Brasil Atual: Serra desativou programa de prevenção de incêndios em favelas de SP

Tempo de leitura: 4 min

Enquanto Kassab nada faz, a população pobre sofre com sucessão de incêndios nas favelas. Nos últimos cinco anos, foram mais de 500 incêndios. Entre as atingidas, a Alba (foto superior), na Zona Sul da capital, e a Areão (foto inferior), na Zona Oeste. Foto: Marcelo Camargo, Agência Brasil

 por Sarah Fernandes, da Rede Brasil Atual

 São Paulo – Um projeto implantado durante a gestão da Marta Suplicy (PT) na cidade de São Paulo conseguiu, nos seus dois anos de atividade, controlar todos os focos de fogo em favelas antes que se tornassem grandes incêndios.
A ideia se mostrou tão eficiente como simples: equipar algumas casas com extintores e treinar moradores para acabar com as chamas antes que se propagassem para moradias vizinhas. Apesar do custo reduzido e do sucesso nas ações, ele foi extinto por José Serra (PSDB) em 2005, quando assumiu a prefeitura. Sucessor do tucano, Gilberto Kassab (PSD) teve a chance de reativar o trabalho depois que um projeto de lei foi aprovado pela Câmara Municipal em 2009, mas não tocou a ideia adiante.

“O problema dos incêndios em favelas já foi solucionado. É só a prefeitura querer continuar o que já deu certo”, afirma o técnico do laboratório de segurança ao fogo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Jose Carlos Tomina, que foi responsável pela metodologia do chamado Programa de Segurança Contra Incêndio, implantado em parceira com a prefeitura e com empresas de equipamentos de proteção contra fogo.

O projeto foi implantado nas favelas Vila Dalva, na zona oeste, Maria Cursi, na zona leste, Jardim Jaqueline, na zona oeste, Cabuçu, na zona norte, Viela da Paz, na zona sul e o Cortiço da Rua Sólon, no centro. Em cada uma, 50 moradores foram treinados para atuarem como brigadistas e cada um deles recebeu dois extintores de incêndio polivalentes, capazes de apagar fogo de qualquer natureza.

“Os bombeiros são muito importantes, mas quando eles chegam o fogo já destruiu muito. Os brigadistas impedem que o fogo se espalhe por já estarem na comunidade e agirem rapidamente”, conta Tomina.

Segundo ele, os brigadistas apagaram mais de 100 incêndios e conseguiram controlar todas as ocorrências antes que tomassem grandes proporções. “É muito barato. Precisamos apenas do equipamento de segurança para os brigadistas e dos extintores. Isso é muito menos frente os gastos que se tem para atender os desabrigados de grandes incêndios”.

Nos últimos cinco anos, o Corpo de Bombeiros contabiliza 530 incêndios em favelas, e boa parte das ocorrências registradas este ano ainda não entrou no cálculo. O tema chamou tanto a atenção que a Câmara Municipal abriu uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar a possibilidade de se tratar de uma atuação criminosa. Dominada pela base do prefeito Gilberto Kassab (PSD), porém, a CPI não realizou qualquer investigação até agora. Após mais quatro incêndios em duas semanas, o colegiado finalmente nomeou vice-presidente e relator, e montou um calendário de reuniões.

“Mesmo assim, a nova gestão [do ex-prefeito de São Paulo, José Serra] não tocou o projeto, sem dar justificativa. Já tínhamos tudo pronto, inclusive profissionais treinados, era só continuar”, conta.

A Rede Brasil Atual procurou a prefeitura para questionar por que o programa foi interrompido e não obteve resposta. O coordenador-geral da Defesa Civil, coronel Jair Paca de Lima, que assumiu o cargo em 2005, primeiro ano do mandato do tucano, afirmou que não tem conhecimento sobre o programa anterior.

Retomada

Em 2009, o vereador Celso Janete (PTB) apresentou um projeto de lei para a implantação de um novo programa de prevenção a incêndios em favelas, que foi aprovado em plenário. Quase um ano depois, o prefeito Gilberto Kassab, então do Democratas, firmou um decreto que criou o Programa de Prevenção Incêndios em Assentamentos Precários (Previn).

