por Luiz Carlos Azenha
Domingo, quando foram divulgados os resultados das eleições na França e na Grécia, optamos por dar destaque ao segundo.
A França, com certeza, tem maior peso político, econômico e diplomático. Mas está no campo dos que definem as regras da austeridade.
A Grécia está no campo dos que praticam a austeridade. Junto com Portugal, Irlanda, Espanha e toda a periferia da zona do euro.
Publicamos, recentemente, aliás, que o “core” da União Europeia estava perigosamente reduzido a Alemanha, Finlândia e Luxemburgo.
Grosseiramente, a austeridade imposta na zona do euro a partir da parceria Alemanha-França requer uma imensa transferência coletiva de renda para pagar o rombo criado pela bolha especulativa inventada pelos banqueiros, que começou a estourar lá atrás, com a quebra da Lehman Brothers, em 2008. Detonar direitos sociais está na essência da operação. Instalar governos colaboracionistas, também. Foi assim, especialmente na Itália e na própria Grécia.
Porém, é certo que chegaria a hora de um acerto de contas com o eleitorado. Não há austeridade possível se não há quem se submeta a ela. Por isso consideramos o resultado eleitoral na Grécia mais importante. Lá está sendo definido o futuro do euro.
Hoje, a manchete do Financial Times entrega o jogo: Esquerda grega ataca austeridade “bárbara”.
O que, em resposta, levou um executivo do Banco Central Europeu a considerar publicamente, pela primeira vez, a saída da Grécia da zona do euro.
O líder do Syriza, partido de esquerda que conquistou 16,78% dos votos domingo, disse: “Os eleitores rejeitaram as políticas bárbaras do acordo de salvamento; eles abandonaram os partidos que apoiaram o plano, efetivamente abolindo as demissões [de funcionários públicos] e os cortes de gastos adicionais”.
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Os partidos pró-austeridade já tentaram formar um governo, sem sucesso.
Tudo indica que os partidos que se opõem aos planos de austeridade também serão incapazes (será preciso juntar comunistas e neonazistas). Os comunistas acusam o Syriza de ser social-democrata.
O plano apresentado hoje por Alexis Tsipras fala em abolir o acordo de 174 bilhões de euros [o segundo, de resgate], estatizar o sistema bancário, reverter as reformas trabalhistas, declarar moratória e adotar a representação proporcional no governo.
O jovem Tsipras, de 38 anos, está se revelando uma raposa. Ele sabe que vai fracassar na tentativa de formar um governo. Mas aproveitou o momento sob os holofotes para apresentar a plataforma eleitoral do partido para as novas eleições que, tudo indica, serão convocadas para junho.
Dependendo dos resultados — ou de concessões da Alemanha, quem sabe, até lá –, a Grécia já tem data para voltar ao drachma.
PS do Viomundo: A gente sabe que as coisas estão feias quando o FT chama o Syriza de “partido esquerdista radical”.
PS do Viomundo2: Sei não, essa expansão brasileira baseada no endividamento…
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