Mário Scheffer: Inércia governamental e homofobia, uma combinação explosiva que piora o surto de varíola dos macacos

Tempo de leitura: 3 min
O ministro Marcelo Queiroga e o secretário da Saúde do Estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn. Fotos: Agência Senado e reprodução

Inércia de Governos e Homofobia pioram o surto de varíola dos macacos

Por Mário Scheffer, no Estadão — blog Política & Saúde 

Desde o final de maio, com mais de cem casos da varíola dos macacos reportados em uma dúzia de países, autoridades sanitárias brasileiras sabiam que a circulação de pessoas traria o vírus imediatamente ao País.

Quase dois meses depois de confirmar o primeiro caso, o governo paulista anunciou na semana passada um plano que prevê alguma testagem e assistência aos pacientes.

Além de tardia, a reação é insuficiente, considerando que São Paulo registra 75% dos mais de dois mil infectados no Brasil até o momento.

Países como Estados Unidos, França e Reino Unido já iniciaram a vacinação das pessoas altamente expostas e dos contatos próximos de quem foi diagnosticado positivo.

Por aqui não se sabe quais vacinas e para quem serão disponibilizadas, nem como andam as compras ou remessas internacionais.

A notícia, vaga, é que, por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), chegariam doses ao Brasil nas próximas semanas – sem data prevista de distribuição na rede pública do SUS.

Ainda não há campanhas de prevenção em curso, são poucos os laboratórios para testes no País e faltam agilidade e transparência na contagem pública dos casos.

Como se sabe, a grande maioria das infecções até agora se deu entre homens que fazem sexo com homens, embora tenham sido notificados casos em crianças, adolescentes e mulheres grávidas.

O Monkeypox pode ser transmitido durante relações sexuais, mas qualquer pessoa que tenha contato físico com alguém infectado corre risco de contrair a doença. É a proximidade entre as pessoas e o número de contatos próximos que favorecem a disseminação.

Médicos têm alertado que muitos transmitem o vírus sem saber, pois são assintomáticos ou apresentam sintomas leves, que se confundem com outras doenças.

Sem imunização, é dada como certa a dispersão para outras regiões e grupos populacionais, se consideradas as condições sociais que envolvem a alta prevalência de doenças infecciosas em geral no Brasil, o que vai de moradias precárias a presídios superlotados.

Essa realidade exigiria uma abordagem unificada nacional, seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que acionou seu nível mais alto de alerta, a emergência de saúde pública de interesse internacional.

A providência dificilmente virá do governo federal depois do desmonte das áreas técnicas nos últimos anos e da adoção do negacionismo como método para esconder problema de saúde pública inconveniente em véspera de eleição.

Por enquanto, apenas uma comissão técnica foi criada na Anvisa para avaliar testes, medicamentos e vacinas à medida que a agência receba pedidos de registro. Também foi publicada uma nota técnica do Ministério da Saúde, com orientações para gestantes e lactantes.

Combinação explosiva, a omissão governamental se junta à homofobia.

A nova crise sanitária é um prato cheio para a extrema direita, que está em campanha pró-Bolsonaro, estimulando a discriminação contra pessoas LGBTQIA+ e os ataques planejados a políticas públicas voltadas a essa população.

A contaminação do ambiente social por homofobia e transfobia pode ser medida pela régua de um juiz da 15ª Vara Criminal de Brasília.

Em decisão na sexta-feira (5/8), o magistrado banalizou a declaração preconceituosa do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, para quem a homossexualidade é produto de famílias “desajustadas”.

A desinformação que circula sobre a varíola nas redes sociais traz consequências inimagináveis.

Na caça aos “vilões”, houve até retaliação aos macacos, com maus tratos e morte de animais. A Sociedade Brasileira de Primatologia teve de vir a público para enfatizar que a nomenclatura “varíola dos macacos” é inadequada, pois não existe participação de primatas não humanos na transmissão.

