Paulo Nogueira Batista Jr: Metas fiscais? Monetárias? E as sociais? Bazucas na única guerra que vale a pena

Tempo de leitura: 6 min
A fronteira entre a favela Paraisópolis e o bairro do Morumbi, em São Paulo, escancara a gigantesca desigualdade social no Brasil. Grande parte da população vive na pobreza, passa fome, não tem acesso adequado a serviços básicos como educação, saúde e saneamento, enquanto os bilionários continuam vivendo no paraíso dos rentistas em que converteu o Brasil. Para essa minoria super-rica, o povo que se vire, durma na rua e coma restos de comida no lixo. Fotos: Tuca Vieira, Rovena Rosa/Agência Brasil, Roberto Parizotti/CUT, Aline Massuca/Metrópoles, Érica Dezonne/AAN e Normando Sóracles/Agência Miséria

Metas fiscais? Monetárias? E as sociais?

Por Paulo Nogueira Batista Jr.*

O Brasil tem metas para a inflação desde 1999. Acabamos de lançar metas para o resultado primário das contas públicas.

Por que não teríamos, também, metas sociais? Por que só metas monetárias e fiscais?

Eis a pergunta que não quer calar.

Se dependesse do mercado financeiro e dos economistas da mídia corporativa, os objetivos sociais, aceitos retoricamente como “importantes”, “relevantes”, “essenciais”, seriam estabelecidos de forma bem genérica, flexível e vaga.

Em contraste com os monetários e fiscais, especificados com cuidado, detalhes e rigor, especialmente os fiscais.

Na ausência dessas especificações, não haverá confiança na política econômica, asseguram os economistas ortodoxos, com ampla ressonância midiática.

Já os objetivos sociais, vistos na prática como menos relevantes, podem ficar na esfera do meramente vago.

Preciso fazer uma ressalva antes de prosseguir.

Longe de mim considerar irrelevantes as sagradas metas fiscais e monetária.

Pelo amor de Deus! (Estou até me benzendo aqui.) Gostaria apenas de sugerir que metas sociais talvez sejam importantes também.

O pouco caso com questões sociais é típico dos brasileiros privilegiados, tacanhos em visão e aguerridos na defesa dos seus interesses imediatos.

O povo que se vire, que se contente com as sobras do banquete.

Enquanto os pobres padecem, a pequena minoria continua vivendo tranquila no paraíso dos rentistas em que se converteu o Brasil – único país, repito, que oferece aos aquinhoados a possibilidade de aplicar as suas gordas poupanças em títulos líquidos, sem risco e com alta remuneração real.

Paraíso dos rentistas e, também, paraíso fiscal de todos os super-ricos, que têm carga tributária superleve, e ainda assim reclamam, indignados, quando se tenta fazê-los pagar um pouco de impostos.

Um nojo, em suma.

Pequeno distúrbio, porém.

Desde janeiro de 2023, o Brasil tem um governo declaradamente reformista, comprometido, tudo indica, com a distribuição da renda e o combate à fome e à miséria.

Uma serpente no paraíso dos rentistas e super-ricos.

Rosnando volta e meia, a Faria Lima observa com inquietação os movimentos de mudança esboçados por Brasília.

Opera na mídia, por um lado, e nos bastidores do Executivo e do Congresso, por outro, para obstruir tentativas de fazer um pouco de justiça social.

Vozes autorizadas protestam contra os “ruídos” do Presidente da República, que estaria supostamente atrapalhando a condução da política econômica.

Foi eleito pelo voto direto, sem dúvida, mas deve ficar reduzido à condição de um inofensivo e decorativo Rei da Inglaterra.

UM PARÊNTESE

Paro de repente, e releio o que escrevi. Sinto necessidade de abrir um pequeno e rápido parêntese.

É que um texto como este, dirigido a um público não especializado, não pode ficar circunscrito a generalidades; tem que descer ao nível do concreto e dar nome aos bois.

É a melhor maneira de retratar as classes dirigentes brasileiras, quase sempre caricaturais e burlescas, como já dizia Machado de Assis.

Vejamos.

Um bom exemplo é o financista Ilan Goldfajn, que ocupa atualmente o cargo de presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Lá está o bufunfeiro, confortavelmente instalado em Washington. Nada sabe de desenvolvimento, é verdade, mas tem a pose e a solenidade que o cargo requer.

A sua função, na realidade, tem pouco a ver com financiamento do desenvolvimento. O que lhe cabe é essencialmente cumprir as ordens do Tesouro dos EUA, que manda e desmanda no BID.

