Grécia: Cada vez mais próxima de uma saída à Argentina

Tempo de leitura: 3 min

Last updated: May 13, 2012 10:24 pm

Cresce o medo de que a Grécia deixe o euro

por Ralph Atkins em Frankfurt, no Financial Times

Banqueiros centrais da zona do euro falam publicamente pela primeira vez sobre o gerenciamento da possível saída da Grécia da união monetária no momento em que persiste o impasse na formação de um governo de coalizão, o que aumenta a perspectiva da Grécia rejeitar os termos do seu pacote de resgate internacional.

Os comentários feitos por membros do conselho do Banco Central Europeu indicam que o risco de uma fragmentação da zona do euro está sendo levado crescentemente a sério pelos definidores de políticas públicas da região.

Eles marcam uma mudança significativa no BCE, que previamente argumentava que os tratados europeus não permitiam a saída e que o rompimento da zona do euro causaria danos econômicos incalculáveis.

“Presumo que um divórcio amigável — se for necessário — seria possível, mas eu ainda o veria com pesar”, disse Luc Coene, presidente do Banco Central da Bélgica, ao Financial Times.

Patrick Honohan, presidente do Banco Central irlandês, disse numa conferência na Estônia, no fim de semana: “Podem acontecer coisas que não foram imaginadas nos tratados… Tecnicamente, [a saída de Grécia] pode ser gerenciada. Não é necessariamente fatal, mas não é atraente”.

Junto com outros políticos da zona do euro, o BCE aumentou a pressão na Grécia para que o país cumpra o programa de resgate internacional — e advertiu que o não cumprimento levaria ao corte de ajuda financeira externa.

Jens Weidmann, presidente do Bundesbank, que também integra o conselho do BCE [Nota do Viomundo: Quem manda!], advertiu numa entrevista à mídia alemã, no fim de semana: “As consequências para a Grécia [de uma saída do euro] seriam mais sérias para o país do que para o resto da zona do euro”.

Vince Cable, secretário de comércio britânico, disse que o Reino Unido “tem esperanças” de que as paredes de fogo da zona do euro sejam suficientemente fortes para evitar o contágio da Itália e Espanha se a crise se espalhar a partir da Grécia e de Chipre. [Nota do Viomundo: Vejam só a linguagem, como se os gregos fossem uma doença contagiosa]. Caso contrário, ele disse que haveria um “impacto maciço” no comércio britânico.

Contrastando com os comentários do fim de semana, em dezembro passado o presidente do BCE, Mario Draghi, disse ao FT que uma saída da zona do euro resultaria em “uma quebra substancial dos tratados existentes”, de consequências incalculáveis para o bloco.

Na noite do domingo a Grécia parecia a caminho de novas eleições nacionais depois de discussões sobre uma coalizão lideradas pelo presidente do país terem terminado com acusações mútuas entre líderes conservadores, socialistas e da esquerda.

Antonis Samaras, líder do centro-direitista Partido da Nova Democracia, disse que a coalizão radical esquerdista [Nota do Viomundo: Ops! Parece a Folha] Syriza tinha bloqueado as tentativas de superar os obstáculos, mesmo depois de uma carta do primeiro-ministro Lucas Papademos ter circulado no encontro, demonstrando a deterioração da posição fiscal grega.

O presidente Karolos Papoulias se reunia no domingo com líderes de quatro partidos menores, que também conquistaram vagas no Parlamento.

Analistas deram opiniões conflitantes sobre o que vai acontecer em seguida. Um observador conservador disse que ainda era possível que alguns dos eleitos pelos Gregos Independentes, um grupo de direita, poderiam retornar ao Nova Democracia, dando aos dois partidos pró-euro maioria por pequena margem.

Mas um importante socialista disse que Evangelos Venizelos, líder do Pasok [socialista], se nega a servir em um governo que não inclua o Syriza ou a Esquerda Democrática, um pequeno partido de esquerda que já fez coalizão com o Syriza. “Estamos claramente a caminho de outra eleição”, ele disse.

PS do Viomundo: Ao propor claramente o rompimento com os termos do resgate internacional, o Syriza se qualifica para vencer as eleições na Grécia. Na Alemanha, a coalizão de Angela Merkel perdeu mais uma eleição regional neste domingo. Existe outro caminho para a Grécia?  Sim, embora a mídia nacional e internacional tenha medo de falar naquele país que começa com a letra A. Ah, e quando dizem que a presidente Dilma Rousseff enfrentou corajosamente os bancos no Brasil, como se fosse um ato de vontade pessoal, a gente pergunta: Tinha outra saída?