Já a cruzada homofóbica gera confusão e pânico. Faz com que humanos desconheçam sua real vulnerabilidade, ficando menos propensos a buscar serviços de saúde, relatar sintomas e informar contatos.

Autoridades e ONGs têm surgido confusas e inseguras. Preocupadas em falar da doença de maneira não estigmatizante, usam termos evasivos, descartam urgência ou gravidade, evitam mencionar quem demandaria proteção imediata do poder público.

Paralelos vêm sendo traçados com a epidemia da aids nos anos de 1980 e a forma como algumas populações foram violentamente discriminadas no início.

Diferentemente do HIV antes do tratamento antirretroviral, a varíola dos macacos dificilmente mata. Mas o preconceito é semelhante.

O problema, antes, não era direcionar campanhas às pessoas mais afetadas, mas, sim, o fato de as mensagens serem absurdas, moralistas, julgadoras da orientação e do comportamento sexual.

O discurso que interdita a prevenção dirigida, viu-se há mais de trinta anos, é também perigoso, pois impede que muitas pessoas tenham acesso a informações para tomar decisões que dizem respeito às suas vidas e a sua saúde.

A saída encontrada no passado, que serve de lição, foram medidas de combate à estigmatização, baseadas na ciência e nos direitos humanos, que incluíam os mais vulneráveis como parte da solução.

A grande diferença do momento atual é que a doença, felizmente, tem vacina e cura.

É preciso exigir um plano de enfrentamento e vacinação contra o Monkeypox no Brasil, um direito e uma urgência nacional.

Leia também:

Cientistas recomendam que se use no Brasil apenas o termo monkeypox

Monkeypox: Rápido aumento de casos leva OMS a declarar a doença como emergência global de saúde; o que sabe até agora

Jorge Bermudez e Ronald dos Santos, sobre a monkeypox: Vamos ter um novo apartheid de vacinas?


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Comentários

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Zé Maria

Oito candidatos à presidência nas eleições deste ano
assinaram a carta em defesa da democracia divulgada
pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

O documento foi assinado pelo ex-presidente LULA (PT),
por Ciro (PDT), Tebet (MDB), D’Ávila (Novo), Thronicke (UBl),
Sofia (PCB), Péricles (UP) e Eymael (DC).

Também os ex-presidentes Dilma Rousseff (PT) e FHC (PSDB)
já haviam assinado a Carta-Manifesto da FDUSP.

Até agora (09/8 às 14h), 852.030 Pessoas já assinaram a “Carta
às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático
de Direito!”.

    Zé Maria

    .
    Deutsch
    “Brief an die Brasilianer zur Verteidigung
    des demokratischen Rechtsstaats”
    https://www.estadodedireitosempre.com/de
    .
    English
    “Letter to Brazilians in defence
    of the Democratic Rule of Law”
    https://www.estadodedireitosempre.com/en
    .
    Español
    “Carta a las Brasileñas y Brasileños en defensa
    del Estado Democrático de Derecho”
    https://www.estadodedireitosempre.com/es
    .
    Français
    “Lettre aux Brésiliennes et aux Brésiliens
    pour la défense de l’État de droit démocratique”
    https://www.estadodedireitosempre.com/fr
    .
    Italiano
    “Lettera alle Brasiliane ed ai Brasiliani in difesa
    dello Stato democratico di diritto”
    https://www.estadodedireitosempre.com/it
    .
    Português
    “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa
    do Estado Democrático de Direito!”
    https://www.estadodedireitosempre.com/
    .

    Zé Maria

    Por Questão de Isonomia, LULA deve participar da Cerimônia
    marcada para Leitura da Carta da FDUSP na próxima 5ª-feira,
    dia 11 de agosto, na Faculdade de Direito da USP, no Largo São
    Francisco, em São Paulo, se qualquer um dos Presidenciáveis
    comparecer ao Evento.

