Silvio Tendler e seu novo filme: ‘Brizola é mais atual do que nunca; com o desmantelamento do Estado, relembrá-lo é fundamental’; assista ao trailler

Tempo de leitura: 3 min

Por Conceição Lemes

2022, centenário de Leonel Moura Brizola.

Se estivesse vivo, teria completado 100 anos no sábado passado, 22 de janeiro.

As homenagens ao político trabalhista de raiz só estão começando.

Nessa semana, foi lançado no Rio de Janeiro o teaser (trailer, amostra) do documentário do cineasta Silvio Tendler sobre Brizola.

Com duração de 12min56, mostra um pouco do que o filme vai contar (assista, no topo).

“Brizola é mais atual do que nunca”, afirma Silvio Tendler ao Viomundo.

“Com o desmantelamento do Estado e de todas as áreas da superestrutura ideológica do país, resgatar um arauto do trabalhismo brasileiro é fundamental”, observa.

Entre as áreas que estão sendo destruídas, Tendler explicita arte, educação, cultura, ciência e saúde.

“Tentaram com a Cinemateca Brasileira em relação ao cinema”, relembra.

“Agora, estão com todos os canhões ideológicos voltados para a memória do Estado, aniquilando o Arquivo Nacional”, indigna-se. “Querem deixar o Brasil completamente sem memória.”

Viomundo – Por que só fazer agora o longa metragem sobre Brizola?

Silvio Tendler – Na verdade, é um projeto antigo. Como você sabe, a história não tem ponto final.

Cada filme que termino, eu puxo a meada do próximo. Em 1980, lancei Os anos JK. Em 1984, Jango. Em 2011, Tancredo — a Travessia. Na minha cabeça, faltava o Brizola.

Este projeto é uma continuidade da reconstrução da nossa história e da formação do Brasil como nação.

Viomundo – Algum filme te botou mais pilha pra levar adiante o projeto sobre o Brizola?

Silvio Tendler – Foi quando vi o filme Espírito de 45, do Ken Loach. Ele conta a história dos trabalhistas ingleses que, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, vencem o conservador e grande herói Winston Churchill.

O povo estava exaurido e a desigualdade na Inglaterra era imensa.

Os trabalhistas vieram com um programa social-democrata de reconstrução do Estado e da Inglaterra a partir do Estado.

Essa situação levou à primeira vitória eleitoral do Partido Trabalhista, que tinha profundas raízes no movimento operário britânico. Nada a ver com o New Labour reinventado por Tony Blair nos anos 90.

Aí, eu pensei quem representa isso no Brasil? Brizola!

Então, vamos contar a história do trabalhismo brasileiro através da biografia Brizola. Esse é o meu desafio. Espero cumprir.

Viomundo – Você votou em Brizola?

Silvio Tendler – A única eleição em que votei foi em 1982, para governador do Rio de Janeiro.

Viomundo – O filme está em produção?

Silvio Tendler – Já começamos. No final de 2021, o dinheiro foi liberado e agora estamos nos organizando para começar a rodar.

O teaser foi lançado essa semana pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, dentro das comemorações do centenário de Brizola.

Viomundo – Então, é a prefeitura do Rio que está patrocinando o filme?

Silvio Tendler – Sim. Em agosto de 2021, Eduardo Paes reativou a RioFilme e lançou vários editais. Mas o filme do Brizola faz parte dos projetos especiais. O prefeito costuma homenagear pessoas importantes pelo centenário.

Antes, eu apresentei o projeto à Fundação Alberto Pasqualini, do PDT, que não se interessou. Apresentei também à Prefeitura de Maricá (RJ). Não rolou.

Viomundo – Das imagens do teaser quais representam mais o Brizola, no seu entender?

Silvio Tendler — – O Brizola com as crianças no colo. Absolutamente carinhoso com elas. Olhar afetuoso. As imagens que conseguimos até agora não são muito boas quanto à qualidade técnicas (veja abaixo). Mas demonstram, de maneira inequívoca, a preocupação que ele tinha com as crianças.

A construção política de Brizola é voltada para as crianças. Elas representam o projeto do Brizola.

Isso talvez devido à história de vida dele. Com 1 ano de idade, viu o pai ser degolado.

Viomundo – Que outra característica emblemática de Brizola será mostrada no filme?

Silvio Tendler – A defesa intransigente dos direitos humanos, da igualdade, da justiça social e da integração das minorias no processo político. São os lugares de fala de Brizola.

Ele fez o primeiro deputado federal negro do País: o jornalista Carlos Roberto de Oliveira, o Caó. Fez também o primeiro senador negro, Abdias Nascimento. E o primeiro deputado federal indígena, o Juruna.

Viomundo — Esta fotografia foi tirada no lançamento do documentário Jango, em 1984. Na época, você tinha 33 anos. Brizola te olha de uma forma muito terna. Será que o via como uma ”criança” mais crescidinha?

Silvio Tendler — 🤣🤣🤣🤩🤩🤩

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Zé Maria

Brizola foi um Grande Chefe de Estado
sem nunca ter sido Presidente do Brasil.

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