Leia também:

Dr. Doom: Divórcio doloroso, mas necessário

Naomi Klein: Preparem os canhões de água e as balas de borracha

Le Monde Diplomatique: O país que disse não aos banqueiros 


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Comentários

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Mário SF Alves

Saída à Argentina?!! Pode ser e parece razoável, no entanto fica a dúvida: qual seria o equivalente Mercosul para a Grécia?

Andre

Já se fala da saída da Grécia do Euro porque a banca já foi salva. O medo é que a eleição de um partido de esquerda, que está longe de ser “radical” contamine o resto da Europa.MAs o caso não é comparável com o do país com a letra A, o caso é unico pois até onde eu saiba, nunca houve um país que saisse de uma união monetária que é diferente de uma âncora cambial.Ninguém sabe o que vai acontecer.
PS: quanto a Dilma enfrentar os bancos, não é tão simples assim. Só teve retórica e nenhuma ação. Apenas a diminuição do rendimento da poupança que só atinge os pequenos poupadores pois para quem tem menos de 30.000 reais na poupança não vale apena ir para os fundos quando e se os juros baixarem, em termos de rentabilidade. E nada garante que a queda da SELIC vai afetar significativamente os juros na ponta do consumidor. Aliás por que aumentar o consumo garantindo empréstimos ao invés de aumentando os salários? Em resumo, os bancos nunca perdem!

José Neto

Eles devem seguir o exemplo da Islândia, mandar os bancos às favas.

antonio barbosa filho

Desculpe, Ricardo, mas não vejo tanta crítica da esquerda ao Euro e à UE. O que se critica (infelizmente até os neonazis da Grécia o fazem) é a “austeridade” como única saída. Se considerarmos de esquerda os partidos socialistas, como o vitorioso francês ou o oposicionista português, se vc ver o que tem dito o primeiro-ministro da Bélgica, e tantas outras vozes da esquerda, não encontrará repudio ao euro. O que se repele é esta política fixada no déficit de 3% do PIB para todos e rapidamente, com os necessários cortes orçamentários que só atingem os mais pobres e a classe média.
É o que tenho observado rm muitas leituras e conversas aqui na Holanda, em Portugal e neste final de semana em Bruxelas, dentro do Conselho Europeu. Tenho escrito a respeito e convido-o a ler o que tenho apurado por aqui no http://www.outraspalavras.net/2012/04/09/da-grecia-a-america-latina/

Antonio

A saída da Grécia do Euro vai levar alguns bancos a bancarrota.
A exemplo da Islândia cujo povo repudiou o resgate de uma dívida que beneficiaria apenas os bancos, acredito que o povo e o governo da Grécia não terão outra saída.
A origem desta dinheirama despejada nos países europeus e que tem passado por aqui para recolher juros, penso eu, é americana.
Logo após o atentado de 11 de setembro, os EUA liberaram bilhões de dólares para “salvar” a economia.
Como a casa da moeda americana não passa de uma guitarra, semelhante àquelas que são vendidas aos incautos por alguns golpistas, aquele dinheiro todo não tinha lastro, como não tem lastro uma única nota de US$ 1.
Emprestaram aos bancos que repassaram aos europeus que por sua vez repassaram sob a forma de empréstimos aos governos fazendo a felicidade dos corruptos de lá.]
Em Portugal o dinheiro entrou sob a forma de empréstimo bancário para a construção da terceira ponte sobre o Tejo e para a construção da linha do TGV entre Lisboa e Madri, colocando Portugal na rota dos trens de alta velocidade.
Não é preciso dizer que o dinheiro sumiu, mas a dívida é do governo e do povo portugues que estão pressionados pelos bancos que repassaram a dinheirama.
Na Espanha o Santander esté metido em falcatruas e está sendo investigado pelo governo inglês pelas patifarias da filial inglesa.
A saída a Argentina talvez seja o caminho, acabamos com intermidiários, agiotas e outros escroques que vivem da desgraça alheia.
Haverá alguns sacrifício, uns poucos meses, mas nada que se compare ao que esta ocorrendo agora e que conhecemos bem, desemprego, crise, altas etc.
A Islândia vai muito bem obrigado, a Argentina também, isto as Mírians e Sardenbergs não divulgam pois são contratados da FEBRABAM que poderia se traduzida por Federação Brasileira de Bandidos se substituirmos o m pelo n.