    Zé Maria

    https://images01.brasildefato.com.br/ea6f241cb59dac82734ac9de5008c1a3.jpeg
    https://images03.brasildefato.com.br/4f370ef8d3816c4c8b1afc9bb57aa79c.jpeg
    https://images03.brasildefato.com.br/8fe9cb9711e911d754ade649a5b92e0c.jpeg

    “Bolsonaro Sai, Democracia Fica!”

    “ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIRETO SEMPRE!

    Dia 11 de Agosto, Quinta-Feira

    Movimentos Populares, Entidades Estudantis e Sindicais
    convocam para Atos por Eleições Livres em todo o Brasil

    Locais já Agendados em todo o País

    ALAGOAS
    Maceió
    – Praça do Centenário, 8h
    .
    AMAZONAS
    Manaus
    – Praça da Saudade, às 15h
    .
    BAHIA
    Salvador
    – Praça do Campo Grande, às 9h
    .
    CEARÁ
    Fortaleza
    – Praça da Bandeira, às 9h;
    – Gentilândia, às 16h; e
    – Casa do Estudante, às 19h
    .
    DISTRITO FEDERAL
    Brasília
    – ato no Congresso Nacional às 15h
    .
    ESPÍRITO SANTO
    Vitória
    – Praça Costa Pereira, 10h
    .
    GOIÁS
    Goiânia
    – Praça Universitária, às 17h
    .
    MARANHÃO
    São Luiz
    – Praça Deodoro, às 16h
    .
    MINAS GERAIS
    Belo Horizonte
    – Praça Afonso Arinos, às 17h
    .
    MATO GROSSO
    Cuiabá
    – Liceu Cuiabano, às 19h
    .
    MATO GROSSO DO SUL
    Campo Grande
    – Câmara Municipal, às 10h
    .
    PARÁ
    Belém
    – Mercado São Braz, às 17h
    .
    PARAÍBA
    João Pessoa
    – Lyceu Paraibano, às 14h
    .
    PARANÁ
    Curitiba
    – Praça Santos Andrade, às 15h30
    Cascavel
    – Redondo da Unioeste, 11h30
    Londrina
    – Calçadão do lado do BB, 17h00
    .
    PERNAMBUCO
    Recife
    – Rua da Aurora, às 15h
    .
    PIAUÍ
    Teresina
    – Praça Rio Branco, às 8h30
    .
    RIO DE JANEIRO
    Rio de Janeiro
    – Candelária, às 16h
    .
    RIO GRANDE DO NORTE
    Natal
    – Midway Mall, às 14h30
    .
    RIO GRANDE DO SUL
    Porto Alegre
    – Colégio Júlio de Castilhos, às 8h;
    – Faculdade de Direito da UFRGS, às 10h; e
    – Ato em frente ao Palácio Piratini, às 12h
    .
    RONDÔNIA
    Porto Velho
    – UNIR Centro, às 17h (Concentração às 16h30)
    .
    SANTA CATARINA
    Florianópolis
    – Auditório da Reitoria da UFSC, às 10h
    Chapecó
    – Saguão da Reitoria da UFFS, às 10h
    .
    SÃO PAULO
    Capital
    – 11h, Leitura da Carta às Brasileiras e Brasileiros em Defesa
    do Estado Democrático de Direito, na Faculdade de Direito da USP;
    – 9h e 17h, Atos em frente ao MASP, na Avenida Paulista.
    Campinas
    – Largo do Rosário, às 10h
    Ribeirão Preto
    – Faculdade de Direito, às 10h; e
    – Esplanada do Teatro Pedro II, às 17h
    Santos
    – Praça dos Andradas, às 10h
    .
    SERGIPE
    Aracaju
    – Praça Getúlio Vargas, Bairro São José, às 15h
    .
    https://www.brasildefators.com.br/2022/08/09/movimentos-e-entidades-tomam-as-ruas-de-porto-alegre-em-defesa-da-democracia-nesta-quinta-11
    https://www.brasildefato.com.br/2022/08/10/movimentos-populares-vao-as-ruas-contra-ameacas-de-bolsonaro-a-democracia-nesta-quinta-11
    https://appsindicato.org.br/estudantes-centrais-sindicais-e-cnte-convocam-atos-em-defesa-da-democracia-nesta-quinta-feira-11/
    https://www.condsef.org.br/noticias/em-22-capitais-df-ja-tem-atos-pela-democracia-marcados-esta-quinta-11
    https://pt.org.br/ato-pela-democracia-22-capitais-e-df-tem-manifestacoes-nesta-quinta-11/

    https://pbs.twimg.com/media/FZqMzZzXgAMdaZS?format=png

    “BOLSONARO SAI, DEMOCRACIA FICA”

