Ângela Carrato: Golpistas de ontem e de hoje

Tempo de leitura: 8 min
Golpe de 1964: em 31 de março, as tropas saem de Juiz de Fora (MG) em direção ao Rio de Janeiro. Na madrugada de 1 de abril, o golpe que derrubou o governo Jango se consuma. Tanques tomam as ruas. Tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2024: extremistas de direita invadem o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). Fotos: Aquivo Nacional e Marcelo Camargo/Agência Brasil

Golpistas de ontem e de hoje

Por Ângela Carrato* 

Neste domingo, 31 de março, o golpe civil-militar, que mergulhou o Brasil numa ditadura que durou 21 anos, completa 60 anos.

Não há, obviamente, motivos para quaisquer comemorações.

Mas há, de sobra, razões para lembrar o que se passou e, sobretudo, entender como a maioria da população brasileira acabou sendo levada a aceitar a derrubada de João Goulart, um presidente democraticamente eleito, que queria colocar o país na rota do desenvolvimento econômico, social e da soberania nacional.

Entender o que se passou em 1964 significa, guardadas as devidas proporções, entender o que se passa nos dias atuais, uma vez que os motivos que animavam os golpistas daquela época são praticamente os mesmos dos setores que hoje se colocam contra o terceiro governo Lula.

Entre os golpistas de ontem e de hoje estão os donos da mídia corporativa, meia dúzia de empresários que controlam perto de 90% de tudo o que a população brasileira lê, assiste e escuta, um dos maiores monopólios de que se tem notícia no planeta.

Historicamente, essa mídia sempre se bateu contra os poucos governos progressistas que o país já teve.

O suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, não teria acontecido se não fosse a sórdida campanha (“mar de lama”) que jornais e emissoras de rádio daquela época fizeram contra ele.

João Goulart, o herdeiro político de Vargas, foi derrubado a partir da igualmente sórdida campanha que o identificava ao comunismo, logo ele que era um rico proprietário de terras e criador de gado no Rio Grande do Sul.

O que Goulart pretendia, com as Reformas de Base, era que o Brasil ingressasse no século XX, enfrentando a má distribuição de terras, as péssimas condições de vida e trabalho da maioria da população e, sobretudo, não continuasse sendo uma espécie de quintal dos Estados Unidos.

O golpe contra Dilma Rousseff, em 2016, mentirosamente denominado de impeachment por essa mídia, teve como motivo principal o mesmo do suicídio de Vargas: a defesa dos recursos naturais, do petróleo e da Petrobras.

Quem se lembra que esta mídia chegou a noticiar que Dilma disse que não iria renunciar, fugir ou se matar?

No auge da campanha contra ela, a frase soava como algo prepotente. Não era. Dilma apenas deixava claro que conhecia bem a história e sabia de onde vinham os petardos.

Por trás da prisão, sem crime, do então ex-presidente Lula, em 2018, estava essa mesma mídia que, ao endeusar a Operação Lava Lato, passou para a maioria da população a falsa ideia de quem eram os mocinhos e os bandidos.

A Lava Jato já está mais do que desmoralizada, mas a mídia corporativa brasileira, à frente Grupo Globo e os jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, não desiste de tentar revivê-la, orquestrando, eles próprios, campanha com objetivo de transformar em notícias ruins ações adequadas e positivas do atual governo.

É importante lembrar que essa mídia, que insiste em criticar e desgastar o terceiro governo Lula, foi a mesma que passou pano para os quatro anos de desmandos de Bolsonaro e já faz, ainda que de forma discreta, campanha pela anistia aos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Vamos aos fatos.

Qualquer mídia minimamente séria teria noticiado com o devido destaque que o país bateu em fevereiro um recorde da maior importância: gerou 306 mil empregos com carteira assinada, o maior número para esse mês em toda a história.

Novos empregos de qualidade se transformaram em sonhos para as pessoas.

Os governos golpistas Temer e Bolsonaro jogaram o país em índices estratosféricos de desemprego e o primeiro aprovou uma reforma dita trabalhista que cortou direitos e praticamente estabeleceu a informalidade como regra nas relações de trabalho.

Pois não é que a mídia corporativa fez de tudo para transformar uma notícia excelente em algo ruim!

Como não havia como questionar o número dos novos empregos, tratou de relativizar sua importância e cercar o fato com o fantasma da volta da inflação.

