Matheus Pichonelli: Total falta de coerência

Tempo de leitura: 3 min

por Matheus Pichonelli, em CartaCapital

O que o prefeito Gilberto Kassab oferece ao PT parece tentador. Em troca de um vice, o líder do PSD promete reunir outras siglas em torno de Fernando Haddad, apoio dos vereadores kassabistas e a interlocução com líderes religiosos.

O sonho de consumo do PT é encontrar para Haddad um novo José Alencar. Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e recém-filiado ao PSD, poderia ser o nome.

Como Alencar na chapa de Lula em 2002, Meirelles ajudaria a acalmar os ânimos da classe média ainda resistente ao PT, sobretudo em São Paulo. Kassab, ao que consta, prefere outros nomes. E tem seu plano A: lançar Guilherme Afif, vice-governador de São Paulo, em uma cabeça de chapa, ou indicar um vice para José Serra, caso o tucano decida se lançar candidato.

No PT, tudo parece negociável, e, apesar da gritaria ensaiada pelo diretório paulistano, a ideia de se aliar ao prefeito parece agradar muita gente no partido. Sabendo disso, Kassab foi direto à rainha do xadrez: Luiz Inácio Lula da Silva.

Nessa época do ano, tempo extra na propaganda de tevê e apoio nas bases eleitorais costumam falar mais alto do que a coerência. Falta combinar com o candidato, aparentemente o mais cauteloso sobre o andamento da negociação.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Haddad classificou como “um gesto de generosidade” o elogio do prefeito ao PT, mas avisou: “não podemos deixar de ter clareza de que o projeto que está em curso não é esse”. E lembrou que a conversa com o PSD ainda é “muito nova e precária”.

Faltou dizer que é perigosa. Kassab, em seu penúltimo ano como prefeito, praticamente mais cuidou do seu PSD do que dos problemas de sua cidade, como a presepada na cracolândia, as promessas não cumpridas (e as áreas verdes? e os corredores de ônibus?), os absurdos das leis de zoneamento, a moralização da vida noturna por asfixia, a militarização das subprefeituras, as suspeitas na inspeção veicular ambiental e uma implosão malsucedida – que ele negou ser malsucedida.

Chega à reta final mal avaliado e sem ter conseguido mostrar ao eleitor outra marca sua a não ser a habilidade em costurar acordos políticos (é amigo dos tucanos em São Paulo, e dos petistas, no governo federal) e a Lei Cidade Limpa, que já data da gestão passada.

Não por outro motivo, vê sua popularidade cair a cada nova pesquisa de opinião, embora tenha em mãos uma carta potente para reverter o quadro: a possibilidade de acelerar os gastos públicos do Orçamento em pleno ano eleitoral.

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Hoje, contudo, sair na foto ao lado de Kassab seria tão ou mais eficaz do que levar ao palanque o Compadre Washington. Em recente pesquisa Datafolha, boa parte dos eleitores demonstrou estar disposto a votar num candidato apoiado por Lula ou Dilma Rousseff – estes, sim, mais populares e mais bem avaliados que o prefeito paulistano.

Na oposição, o PT passou os últimos quatro anos apontado os erros da gestão Kassab, e muitos ainda se lembram da tensa campanha em 2008 entre Marta Suplicy e Kassab, eleito pelo arqui-inimigo DEM. De repente, dizer que estava tudo bem, que tudo foi um engano e que todos cabem no mesmo barco fatalmente soará estranho.

O eleitor pode ser influenciado pelo tempo de tevê. Mas, em política, se tem algo que ele não perdoa é a contradição.

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