Trump era milionário aos 8 anos de idade, mas vendeu o mito do “self made man”

Tempo de leitura: 3 min
Foto Wikipedia

Nova York, 4 de outubro de 2018

Caro Azenha,

Não sei se você viu por aí, na internet, a última investigação do New York Times.

O jornal colocou três profissionais atrás da história da fortuna do Donald Trump e descobriu, para começo de conversa, que Trump mente desde o começo.

Ele sempre afirmou que construiu o próprio negócio e prosperou sozinho.

Teve apenas um empurrãozinho do pai, Fred Trump, que já era um tubarão do mercado imobiliário.

Segundo as investigações do Times, o empurrãozinho faria sair voando, na velocidade da luz, qualquer candidato a empresário mequetrefe: em valores atuais, a ajudinha teria sido de US$ 413 milhões.

Não vou nem converter para reais. É muita grana!

E Trump sempre repete a história de que pegou um milhão de dólares emprestado com o pai e transformou em um império de US$ 10 milhões, acrescentando que devolveu o milhão com juros.

O tal do “me fiz por conta própria”, ao que tudo indica, é um tremendo fake news.

Trump começou a ganhar dinheiro do pai quando tinha apenas 3 anos. Aos 8, segundo o jornal, ele já era milionário.

O mito do “self-made man” cai por terra com o artigo.

O que me espanta, mas não me surpreende, é que a reportagem, de capa, do New York Times estava apenas começando a decolar junto à opinião pública quando o presidente atropelou o noticiário com mais uma daquelas tiradas que ganham espaço, repercutem e distraem.

O presidente fez um discurso bombástico no Mississipi (sempre naquele clima inflamado dos comícios) no qual ridicularizou a professora universitária Christine Blasey Ford, a mulher que teve a coragem de depor diante da comissão do senado, e do país inteiro, já que o depoimento foi transmitido ao vivo, para acusar o juiz Brett Kavanaugh de tentativa de estupro.

Kavanaugh foi indicado por Trump para ocupar a cadeira vaga na Suprema Corte dos Estados Unidos e precisa de passar por aprovação do Senado.

No palanque, Trump mudou de voz diante do microfone. Começou a imitar a professora e a sessão de perguntas que ela enfrentou.

Trump tentou desqualificar o depoimento de Christine destacando que o incidente que ela denunciou aconteceu há 36 anos. Christine não se lembra mais de quem a levou para a reunião onde o ataque aconteceu e também não sabe com quem voltou para casa. Mas garantiu ter bebido apenas uma cerveja antes da tentativa de abuso.

Em um primeiro momento, pode ter sido um tiro no pé.

A galhofa às custas da professora caiu muito mal entre os senadores republicanos que estão em cima do muro a respeito do futuro do juiz, os três que ainda não decidiram se vão votar contra ou a favor da indicação.

Mas, eu tenho cá as minhas suspeitas…

Trump joga com a fome de factoides da imprensa o tempo todo. Pode ser até que já tivesse calculado que o juiz perdeu a vez. Não chega mais lá.

Ou que tenha decidido sacrificar as chances de Brett Kavanaugh ser confirmado na cadeira vitalícia do Supremo em proveito próprio.

Tudo em nome de distrair o público e os jornalistas e mudar de assunto.

Vale tudo, menos permitir que se prolongue a investigação a respeito dos negócios de Donald Trump. Isso é terreno perigoso, areia movediça.

O New York Times analisou declarações de renda do pai de Trump, contas bancárias, pilhas de documentos, e concluiu que pai e filhos montaram um esquema para esconder boa parte da fortuna do pai e passá-la, sem custos, para a nova geração.

Os Trump, segundo o jornal, montaram uma empresa para fazer negócios de pai para filhos e também reduziram o valor dos imóveis de Fred para que os filhos pagassem menos imposto sobre a herança.

Segundo a reportagem, Fred passou aos filhos o que, de fato, valeria mais de US$ 1 bilhão e os herdeiros teriam que pagar 55% de imposto, ou seja, US$ 550 milhões.

Mas com os valores rebaixados, pagaram apenas US$ 52,2 milhões, 5% do valor real da herança.

Não poderia deixar de mencionar que Donald Trump rompeu com uma tradição que já dura décadas por aqui. Todo candidato a presidente apresenta as declarações do imposto de renda aos eleitores e Trump se recusou a mostrar os documentos.

Como eu disse, terreno perigoso.

Aqui na terra de Tio Sam, se você quer realmente complicar a vida de alguém, o imposto de renda costuma ser um bom caminho. Alcapone que o diga.

Não foi o contrabando de bebida alcóolica, as pessoas que ele mandou matar, nada disso levou Alphonse Gabriel Capone à cadeia. Ele foi preso por sonegação de impostos. É a lição antiga e sempre útil: siga a trilha do dinheiro…

Heloisa Villela

PS: Essa frase da reportagem do New York Times eu tenho que traduzir: “Eu construí o que construí por conta própria”, o Sr. Trump disse, uma narrativa que foi amplificada por reportagens muitas vezes crédulas dos órgãos de imprensa, incluindo o Times“. As empresas de comunicação crédulas… isso é assunto para uma outra missiva.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Hell Back

Lá como aqui, o mundo político, na essência parece que é tudo igual. Só mudam os personagens.

Bel

É a economia, estúpido. Se nos estados Unidos a economia vai bem como estão a alardear, a direita entende que é o que basta para seguir o trumpismo, nos moldes de o que é bom para os EUA é bom para o Brasil. A grande imprensa está a rasgar elogios aos EUA, dizem que lá está uma maravilha o governo Trump. Para quem apoia Trump e Bolsonaro, a economia é o que importa. Danem-se o clima, Amazônia, resto do mundo…

Deixe seu comentário

Leia também