Para tanto se valeu da posição do Banco Central “independente”, cujo presidente é um sabido bolsonarista, Roberto Campos Neto, que além de advertir para os riscos da volta do “dragão”, também sinalizou com o possível fim no corte da taxa de juros.

Mesmo sendo mentira que haja risco de volta da inflação por esse motivo, a mídia insiste na tecla.

Baixa remuneração e desemprego fazem parte do kit de exploração máxima que caracteriza a classe dominante brasileira, da qual os donos da mídia são parte integrante.

Na linha do transformar boas em más notícias, essa mídia continua insistindo “nos riscos da interferência do governo na Petrobras e na mineradora Vale”, anunciando, como o fez em editorial O Globo na última quinta-feira, que os investidores podem se sentir “afugentados”. Nada mais mentiroso!

Em primeiro lugar é preciso que as pessoas saibam que tanto no caso dos novos empregos quanto em se tratando da Petrobras e da Vale, essa mídia não cobre o assunto.

Ela defende seus próprios interesses e os interesses imperialistas à revelia da maioria da população brasileira. Ela preferia que dividendos bilionários continuassem sendo distribuídos para meia dúzia de tubarões (ela própria um deles) ao invés de vê-los investidos no desenvolvimento do Brasil.

Se isso é gritante em se tratando da Petrobras, torna-se tapa na cara dos brasileiros, quando se sabe que a atual gestão da mineradora Vale privatizada foi responsável pela morte de centenas de pessoas e pela destruição de amplas regiões e rios em Minas Gerais.

Não me recordo dessa mídia ter demonstrado indignação ou fosse buscar as raízes dos crimes humano e ambiental em Bento Rodrigues e Brumadinho, que chocaram o país.

São inúmeros os exemplos de como essa mídia age para desgastar o terceiro governo Lula e é importante que fique claro que isso não se dá por acaso.

Faz parte de uma campanha cuidadosamente articulada, planejada e colocada em prática. Nesse sentido, a manchete da Folha de S. Paulo da última quinta-feira é exemplar.

Do nada, os institutos de pesquisa que andaram sumidos nos governos golpistas, estão de volta.

A pesquisa que gerou a manchete da Folha diz respeito à avaliação da população brasileira em relação ao Senado e à Câmara dos Deputados.

Elaborada pelo DataFolha, instituto que pertence ao próprio jornal, ela indicou uma pequena melhoria na percepção das pessoas em relação ao Legislativo.

Foi o suficiente para o jornal manchetar: “Câmara e Senado têm melhor avaliação em 21 anos de DataFolha”.

Para quem está acostumado com ardis, tal manchete soa como uma espécie de complementação de outras que, nas semanas anteriores, davam conta da queda de avaliação do governo Lula.

Dito de outra forma, enquanto a mídia tenta passar para a população que o terceiro governo Lula vai mal, com avaliação positiva “apenas” na casa dos 35%, faz de tudo para incutir na cabeça do cidadão comum que um Legislativo que tem 22% de aprovação vai bem.

O nome disso é manipulação, mas poucos se dão conta.

Mais ainda: depois que se tornou público que a Folha divulgou como matéria jornalística publicidade milionária do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e, a partir daí, vem destacando “aspectos positivos” de sua gestão, é bom ficar de olho na cobertura que o jornal dos Frias dá para o bolsonarista Arthur Lira, presidente da Câmara, e para o escorregadio Rodrigo Pacheco, presidente do Senado.

Chefe do Centrão, Lira, cujas atividades políticas e empresariais merecem reportagens investigativas que nunca são feitas, tem sido tratado a pão de ló por esta mídia, que vê nele um aliado.

Não por acaso, ele é também um dos principais adversários de Lula.

Ninguém pode perder de vista que o governo não tem maioria na Câmara e para a aprovação de qualquer medida de interesse popular, tem que negociar com Lira. O mesmo se dando em relação a Pacheco.

Se fosse para noticiar o que acontece, era para essa mídia estar mostrando as chantagens que Lira e Pacheco fazem permanentemente contra o governo.

Não se trata, como alguns alegam, de parte do jogo democrático. Não é competência de o Legislativo abocanhar amplos nacos do orçamento da União, mas isso tem acontecido sob o silêncio de jornais, emissoras de rádio, de TV e de seus comentaristas amestrados.

