Bruno Paes Manso: Bala de borracha da PM cega menina em Paraisópolis

Tempo de leitura: 3 min

Bruno Paes Manso – O Estado de S. Paulo, sugestão de Marcelo Zelic

SÃO PAULO – Uma menina de 17 anos saiu na noite de sábado com o irmão e o namorado em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Era madrugada de 12 de janeiro quando eles chegaram à Rua Melchior Giola, centro comercial do bairro, com pizzarias, sorveterias, bares e jovens na rua. Policiais militares surgiram em cinco viaturas lançando bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo, disparando tiros de borracha para obrigar o comércio a fechar. A menina se escondeu atrás de uma árvore e recebeu um disparo de bala de borracha no olho esquerdo, que a deixou cega.

O ferimento da menina foi um dos relatos entre 40 depoimentos apresentados à Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP) na semana passada descrevendo os abusos da Polícia Militar em Paraisópolis. Segundo os moradores, desde novembro, integrantes da PM entram nas ruas do bairro para estabelecer a lei do silêncio a comerciantes e jovens. As acusações estão sendo apuradas pela Corregedoria da PM e pela Delegacia Geral.

Em Paraisópolis, conforme os moradores relataram ao Estado, os procedimentos violentos começaram depois que a PM encontrou, em outubro do ano passado, uma lista com o nome de 40 policiais supostamente marcados para morrer. A lista seria um “salve” (ordem) feito por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) durante a onda de ataques no segundo semestre do ano passado.

Com as incursões da PM, um dono de bar disse que passou a vender cerveja só com fichas para evitar prejuízos. Os policiais soltavam as bombas e obrigavam todos a correrem sem pagar a conta. O mesmo problema foi enfrentado por donos de pizzarias e restaurantes da rua.

Outro morador que dá som em festas privadas no bairro relatou que, no começo do ano, os policiais jogaram uma bomba na laje em que ele tocava músicas em uma festa de aniversário. “Eles passaram a tratar a todos como traficantes. É como se todos nós fôssemos cúmplices do tráfico”, disse o DJ.

Anonimato. Ao contrário do que ocorreu outras vezes em Paraisópolis, e do que ocorre também em outros bairros de periferia, agora os moradores se organizaram para tentar denunciar os abusos dos policiais. Os depoimentos, todos anônimos, foram colhidos pela ONG Tribunal Popular. Eles também reuniram fotos e vídeos para levar à SSP. Foram ainda enviados os números das placas das viaturas e o nome do principal oficial acusado das arbitrariedades. Na favela, o grupo de policiais violentos é conhecido como o “bonde do careca”.

“Nós temos ciência do que é viver no terror. Só que esse medo não pode diminuir nossa força para denunciar e lutar”, diz a psicóloga Marisa Feffermann, do Tribunal Popular.

A defensora pública Daniela Skromov acredita que é preciso repensar as maneiras de se viabilizar as denúncias de abusos de autoridade, sem que as vítimas fiquem expostas ao risco. Os familiares da jovem atingida pelo disparo no olho, por exemplo, preferiram se esquivar. Eles estão com medo de sofrer retaliações dos PMs, que continuam em Paraisópolis.

Os programas de proteção à testemunha faria com que as vítimas deixassem a favela. “Quem acaba sendo penalizado, nesses casos, são as vítimas”, avalia a defensora. “O Estado não deve esperar denúncias para começar a investigar. E quando ocorrem, os suspeitos devem ser afastados”, diz.

Prótese. A jovem de 17 anos vai passar por três novas cirurgias e terá de viver com uma prótese no lugar do olho. Enquanto isso, ela mantém as pálpebras costuradas e evita sair de casa. No ano passado, a família dela já havia perdido um filho supostamente assassinado por PMs.

“Ocorreram casos semelhantes em Paraisópolis que não foram apurados. Por isso, as situações se repetem cada vez com mais gravidades”, afirma a desembargadora Kenarik Boujikian, cofundadora da Associação Juízes para Democracia.

A SSP-SP informou, por meio de nota, que já havia determinado a apuração imediata, tanto pela Polícia Civil quanto no âmbito da Corregedoria da PM, das denúncias encaminhadas pelas entidades.

No caso da adolescente que perdeu a visão, segundo informou a nota, a Corregedoria da PM já havia chamado a vítima e familiares para prestarem esclarecimentos a fim de ajudar nas apurações – até hoje, no entanto, ninguém compareceu para depor. Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi aberto para investigar o caso e está em andamento.