    Defesa Permanente da Democracia
    A mobilização em defesa de democracia será permanente.
    Além dos dias 11 e 13 de agosto, no dia 7 de Setembro, Movimentos Sociais voltam às ruas no tradicional “Grito dos Excluídos”.
    Três dias depois, no dia 10/9, CUT e demais Centrais Sindicais,
    Movimentos Populares e Partidos Políticos, além de outras
    Entidades da Sociedade Civil, estarão nas ruas novamente
    em Defesa da Democracia, por Eleições Livres e Contra a
    Violência Política.

    Dia 13: #MulheresNasRuasPorDireitos #VamosJuntasPeloBrasil
    As mulheres, que, já em 2018, no Movimento #EleNão expressaram
    oposição ao então candidato Jair Bolsonaro por seu histórico fascista
    de misoginia, machismo e homofobia, reforçarão a Jornada pela
    Democracia indo às ruas no dia 13 de Agosto em todo o Brasil.
    As Mulheres lutam ainda Contra os Desmontes das Políticas Públicas causados pelos Governos de Direita que impactaram negativamente
    o segmento social de forma mais profunda nos últimos anos.

    “As Mulheres da CUT junto com Movimentos Feministas,
    Movimentos sociais e Partidos Políticos farão atos no dia 13
    tendo como Pautas de Protestos o Combate à Fome e à Miséria,
    à ‘Reforma Trabalhista’ e Contra a Violência Contra a Mulher.
    O movimento ‘#VamosJuntasPeloBrasil’ vem para reforçar
    e manter vivo esse espírito de luta, que é histórico em torno
    da defesa da democracia, contra essa violência que estamos
    vivendo contra o povo brasileiro”, diz Juneia Batista, Secretária
    da Mulher Trabalhadora da CUT.

    Mês dos Estudantes
    A Juventude Brasileira, cuja grande Contribuição à Democracia já teve
    um momento importante neste ano, quando mais de Dois Milhões de Jovens entre 16 e 18 anos ‘correram’ para tirar o Título de Eleitor para poder votar nas Eleições de Outubro, também estará nas ruas no dia
    11 de agosto.
    A data é parte do Calendário de Mobilizações dos Movimentos Estudantis Marcadas por Entidades Representativas para Agosto,
    “Mês dos Estudantes”.
    Já em seu Congresso, realizado em Julho deste Ano, a União Nacional
    dos Estudantes (UNE) havia Definido a Data como Dia de Protestos
    Contra o Golpismo de Bolsonaro.

    https://t.co/ANZsWTg4aF
    https://twitter.com/CUT_Brasil/status/1556747081087209473

Zé Maria

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Os Fascistas da Extrema Direita Bolsonarista se referem como ‘Apestiados’
aos infectados por essas Doenças Contagiosas, tal como eram perseguidos
e humilhados os Leprosos no tempo de Jesus Cristo, há 2 Mil Anos.

A Diferença é que naquela época não havia Conhecimento Científico nem, portanto, Vacinas para preveni-las ou Medicamentos para tratá-las.

Hoje, os Grupos Bolsonaristas trazem de lá a Ignorância e o Preconceito.

Zé Maria

Excerto

“qualquer pessoa que tenha contato físico com alguém infectado
corre risco de contrair a doença [Monkeypox].

É a proximidade entre as pessoas e o número de contatos próximos
que favorecem a disseminação [da Varíola]”.
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