“Quando fiquei sabendo que seria lançado um programa nos moldes do anterior procurei a coordenadoria das subprefeituras e me dispus a ajudá-los a montar o projeto, com o know-how que eu já possuía. Nunca recebi um retorno”, conta Tomina.

Semelhante à ação da gestão Marta, o programa, implantado em 2010, prevê nomeação de um zelador comunitário, instalação de hidrantes e retirada de “gatos” de energia.

A Rede Brasil Atual solicitou informações sobre o andamento do programa a Secretaria das Subprefeituras, responsável pela ação, mas não obteve resposta. No Orçamento de 2011, o projeto chegou a receber dotação orçamentária de R$ 1 milhão, mas, segundo as planilhas disponíveis, nada foi efetivamente investido. Neste ano, novamente o montante executado foi nulo.

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Comentários

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Carta Maior: Vereadores da CPI de Incêndios em Favelas de SP são financiados pelo setor imobiliário « Viomundo – O que você não vê na mídia

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[…] a maioria delas, valorizadas do ponto de vista imobiliário. A insensibilidade de Serra e Kassab Reportagem da Rede Brasil Atual já comprovou que o tucano José Serra, quando assumiu a prefeitura em 2005, extinguiu um programa […]

Jose Mario HRP

Chegamos a conclusão que o Serra precisa ser desativado, mais é!
O seguro venceu , perda total!
KKKKKKKKKK…….

Jose Mario HRP

Esses incêndios são uma ação articulada com origem na prefeitura e nos lobbys imobiliários da cidade.
A nossa Ku Klux Kan!

Rodrigo Leme

Não foi investido nada? Então alguém precisa avisar a subprefeitura do Jabaquara (a primeira que eu pesquisei, hein?) que eles estão fazendo de graça:

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/jabaquara/noticias/?p=34520

<>

Veja bem, não estou dizendo que a matéria é verdade ou mentira, mas um pouco de apuração pra ver se a matéria acima é verdade não mata ninguém.

Amaro

FOGO! FOGO!

Esta é a política TUCANA de “eugenia” social, ou de “gentrificação” dos bairros cobiçados pela especulação imobiliária. E eu pergunto: do que os TUCANOS são capazes? E eu mesmo respondo: de tudo, absolutamente tudo. Impressionante!

Enquanto isto a suprema corte de justiça chafurda no “mensalão” porque a mídia, que ganha muito dinheiro com os incêndiosa (com a propaganda dos lançamentos imobiliários nas ex-favelas) fica caladinha, caladinha, com relação ao fogareu, claro. Já com relação a farsa do “mensalão”…

São Paulo, com seus jornalões anti-povo e uma classe média desinformada é o berço do nazi-fascismo, e o nosso Hitler careca sabe muito bem disso.

Que DEUS nos livre, mas se o Serra subir a rampa do Planalto em 2015, esse programa (de tocar fogo em favelas) vai se espalhar pelo Brasil inteiro.

FOGO, portanto, deve ser um tema dos adversários do Serra no horário eleitoral gratuito. Um outro deve ser as enchentes versus a falta de limpeza da calha do Rio Tietê.

Em suma, são muitas coisas ruins para acusar o PSDB e o DEM de irresponsabilidade social e de crimes contra os paulistanos pobres. Não sei é se vai haver tempo no horário eleitoral para tanta denúncia.

Quem for burro que vote nesses trogloditas, piromaníacos,tucanos.

FOGO! FOGO! FOGO! SOCORRO! SOCORRO!

Yarus

Fora de pauta

Deputado diz que vendeu seu voto a favor da reeleição por R$ 200 mil
http://t.co/zgsEXObq

Regina Braga

Uma Cidade e um Estado nas mãos de Nero…Se a CPI não chegar a nada,como ficam as pessoas moradores das favelas?Reféns de insanos?Cadê o MP? A Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal?Gente, a fase dos desmandos, já foi,estamos lidando com loucos.Com especuladores nazistas.Impossível, o Governo Federal ficar alheio.VERGONHA Nacional!!!!