Pelo Tesouro ele foi eleito, e do Tesouro receberá orientação e instruções detalhadas.

Mas o ponto a que quero chegar é o seguinte: o bufunfeiro em questão, como todos, presta as suas homenagens enfáticas à distribuição da renda e ao combate à miséria.

Recentemente, esteve num congresso como keynote speaker. Quando chegou a sua vez, encolheu a generosa barriga e subiu ao pódio para proferir a sua conferência.

Disse algumas palavras introdutórias, desfiou várias trivialidades, repassou os slogans mais batidos, até que, em determinado momento, estufou o peito, empostou a voz e proclamou: “Tudo faremos pelo progresso social e pela distribuição da renda na América Latina!”

Aplausos.

Satisfeito, a autoridade internacional voltou a seu lugar, arfando com o esforço que fizera, como um tenor medíocre depois de uma ária difícil.

Mas essa figura carimbada é uma entre mil.

Temos uma verdadeira legião de economistas e financistas desse tipo, fiéis serviçais do status quo e da turma da bufunfa.

Na condição de implementadores ou porta-vozes dos interesses dos beneficiários da injustiça vigente, contribuem incessantemente para que a distribuição da renda e luta contra a pobreza fiquem apenas no plano da retórica e dos keynote speeches.

A DETERMINAÇÃO DE LULA

É o de sempre, leitor ou leitora.

Subdesenvolvimento não se improvisa, dizia Nelson Rodrigues, é obra de séculos.

Desta vez, entretanto, temos Lula. Percebe-se que ele não desistiu.

Quer porque quer colocar o pobre no orçamento e, além disso, o rico no imposto de renda.

Naturalíssima essa insistência.

O Brasil, como sabemos, é um dos países com renda e riqueza mais concentradas no mundo.

Uma grande parte da população vive na pobreza, passa fome, não tem acesso adequado a serviços básicos como educação, saúde e saneamento.

Enquanto isso, os bilionários embolsam juros pornográficos e escapam da tributação.

Essa é a nossa miséria nacional estrutural.

Responsabilidade social acima de tudo, portanto!

Se Lula não lutar até a morte para superar esse quadro de pobreza e injustiça, terá patrocinado um dos maiores estelionatos da história.

Mas digo com toda tranquilidade, leitor ou leitora: é visível que o presidente Lula está determinado a honrar seus compromissos de campanha.

Não só as promessas de 2022, mas a história de uma vida inteira. Lula deve ser se não o único, um dos poucos líderes políticos que viveu na carne a pobreza e o desamparo.

“Todos nós somos cínicos”, dizia Delfim Netto, “só o Lula sabe da vida do povo”.

Os políticos e intelectuais discursam ou teorizam sobre a pobreza e a injustiça.

Já Lula viveu essa realidade, tem a memória do sofrimento do povo inscrito na sua trajetória desde a infância profunda.

E ele tem pressa, pois sabe, como político experimentado, que o tempo corre contra o governo e a favor das forças da inércia e do status quo.

METAS SOCIAIS – BAZUCAS NA ÚNICA GUERRA QUE VALE A PENA

Volto à pergunta que não quer calar.

Metas sociais seriam, a meu ver, úteis para dar foco à ação do governo. Num país como o Brasil, são tão ou mais importantes que as metas monetárias e fiscais, consideradas sacrossantas pelo mercado financeiro e seu puxadinho, a mídia corporativa.

Não faltam dados da área social no Brasil. É viável, acredito, usar estatísticas conhecidas e confiáveis para construir metas quantitativas específicas, a serem alcançadas em prazos pré-determinados.

O ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento Social, anunciou recentemente que em torno de 20 milhões de brasileiros serão retirados da pobreza até o final deste ano, refletindo a retomada do Bolsa Família e os novos benefícios previstos no programa.

Hoje, a estimativa do governo é que 62 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da pobreza.

A busca da responsabilidade social já começou. O governo, desde janeiro, tem tomado medidas pontuais para distribuir renda: a volta da política de valorização do salário mínimo, o aumento do limite de isenção para o imposto de renda na fonte, a mencionada retomada do Bolsa Família, entre outras.

Será que esse esforço não se beneficiaria da definição e do anúncio de metas sociais quantitativas?

Metas que o governo se proporia a cumprir ao longo do seu mandato, ano a ano, de 2023 a 2026?

Essa é uma área em que os partidos de esquerda e o governo Lula contam com quadros experimentados.

