O saco de gatos partidário e o futuro da política

Tempo de leitura: 2 min

por Luiz Carlos Azenha

Um colega me procura para se dizer impressionado com o crescente saco de gatos da política brasileira que, registre-se, não é de hoje. Fala da possível indicação de Guilherme Afif Domingos para um ministério do governo Dilma, selando a adesão do PSD de Gilberto Kassab à coalizão liderada pelo PT.

O colega é eleitor petista. Provavelmente frustrado com o fato de que está cada vez mais difícil traduzir seu voto ideológico em políticas que o representem, observa: “A oposição está morta. Tá na hora de fundar um novo partido ou de derrotar a atual coalizão federal para mudar um pouco as coisas”. Confesso que nunca vi um eleitor torcendo contra o partido no qual costuma votar, mas entendo a frustração. Ele vota num dos gatos, mas acaba representado por outro.

Em outras palavras, o poder do PT se diluiu dentro da coalizão comandada pelo partido, de tal forma que a administração de um condomínio tão vasto de interesses fica no mero gerenciamento de vontades. E tome “gestores”, “técnicos” e “facilitadores”, que funcionam como meras correias de transmissão das lideranças da coalizão. É preciso executar apenas os projetos que atendam ao conjunto de acordos negociados nos bastidores de Brasília.

Elimine-se, portanto, os eleitores, consultados apenas em período eleitoral para decidir qual é a melhor das superproduções de marketing.

Dá para entender perfeitamente a lógica do PT ao buscar a adesão do PSD: fortalecer a possibilidade de reeleição de Dilma Rousseff e enfraquecer Geraldo Alckmin na disputa pelo governo estadual paulista, em 2014. Só então, controlando a maior parte do orçamento nacional, o partido poderia de fato governar com maior independência dos parceiros de coalizão. O risco é de, até lá, o PT se tornar indistinguível dos parceiros, gestor do mesmo neoliberalismo light que afundou, por exemplo, o PSOE espanhol.

Há quem garanta que isso já aconteceu.

PS do Viomundo: Quando falo em “facilitadores” me refiro às Rosemaries, aos que colocam graxa nas engrenagens para permitir que o privado tire proveito do público, ainda que em tese cumpram funções justamente para evitar isso.

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