por Conceição Lemes
No estado do Rio de Janeiro inteiro, todos os tipos de amianto são proibidos, inclusive a crisotila. Lá, assim como em São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Mato Grosso, são ilegais extração, fabricação, comercialização, venda, uso e transporte da fibra in natura e todos os seus manufaturados, entre os quais telhas, canaletas, caixas d’água.
Sábado passado, 13 de agosto, Fabio Bahiense, engenheiro sanitarista e ambiental, da Associação Brasileira dos Consumidores Expostos ao Amianto (Abracam) surpreendeu-se ao folhear os classificados do caderno Casa & Você do jornal O Globo.
“A Chatuba não pode vender produtos com amianto, fere a lei nº 3.579, de 7 de junho de 2001”, observa Fabio, que, convencido dos malefícios do amianto aos consumidores, há cinco anos criou a Ong Abracam. “Foi a primeira vez que vi esse anúncio, mas provavelmente não foi a primeira vez que saiu.”
De fato, a Chatuba comercializa vários produtos à base de amianto, que podem ser comprados pelo serviço de televendas ou em suas lojas de Realengo, Nova Iguaçu, Nilópolis e Santa Cruz, na Baixada Fluminense.
Nessa quinta-feira, 18 de agosto, esta repórter fez um teste para comprovar. Ligou para essa empresa de materiais de construção:
— Televendas Chatuba, bom dia!
— O senhor tem telha de amianto para vender?
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— De que tamanho?
— Não sei bem…
— Tenho mais de 20 tamanhos. Tem telha de 20 reais, 30 reais, nove reais, 200 reais… Você precisa definir o tamanho da telha de amianto que você quer, pra eu te dar o valor…
“O amianto não é apenas questão de saúde ocupacional”, sustenta o pneumologista Hermano de Castro, pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, no Rio de Janeiro. “É também problema de saúde pública, sim.”
A fibra assassina, como é chamado o amianto, pode promover a longo prazo alterações nas células, causando câncer de pulmão. Também, ao longo do tempo, pode induzir ao mesotelioma de pleura (membrana que reveste o pulmão), de peritônio (membrana que reveste a cavidade abdominal) e de pericárdio (membrana que recobre o coração). É um tumor maligno e extremamente agressivo, incurável e fatal e pode aparecer 30 anos ou mais após o primeiro contato com o amianto.
“A Abrea [Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto] está acionando as vigilâncias sanitárias do estado e do município do Rio de Janeiro para autuarem as empresas de materiais de construção com base na lei estadual de proibição do amianto e na legislação trabalhista de proteção aos trabalhadores”, informa a engenheira Fernanda Giannasi, fundadora da Abrea. “Mesmo após cessado o vínculo trabalhista, a saúde de todo trabalhador que manipula amianto deve ter a sua saúde acompanhada até 30 anos depois de exposição à fibra cancerígena.”
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