O Doutrinador

Qdo o cerra e o quemsabe foram eleitos, prometeram ACABAR com as FAVELAS, só não informaram que era através do FOGO. A verdadeira definição é: Pobre Somente Debaixo de Brasa(PSDB). FUUUUUUUIIIIIIII!!!!!!!!!!

Carlos Marins

Poxa.

Incêndio destroi mais uma favela em São Paulo « Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Brasil Atual: Serra desativou programa de prevenção de incêndios em favelas de São Paulo […]

Julio Silveira

Quanto coisas podem decorrer de uma favela queimada.
Menos necessidade do esforço de demontrar preocupação com a obrigação dos serviços publicos para essa gente carente.
Mais horas de sono pela despreocupação com a responsabilidades que nunca quizeram assumir, mas que ficam lhes trazendo a conciência que resiste anestesiada.
Menos necessidade de desapropriação na hora de satisfazer o mercado imobiliário.
Mais facilidade de desapropriação visto o temor do que ficam.
E nem precisa ter o desgaste de Nero, basta fingir que a São Paulo dos pobres é a prova de incendios.

Antonio Marcos Ferreira

Está na cara que estes incêndios são provocados criminosamente…

O descaso do Kassab mostra que ele esta complacente com a maldade feita a estes moradores.

PSDB-Dem agem como nazifascistas quando se trata de problemas relacionados aos pobres.

Antonio Marcos Ferreira

Decididamente os Demotucanos não gostam de pobres.
Partidos eugenistas, só lembrando – temos vários casos de descaso e preconceito contra os menos favorecidos :
Massacre do Pinheirinho
Tratamento truculento por parte da policia para desapropriar a cracolândia
Todo movimento popular é tratado com violência pela puliça-demotucana
O Serra-Kassab não deram continuidade ao projeto de combate a incêndios em favelas por má vontade, afinal de contas eles só se preocupam em atender aos anseios da “MASSA CHEIROSA”

FrancoAtirador

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“O tema chamou tanto a atenção que a Câmara Municipal

abriu uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar

a possibilidade de se tratar de uma atuação criminosa.”

É óbvio que grande parte desses incêndios nas favelas

são provocados por Grupos de Extermínio neonazistas.

Também se trata do proto-fascismo da pseudo-elite paulistana.
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Ana Claudia Dantas

Infelizmente essa é a política de remoção de São Paulo. Foram 32 incêndios só este ano!

Zé Straus

Eles querem é que o pobre se esploooda!!

Ricardo

curioso é que no recife existem várias favelas, muitas delas bem mais pobres do que as de SP, mas não temos notícia de incêndio há muitos anos. só posso achar que esses incêndios em SP são provocados.

Fabio Passos

O descaso de serra e kassab é, no mínimo, muito suspeito.

Agora… considerando os antecedentes de ambos – ligados a extrema direita fascista e racista de São Paulo – há a possibilidade de que o aparente descaso seja na verdade uma política deliberada de “higienização” dos pobres para favorecer a especulação imobiliária.

E já repararam que o PiG não dá nenhuma atenção as tragédias humanas que são estes incêndios?

Eles não tem escrúpulos.
A vida dos pobres nada vale para estes tipos.

Os incêndios podem ser criminosos… e o poder público, sob batuta da direita psdb-dem, cúmplice dos crimes.

Pedro C.

O PSDB não passa de um partido tipo Hobin Hood às avessas, ou seja, tira dos pobres para dar aos ricos. Inclusive tirando o que pode do Brasil para dar aos paises mais ricos.

Mardones Ferreira

k k k k k

Acabei de ler essa matéria no site Brasil Atual.

Entrei no Vi o mundo para sugerir a replicação e tal não foi a minha surpresa. k k k k

Sintonia fina, não?

Sempre achei esse casos de incêndios em favelas um ato de descaso do poder público.

Djijo

Não deu temp de corrigir. Bem que o Azenha poderia fazer como o Nassif. Se escrevi errado ou equivocado, posso editar ou apagar. Dá opção de desfazer algo que pode prejudicar alguém. Do jeito que está não tem como.
Mas falando em protofascistas, aqui vai a explicação dum site que achei:

As “Chávez” do protofascismo

“É cômodo acreditar no que nos consola.

Mais difícil é perseguir a verdade.