A divulgação de outra pesquisa, dessa vez por parte do controvertido Instituto Paraná, paga pelo PP, uma das agremiações bolsonaristas que integram o Centrão, vem se somar a essa campanha, pois visou pesquisar o ambiente político eleitoral.

Do nada, o instituto divulga, com ampla repercussão na mídia, que num eventual embate hoje entre Lula e Bolsonaro, Lula teria 41,6% e Bolsonaro 41,7%, empate técnico.

Em si a pesquisa é uma provocação às instituições brasileiras, uma vez que Bolsonaro está inelegível por oito anos.

Mais grave ainda: no momento em que a Justiça analisa se, ao permanecer dois dias na Embaixada da Hungria, após ter seu passaporte aprendido, o ex-presidente descumpriu medidas disciplinares, a pesquisa funciona como combustível para alimentar o fanatismo dos seus seguidores e tentar inibir que a lei seja cumprida.

Era para a mídia estar cobrindo todos os passos de Bolsonaro, se tivesse – o que não é o caso – compromisso mínimo com a informação.

Tanto não tem que foi pelo jornal estadunidense The New York Times que a população brasileira ficou sabendo, na última segunda-feira, da estranha presença e hospedagem do ex-capitão na embaixada da Hungria.

Ele e sua defesa dizem que seria “ilógico” pensar em fuga, mas tudo indica que sua intenção era pedir asilo político para o governo de um país governado pela extrema- direita e por um político que ele considera amigo, o primeiro-ministro Viktor Orbán.

Esse assunto, que teve enorme repercussão na mídia internacional, praticamente já sumiu da mídia local, deixando claro como ela está fechada com a campanha que se desenvolve nos bastidores para que os golpistas de 8 de janeiro sejam anistiados.

À frente desta campanha estão setores militares, os parlamentares do Centrão e, discretamente, o próprio Lira. É o Legislativo que teria que aprovar tal anistia.

Ligando os pontos, faz sentido a manchete da Folha procurando melhorar a imagem da Câmara dos Deputados e do Senado, não é mesmo?

Não faltam, portanto, exemplos de como a mídia brasileira age em sua sanha golpista contra o terceiro governo Lula. Tão importante quanto saber identificar este tipo de atuação é denunciar o que ela faz.

Sua atuação hoje é a mesma de seis décadas atrás, com a diferença que, nesse período, suas técnicas de manipulação, silenciamento e persuasão se sofisticaram e ela tem a desculpa de jogar para as redes sociais a culpa pelas mentiras que ela própria cria e divulga.

Nesse aspecto, mídia corporativa e redes sociais estão juntas e afinadas.

Por tudo isso, o balanço desses 60 anos do golpe de 1964 está longe de uma conclusão.

Tivemos a redemocratização, a eleição direta de péssimos governantes como Collor, FHC e Bolsonaro, para os quais a mídia desempenhou papel fundamental para que chegassem ao poder e lá permanecessem.

Tivemos também a eleição de governos progressistas como foram os dois primeiros de Lula e o primeiro de Dilma, pois o segundo na prática não existiu. Esses governos, no entanto, foram hostilizados e permanentemente emparedados pela mídia, a ponto de Dilma ter sido derrubada.

O papel da mídia para a eleição de Bolsonaro e sua permanência no poder é por demais conhecido, mesmo sendo o pior presidente de toda a história republicana.

Se o golpe de 8 de janeiro tivesse sido vitorioso, possivelmente essa mídia estaria, como sempre, se referindo aos ditadores de forma muito respeitosa, como fez durante 21 anos, e exigindo cadeia para todos que defendem os interesses nacionais.

Por tudo isso, é fundamental que Bolsonaro e demais golpistas sejam julgados e recebam a devida punição.

Foi um erro anistiar, no passado, militares golpistas, como será um erro anistiar golpistas agora.

Sem a anistia em 1979 para quem golpeou, matou e torturou, dificilmente teríamos o golpe contra Dilma e a tentativa de golpe em 8 de janeiro.

O espírito que aninou esses episódios é o mesmo e vários de seus personagens também.

Quanto à mídia golpista, mesmo o governo Lula indo bem, ela continuará tentando fazer de tudo para desgastá-lo e, se possível, derrubá-lo.

A população brasileira precisa estar atenta para inibir novas tentativas de golpe. Essa talvez seja a principal lição a se tirar dessas últimas seis décadas.