Sobre as demais ações de PMs denunciadas, o caso está sendo apurado no âmbito do Comando de Policiamento de Área Metropolitano-5. O objetivo é identificar os policiais acusados de práticas abusivas.

Leia também:

Zelic: Ministra, até quando barbáries com armas não letais vão continuar?


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Comentários

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Leo V

E ainda dizem que falta estado na periferia.

E ainda dizem que não vivemos numa sociedade de classe. Sabemos que a polícia tem o mesmo dever e coragem de fazer isso com os moradores de Higienópolis.

Fabio Passos

A policia foi adestrada pela minoria branca e rica a reprimir a populacao pobre com extrema violencia e total impunidade.
Pouco importa a pior “elite” do mundo se brucutus fardados atacam covardemente a populacao promovendo uma estupida punicao coletiva. Para a casa-grande e seus jaguncos fardados, os direitos humanos so valem para quem tem a carteira recheada.

    celina

    eram meia noite estavam la eles PMs combatendo a população
    derrepente BUM!
    mais ataque dos PMS contra a população, desta vez foi muito tragico
    tudo parou em um segundo aquele silencio
    meu deus o que aconteceu!
    PMS atirou balas de borracha contra uma adolecente indo pro trabalho a noite p-ra ajudar a sustentar a familia esta adolecente era sua filha!
    e agora quem podera nos detê!

Urbano

Como eu sempre disse: muita massa muscular pra pouca massa cefálica…

Nair

Jovem, ao completar 18 anos …ou antes disso até, tire seu passaporte. Saia dessa coisa chamada Brasil. Canadá por controlar natalidade, tem portas abertas a imigrantes profissionais de diversas áreas. Canadá por exemplo. Vão pra Portugal, pra qualquer lugar, isso aqui acabou.

    Maurício Santos

    Isso Nair……e ainda tem o maior índice de estrupo do mundo,e pior, dentro das universidades.Conhece a Marcha das Vadias?…então, nasceu lá.
    Brasil, ameo-o ou deixe-o!!!!!!!!!!!!!!!!!

Nair

Governo federal assistindo de braços cruzados ao espetáculo. Já passou da hora de Dilma e equipe pararem de fingir acreditar no discurso dos ‘casos isolados’, aceitar a real corrupção generalizada da pm e, em primeiro momento, afastar os vermes daquele local. Em seguida, faz o que a ONU sugere: fecha a pm.

    Ze Alfredo

    A politica e a gestão da PM eh do governo estadual, e este sim tem poderes para mudar esta situação. Precisa ver de quem o governo tem tanto medo para alterar qualquer coisa na Segurança Publica.

    angelo

    Mas quando botaram fogo em ônibus no Rio, sem ferir ninguém, governo federal interveio. Queimar ônibus não pode. Matar à vontade pode.

Marcelo de Matos

O uso de bala de borracha deve ser proibido: produz ferimentos e pode cegar, como aconteceu nesse caso. A dispersão das pessoas ocorre mais pelo medo das balas, que podem provocar cegueira. É uma forma cruel de conter multidões.

Maurício Santos

Postei um comentário aqui e pra minha supreza não estou visualizando, o que me leva a crer que, após moderação, não foi publicado!Pra quem defende liberdade de expressão como tenho lido e concordado em todos os Blogs acho estranho que o Azenha tenha bloqueado meu comentário, só por que minha opinião era contrária ao texto da matéria.Também no caso de insinuação de palavras de baixo calão, como fiz abreviando os termos, caso não houvesse concordância da moderação era só…..”moderar”.Assim, fico perplexo em descobrir que o Azenha esta tomando o mesmo rumo de todos os ditadores que assim comandaram o nosso Brasil nos idos de 64!!!!….qual é Azenha?…..vai carregar essa pecha e esperar cruzar comigo num ato público para ser ovacionado, e com razão?….cadê meu comentário?

    Conceição Lemes

    Maurício, nenhum comentário seu foi vetado. Ele não chegou até aqui.

    Você disse:
    Também no caso de insinuação de palavras de baixo calão, como fiz abreviando os termos, caso não houvesse concordância da moderação era só…..”moderar”.

    Se tiver palavrão, não liberamos, mesmo.