Quanta verdade você é capaz de suportar?”

NIETZSCHE

“Não contavam com minha astúcia?”

CHAVEZ

(o personagem e humorista mexicano)

Umberto EcoO pensador e semiólogo italiano, Umberto Eco, esclarece que o nazismo não é a mesma coisa que fascismo, porque “há uma única maneira de ser nazista, mas há várias maneiras de ser fascista” (ECO, 1995).

Pela semelhança ideológica, e o período de surgimento na história, ambos são fundidos no termo “nazi-fascismo”. Fala-se de organização do estado nazi-fascista. Contudo, embora muitos associem o fascismo somente como um regime de Estado, hoje ele está pulverizado tanto em alguns círculos de poder político como nas relações humanas do cotidiano.

Antes do artigo do pensador italiano, numa mesa-redonda, em 1980, no Rio de Janeiro, o psicanalista Narciso Mello Teixeira observava que o fascismo não é perigoso apenas quando se torna fascismo de Estado, mas também quando é praticado nas violências invisíveis e sem sangue que acontecem no dia-a-dia.

Atos truculentos, que perseguem discordantes, e discriminam mulheres, homossexuais, nordestinos, negros, judeus, árabes, ciganos, indígenas, etc., indicam um estilo fascista, ainda que o praticante negue ou se defenda com a justificativa de ser comunista, liberal ou democrata.

Para o psicanalista Melmam (2000) “o fascismo solicita um saber implícito nos membros do grupo concernidos, essa limitação sendo precisamente sua condição. Sua força está ligada não racionalmente, mas ao despertar de potencialidades até então negligenciadas”.

O protofascismo

O “protofascismo”[1](sic), versão pós-moderna do fascismo, ganha adeptos porque sabe como despertar potencialidades do indivíduo ou do grupo até então negligenciadas. Para tal, usa recursos diversos: discurso agressivo e falacioso, gestos teatrais, abraços e beijos inautênticos, o gesto de tomar uma criança ao colo para ser fotografado, etc.

O discurso protofascista geralmente seduz os incautos e os náufragos de alguma ideologia messiânica. Para essa audiência não importa confrontar a retórica com a prática, nem sua coerência e razoabilidade, nem importa reconhecer suas atitudes “imorais” postas a serviço de uma moral cínica. Na análise de Sloterdijk (apud Zizek, 1992) “eles sabem perfeitamente o que fazem [mal], e, no entanto o fazem”, e ainda procuram justificar que fazem assim para o bem coletivo.

O protofascismo não é razoável nos atos e palavras. Sua razão instrumental é cínica, jamais ingênua, principalmente quando se trata de travar luta pelo poder político. Assim, um governante com vocações totalitárias faz uso cínico dos dispositivos próprios da democracia – por exemplo, através de um plebiscito calculado – visando ganhar mais-poder e/ou a perpetuação no poder.

O protofascista usa a razão e moral cínicas a serviço da imoralidade justificando-a como se fosse moral. Chomsky conta que mesmo os carrascos nazistas negaram ter cometido genocídio, mesmo após as provas, após verem os filmes, com milhares de corpos empilhados e nus retirados dos campos de concentração. No julgamento de Nuremberg, somente um oficial nazista assumiu a culpa pelo genocídio. Até mesmo um intelectual como Heidegger pode ter reconhecido um erro sua ligação com o nazismo, mas sequer aceitou falar disso para sua amiga por 50 anos, a judia Hannah Arendt.

No início, o fascismo fazia a apologia da guerra, do homicídio, da luta pela luta. Tudo lhe era válido para tomar e se manter no poder político, inclusive o derramamento do sangue. (Diferente do terrorismo que é essencialmente puro ato criminoso e não tem projeto político de tomar o poder).

Protofascismo à direita e à esquerda

O fascismo sempre foi localizado na extrema direita. Como um dos fenômenos da pós-modernidade, o protofascismo representa uma mudança de estilo e lugar. Hoje ele opera entre os tradicionais discursos da extrema direita e da extrema esquerda.

