A Europa mais próxima da ditadura dos bancos
por MIKE WHITNEY, no Counterpunch, em 01.06.2012
Juros nos papéis de dez anos do Tesouro [norte-americano] cairam para o recorde de baixa de 1,56% na quinta-feira de manhã, quando investidores em pânico fugiram de bens financeiros europeus para papéis dos governos da Alemanha e dos Estados Unidos.
A deterioração das condições de crédito, uma série de rebaixamentos de crédito e corridas bancárias na Espanha e na Grécia detonaram uma fuga para a segurança que jogou o papel do Tesouro a taxa que ficou abaixo de seu recorde anterior, de 1,67%. Isso significa que os investidores perderam a confiança na capacidade das autoridades da União Europeia de resolver a crise da dívida, particularmente a relacionada com a Grécia e a Espanha.
A atual crise, que é resultado principalmente de uma expansão de crédito excessiva e de gerenciamento de risco ruim de bancos europeus, está sendo usada pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu para impor uma “união bancária” e promover cortes selvagens em programas sociais, de saúde e de aposentadorias.
A resposta das autoridades europeias é uma contrarrevolução social desenhada para transformar a união monetária de 17 membros numa “zona de austeridade” permanente, governada por elites corporativas e financeiras. Leia isso, da Reuters:
A zona do euro precisa acelerar o crescimento e cortar a dívida para reconquistar a confianças de investidores, mas deve também trabalhar por uma união bancária, considerar a emissão de títulos europeus e a recapitalização direta dos bancos a partir de um fundo de resgate permanente, disse na quarta-feira a Comissão Europeia ao definir suas recomendações para este ano.
“Uma integração mais próxima entre os países da zona do euro em práticas e estruturas de supervisão, em gerenciamento de crises além-fronteiras e em compartilhar os problemas, em direção a uma ‘união bancária’, seria um importante complemento para a atual estrutura” da união econômica e monetária, disse a Comissão.
“No mesmo campo, para romper a ligação entre bancos e soberanias, a possibilidade de recapitalização direta através do Mecanismo Europeu de Estabilização (ESM) deve ser prevista”, disse o documento.
(“EU calls for eurozone banking union, direct bank recapitalisations”, IFR, Reuters)
O fundo permanente de resgate, ESM (European Stabilization Mechanism), ainda não foi ratificado por todos os 17 países membros e a Comissão Europeia já quer mudar o mandato dele para incluir resgate direto de bancos.
O financiamento direto de bancos quebrados é uma tentativa de sequestrar a política, uma tentativa de estabelecer a primazia dos bancos da mesma forma que o TARP [Programa de Resgate de Bens Vulneráveis, Troubled Asset Relief Program] foi usado nos Estados Unidos para criar as empresas Muito Grandes para Falir. MGF significa fundir os bancos aos estados e que os contribuintes darão garantias sem condições para sua sobrevivência. A Europa está se movendo rapidamente em direção ao mesmo modelo.
A chanceler alemã Angela Merkel se opõe a permitir que o ESM recapitalize os bancos espanhóis, mas ela deve capitular se a crise se aprofundar. Se ceder, então os bancos mal administrados não terão de reestruturar suas dívidas, de provocar perdas para acionistas e credores, de remover bens ruins do balanço ou de trocar seus diretores.
Todos os custos de um resgate ficariam com os contribuintes, o que é exatamente o que querem os líderes da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. Ao mesmo tempo, o aprofundamento da crise será usado para impor mais reformas fiscais, que já fizeram o desemprego atingir os maiores índices em 20 anos, submergindo o sul da Europa em recessão severa.
Apoie o VIOMUNDO
Mais da Reuters:
“… privadamente os ministros são claros quanto ao desejo de ver a implementação de medidas de garantia de depósitos bancários de alcance europeu para evitar rapidamente o risco de um evento que seria catastrófico. Existem sinais de que o Banco Central Europeu apoia as garantias para os depósitos.
Os problemas estão se acumulando em outras frentes. Com os custos [da Espanha] para emprestar aumentando rapidamente para 7% e a maioria dos investidores estrangeiros evitando a dívida espanhola, o governo vai ter dificuldades crescentes para refinanciar os 98 bilhões de euros e encontrar outros 52 bilhões para financiar seu déficit deste ano.
Os bancos locais já não emprestam ou oferecem empréstimos a taxas proibitivamente altas, apertando as empresas e aumentando o risco de uma sequência de falências que poderia fazer a economia mergulhar de cabeça. O total de empréstimos do sistema bancário para o setor de negócios foi de 44,6 bilhões de euros até o final de março, metade do que era no fim do boom de 2007, e a contração continua mês a mês, de acordo com dados do Banco da Espanha.
Os consumidores estão adiando grandes compras e cortando os gastos. O crescente custo dos empréstimos se tornou uma obsessão nacional desde a crise… O governo admite que a situação é crítica”.
(“Spain cries for help: is Berlin listening?”, Reuters)
A Comissão Europeia e o BCE estão permitindo que a crise se aprofunde para atingir seus objetivos, que incluem a união fiscal controlada pelos bancos com acesso ilimitadoa a fundos e o poder de impor políticas (“austeridade”) através de coerção. Aqui um trecho do que escreveu Mark Weisbrot, que vê motivação política por trás da dívida:
“Tenho argumentado por algum tempo que a crise recorrente da zona do euro não é guiada por demandas dos mercados por austeridade em um período recessivo, como se ouve frequentemente. Em vez disso, a causa primária da crise e de seu prolongamento é a agenda política das autoridades europeias — lideradas pelo Banco Central Europeu (BCE) e pela Comissão Europeia.
Estas autoridades (as quais, se incluirmos o FMI, constituem a troica que define a política econômica da zona do euro) querem forçar mudanças políticas, particularmente nos países mais frágeis, mudanças nas quais os eleitores destes países nunca votariam”.
(“Europeans’ economic future has been hijacked by dangerous ideologues”, The Guardian)
[Para íntegra no Viomundo, clique aqui]
É tudo política. Política direitista. 100% dos economistas de reputação que comentaram a crise da dívida criticaram a forma como foi gerenciada, particularmente quanto a medidas de austeridade. Você realmente acha que a Merkel ou o [Mario, primeiro-ministro da Itália] Draghi são mais inteligentes que Stiglitz, Krugman, Reich, Eichengreen, Thomas, Weisbrot, Galbraith, Baker, Roubini, etc. etc?
Não. A Merkel não tem formação econômica e Draghi já foi banqueiro de investimento da Goldman Sachs.
Essa gente não está interessada em arrumar a economia da zona do euro. Eles estão engajados em uma campanha clandestina para reestruturar a sociedade europeia, para desfazer a rede de bem estar social, para fazer refluir os ganhos progressistas do século passado e para reduzir boa parte do continente à pobreza do terceiro mundo. Uma união bancária vai solidificar ainda mais o poder das grandes finanças sobre os estados individuais — e este é o objetivo principal.
MIKE WHITNEY lives in Washington state. He is a contributor to Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press). Hopeless is also available in a Kindle edition. He can be reached at [email protected].




Comentários
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!