    Também não “moderamos” eventual palavrão. No Viomundo, NÃO editamos, EM HIPÓTESE ALGUMA, os comentários dos leitores

    sds

    Maurício Santos

    Obrigado pela resposta Conceição.Agora entendi o por que da não publicação e sendo assim continuarei como sempre a ler o BLOG.
    abs!

    Killamjaro

    Maurício é outro golpista nem sabe o que está falando e quer atacar de qualquer jeito.

    Essas pessoas, como o mauricinho aí de cima, não entendem e nunca vão saber a agonia que é viver em um bairro de periferia. sempre conectados a internet dentro de seus condomínios ou em seus carros blindados escondendo o racismo atrás de histórias moralistas sobre mocinho e vilão

    e muito pior que isso apoiando ataques a tiro a bomba chacina a luz do dia um verdadeiro massacre é isso que está acontecendo

    do mesmo jeito que os americanos bombardeiam ESCOLAS, com aviões pilotados por computador no afeganistão. atacam o povo dizendo que estão atacando os terroristas.

    Vocês paulistanos, estão matando inocentes atacando pessoas comuns, crianças, mulheres grávidas e dizendo que são todos bandidos.

    Maurício Santos

    Killnajaro, viver democraticamente é saber convicver com a crítica e opinião contrária.Eu não sou golpista com vc diz, muito pelo contrário, vc não conhece a minha luta que não se resume de maneira alguma ao teclado.Eu vou a campo, exponho mihas idéias e propago os textos recorrentes em toda a blogosfera.Entre outros sou leitor assíduo do Eduguim, Azenha, Altamiro, PHA,PML, emfim, frequento diariamente toda a blogosfera, o que me fez capaz de interpretar um Brasil totalmente desconhecido para “Golpistas”

    Pessoas como eu, trabalhadoras, que inclusive conhece todos os ambientes desse nosso Brasil também tem conhecimento de que morar numa favela não exime a culpa e a omissão de conviver com o tráfico, coisa que aliás está em todas as esquinas onde houver um boteco, mas não é em todo boteco que existe uma lista macabra com policias condenados a morte.Eu tenho parentes policiais, sei o que significa ter o nome numa “lista macabra de morte”.O meu texto se referiu a consequência do ocorrido, qual seja o achado dessa lista.?tu queria o que?…que a PM divulgasse a lista no Jornal Nacional e pedisse a cooperação da sociedade?…..a ação da PM, ainda que errada é apenas a consequência do encontro dessa lista, a meu ver algo já esperado.

    Esclareço ainda a vc que meu carro é um modelo 2006, com vidros normais e não moro em condompínio fechado, portanto, não viaje na maionese achando que todo mundo que discorda das reportagens seja “mauricinho”…eu sou Maurício, com M maiúsculo e muito orgulho.

    Com relação a sua expressão de regionalismo, gostaria de lembrá-lo que não é São Paulo que registra os maiores índices de violência no Brasil.Fosse vc um leitor atualizado, constataria que o Nordeste é que carrega esse troféu, infelizmente.Mas foi interessante notar que com todo o seu ataque a minha pessoa, quem se demosntrou segregacionista e imprimiu um caráter negativo a população dessa cidade.Veio bem a calhar pra mostrar o seu falso caráter moralista.Para que fique esclarecido “paulistano” é quem mora na cidade de São Paulo, e eu moro em Santos.

    Para por fim a essa discussão sem sentido, sugiro que vc em vez de ficar reclamando atras de um teclado infrutiferamente tente aceitar mais a opinião alheia….isso faz parte da democracia!!!!!!!

    abs

    Killamjaro

    Quer dizer que por causa de uma famosa lista do datena os policiais podem executar pelas costas, invadir casas de suspeitos atirar em bebes de 1 ano de idade como fizeram em carapicuíba? Garanto para você que a lista macabra do Geraldo Alckimin e da Pm é muito maior.

    A lista dele está nos comandos para todas as viaturas em bairros pobres do estado de sp ordenando abordagens racistas com violência e, a meu ver, muitas vezes com eminência de execução por parte da polícia

    “que realize o patrulhamento ostensivo de saturação… focando em abordagens a transeuntes e em veículos em atitude suspeita, ESPECIALMENTE INDIVÍDUOS DE COR PARDA E NEGRA”

    fonte:(http://www.midiaindependente.org/pt/red/2013/01/515835.shtml)

    pesquise você a história de conte lopes, cabo bruno. Pesquise você os índices de violência do bairro do capão redondo, ou da cidade tiradentes ou do itaim paulista. No nordeste é pior mas aqui ou lá a brutalidade é igual PURO RACISMO igual em israel racista.

