Flávio Aguiar: HSBC lavou dinheiro dos cartéis mexicanos de drogas

Tempo de leitura: 3 min

Uma investigação de mais de ano, feita pelo Senado dos EUA, concluiu insofismavelmente que a seção norte-americana do banco HSBC lavou dinheiro dos cartéis mexicanos de narcotráfico de 2002 a 2009, apesar dele ter sido advertido por agentes do fisco e até por investigações internas de seus próprios funcionários.

Flávio Aguiar, correspondente em Berlim de Carta Maior, sugerido por ZePovinho

De crise em crise, de susto em susto, de revelação em revelação, vem à tona dia após dia o lado mais sinistro do sistema bancário internacional.

Desde 2008, em que pese o esforço midiático de concentrar fogo e visões em torno das “crises das dívidas soberanas”, foi ficando evidente o quanto a desregulamentação do sistema financeiro internacional custou aos cofres públicos das nações – daquelas em crise aberta (como a Grécia) e daquelas que aparentemente sobrenadam no dilúvio (caso da Alemanha). Naqueles sonhos coletivos e individuais se transformam em pesadelos, enquanto direitos individuais e coletivos se desmancham no ar ou às custas de cassetadas ou bombas de gás lacrimogênio nas ruas.

Bilhões de euros são arrancados do poder aquisitivo da população para impor uma “austeridade fiscal” recessiva, depressora, depressiva e deprimento enquanto continua o engorde das taxas de juro extorsivas cobradas para refinanciar a dívida pública, que certamente não serão pagas por nenhum sistema bancário ou financeiro, mas novamente pelas camadas mais frágeis da população, às custas de arcarem com mais pesadelos. Nas que guardam algum resíduo de organização e prosperidade – como a Alemanha – bilhões de euros foram e são transferidos para bancos, oriundos de fundos públicos, quer dizer, também do bolso de contribuintes e trabalhadores, para cobrir contas abertas nacionais e internacionais.

Mas nos últimos dias mais lados sinistros – e mais sinistros – vieram à tona. Semanas atrás foi o caso da manipulação da taxa Libor da banca britânica, promovida pelos representantes do banco Barclays na Associação de Bancos de Londres para favorecer a obtenção e/ou a manutenção de clientes investidores. O banco manipulava seus dados e induzia a manipulação da Libor por parte das autoridades financeiras londrinas para baixo, para parecer mais saudável do que era, a fim de manter clientes; ou inchava a taxa para prometer melhor remuneração para atrair clientes em épocas de escassez. E as autoridades – inclusive do Banco da Inglaterra engoliam as pílulas – isso, pelo menos, de 2007 a 2010. Os prejuízos são incalculáveis, uma vez que a taxa Libor, além de incidir pobre empréstimos entre bancos britânicos, era uma referência mundial no setor.

Agora foi a vez do HSBC (que alguns anos atrás comprou o Banespa, no alegre processo paulista de privatização). Uma investigação de mais de ano, feita pelo Senado norte-americano, concluiu insofismavelmente que a seção norte-americana do banco lavou dinheiro dos cartéis mexicanos de narcotráfico de 2002 a 2009, apesar dele ter sido advertido por agentes do fisco e até por investigações internas de seus próprios funcionários.

Na terça-feira isso redundou numa sessão humilhante para altos executivos do banco, que renunciaram a seus cargos numa sessão pública do comitê do Senado, embora negassem ter “conhecimento completo” das contravenções. Já antes houve uma espécie de “mea culpa” por parte do banco perante um comitê semelhante de autoridades britânicas do setor financeiro.

Além disso, o banco (sempre a seção norte-americana) foi acusado por uma série de outras contravenções, indo desde negócios ocultos com finanças sírias e iranianas, à prestação de serviços para instituições financeiras da Arábia Saudita e de Bangladesh suspeitas de terem financiado em parte a Al Qaeda.

O Barclays já pagou 450 milhões de libras em indenizações a clientes que se julgaram lesados. O Serviço da Autoridade Financeira de Londres vai ser extinto e substituído por outra agência, além de parte de suas atribuições passarem para o Banco da Inglaterra. O HSBC promete uma revisão de seu sistema interno de segurança.

A ver, para crer.

