Acima, notas de 500 euros em circulação
A crise da dívida da Europa
Corrida para as saídas
Uma corrida está em andamento para reverter o ataque às ações italianas
da Economist, em 12 de novembro de 2011
O momento em que uma multidão de pessoas que anda pacificamente se torna um rebanho em pânico é difícil de prever. Ainda assim, quando acontece, é quase impossível acalmar a histeria. Nos mercados financeiros, também, é melhor evitar o pânico que tentar apaziguá-lo.
Nos mercados de ações da Itália, terceiros do mundo em tamanho, onde as taxas de risco tem crescido há semanas, o medo se transformou em pânico bem cedo, no dia 9 de novembro. Os oficiais de risco da LCH.Clearnet, que faz intermediação entre os bancos, disse que eles deveriam reservar margens muito maiores de dinheiro para garantir risco em seus papéis do governo italiano.
A intenção era proteger a casa, ao reduzir os riscos oferecidos pelos bancos que negociam em papéis do governo italiano, dada a grande flutuação no preço dos papéis nos últimos meses. Ainda assim, esta mudança técnica numa parte do sistema financeiro sobre a qual a maioria das pessoas nunca tinha ouvido falar, teve o mesmo efeito que gritar “Fogo!” num cinema lotado. Quase num instante, os bancos que negociavam com papéis do governo italiano, ou que usavam estes papéis como garantia para outras transações, tiveram de levantar bilhões de euros em dinheiro extra ou vender rapidamente parte de seus títulos italianos.
Depois de alguns minutos da abertura do mercado, houve uma corrida contra os papéis do governo italiano. Era difícil encontrar compradores e, em mercados esvaziados, a taxa de risco dos papéis da Itália passou dos 7% antes de se estabilizar abaixo de 7,5% por causa, acreditavam corretores, da intervenção do Banco Central Europeu. “As câmaras de compensação não tem outra opção a não ser proteger seus membros e, ao fazer isso, elas inevitavelmente apertam o parafuso nos mercados de papéis do governo italiano e empurram a taxa de risco a níveis que poderiam provocar potencialmente uma espiral mortífera”, escreveu Don Smith, da ICAP, que assessora corretores.
Apoie o VIOMUNDO
O aumento da margem de segurança para os bancos não era de todo inesperado. No ano que passou as câmaras de compensação pediram mais garantias para papéis portugueses e irlandeses, depois que os preços dos títulos cairam fortemente. Ainda assim, o aumento nas taxas de risco da dívida italiana veio antes que o esperado e veio antes que os papéis italianos atingissem a margem que, se supunha, balizava a câmera de compensação (4,5 pontos percentuais acima dos juros pagos por papéis dos governos com classificação de risco AAA da zona do euro). E é pouco provável que o aumento seja revertido, mesmo que as compras do BCE derrubem as taxas de risco da Itália.
O pedido de aumento de garantias mudou a percepção que investidores têm dos papéis do governo italiano e isso vai dificultar a capacidade de financiamento da Itália. O risco imediato é que os bancos que incluem papéis italianos como parte de suas reservas de liquidez ou como blocos de sustentação de outros produtos financeiros se livrem dos títulos em busca de apostas mais seguras, como papéis alemães. “Existe uma razão pela qual os papéis alemães estão próximos de seu ponto mais baixo em 200 anos”, diz Hans Lorenzen, do Citigroup. “Todo mundo está tentando fazer o mesmo negócio”.
Entre os grandes bancos europeus que estão se livrando dos papéis italianos estão o BNP Paribas e o Commerzbank. “É o que o mercado está pedindo que façamos”, disse um banqueiro. Na cabeça de muitos banqueiros estão as dificuldades do MF Global, banco de investimento de tamanho médio dos Estados Unidos que quebrou no fim de outubro depois de se carregar de papéis da dívida italiana e de outros governos da periferia da Europa. A mancha é tão tóxica que o Jefferies, outro banco de investimento norte-americano de porte médio, teve suas ações desvalorizadas por causa de negócios com papéis europeus, apesar de ter montado operações com as quais se beneficiaria em caso de perda de valor dos títulos europeus. O banco foi forçado a cortar sua exposição à Europa e suas apostas de que os papéis europeus perderiam valor.
Agora que uma corrida aos mercados começou, pode acabar se auto-alimentando. Depois que as câmaras de compensação aumentaram suas exigências de garantias para os papéis portugueses e irlandeses, os preços destes papéis cairam vertiginosamente (empurrando para cima ainda mais as taxas de risco), forçando as câmaras a aumentar de novo as exigências. Resgates da zona do euro para Irlanda e Portugal foram necessários logo em seguida.
O aumento das taxas de risco, em si, pode aumentar a preocupação quanto à capacidade de um país de pagar sua dívida. A dívida nacional da Itália é alta, mas pagável sob taxas de risco como as que existiam no início deste ano. Se os custos de emprestar continuarem a subir por um período sustentável, a dívida italiana começaria a parecer impagável, levando a novas vendas de papéis [do governo italiano] e a novo aumento da taxa de risco.
Os custos pagos pelos bancos e empresas italianas para emprestar dinheiro também devem aumentar. Os bancos geralmente são incapazes de lançar papéis com juros de longo prazo menores que os pagos por seus governos, porque seriam mais afetados em caso de calote. Maiores custos de empréstimo levariam os bancos a depender mais do BCE para manter o fluxo de crédito; isso vai significar empréstimos mais raros e mais caros para as empresas italianas, o que por sua vez dificulta o crescimento econômico e o repagamento das dívidas pelo país. As empresas mais fortes da Itália podem vender títulos diretamente, mas as taxas de risco que pagam são relacionadas às taxas de risco pagas pelo governo.
Os sinais muito visíveis de corrida contra os mercados de papéis do governo e de corporações da Itália parecem espelhar os cantos mais opacos das finanças europeias. Os bancos gregos estão sangrando depósitos por meses e, ainda assim, o pânico parece a caminho. A Reuters informa que na última semana mais de 5 bilhões de euros foram retirados por poupadores. “Meu pai me mandou dinheiro como ‘presente’, para tirar do banco”, disse um banqueiro nascido na Grécia e baseado em Londres. Os depósitos corporativos da Itália tem saído do país para outros países-membros da zona do euro ou para subsidiárias de bancos estrangeiros na Itália, de acordo com banqueiros.
Outro sinal de dificuldade pode ser encontrado na demanda por notas de 500 euros. Elas são muito grandes para transações do dia-a-dia e muito usadas para estocar colchões ou fazer lavagem de dinheiro, dizem banqueiros. A demanda pelas notas de 500 disparou depois do colapso da Lehman Brothers em 2008 e aumentou de novo em meses recentes.
Preocupantes, também, são os sinais de que companhias de toda a Europa estão se preparando para a possibilidade do rompimento da zona do euro. Um advogado de Londres diz que foi inundado por pedidos de clientes que querem saber sobre a validade de contratos. “Existe uma obrigação contratual de fazer pagamento em euros”, ele diz. “As pessoas estão perguntando o que vai acontecer se não houver euro”.
Leia também:
Gilson Caroni Filho: A luta contra a barbárie capitalista
Paulo Nogueira Batista: Bem que eu avisei
Financial Times: O último que sair apaga a luz
Goldman Sachs aposta no fim da zona do euro
Bancos franceses podem empurrar Europa de volta à crise total





Comentários
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!