    A Polícia está matando inoscentes! mesmo que exista essa lista contra eles, eles não estão investigando isso, estão matando qualquer jovem que tenha um relógio caro um tenis caro e more na favela, na baixa e simples realidade é isso que estã acontecendo. Estão mandando matar inoscentes e quem estiver em volta deles,

    Killamjaro

    A polícia anda armada é um orgão militar, se existe essa lista eles que se defendam, não estão tão bem armados? vão ter medo de uma lista? o pcc nem existe segundo o alckmin.

    Definitivamente a função da polícia militar não é criar grupos de extermínio que tem como alvo homens de cor parda ou negra de 17 a 29 anos em determinados bairros da cidade.

    Você Mauricio realmente acredita que dessa forma a pm paulista vai acabar com os verdadeiros assassinos de polícia?

    Maurício Santos

    Killamjaro, em momento algum eu falei que “pode” ou que “concordo”,apenas expressei minha opinião que essa ação é uma consequência do descobrimento da lista entendeu?

    Infelizmente, não sou eu que falo, não sou racista e não sou segregacionista, mas infelizmente, as estatísticas mostram que, a maioria dos criminosos são negros e pardos.Por que é assim não cabe a mim discutir aqui.São apenas dados.Por outro lado, veja só vc como são as coisas: sempre que estou rodando aqui com a minha motoquinha sou parado em Comandos Policiais.Nunca reclamei e muito menos retruquei, como fazem alguns amigos dizendo aos policiais para irem pegar bandidos em vez de trabalhadores.E eu não sou negro nem pardo, mas a polícia me para sim.O que ocorre na favela é uma situação específica.Realmente não concordo com essa visão simplória que os movimentos sociais propagam por aí que a PM só corre atras de PPP.Não, definitivmente não.Eles vão atras mesmo de onde está a criminalidade, e infelizmente, na favela tem e muito.E antes que vc me chame de “mauricinho” de novo, sim, eu conheço favela, frequentei favela sob várias condições.Sei o que rola dentro de uma favela e sei da malandragem que rola solta ali dentro.Então não me venha com discursos puristas propagados por um monte de neo-intelectuais, pois esses sim, são uns “mauricinhos” e vivem de teoria.O Tropa de Elite foi um exemplo cinematográfico bem colocado.Aquela ONG apresentada no filme mostra exatamente como as coisas funcionam com essa playboizada metida a intelectual……como bem disse o Aspirante Matias:….Cambada de FDP!!!!!(…olha lá, não estou me dirigindo a sua pessoa hein, não entenda mal, me refiro a esse sistema falso de ONG´s defensoras de Direitos do manos)
    abs

    abs

Djijo

Um estado comandado por um membro da ceita que surgiu na Espanha, e que viveu de favores do ditador Franco, vcs queriam o quê? Esse pessoal acredita piamente que o sofrimento é que leva ao paraíso e depois, para eles, os pobres, negros, deficientes e feios já estão condenados ao inferno pela justiça divina por serem como são. Daí que eles tratam tais pessoas como estorvos da sociedade, como no filme Resident Evil, essa população com tais perfis é tratada como se tivessem sido atacada pelo “t-vírus” que transformou todos em zumbis.

baader

mas que desgraça. até quando teremos que saber de algo parecido? quando a população no geral verá em que tipo de pessoa está votando? os dias de psdb em SP estão no fim? e a cirurgia reparadora para a menina será feita com qualidade? desgraça!

Paulo Filho

A culpa é do FHC e dos americanos imperialistas.

renato

Não tem que chamar para dar depoimento, tem que ir lá.E oferecer proteção.
E tem que pagar indenização como ESTADO que é, para a família, e para a menina, quando o povo começar a cobrar indenização pelos maus tratos, assassinatos por falta de segurança, a coisa muda.
Bandido que é bandido, paga indenização para o Estado.
E o que ela contar, é o que é.
Sai imediatamente e prende essa vagabundada!
Gente má, cheia de poder, são de direita estas crias.

Eduardo Mendes

Menina de 17 anos…

    Ana

    um homem de 17 anos que mata uma pessoa é considerado um adolescente, um menino, por que a garota não seria uma “menina de 17 anos”?

    abolicionista

    Não entendi a insinuacão, caro Eduardo, poderia ser mais claro ou não tem dignidade para isso?

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