Se não conseguirmos fazer com que a democracia avance, daqui a 60 anos as novas gerações continuarão se debatendo para entender as razões pelas quais governos progressistas não conseguem avançar no Brasil.

*Ângela Carrato é  jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG

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Comentários

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Zé Maria

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Falando em “Golpistas de Sempre”, o Deputado Federal Ricardo Salles,
ex-Ministro [da Devastação] do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro,
está conversando com o ‘Novo’ [que já nasceu Velho] para retornar
aos Quadros do Partido do Governador de Minas Gerais Romeu Zema.

A volta, se concretizada, acontece depois que Salles foi Preterido no PL
(Sigla onde está atualmente) à Disputa pela Prefeitura de São Paulo.

Salles gostaria de ter sido o Ungido Bolsonarista na Disputa Eleitoral
contra Guilherme Boulos, da Chapa PSOL/PT, Coligação da Esquerda.

Mas Líderes de PL, Republicanos e MDB de São Paulo foram contra
a Candidatura de Extrema-Direita do Minerador Ruralista Desmatador Salles.

Essas Siglas da Direita, que compõem a Coalizão Municipal [com pretensões
estaduais e federais futuras para 2026], entendem que o Eleitor Paulistano
preferirá votar no Atual Prefeito, por isso escolheram apoiar a Reeleição de
Ricardo Nunes.

O ‘Novo’ pode se firmar como “Linha Auxiliar do Bolsonarismo”.

O Primeiro Bolsonarista-Raiz a aderir ao Partido foi o Senador
Eduardo Girão, que saiu do Podemos em fevereiro de 2023.

Em outubro do mesmo ano foi a vez do ex-Deputado Deltan
Dallagnol – já Cassado pela Justiça Eleitoral. [O Bastidor].

Zé Maria

https://t.co/0W6jFsyPn8

“Manifesto Aponta que Projeto de Lei (PL 364/2019)* Aprovado
pode ter Grave Impacto aos Ecossistemas Não-Florestais e
à Sustentabilidade da Agricultura Brasileira, Garantidos pela
Lei de Proteção da Vegetação Nativa”

https://twitter.com/MST_Oficial/status/1774146155753906474
https://mst.org.br/2024/03/30/pesquisadores-da-embrapa-denunciam-projeto-que-altera-a-lei-que-protege-vegetacao-nativa/

(*) O Projeto de Lei (PL) Nº 364/2019, de Autoria do Deputado Federal
Alceu Moreira (MDB/RS) – [Defensor do AgroNegócio Predador] – foi
Aprovado na Comissão Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados.

O Parecer do Atual Relator, Deputado Federal Lucas Redecker (PSDB-RS) –
[também Ruralista Gaúcho Canalha] – que opinou pela constitucionalidade,
juridicidade, técnica legislativa e, no mérito, pela aprovação na forma de Substitutivo da Comissão de Meio Ambiente [SIC] e Desenvolvimento
Sustentável (CMADS), com Subemenda Substitutiva, foi Aprovado na CCJC,
por 38 votos “Sim”, 18 votos “Não”, com Quórum de “56 Votantes”, Ratificando
o Parecer Vencedor (Com Substitutivo) apresentado em 2022 na CMADS
pelo Deputado Federal José Mario Schreiner (MDB/GO) [outro Agro-Infame].

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=2374070&filename=Parecer-CCJC-2023-12-11

O Parecer do Relator Inicial, Deputado Federal Nilto Tatto (PT-SP),
Contrário ao PL 364/2019, foi Rejeitado em 2019.

O Deputado Federal Patrus Ananias (PT/MG) Apresentou Voto “Não”
em Separado.

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2190986
.
.

Zé Maria

Os Atuais Golpistas, incluindo os de 2016,
foram Doutrinados nas Academias e
Escolas Militares pelos Golpistas de
1964-61-54-45-37-30 … 1891-89-40-23 …
sucessivamente.

Zé Maria

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Bancada Bolsonarista do Agronegócio Golpista
participaram de Ato Pró-Bolsonaro na Av Paulista

Membros-Chave da Frente Parlamentar da Agropecuária
[Bancadas do Boi e da Bala] estiveram presentes
na manifestação do domingo 25/02;
entre eles estão Políticos Financiados por Invasores de
Terras Indígenas;
a Deputada Carla Zambelli desfilou com suas “Botinas
Bolsonaro”, em Homenagem também ao Agro Predador

Por Carolina Bataier (*), no Observatório “De Olho nos Ruralistas”.

