“Vivo cobra serviço que não contratei, um assalto à mão armada”

Tempo de leitura: 4 min

por Conceição Lemes

A professora Emico Okuno, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), é uma das maiores autoridades brasileiras em física médica. Leia-se: efeitos biológicos das radiações nos seres humanos e proteção radiológica.

Ela tem um celular pré-pago da Vivo e quase não o utiliza para internet. A partir do início de dezembro do ano passado, começou a receber no seu aparelho — todas as noites — esta mensagem:

Vivo internet: você tem 15MB até 23:59h de hoje e foi descontado R$0,99 do seu saldo. Ao acabar a franquia, a velocidade será reduzida.

A professora Emico denunciou a Vivo à Agência Nacional de Telecomunicações – a Anatel:

Isso é um assalto à mão armada, pois nunca contratei esse item. E a coisa mais difícil é fazer reclamação na vivo. Já gastei muitas horas tentando resolver essa questão. Tenho inúmeros números de protocolo e alguns deles são:

20141435588433

20141418614796

20141418614796

Com esses números tentei falar com a ouvidoria da Vivo. Mas depois de vários minutos ouvindo musiquinha irritante, aparece uma voz dizendo: a Vivo agradece a ligação e desliga. Não há como resolver esse problema e por isso estou solicitando encarecidamente a ANATEL a solução para esse problema que não é só meu,  mas talvez de um milhão de brasileiros. É uma corrupção em altíssimo nível, enriquecendo ilicitamente, roubando, talvez até mais de um milhão de reais por dia. Socorro! Socorro! Por favor.

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 A Anatel tem 90 dias para responder.

Em entrevista a esta repórter, a professora Emico reafirmou a denúncia.

“É muita safadeza, cobrar por um serviço que não contratei”, protesta. “O tempo perdido para resolver essa questão é pior do que o valor descontado.”

“Em um mês são descontados quase R$30,00 de cada pessoa. Já pensou se a Vivo envia mensagem desse tipo para 1 milhão de pessoas por dia?”, indigna-se. “É R$ 1 milhão que ela embolsa sem fazer nada.”

Apresentamos a denúncia da professora à Vivo e perguntamos:

1. Que serviço é esse?

2. Como a Vivo desconta o valor citado sem que a pessoa tenha aderido ao plano?

3. O que a Vivo tem a dizer sobre: “depois de vários minutos ouvindo musiquinha irritante, aparece uma voz dizendo: a Vivo agradece a ligação e desliga.” ? Eu mesma, Conceição Lemes, já fui vítima disso várias vezes.

A Vivo, via sua assessoria de imprensa, respondeu ao Viomundo.

A  Telefônica Vivo  informa que o caso pontual mencionado pela Sra. Emico Okuno já foi regularizado. O serviço foi desabilitado e a cliente recebeu crédito em saldo de recarga,  em sua linha, validos por 90 dias. A empresa, que entrou em contato com a cliente para esclarecer as providências adotadas, lamenta  e pede desculpas pelos transtornos causados.

A Telefônica Vivo mantém à disposição de seus clientes suas Centrais de Atendimento por meio do *8486 (ligações por celular) ou1058  (ligações do fixo para informações da linha móvel ou do fixa)  e 10315 para clientes da telefonia fixa São Paulo. A ligação é gratuita. Este serviço funciona 24 horas nos sete dias da semana. Além do site: www.vivo.com.br (Fixo São Paulo  e  Móvel).

Imediatamente  após questionarmos a Vivo, a professora Emico recebeu duas ligações da empresa. Foram na quinta-feira da semana retrasada, 16 de janeiro. Pediram desculpas e informaram que iriam devolver os R$ 32 cobrados indevidamente mais R$ 18 de bônus. Um “prêmio de consolação”.

“No segundo telefonema, eu disse que não era erro, mas, sim, que a Vivo havia feito um programa para enviar mensagem todos os dias na mesma hora – 23h59 — e cobrar e que a empresa estava fazendo a mesma coisa com muita gente”, conta-nos Emico. “Disse-lhe, ainda, que ela era funcionária de uma empresa que é capaz de lesar o público, logo, provavelmente, ela está também sendo lesada.”

A Vivo tergiversou. Não respondeu às questões do Viomundo.

Focou no caso da professora da USP, alegando ser “pontual”.

Será que Emico é tão especial que a Vivo criou-lhe um “programa de fidelidade” para toda noite, na mesma hora, contatá-la e tungá-la em R$0,99 por dia?

Resposta esfarrapada. É zombar da inteligência alheia.

E como ficam os demais clientes que estão sendo lesados e não perceberam? Ou perceberam, mas não conseguiram resolver o problema? A Vivo vai devolver a todos o dinheiro já cobrado?

“Isso é enriquecimento ilícito”, avalia Emico Okuno. “É pior que pessoas corruptas, pois deve estar se apropriando indevidamente, todos os dias, de milhões de reais de pessoas que têm um celular.”

Em tempo. Na última quinta-feira 23, Emico mal chegou em casa, no início da noite, o telefone fixo tocou. Era da Vivo. A funcionária disse que a empresa iria devolver R$ 70.

Por que a Vivo aumentou a devolução de R$ 50 (R$32 de cobrança indevida +e R$ 18 de “consolação”) para R$ 70?

Informou antes o valor errado? Ou imaginava que com uns trocados a mais iria sensibilizar a professora a retirar a  reclamação à Anatel?

Acompanho o trabalho da professora Emico há quase 30 anos. E posso garantir que bateram na porta errada. Que o digam, por exemplo, os dentistas que desprezavam  o uso do colar de chumbo no pescoço para proteger a tireoide da radiação nas radiografias da boca. Emico insistiu tanto com os colegas da Odontologia da USP, que hoje os professores orientam seus alunos sobre essa medida preventiva.

“Se não fossem vocês terem levado adiante a denúncia, a minha situação não estaria resolvida. Não foi a Vivo que resolveu. Foram vocês”, arremata a professora. ” Em nome dos demais cidadãos e cidadãs que estão enfrentando o mesmo problema — só entre amigos e familiares já descobri três casos! — ,mantenho a denúncia à Anatel.”

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