Não haveria maior dificuldade de mobilizar esses especialistas para selecionar criteriosamente um conjunto de indicadores que balizariam as metas sociais anuais do governo.

Por exemplo, a quantidade de pessoas ou famílias com renda inferior às linhas de pobreza e miséria, o número de domicílios sofrendo de insuficiência alimentar, índices de escolaridade e alfabetização, indicadores de acesso à saúde e saneamento básico, indicadores de distribuição de renda, entre outros.

Essas metas não seriam de um ministério, mas do governo no seu conjunto.

Receberiam, no mínimo, o mesmo destaque e a mesma atenção que recebem as metas macroeconômicas.

O anúncio das metas sociais, após cuidadosa discussão, pública e aberta, deveria ser feito pelo próprio Presidente da República, com a pompa e circunstância que o assunto merece.

Qual a vantagem de seguir procedimentos como esses?

É questão de bom-senso.

O anúncio, no mais alto nível, de um conjunto de metas previamente discutido e elaborado com o auxílio dos melhores especialistas ajudará a que todos os setores relevantes do governo, em colaboração com entidades da sociedade, se engajem nessa guerra contra a fome, a pobreza e a injustiça.

Como tem repetido o presidente Lula, essa é a única guerra de que nos interessa participar. É preciso lutá-la com garra, determinação incansável, sangue nos olhos.

Metas sociais ajudarão a vencê-la.

***
Uma versão resumida deste artigo foi publicada na revista Carta Capital.

*Paulo Nogueira Batista Jr. é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015.

Leia também:

Jeferson Miola: Oligarquia quer que Lula governe com o programa da barbárie derrotado na eleição

Paulo Nogueira Batista Jr.: Arcabouço fiscal, para que te quero?; vídeo


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Zé Maria

Lucros Bilionários dos Bancos em 2022
expõem Abismo Socioeconômico do País

Enquanto bancos lucraram R$ 106,7 bilhões no ano passado,
cresceu o endividamento da população;
Alta taxa de juros imposta pelo autônomo Banco Central
é fator determinante para este cenário
Em 31 de dezembro de 2022, o total de ativos das 5 maiores
instituições bancárias do país atingiu R$ 8,9 trilhões,
alta média de 9,2% em relação a dezembro de 2021

CONTRAF-CUT

Privilegiados pelo sistema econômico brasileiro, mesmo em um cenário de crescimento restrito, os cinco maiores bancos do país obtiveram um lucro líquido em 2022, de cerca de R$ 106,7 bilhões.

É o que mostra o estudo “Desempenho dos bancos 2022”, elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE)*, publicado em maio.

O estudo, conduzido pela economista Vivian Machado, da subseção do DIEESE na Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT), aponta que o montante acumulado pelos bancos se deu em cenário de manutenção da taxa básica de juros, a Selic, definida pelo Banco Central, em 13,75%.

A taxa de juros em patamar elevado – o Brasil tem a maior taxa real do mundo – dificulta o crescimento da economia, a geração de emprego o provoca um aumento do endividamento das famílias brasileiras.

Com juros mais altos, contas a pagar ficam mais altas, o que impacta diretamente no orçamento do brasileiro.

“De um lado os bancos acumulam altos lucros, um aumento de 9,25% em relação a 2021, e de outro um crescimento do endividamento das famílias, por conta dos altos juros”, afirma a economista.

De acordo com os dados do Banco Central, no ano de 2022 foi registrado um crescimento de 20,7% na utilização do crédito Pessoal Física.
Grande parte desse resultado, 85%, vem da utilização do cartão de crédito, cujas taxas de juros do rotativo estão acima dos 410% ao ano.

“No ano passado observamos que as pessoas usaram muito o cartão de crédito para pagar as despesas domésticas e comprar comida para casa.
E o endividamento das famílias acontece também por que elas acabam recorrendo ao parcelamento da fatura ou mesmo ao rotativo do cartão”,
explica Vivian Machado.

Números do endividamento
A parcela de famílias brasileiras com dívidas (em atraso ou não) chegou a 78,3% em abril deste ano.
A taxa é a mesma observada no mês anterior, mas está acima dos 77,7% de abril de 2022.

O aumento da inadimplência atingiu também a classe média, estrato social em que as contas ou dívidas em atraso aumentaram.

As famílias inadimplentes de todas as classes socais chegam ao índice de 29,1% , abaixo dos 29,4% de março, mas acima dos 28,6% de abril de 2022.

Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), divulgada no início de maio pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

A pesquisa mostra ainda que:

Aqueles que não terão condição de pagar suas dívidas somaram 11,6%, percentual superior aos 11,5% de março e aos 10,9% de abril do ano anterior.

A cada 100 consumidores inadimplentes em abril, 45 estavam com atrasos por mais de três meses.

Do total de consumidores endividados, 86,8% têm dívidas no cartão de crédito e 9% com crédito pessoal.

Esse quadro de endividamento tende a aumentar nos próximos meses.

A previsão é que o percentual de 78,3% se mantenha nos próximos dois meses e suba para 78,4% em julho, segundo a CNC.

A roda da economia
O lucro dos bancos, afirma a economista, é resultado direto da manutenção da taxa de juros (Selic), ainda que os bancos tenham elevado seu provisionamento por causa da alta inadimplência e pelo escândalo da Americanas, que entrou na Justiça com pedido de recuperação judicial com uma dívida de cerca de R$ 40 bilhões.

Os bancos são os principais credores da Americanas, e por isso, o risco de calote foi elevado.

“É um dinheiro que sai do bolso dos clientes e vai parar no sistema financeiro.
Com juros altos, os bancos elevam todas as taxas.
E sai do governo também, já que os bancos têm 30% dos títulos da dívida pública”, diz Vivian Machado.

Ela explica que os bancos ganham em diversas frentes, como as operações de crédito, títulos de valores mobiliários e com os recursos que têm parados no Banco Central e rendendo juros.

Com a Selic alta, todas as operações ficam mais caras aos devedores.
Portanto, quem mais ganha são os bancos.
Vivian Machado aponta que, enquanto isso acontece, a economia perece:

“É um dinheiro que poderia estar circulando na economia, no bolso do trabalhador, comprando mais, com indústria produzindo mais, gerando mais empregos, mais arrecadação, mais investimentos públicos”.

Empregos
Enquanto bancos aumentam seus lucros, o emprego no sistema financeiro sofre uma transformação prejudicial aos trabalhadores.

Em 2022, segundo os dados, 617 agências bancárias foram fechadas.

“O que temos visto é uma substituição de agência por unidades de negócios e agências digitais, que têm menos pessoas trabalhando no atendimento.
Além da tecnologia que permite que as operações bancárias sejam virtuais, como os aplicativos de celular”, diz Vivian.

Por outro lado, ainda que o saldo de contratações tenha sido positivo no ano passado, são empregos em atividades não configuradas como ‘categoria bancária’.

“Os bancos apostam há tempos na contração das fintechs [empresas especializadas em tecnologia voltada ao sistema financeiro] do que nos bancários em si”, diz Vivian.

A categoria bancária tem direitos garantidos e protegidos pela Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) negociada entre o Comando Nacional dos Bancários e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban).

Vivian Machado ressalta que, por este aspecto, a atuação dos bancos caracteriza um “esvaziamento” da categoria com o propósito de reduzir encargos com direitos.
E é prejudicial também à população que precisa de atendimento, como os aposentados e idosos que têm dificuldade em lidar com a tecnologia.

“São pessoas que dependem do atendimento bancário humano”, pontua a economista.

* Íntegra do Estudo do DIEESE:

(https://www.dieese.org.br/desempenhodosbancos/2023/desempenhoDosBancos2023.pdf

https://contrafcut.com.br/noticias/lucros-bilionarios-dos-bancos-em-2022-expoem-abismo-socioeconomico-do-pais/

Sandra Rezende

O governo de São Paulo, sob o comando de Tarcísio de Freitas (Republicanos), está tentando passar a boiada ao oferecer terras devolutas a fazendeiros com até 90% de desconto, antes que esta operação seja considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
https://jornalggn.com.br/politica/tarcisio-freitas-90-desconto-venda-terras-publicas-fazendeiros/amp/

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/Fxs2EzBXsAAkm2p?format=jpg

“Fazenda onde [Ruralista Madeireiro Garimpeiro] Ricardo Salles
humilhou camponesas está em penhora e tem histórico de
desmatamento.

Ex-ministro [da Devastação do Meio Ambiente] intimidou Acampadas
da FNL [Frente Nacional de Luta Campo e Cidade] durante diligência
da CPI do MST no Pontal do Paranapanema (SP).”

Mulher q acompanhava deputado perdeu posse efetiva do imóvel
por não quitar Contrato de Compra.

Dono de fato foi condenado por desmatamento ilegal.