Realizada no dia 25 de fevereiro, data em que é celebrado
o Dia do Agronegócio, a manifestação convocada pelo
ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista teve
a presença de 19 líderes da Frente Parlamentar da
Agropecuária (FPA), entre deputados e senadores.
Desses, 14 são correligionários do Partido Liberal (PL)
e quatro integram o Partido Progressistas (PP) que,
desde setembro, integra a base do governo Lula.
Completa a lista o PSDB, representado pelo senador
Izalci Lucas, do Distrito Federal.

Nos vídeos de convocação da manifestação,
publicados em suas redes sociais, Bolsonaro
adotou tom de fala moderado e informou
que se tratava de um ato em defesa do
Estado Democrático de Direito [SIC].

Divulgado em outubro de 2023, o relatório da
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI)
dos Atos Golpistas apresentou uma lista com
dezesseis financiadores do movimento que
resultou na invasão e depredação do patrimônio
público.

Desses, 13 (TREZE) são fazendeiros, conforme
noticiou o “De Olho nos Ruralistas”:
“Entre 16 Financiadores do Golpe
Denunciados por CPMI,
13 são Fazendeiros“.
(https://deolhonosruralistas.com.br/2023/10/17/entre-16-financiadores-do-golpe-denunciados-por-cpmi13-sao-fazendeiros/)

PP MARCOU PRESENÇA EM ATO BOLSONARISTA

Presidente da FPA, o deputado Pedro Lupion (PP-PR)
vestiu a camiseta verde e amarela da seleção brasileira
e posou para uma foto ao lado dos governadores
Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG)
e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).

A imagem foi publicada no Instagram e no Twitter
do paranaense com a legenda “acompanhando
a manifestação do povo brasileiro”.

Pedro Lupion pertence a uma linhagem de ruralistas paranaenses,
composta pelo ex-deputado Abelardo Lupion e pelo ex-governador
Moisés Lupion.

O apoio dele a Jair Bolsonaro contou com o coro de outros três colegas
de partido, o mesmo do presidente da Câmara, Arthur Lira.

Vice-presidente da FPA na Câmara, o capixaba Evair de Melo (PP/ES),
da bancada do café, viajou a São Paulo para a manifestação
e compartilhou vídeos homenageando o ex-presidente e
a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro.

Ele foi um dos líderes da bancada ruralista que receberam
financiamento de campanha de fazendeiros com imóveis
sobrepostos a terras indígenas, conforme revelado pelo
relatório “Os Invasores: parlamentares e seus financiadores
possuem sobreposições em terras indígenas“
(https://deolhonosruralistas.com.br/wp-content/uploads/2023/06/Os_Invasores_Politicos_2023.pdf),
produzido por este observatório.

Evair recebeu R$ 20 mil de Adelar Mateus Jacobowski,
sócio da Agropecuária São Gabriel, que disputa uma área
limítrofe à TI Menkü, no Mato Grosso.

O mesmo tipo de financiamento beneficiou a campanha
de outro nome de peso do PP, o senador gaúcho Luis Carlos
Heinze.

Atualmente ocupando o cargo de “vogal” — uma espécie de
conselheiro — da FPA, o negacionista climático Heinze recebeu
durante a campanha de 2018 uma transferência no valor de
R$ 100 mil de Wanda Inês Riedi, diretora da empresa I. Riedi,
um dos 100 (cem) maiores conglomerados do agronegócio
brasileiro.
A empresa disputa terras com indígenas da TI Tekohá Guasu
Guavirá, em Terra Roxa (PR), e é dona de 6.312,86 hectares
sobrepostos às TIs Porquinhos e Kanela Memorturé, no
Maranhão.

Vice-presidente da FPA para a região Norte, o deputado
Vicentinho Junior (PP-TO) também vestiu verde e amarelo
e foi para a Avenida Paulista no domingo.
Ele é investigado por usar recursos da cota parlamentar
para comprar um carro no valor de R$ 100 mil.
O veículo adquirido com dinheiro público foi registrado
em nome da irmã do deputado.

Apesar da presença dos parlamentares, o PP integra
oficialmente a base do presidente Lula da Silva (PT).

