Repórteres, fotógrafos e cinegrafistas viram alvo da PM em Brasília
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Repórter fotográfica Monique Renne, do Correio Braziliense, alvejada por spray pimenta nos olhos. Foto: FábioBraga/FolhaPress

Jornalistas lavam os olhos após serem atingidos por spray de pimenta. Foto: André Coelho/O Globo — Sucursal Brasília

Fotógrafo Ueslei Marcelino, da Reuters, mordido por cachorro da PM. Foto: André Coelho/O Globo — Sucursal Brasília

Repórter fotográfico Fábio Braga, da Folha Press, também leva mordida de cão da PM. Foto: André Coelho/O Globo — Sucursal Brasília
por Conceição Lemes
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Essas fotos quase certamente muitos de vocês já viram. Elas estão circulando circular na internet desde 7 de setembro. Assim como o vídeo em que um capitão da Polícia Militar (PM) diz que espirrou gás pimenta nos manifestantes “porque quis”.
Só que os alvos dos abusos da PM não foram os de sempre nos protestos – os manifestantes. Mas jornalistas cobrindo as manifestações de 7 de Setembro, em Brasília. Dois foram mordidos por cães da PM, vários levaram spray de pimenta no rosto e alguns cacetadas, mesmo.
“Há casos, como o da repórter Monique Renne, do Correio Braziliense, que foi alvejada diretamente com spray de pimenta nos olhos”, denuncia Lincoln Macário, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF), em nota à imprensa.
E é justamente para discutir a violência da PM na cobertura de protestos que o SJPDF realiza nesta terça-feira 17, às 19h, um debate no seu auditório.
O objetivo é ouvir relatos de repórteres, cinegrafistas e repórteres fotográficos que trabalharam nos atos de 7 de Setembro e foram agredidos.
“Não foi a primeira vez”, atenta Jonas Valente, secretário-executivo do SJPDF. “Já tínhamos registro de jornalistas que sofreram com a repressão em atos anteriores, como o realizado na abertura da Copa das Confederações.”
Por isso, três dias antes das manifestações de 7 de Setembro, o SJPDF enviou uma carta aberta ao secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar. Nela, conclamava o governo do DF a refletir sobre o uso excessivo e indiscriminado de suas forças de segurança, para não colocar em risco a integridade física de jornalistas e cidadãos em geral.

“Pelos fatos ocorridos, o apelo do Sindicato foi completamente ignorado”, avalia o presidente do SJPDF. “Isso precisa ser explicado. Caso haja identificação dos responsáveis, devem ser punidos.”
O repórter fotográfico André Coelho, de O Globo — Sucursal Brasília, relata ao Viomundo o que aconteceu em 7 de Setembro.
Eram umas 14h 30. Eu e mais alguns colegas cinegrafistas e fotógrafos estávamos perto da Torre de TV. A gente estava fazendo fotos da PM dispersando os manifestantes que tentavam chegar ao estádio Mané Garrincha.
Aleatoriamente, eles [os policiais] jogavam spray de pimenta nas pessoas que protestavam. Quando conseguiram dispersar todo mundo, se voltaram contra nós, jornalistas. Vieram pra cima mesmo. Foi naquele momento que o Fábio Braga, da Folha, fez aquela foto em que aparece um policial espirrando o spray em cima da Monique, do Correio.
Depois, eles soltaram os cachorros em cima da gente. O Ueslei Marcelino, da Reuters, caiu e machucou a perna.
O Fábio Braga e eu continuamos correndo, mas não deixamos de fotografar. Aí, um cachorro pegou o Fábio e eu consegui fazer aquela foto que flagrou a situação.
Mas depois eu também caí. Só que não deixei de registrar nada. Fotografei a cara de todos os agressores, os nomes e as patentes. Enviei tudo para o Sindicato dos Jornalistas e ao Repórteres Sem Fronteiras.
Mas a agressão não parou por aí.
Depois disso tudo, umas 16h30, eu voltei pra fotografar a reunião que o pessoal das manifestações estava fazendo ao lado do Museu Nacional, que, em seguida, seguiu de braços erguidos até o cordão de isolamento da PM e, na paz, foi dialogar.
A PM não quis conversa. Espirrou spray de pimenta contra os caras. A PM só queria que eles saíssem de lá e dizia que ninguém passaria dali.
No Museu Nacional, a PM também tinha um canhão de água. Uma hora, quando eu estava de costas, levei um jato d’água e um tiro de bala borracha nas costas.
Eu registrei Boletim de Ocorrência, apresentei a denúncia à Corregedoria da PM e fiz um exame de corpo de delito no IML, cujo laudo deve estar pronto em cinco dias, me disseram lá.
E olha que isso aconteceu no 7 Setembro! Embora nesse dia a violência da PM tenha sido maior, isso não é novidade em Brasília.
Na quinta-feira da semana passada, por exemplo, eu, o Alan Marques, da Folha, e um cinegrafista da Record levamos uma rajada de spray de pimenta na cara, quando a gente estava fazendo imagens da Polícia agindo contra um manifestante dos Black Blocs, na Esplanada dos Ministérios.
As fotos exibidas no topo desta reportagem constam do dossiê feito pelo SJPDF, com base em denúncias de jornalistas, cinegrafistas e repórteres fotográficos de agências de notícias, portais e jornais vítimas da violência da PM.
Na semana passada, o Sindicato entregou o dossiê ao Ministério Público, solicitando apuração dos abusos cometidos pela Polícia Militar contra profissionais de imprensa nos protestos de 7 de Setembro.
Pediu também audiência com o governador Agnelo Queiroz (PT-DF).
E enviou ofício à Secretaria de Segurança Pública, buscando obter a relação de todos os policiais que trabalharam na operação de 7 de Setembro. A Secretaria de Segurança disse não à lista.
As autoridades do DF seguramente devem explicações ao Sindicato e à sociedade.
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Da Comunidade de Pyelito Kue à Funai


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