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

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    celio

    O hsbc é o melhor banco para os narcotraficantes. Basta ir a qualquer agência e remeter o dinheiro para qualquer pais, pagando apenas os impostos. Não tirem o hsbc daqui…nem dos outros paises.

anônimo

Só o HSBC? Que notícia-bomba…bombinha de São João, estalinho. Matéria recente não lembro onde, talvez no Coletivo DAR, diz que apenas 2% do lucro da venda de cocaína produzida na Colômbia fica no país produtor sendo os demais 98 lavados em bancos americanos. Outro estalinho também, ninguém imaginava.

jonios

É possível que, na trajetória das investigações sobre as atividades do HSBC, se elas realmente acontecerem, sejam encontradas penas e o grande bico de certa ave brasileira.

henry H

Quem comprou o Banespa foi o Santander… o HSBS passou a controlar o Bamerindus (o tempo passa o tempo voa, mas a poupança bamerindus continua numa boa

http://www.youtube.com/watch?v=AVEXhtPoCRw

Mardones

Alguém lembra da advertência de um senhor alemão sobre fundar e roubar uma dessas empresas limpíssimas? k k k k

Banco bom é banco vigiado 36 hoas por dia!

Imaginem as lavagens do City Bank e do Bank of América. Deve ser suficiente para inundar toda a América Latina. k k k k

Não fosse as suspeitas de ligação com a Al-Qaeda, nada disso daria resultado. Pois todo mundo sabe que os traficantes mexicanos têm uma lavanderia nos bancos com sede nos EUA.

Ainda assim, valeu a investigação do Senado dos EUA. Até para lembrarmos que um senador serve para investigar também. E não apenas para manter senadores e seus funcionários de gabinete que custam milhões aos contribuintes e não dão resultado. Pelo menos para a maioria da população. Pois o Cachoeira mostrou para que serve um senador, pelo menos um, aqui no Brasil.

Regenste

“..o HSBC (que alguns anos atrás comprou o Banespa, no alegre processo paulista de privatização). ”

O HSBC comprou o Bamerindus. Quem comprou o BANESPA foi o Santander.

Fabio Passos

Quem ainda se surpreende com o comportamento mafioso das mega-corporações capitalistas?

Lucro é o único valor cultuado pelos neoliberais que estão destruindo o planeta e a humanidade.

João-PR

“O HSBC promete uma revisão de seu sistema interno de segurança.”
Tá, faz de conta que a matriz não sabia de nada. E Papai Noel, quando passará aqui em casa? Será que vem com o coelhinho da Páscoa?

ZePovinho

http://www.redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/07/relatorio-sobre-o-banco-hsbc-forca-o.html

quarta-feira, 18 de julho de 2012
“Relatório sobre o banco HSBC força o Ocidente a repensar a aliança com a Arábia Saudita”

18/7/2012, Russia Today – Entrevista com Ali Rizk
“HSBC report pushes West to rethink alliance with Saudi Arabia”
Tradução realizada pelo pessoal da Vila Vudu

Uma subcomissão do Senado dos EUA descobriu que o banco britânico gigante HSBC transferiu dinheiro a um banco saudita sobre o qual pesam suspeitas de laços com organizações terroristas entre as quais al-Qaeda. A Arábia Saudita não comentou as conclusões da subcomissão.

Para Ali Rizk, especialista em Oriente Médio, em entrevista a Russia Today, o que aquela subcomissão descobriu força o Oriente Médio a repensar a relação amistosa que mantém com a Arábia Saudita.

Relatório publicado pela Subcomissão Permanente de Investigação comprovou que o Banco HSBC repassou fundos para o Banco Al-Rajhi, saudita, que inúmeros relatórios oficiais e matérias de imprensa já denunciaram, por manter laços com organizações terroristas, dentre as quais a al-Qaeda. O principal executivo do HSBC depôs ante aquela subcomissão ontem, 3ª-feira, e pediu desculpas por não ter impedido aqueles repasses. O diretor do departamento jurídico do HSBC [orig. HSBC’s Head of Compliance], David Bagley, disse que estava pedindo demissão. Mas, até agora, nem a Arábia Saudita nem o Banco Al-Rajhi responderam às acusações da subcomissão.

Russia Today: O relatório denuncia o Banco Al-Rajhi, saudita, o maior banco do mundo muçulmano, como patrocinador de atividades terroristas. O que significa isso?

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