Em setembro de 2023, o presidente da Câmara
Arthur Lira negociou a adesão da sigla ao governo.
Em troca, o líder do Centrão recebeu a presidência
da Caixa Econômica Federal e da Fundação Nacional
de Saúde (Funasa), além do Ministério dos Esportes,
onde emplacou seu aliado André Fufuca (PP-MA).

Apesar da entrega de cargos, o bloco rachou nos meses
seguintes: um grupo de parlamentares se amotinou
e declarou não pertencer à base governista.

ALA RURALISTA DO PL TAMBEM SE CONECTA
A INVASORES DE TERRAS INDÍGENAS

O deputado Domingos Sávio (PL-MG), vice-presidente da FPA
na região sudeste, acompanhou a manifestação do alto do
trio elétrico principal, perto do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Agropecuarista, Sávio tem entre os financiadores da sua
campanha o fazendeiro Adelar Mateus Jacobowski, titular
da Fazenda Frei Gabriel, que se sobrepõe aos limites
da TI Menkü, em Mato Grosso.

No grupo de integrantes da FPA com campanha financiada
por invasores de terras indígenas, estavam os deputados
Marcos Pollon (PL-MS), da Comissão de Segurança no Campo;
e Rodolfo Nogueira (PL-MS).
Na campanha de 2022, eles receberam dinheiro dos fazendeiros
Rovilson Alves Correa e Walter Romeiro Beloto, respectivamente,
cujas fazendas incidem em TIs no Mato Grosso do Sul.

Entre os manifestantes com cargos de destaque na FPA
estavam as deputadas Caroline de Toni (PL-SC),
da Coordenação Jurídica da FPA;
Coronel Fernanda (PL-MT), da Comissão de Defesa Vegetal,
e Bia Kicis (PL-DF), da Comissão de Alimentação e Saúde;
e os deputados Giacobo (PL-PR), da Comissão de Orçamento;
e Zé Vitor (PL-MG), da Comissão do Meio Ambiente.

Amigo íntimo de Bolsonaro, o deputado e ex-Policial Militar
Alberto Fraga (PL-DF) usou o Instagram para convidar
seus seguidores para o evento.
Na FPA, ele é vogal, cargo equivalente ao de conselheiro.

Entre os políticos com cargo de vogal, marcaram presença na
manifestação bolsonarista os deputados Giovani Cherini (PL-RS),
José Medeiros (PL-MT) e Roberta Roma (PL-BA), esposa de
João Roma, presidente do PL na Bahia, que também vestiu verde
e amarelo e posou ao lado de Pedro Lupion.

Para participar da manifestação, o senador Jorge Seif (PL-SC)
alterou a data de uma viagem de trabalho e gerou um gasto público
no valor de R$30 mil, conforme noticiou o UOL.
No Instagram, ele publicou um carrossel de imagens, onde posa
ao lado de outros apoiadores de Bolsonaro, como os senadores
Magno Malta (PL-ES) e Márcio Bittar (UB), eleito pelo Acre,
estado que, no dia da manifestação, tinha 17 dos 22 municípios
em estado de emergência devido a enchentes.

A deputada Carla Zambelli (PL-SP) aproveitou a ocasião
para fazer propaganda de uma marca de calçados
que leva o nome do ex-presidente.

Em um vídeo publicado no Instagram minutos antes
do início da manifestação, Zambelli olha para a câmera
e saúda seus seguidores: “E aí, pessoal, tudo bem?
Chegando na Paulista com um detalhe”.
Então, ela se abaixa e aponta para a botina, onde se lê
“Bolsonaro” bordado em azul, entre uma faixa verde
e outra amarela. “Vai virar moda”, afirmou.

O calçado é de uma marca criada por apoiadores
do ex-presidente e tem como slogan a frase
“Passos firmes com o agro”.

(*) Carolina Bataier é Jornalista e Escritora.
Autora dos Livros “O Pôr do Sol dos Astronautas”,
de Crônicas, e “Pia Cheia”, de Poesias [“com Cheiro
de Desobediência e Peraltagens” (Giselle Ribeiro)]
https://cdn.lojavirtuolpro.com/editorapatua/produto/20230721185500_3054996946_D.jpg

https://deolhonosruralistas.com.br/2024/02/28/saiba-quem-sao-os-lideres-ruralistas-que-participaram-de-ato-pro-bolsonaro-na-paulista/

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