugo Chávez, domina o Legislativo. Como se não tivesse havido, lá atrás, boicote da oposição às eleições parlamentares e como se, mais recentemente, a surpreendente votação oposicionista nas eleições para o Congresso não tivesse sido saudada na mídia brasileira como sinal de enfraquecimento de Chávez.
O jornal também reclama que, no ano passado, a PDVSA repassou R$ 79 bilhões para o governo gastar em projetos sociais. Certamente a Folha preferiria que a petroleira venezuelana tivesse repassado o dinheiro aos investidores de Wall Street.
Vamos agora ao que tem dito publicamente o embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arveláiz, sobre as eleições:
1. Pela primeira vez a classe alta venezuelana dispensou intermediários e disputa a eleição diretamente, com um herdeiro de família tradicional, Henrique Capriles; trata-se, portanto, de uma clara disputa de classes;
2. O núcleo duro do chavismo conta com 40% dos votos; o núcleo duro da oposição, com 20%; os outros 40% estão em jogo;
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3. É fato que os números de Capriles melhoraram nas últimas semanas; a margem, hoje, é de 10 a 12% em favor de Chávez;
4. Uma vitória de Chávez por pequena margem pode abrir espaço para outra aventura oposicionista, no estilo de denúncias e manifestações que tentem colocar em dúvida o processo eleitoral.
Eu diria que pesquisas de última hora devem ser vistas com grande desconfiança.
Nunca se deve esquecer do referendo revogatório de 2004: 58,25% apoiaram a permanência de Hugo Chávez no poder, contra 41,54% (a Constituição venezuelana prevê o recall dos eleitos depois do cumprimento da metade do mandato).
Porém, uma pesquisa de boca-de-urna da empresa Penn, Schoen & Berland, dos Estados Unidos, promovida com a ajuda de um grupo de oposição a Chávez, o Súmate, anunciou que o presidente venezuelano perderia o mandato por 60% a 40%.
Como a lei eleitoral venezuelana proíbe a divulgação de pesquisas de boca-de-urna enquanto a votação estiver em andamento, os números foram divulgados em Nova York e retransmitidos dali para o mundo. As urnas ainda estavam abertas na Venezuela e é possível que a pesquisa tivesse triplo objetivo: desmobilizar os chavistas que ainda não tinham votado, animar os que pretendiam derrotá-lo e preparar o terreno para protestos questionando a legitimidade do referendo.
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