Repetindo Umberto Eco: “… há várias maneiras de ser fascista”. O protofascismo trocou a violência, a truculência e o desprezo em ato organizado pelos mais fracos, e agora vive – ou sobrevive – com: uma retórica agressiva, o carisma do líder, bem jogar o jogo da política e operar as relações sociais visando reforçar a simpatia dos seus militantes e atrair simpatizantes para sua causa. Podem até parecer espontâneas e ingênuas, mas suas ações políticas têm o propósito tático de ocupar todos os espaços institucionais, começando por substituir técnicos por militantes da “onda” (lembrando o filme de mesmo nome[2]), calculando o efeito dos slogans e palavras de ordens, vigiando e delatando opositores, catequizando corações e mentes, etc. O protofascista goza com as frases de efeito e vibra com o teatrinho de uma revolução ficcionada.

Em vez de atuar com violência explícita, os protofascistas se autorizam praticar microviolências ou violências invisíveis cujos efeitos são danosos às suas vítimas, a médio e longo prazo; operam através do marketing (político, comercial, religioso) onde manipulam o desejo das pessoas (o espaço religioso fundamentalista cristão, judaico e islâmico é o solo fértil do protofascismo). É extraído um gozo sádico do mal-estar entre pessoas, de semear a confusão de idéias, de fazer da contradição e do paroxismo um empreendimento de efeitos hipnóticos.

Os partidos fascistas não são uniformes na sua ideologia. Também existe uma distância considerável entre o fascismo e do stalinismo, observa Eco. O primeiro atua pelo investimento na “liga” (coesão grupal, reunião), “ação direta” e a fala “viva” ou “messiânica” do Líder [Führer] que hipnotiza os convertidos. O stalinismo se baseia na força do “texto”. Um texto evidentemente tratado como se fosse “sagrado”, reduzido a uma cartilha ou manual, portanto, longe do raciocínio complexo do “texto clássico” do marxismo. Zizek (1996) aproxima o “discurso stalinista” do “discurso da universidade” (termo lacaniano), pois ambos se sustentam da burocracia narcisista e patológica. A normatização e imposição do texto stalinista ficou a cargo do “jvadovismo”[3].

Todo protofascista odeia os movimentos pluralistas na: política, cultura, artes, literatura. No fundo, o protofascista é um conservador de alguns valores de sua terra, do ideário militar, do machismo, etc. Enquanto que o nazista se organiza em grupo de iguais (narcisismo) o protofascismo não se organiza como ideologia monolítica e sim como colagem de diferentes idéias políticas (do fascismo ao jvadovismo) e filosóficas contraditórias, muitas vezes vazias, mas com forte apelo emocional dos seus iguais. Exemplos dados por Eco: não é nazista o falangista hipercatólico de Franco.

Como já foi dito, as atitudes protofascistas não são uniformes, nem são ditadas por um partido político, ou um texto supostamente científico ou regramento moral, mas sim, seu traço característico é a colagem de idéias sem consistência e a retórica agressiva ou sedutora. A fala “viva” e o “olhar” do líder tende hipnotizar e até proporcionar uma experiência de transe grupal, obviamente sem juízo crítico.

O discurso protofascista exorta o culto à tradição (o resgate de mitos, a reabilitação de ritos antigos, etc.)[4], a recusa da modernidade, a recusa ao pluralismo e ao desacordo[5], faz disparar a sensação de estar sendo perseguido (paranóia)[6], promove o militarismo (armar a população, treinar um grupo, andar uniformizado ainda que seja com uma camiseta vermelha ou verde), o culto ao heroísmo e a morte[7], o líder “populista qualitativo” finge ser o interprete do povo[8], etc. Talvez a atitude mais representativa do protofascismo é a intolerância e a perseguição aos diferentes no modo de ser, agir e pensar[9].

Numa democracia o desacordo é sinal de diversidade; o protofascismo busca forjar o consenso explorando o medo e a angústia das pessoas. O ambiente de trabalho, por exemplo, é lugar escolhido por esse estilo político para gerar intrigas, divisões, perseguições, queimar ou gelar os supostos adversários.

Assim como existem pessoas “terapêuticas” que causam bem-estar existencial e social, também há personalidades “anti-terapêuticas” ou perversas, com capacidade de causar desarmonia, desequilíbrio psíquico, atravancar o desenvolvimento de projetos, brigas pessoais e guerras entre nações.