    Roberto Weber

    É FEBRABAN mesmo, não precisa nem alterar a última letra…

RICARDO GODINHO

Duas coisas diferentes têm sido tratadas como uma só: a crise econômica e o euro.
Me digam os que xingam a UE e o euro, como se fossem o diabo: se cada país tivesse mantido sua moeda, não haveria a crise? A crise é do euro e da UE, ou do capitalismo financeiro?
Talvez o euro tenha sido responsável por tornar a crise mais rápida, mais profunda, MAS só talvez, porque isso é como aqueles “ses” do futebol: se o goleiro tivesse pegado o penalti, se o juiz tivesse dado impedimento… ora, nunca vamos saber o que seria, realmente.
A Grécia decidindo seguir os passos da Argentina, o que estará escolhendo? Somente sair do euro? Ou sair de um modelo econômico neoliberal, baseado na supremacia do capital financeiro?
As vezes me pergunto porque, se um dos objetivos finais de todo esquerdista é a união do mundo, porque tantos tratam um caminho de unificação de um continente que vive em guerra desde o final do neolítico como algo execrável? A UE (e o euro) é mais um fio dos muitos que o capitalismo nos impinge e com que trançaremos a corda com os enforcaremos…

Ninguém

A saída da Grécia e de todos os países que estão se afogando em números é a portenha: mandar uma banana para os “mercados”, sair do Puteiro, quer dizer, da Zona do Euro e retomar a soberania perdida para o BCE, leia-se Alemanha. Ah! É sempre bom lebrar aos incautos, que o A mencionado pelo Azenha e de Argentina, não é de Alemanha.

Em tempo: gostei muito do “impacto maciço”. É a tradução correta de “massive”. Em português, não existe “massivo”.

CNunes

Tem o exemplo da Argentina e também o da Islandia, que por plebiscito decidiu não pagar.

Panambi

Que dó, que dó, que dóóóóóó……

RicardãoCarioca

No final das contas, serão os EUA que terão acabado com a UE e não precisarão dividir mais tanto o ‘mercado’ financista com eles. Reconcentração de poder à vista!

Marinho

Para quem se interessar,recomendo a leitura de “Crise na zona euro” no site http://www.passapalavra.info.

PS: para que se utilizar de um termo como “PIIGS”?

Luís

A ÚNICA solução para Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália é saírem da zona (nome mais apropriado não há, heheheheh) do Euro. Qualquer outra “alternativa” só vai fu*** cada vez mais esses países.

Fizeram bem a Inglaterra, a Suécia e a Dinamarca de não terem entrado nessa canoa furada do Euro. E melhor ainda fez a Noruega, que sequer entrou na UE.

Paciente

Curiosamente, o continente que inventou a serpente (o capitalismo), se esqueceu que no Paraíso, de tempos em tempos, tem crise.

Fizeram um tratado como se fosse o testamento de Jeová.

Depois que o primeiro país sair, a nudez estará revelada (ou revelada mais uma vez…): branco europeu também mete os pés pelas mãos e faz besteira de dar pena.

Se for liberal, além de fazer asneira, não tem hombridade para dizer humilde (como disseram os socialistas ante o Muro caído de Berlin),:

– “É… parece que o sistema não era assim tão perfeito…”.

Cláudio

“Se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” – Malcolm X (1925-1965).

“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma.” – Joseph Pulitzer (1847-1911).

Ley de Medios, já ! ! !

Marcio H Silva

Se a Grecia sair, os outros PIIGS saem também. Vai ser o caos para os Bancos que mamam nas tetas destes países…..

    Willian

    Ainda bem que não temos nada a ver com esta crise e ela não nos afetará em nada, né pessoal.

Marat

A Grécia de Aquiles, Ájax, Ulisses, Idomeneu, Teucro e outros tantos grandes guerreiros, tem mais é que sair fora dessa zona, que é o Euro, e deixar para a napoleônica Angela Ferkel um belo de um cavalo!

Gil Rocha

A única outra saída da
presidenta seria a mesma
do Lula.
Não fazer nada.

Fabio Passos

Já caiu a ficha de que a “ajuda financeira externa” e as medidas de “austeridade” só tem mergulhado a Grécia no buraco.
O mesmo vale para Portugal, Espanha, Itália… o quanto antes romper com as imposições da banca melhor.

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