Mãe de Hideki: Ter de agachar, nua, para ser revistada é inadmissível
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Mãe de Fábio Hideki passa por revista vexatória em presídio
Nesta quarta, 23, completa um mês que o estudante e funcionário da USP foi preso
por Lúcia Rodrigues, especial para o Viomundo
A dona de casa Helena Harano, 54, mãe do estudante e funcionário da USP, Fábio Hideki Harano, foi submetida ao constrangimento da revista vexatória para visitar o filho no presídio de segurança máxima de Tremembé, no interior do Estado de São Paulo.
“É vexatório, é vexatório… O fato de a gente ficar nua é uma coisa, mas ter de agachar, por ser mulher, para dizer que eu não estou transportando nada dentro do meu órgão genital, nos dias de hoje é inadmissível. Eu me sinto agredida com isso”, desabafa.
Ela explica como o procedimento ocorre. “Tem um local que a gente segura, apoia o corpo e agacha três vezes de frente e três vezes de costas.”
No último sábado, 19, ela foi a Tremembé, mas cedeu a vez para o marido visitar o filho. No presídio, as visitas são permitidas aos sábados e apenas duas pessoas podem entrar. A mãe de Fábio já passou pelo constrangimento da revista, duas vezes. Visitou o jovem nos dias 5 e 12 de julho, acompanhada pelo outro filho, Alexandre.
Helena conversou com a reportagem de Viomundo ao final do ato por liberdades democráticas, que ocorreu na Câmara Municipal de São Paulo, na última sexta-feira, 18. “Meu filho é inocente, liberdade para Hideki”, dizia o cartaz levantado por ela, ao final de sua intervenção na manifestação.
A dona de casa agradeceu o apoio e a solidariedade das pessoas que lotaram o auditório da Câmara e negou mais uma vez que o filho exerça qualquer liderança nas manifestações. “Ele não é líder de nenhum movimento. Afirmo isso com toda a convicção”, frisa.
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Enquanto conversava com a reportagem, ela foi saudada pelo juiz e professor da Faculdade de Direito da USP, Jorge Souto Maior. “Ah foi o senhor que assinou (o manifesto) em favor do Fábio”, agradeceu satisfeita o apoio recebido do magistrado.
Ela conta que as várias manifestações de solidariedade e os comentários a respeito do filho são a prova de que ele é inocente.
“Todo mundo que conhece o Fábio, diz que ele é pacifico. Acho que é um bode expiatório. Tenho a certeza da integridade do meu filho. Ele não é uma pessoa agressiva. Ele luta, sim, pelos ideais dele, mas não é líder do movimento black bloc. O Fábio sempre se manifestou de maneira pacifica em todas as manifestações de que participou. As pessoas que participaram das manifestações com ele, têm reafirmado essa passividade”, ressalta.
“Estou muito indignada com o que está acontecendo com ele. Há muitos anos o Fábio participa de manifestações e em todas é de maneira pacífica. Ele participa da Marcha da Maconha e não é usuário. Esteve em Pinheirinho. Participou de manifestações para que a linha do Vila Gomes (ônibus que liga a zona sul ao Butantã) não fosse extinta. O ato de manifestação é livre, é direito de cada individuo, eu não vejo sentido de ele ser punido. Manifestar não é crime”, enfatiza.
Nesta quarta, 23, completa um mês da prisão de Fábio. Apesar de tudo, Helena está confiante de que o filho será colocado em liberdade em breve. “Eu acredito piamente que ele vai ser libertado o mais rápido possível. Eu creio que a visita do (último) sábado será a última. Porque eu não quero que isso vire uma rotina pra gente. Porque é muito desgastante.”
Ela explica a dificuldade que tem encontrado para fazer chegar as coisas mais triviais até Fábio. “Por exemplo, o desodorante que eu comprei na semana passada foi recusado, porque a embalagem precisa ser obrigatoriamente transparente e sem álcool”, comenta chateada.
“Tremembé foi uma mudança radical para gente. Lá tem várias regras a seguir, tem várias restrições para se fazer a visita. Tudo isso causou um desgaste emocional para todos nós”, completa.
Na última quinta, 17, Helena teve de passar por outro constrangimento quando estava no apartamento de Fábio.
“Era por volta de umas duas horas da tarde, quando tocou o interfone e a campainha ao mesmo tempo. Era o pessoal da promotoria a procura do notebook dele. É a primeira vez que eu passo por essa situação, então é muito chocante. Eles entraram, agiram de maneira educada, não houve agressão, vieram à procura de papéis anotações, do notebook” afirma ao dizer que se sentiu invadida.
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