Jeferson Miola: Oligarquia quer que Lula governe com o programa da barbárie derrotado na eleição

Tempo de leitura: 4 min
Arte: Carlos Latuff @LatuffCartoons, via Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região

O governo Lula sob a ordem constitucional forjada com o golpe

Por Jeferson Miola, em seu blog

Com o golpe de 2016 consumado e contando com o domínio total do Congresso, a oligarquia dominante instituiu uma nova ordem legal e constitucional no país, provocando uma ruptura do pacto constitucional de 1988.

A Constituição “cidadã”, orientada pelos princípios de uma República de bem-estar social, foi violada na sua essência para que o capital e as finanças pudessem turbinar o roubo da riqueza nacional e da renda do povo brasileiro.

A guerra do establishment contra a democracia foi, na realidade, uma guerra de saqueio e pilhagem do Brasil.

A nova institucionalidade jurídica forjada com o golpe está representada nos retrocessos profundos promovidos durante os ciclos do usurpador Michel Temer, de 2016 a 2018, e do governo fascista-militar nominalmente presidido por Bolsonaro, de 2019 a 2022.

No mundo do trabalho, por exemplo, foram perpetradas mudanças que retrocedem em décadas os direitos trabalhistas e previdenciários conquistados pela classe trabalhadora principalmente a partir da primeira metade do século 20.

A desproteção do trabalhador foi crucial para a recomposição da taxa de reprodução do capital baseada na exploração desmedida.

As finanças sacramentaram o “direito sagrado” de abocanharem a renda nacional por meio da emenda constitucional do Teto de Gastos, mecanismo que comprime os investimentos sociais para assegurar o desvio, todo ano, de bilhões do orçamento nacional para o pagamento eterno da dívida pública.

As regras ambientais foram estilhaçadas. Ao lado do desmonte da institucionalidade de proteção sócio-ambiental, o esvaziamento da legislação permitiu a expansão do setor capitalista mais devastador, mais escravizante, mais etnocida, mais ecocida e mais racista.

Os assassinatos do jornalista inglês Dom Philips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira foram consequências diretas dessa barbárie estimulada e apoiada pelo governo fascista-militar.

A entrega de ativos da Petrobrás para grupos privados comprometeu a segurança e soberania energética do país.

O mecanismo chamado PPI [Preço de Paridade Internacional] para a formação dos preços dos combustíveis da Petrobrás é, na realidade, um duto corrupto por onde escoaram, durante os períodos Temer e Bolsonaro, uma média de mais de R$ 100 bilhões por ano diretamente para as mãos de grupos privados, na sua maioria estrangeiros, na forma de dividendos.

Essa proeza faz da Petrobrás a empresa de petróleo de todo o mundo que mais distribui dividendos.

É lamentável que no primeiro trimestre do governo Lula a Petrobrás tenha repetido esse padrão rapineiro com a distribuição de R$ 24,7 bilhões em dividendos.

Outra mudança fundamental para aprofundar a nível inaudito a rapina do Brasil foi a independência do Banco Central, estabelecida para assegurar a liberdade absoluta para as finanças rapinarem com sua volúpia insaciável.

Neste ano, com a taxa exorbitante de juros, o Banco Central obrigará o Tesouro Nacional a desviar R$ 790 bilhões do orçamento, que poderiam ser investidos no SUS, na educação, em habitação, políticas públicas, além de em obras e investimentos prioritários em todo país, para cobrir o aumento das despesas públicas devido ao pagamento dos juros da dívida.

Roberto Campos Neto, o agente bolsonarista da presidência do Banco Central, pratica terrorismo financeiro contra a economia nacional e o governo Lula, o que caracteriza um atentado à soberania popular. Apesar disso, ele não só continua impune, como protegido por um mandato estabelecido em Lei Complementar.

O modelo criminoso de privatização da Eletrobrás tem regras inéditas de lesividade, sem par no mundo inteiro. É um roubo desavergonhado, despudorado, praticado por quem confia na eterna impunidade, mesmo cometendo crimes de lesa-pátria e lesa-povo.

O conjunto das mudanças jurídicas e legais operadas pelas classes dominantes desde o golpe contra Dilma conformam, possivelmente, o maior esquema de rapinagem jamais acontecido em qualquer outro país no mundo contemporâneo.

A pilhagem ocorrida no Brasil entre 2016 e 2022 é de uma magnitude somente comparável ao processo de apropriação e roubo do Brasil durante o período colonial.

O governo Lula se desenrola no contexto dessa guerra de ocupação e pilhagem do Brasil.

A força ocupante do território brasileiro não é, porém, nenhum exército estrangeiro, mas sim as cúpulas partidarizadas das Forças Armadas, que funcionam como “gendarmeria” da barbárie ultraliberal.

O Congresso, com sua maioria direitista, ultradireitista e ultraliberal, ao impor essa nova constituticionalidade anti-povo e anti-nação por meio da aprovação de leis e mudanças constitucionais, empresta uma falsa legitimidade à ordem pós-2016 que aumentou a espoliação e o roubo do país.

Arthur Lira, o chefe da Deputadocracia, não cansa de lembrar as pautas inegociáveis já aprovadas pelos saqueadores do país: a revisão do Marco do Saneamento, a doação da Eletrobrás e a independência do Banco Central.

O fim do Teto só será aceito se for colocado no seu lugar algo ao estilo do Novo Arcabouço Fiscal – que, aliás, agrada aos neoliberais e ultraliberais por ser uma espécie de Teto dos Gastos com outro nome.