O acampamento visitado p Salles foi instalado na Fazenda Santa Mônica,
q está penhorada, pois é alvo de disputas judiciais, e tem um histórico de
desmatamento sobre Área de Reserva.”

https://t.co/hLurs2A85H

https://twitter.com/terezandrade/status/1664983953348915202
https://twitter.com/terezandrade/status/1664983956033355776

https://deolhonosruralistas.com.br/2023/06/01/fazenda-onde-salles-humilhou-camponesas-esta-em-penhora-e-tem-historico-de-desmatamento

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Zé Maria

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“Por que o MST assusta tanto?”

“O MST assusta tanto porque luta para que o Brasil,
uma das nações mais ricas do mundo, e que figura
entre as cindo maiores produtoras de alimentos,
deixe de ser um país periférico, colonizado, marcado
por abissal desigualdade social”

Por Frei Betto, no Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

O MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), que vi nascer
e ao qual permaneço vinculado, é o mais popular, combativo
e democrático movimento popular do Brasil.

Congrega, hoje, cerca de 500 mil famílias assentadas
e 100 mil acampadas.

Luta por um direito elementar, jamais efetivado no Brasil,
um país de dimensões continentais e onde há muita gente
sem terra e muita terra sem gente – a reforma agrária.

É, no mínimo, uma vergonha constatar que no século XXI os únicos
países que não fizeram reforma agrária na América Latina foram
Brasil, Argentina e Uruguai.

O modelo de propriedade da terra que ainda perdura em nosso país
é o das capitanias hereditárias.

E a relação de muitos proprietários de terras com seus empregados
pouco difere dos tempos de escravidão.

Nascido em 1984 e prestes a completar 40 anos em 2024, o MST sabe,
desde seus primórdios, que governo é como feijão, só funciona na panela
de pressão…

Ainda que tenha contribuído decisivamente para eleger Lula presidente,
o MST jamais se deixou cooptar pelo governo. Mantém a sua autonomia
e sabe muito bem que a relação de governo com movimentos sociais
não pode ser de “correia de transmissão” e, sim, de representação
das bases sociais junto às instâncias governamentais.

Muitos políticos enchem a boca com a palavra “democracia”, mas temem
que passe de mera retórica para ser, de fato, um governo cujo principal
protagonista é o povo organizado.

O MST se destaca também pelo cuidado que dedica à formação política
de seus militantes, o que muitos movimentos e partidos de esquerda
negligenciam.

Os sem-terra mantêm, inclusive, um espaço próprio para o trabalho
pedagógico, a Escola Florestan Fernandes, em Guararema (SP).

E em todos os eventos que promove, o movimento valoriza a “mística”,
ou seja, atividades lúdicas (cantos, hinos, painéis etc.) e símbolos
(fotos, artesanato etc.) de caráter emulador.

O MST segue rigorosamente os ditames da Constituição Cidadã de 1988.

A Carta defende o uso social da terra, que deve respeitar o meio ambiente
e ser produtiva.

E exige algo ainda em compasso de espera e imprescindível se o Brasil
quiser alcançar o desenvolvimento sustentável e abandonar sua submissão
aos ditames das nações metropolitanas, que nos impõem a mera condição
de exportadores de produtos primários, hoje elegantemente chamados
de “commodities”…

Ocupação não é invasão. Jamais o MST ocupa terras produtivas.

Hoje, o movimento é o maior produtor de arroz orgânico na América Latina
e defende a Reforma Agrária Agroecológica, capaz de facilitar o acesso
à terra como direito humano; produzir alimento saudável e sustentável
para toda a sociedade brasileira; oferecer ao mercado alimentos salubres
e livres de agrotóxicos; valorizar o papel da mulher trabalhadora do campo;
expandir o número de cooperativas de agroecologia; e ampliar a soberania
e a biodiversidade alimentares no combate à fome e à insegurança
alimentar.

A campanha do “Abril Vermelho” não usa o adjetivo como evocação da cor
preferida dos símbolos comunistas (e, também, das vestes solenes
dos cardeais), como querem interpretar os detratores do MST.

É, sim, a cor do sangue dos 19 sem-terra cruelmente assassinados
pela Polícia Militar em Eldorado dos Carajás, no sul do Pará,
a 17 de abril de 1996.
Sete vítimas foram mortas por foices e facões, e os demais por tiros
à queima-roupa.

Cerca de 100 mil famílias aguardam assentamento no Brasil.