Protofascismo: mais-poder e menos-compaixão

A vontade de poder do nazismo e a intolerância do fascismo portam uma repugnância pela compaixão. Jamais veremos um protofascista sentir pena ou empatia pelo “diferente”. A armadura do caráter do protofascista só lhe autoriza demonstrar grande compaixão pelo sofrimento dos seus “irmãos” de ideologia ou os objetos de sua causa, mas jamais ele sentirá a mesma compaixão e misericórdia por aqueles que escolheu como inimigos. (O terrorista também não sente compaixão e nem misericórdia por suas vítimas, e, nesse sentido, podermos afirmar existir traços de fascismo nos seus atos).

É próprio da estrutura perversa e narcisista do protofascista: a dureza de caráter, a frieza de espírito, a indiferença, a secura no coração, a insensibilidade diante do sofrimento dos diferentes; também, sua tendência a falar mal ou desqualificar os que não se adequam à sua camisa de força ideológica. São os agenciadores das intrigas, da politicagem, e das fofocas inventadas para prejudicar supostos adversários políticos e desafetos. Goebbels, o ministro da comunicação de Hitler, dizia que uma fofoca é “uma mentira, que repetida várias vezes termina virando verdade”.

Concluímos com a observação do próprio Umberto Eco (op.cit.), que fornece os fundamentos para esse artigo: “O protofascismo pode voltar sob o mais inocente dos disfarces. Nosso dever é pô-lo a nu e apontar quaisquer novas ocorrências –todos os dias, em todas as partes do mundo… Liberdade e liberação são uma tarefa infinita”.

Referências

A ONDA… Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/065/65lima.htm

BEAUVOIR, S. O pensamento de direita, hoje. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972.

BECKER, S. A fantasia da eleição divina: Deus e o homem. Rio de Janeiro: Cia. de Freud, 1999.

BOBBIO, N. As razões da intolerância. In: A era dos direitos. São Paulo: Campus, 1992.

COMTE-SPONVILLE, A. Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo: M. Fontes, 1995.

DOMENACH. J.M. Propaganda política. DEL, s. d.

ECO, U. A nebulosa fascista. Folha de S. Paulo – Cad. Mais!, 14/05/95.

FREIRE COSTA, J. Narcisismo em tempos sombrios. In: Percursos na História da Psicanálise. Rio: Taurus-Timbre, 1988.

O OVO DA SERPENTE. Filme de I. Bergman.

REICH, W. Psicologia de massa do fascismo. Porto: Publicações Escorpião, 1974

ZIZEK, S. Eles não sabem o que fazem: o sublime objeto da ideologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.

______. O superego pós-moderno. In: Folha de S. Paulo- Cad. Mais!, (…) 1999.

    Conceição Lemes

    vc quer que a gente delete o comentário anterior e vc reposta? abs

    Djijo

    Escrevi protofascismo errado. Grato pelo retorno.

    Zezinho

    Nossa, descrição perfeita do PT.

    Miriam

    Concordo com você, Djijo, é bem melhor poder editar posteriormente. Obrigada pelo texto explicativo.

Apavorado por Vírus e Bactérias

E a especulação imobiliária em São Paulo como fica? Se tem incêndio, o povo sai da área para outra situação, geralmente pior. No local podem-se construir aqueles enormes prédios, com seus apartamentos com preços nas alturas, cheios de gente, que vão morar na Nova Saúde, Nova Cantareira, Novo Cambuci, etc., etc., etc.. Tudo novo, cheio de infraestrutura, ar puro, com bosques e sem favela.

E como tem incêndio em favela em São Paulo. E olha que SP nem é tão seco. Tem muita umidade no ar (salvo exceções, como neste ano), mas o fogo se alastra que é uma beleza.
Terrível, né?
Quais serão as causas? Alguém já investigou?

Djijo

Marilena Chauí já explicou o que é essa classe média paulistana. Protofassistas.

Nilo Aguiar

E esses 2 vermes fazem alguma coisa para o coletivo? Só se houver licitação para mais de 30 milhões!!!

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