Miriam Leitão, em artigo n’O Globo [14/5], diz que Lula não deve lutar todas as lutas, mas centrar-se na consolidação da democracia e aceitar como favas contadas a privatização da Eletrobrás, o Marco do Saneamento, o fim da CLT, os preços da Petrobrás etc etc.

É como se ela dissesse: aceitamos o Lula, claro. Desde, no entanto, que ele governe com o programa derrotado; ou seja, que o governo dele mantenha intocável o programa que serviu de plataforma para a derrubada da presidente Dilma e que foi executado nos períodos Temer e Bolsonaro.

A oligarquia dominante quer que Lula traia o povo brasileiro e governe com o programa da barbárie capitalista que derrotou em 30 de outubro.

Leia também:

Jean Marc Von der Weid: Governo Lula — uma administração errática

Jeferson Miola: Limites da articulação política no sistema de extorsão Deputadocrático de Arthur Lira


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

Só pra Lembrar

“Rosimary Cardoso Cordeiro, Dona do Cartão de Crédito Usado por Michelle Bolsonaro,
ganhou um Cargo no Gabinete da Senadora Damares Alves,
ex-Ministra do Governo de Jair Bolsonaro.

https://www.giromarilia.com.br/noticia/giro-cidades/dona-de-cartao-usado-por-michelle-bolsonaro-ganha-cargo-de-damares/120174

Zé Maria

Vazô

Bolsonaro afirma que o Cartão Corporativo Pessoal do Presidente da República “ficava nas mãos dos Ajudantes de Ordens”.

Segundo Investigação da Polícia Federal (PF), Membros da Equipe da Ajudância de Ordens do então Presidente Jair Bolsonaro – notadamente o Tenente-Coronel Mauro Cid, Titular de Cargo de Chefia – depositavam Dinheiro, em Espécie, em Contas Bancárias em Nome de Pessoas Ligadas à ex-Primeira-Dama Michelle Bolsonaro.

Paralelamente, a Polícia Federal investiga Contas no Exterior Ligadas a Jair Bolsonaro (PL).

A Apuração ocorre no Âmbito da Tentativa da Corporação Policial de identificar a Prática do Crime de Lavagem Dinheiro, por Intermédio do Tenente-Coronel Mauro Cid – o “Coronel Cid” – Ajudante de Ordens do ex-Presidente Bolsonaro.

De acordo com a PF as Movimentações Financeiras, em tese Relacionadas a Jair Bolsonaro, teriam ocorrido em uma conta no BB Americas, Subsidiária Internacional do Banco do Brasil, na Flórida/USA.

A Investigação já havia Descoberto uma Conta do Coronel Cid no mesmo BB Americas.

Na semana passada, uma Perícia da PF no Celular do Coronel Cid revelou Conversas sobre Remessas de Dinheiro ao Exterior.

De acordo com o Laudo Pericial, há Mensagens Trocadas entre o Coronel Cid e um Suposto Operador de sua Conta nos Estados Unidos da América (EUA).

[Com Informações de Carta Capital)

Zé Maria

Na realidade, o NAF com Gatilho
não será só uma Cajadada:
a médio Prazo,
será uma Metralhada nos Benefícios Sociais.
Porque o Cajado com Gatilho é uma Adaptação de Metralhadora para fulminar os Investimentos Sociais.
E futuramente poderá condenar Lula ao Impedimento pelos Neoliberais, com Apoio dos Fascistas e da Mídia Venal.

O Lula precisa se convencer de que desta vez a Imprensa Venal – associada com os Fascistas Bolsonaristas –
não deixará o Governo ampliar a Popularidade.

A Globo já está até costurando um Acordo, visando à Eleição para Prefeito Municipal de São Paulo, com o Valdemar da Costa Neto (PL), Presidente do Partido do Bolsonaro, que está sondando lançar, como Candidato em 2024, o Desmatador Salles ou o Astronauta Terraplanista ao Cargo no Poder Executivo Paulistano.

Se for para Disputar Contra o PT,
o Cartel GEF* faz Campanha até para a Micheque
do “Cartão Emprestado da Rosemary”.

*(Globo, Estadão, Folha)

Zé Maria

Um Cajado com Gatilho

O Lira quer matar
Dois Coelhos
com uma Cajadada.

Zé Maria

Se aprovarem o Relatório do NAF que querem mandar à Votação na Câmara hoje,
terão aprovado o Plano Neoliberal do Guedes, não o do Haddad.

Zé Maria

ZéNador Marréco de Maringá
ostenta nas Redes Sociais

https://twitter.com/i/status/1657849244579921922

Zé Maria

O Cazuzismo dos Anos 1980
projetado no “Lirismo” da Atualidade:

Fala Lira:
“Qual é o teu negócio,
O nome do teu Sócio?”

https://youtu.be/Nriw77gqctg

“Eu vejo o futuro repetir o passado;
Eu vejo um museu de grandes novidades.

O Tempo não pára.

Nas noites de frio é melhor nem nascer;
Nas de calor, se escolhe,
é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros:
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro;
Transformam um país inteiro num puteiro,
Pois assim se ganha mais dinheiro.

A tua Piscina tá Cheia de Ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos.

O Tempo não pára.
Não pára não.

https://youtu.be/-WUIo2971KY?t=60

Zé Maria

A Imprensa do Mercado é Favorável à ‘Independência’ do Banco Central,
mas é Contrária à Independência do Brasil.

Zé Maria

E todo esse Saqueio da Nação Brasileira com a Colaboração Prestimosa ou Propaganda mesmo da Imprensa Neoliberal.

Se essa Mídia Venal existisse no Período Colonial, seria a favor da Escravidão Humana e contra a Independência do Brasil – como é até hoje.

Deixe seu comentário

Leia também