E é no mínimo um desserviço o agronegócio promover o desmatamento
de nossas florestas para expandir a fronteira agrícola, usufruir de isenção
fiscal na exportação de seus produtos e concentrar sua produção
em apenas cinco mercadorias: soja, milho, trigo, arroz e carne,
controladas por grandes empresas transnacionais.

A fome cresce no mundo.
Já são quase 1 bilhão de pessoas afetadas.
E isso não resulta da falta de alimentos.
O planeta produz o suficiente para alimentar 12 bilhões de bocas.
Resulta da falta de justiça.

No sistema capitalista, o faminto morre na calçada à porta do supermercado.

Porque o alimento tem valor de troca e não de uso.

Ora, enquanto a produção alimentar não seguir os padrões agroecológicos
e a terra e a água, recursos naturais limitados, não forem considerados
patrimônios da humanidade, a desigualdade tende a se agravar e, com ela,
toda sorte de conflitos.
Paz rima com pão.

O MST assusta tanto porque luta para que o Brasil, uma das nações
mais ricas do mundo, e que figura entre as cindo maiores produtoras
de alimentos, deixe de ser um país periférico, colonizado, marcado
por abissal desigualdade social.

Tomara que, um dia, nunca mais se torne realidade os versos cantados
por João Cabral de Melo Neto em “Funeral de um lavrador”:

“Não é cova grande / É cova medida / É a terra que querias / Ver dividida”.

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/628339-por-que-o-mst-assusta-tanto-artigo-de-frei-betto

Leia também os Artigos de Frei Beto sobre a CPI do MST
armada pelos ruralistas bandidos na “Casa Baixa” do Lira.

“A militância do MST repete, com razão, que o Brasil
tem muita gente sem terra e muita terra sem gente.

Os fatos comprovam que o aumento da concentração fundiária
favorece o desmatamento e a violência no campo.”

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/629039-cpi-contra-o-mst-i-artigo-de-frei-betto

https://www.ihu.unisinos.br/629085-cpi-contra-o-mst-ii-artigo-de-frei-betto

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/629187-cpi-contra-o-mst-iii-artigo-de-frei-betto

https://www.ihu.unisinos.br/629262-cpi-contra-o-mst-iv-artigo-de-frei-betto
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Zé Maria

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FUNERAL DE UM LABRADOR *

Poema: João Cabral de Mello Neto
Música: Chico Buarque de Hollanda

Por Tânia Alves

https://youtu.be/YWc2-2rRJc4

Essa cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida

É a conta menor que tiraste em vida

É de bom tamanho, nem largo nem fundo
É a parte que te cabe nesse latifúndio

É a parte que te cabe nesse latifúndio

Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida

É a terra que querias ver dividida

É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas’tarás mais ancho que estavas no mundo

Estarás mais ancho que estavas no mundo

É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo

Porém mais que no mundo te sentirás largo

É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada não se abre a boca

É a parte que te cabe nesse latifúndio
É a terra que querias ver dividida

É a terra que querias ver dividida
É a parte que te cabe nesse latifúndio

* Excerto da Obra “Morte e Vida Severina”

https://youtu.be/mExu66-0r8k

https://colegiocngparanagua.com.br/wp-content/uploads/2020/07/MORTE-E-VIDA-SEVERINA.pdf
https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-tecnologica-federal-do-parana/cultura-e-literatura-brasileira/morte-e-vida-severina/34781033
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Zé Maria

https://mst.org.br/wp-content/uploads/2023/05/ESPECIAL-TO-COM-MST-3-1024×368.jpg

E os Juros Baixos? E o Crédito para a Produção?

E a Agricultura Familiar? E a Comida Saudável?

E a Classe Trabalhadora? E o Salário-Mínimo?

https://mst.org.br

Romeu

A elite financeira domina os medíocres na Câmara e no Senado. Pouco espaço para políticas sociais. Infelizmente no voto a realidade social não vai mudar.

Nilton Carvalho

O problema é que a mentira começa pelo presidente lula. Ele diz que vai acabar com a pobreza, pura mentira, o que ele faz é tirar o dinheiro dos aposentados que ganham mais de dois salários mínimos para dar para quem ganha um. Lembro que o salário mínimo já foi mais de CR$ 300.000.00 e ninguém ficou rico, e ele segue a mesma estratégia do FHC, ou seja, todos os aposentados tem que ganhar um salário mínimo. Se deixar a maioria do povo mais miserável [é tirar da miséria, ele que engane os ignorantes porque a mim nenhum político mentiroso me engana

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