Lula criou um monstro, que “pensa o novo Brasil” trocando Dilma por Temer, Cunha e uma quadrilha de ladrões

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Golpistas são denunciados no Estádio do Arruda, em Recife, pela torcida do Santa Cruz e diante do Palácio do Jaburu, em Brasília. Janot acha que isso é “novo Brasil”?

Boston, Brazil: o PGR e a defesa da Lava Jato

por João Feres Júnior, no GNN

O contexto era a Brazil Conference, um evento anual promovido por alunos brasileiros de Harvard e MIT e que conta com o financiamento da Fundação Lemann, da ABInBev, ambos de Jorge Paulo Lemann, do Instituto Península, de Abílio Diniz, Credit Suisse, e de mais alguns outros patrocinadores menores.

Era notável entre os estudantes a predominância de carreiras como business e administração, economia e direito. Durante o evento muitas vezes se ouviu a frase de que se trata “da futura elite que vai dirigir nosso país”.

O lema da conferência foi logo enunciado pelo jovem que introduziu a palestra inaugural: “estamos aqui para ajudar a construir o Brasil que a gente quer ver, o novo Brasil”.

A lista de pessoas chamadas para pensar esse “novo Brasil” teve nomes como Rodrigo Janot, Abílio Diniz, Neca Setubal, José Olympio Pereira, Ayres Britto, Joaquim Falcão, Marconi Perillo, Alessandro Molon e Otaviano Canuto, além de alguns outros empreendedores e acadêmicos, entre eles eu, que fui convidado para apresentar trabalho em uma mesa sobre políticas de ação afirmativa, assunto que pesquiso há anos.

Os palestrantes, um após o outro, com raras exceções, repetiam este bordão de “pensar o novo Brasil”.

Tal senha tinha um significado muito claro, tratava-se de saudar a nova era que se inaugura com a expulsão de Dilma e do PT da Presidência da República, coisa explicitada por mais de um apresentador.

O evento transcorreu assim, como um misto de celebração e de reunião de trabalho para planejar o Brasil sem o PT.

O primeiro a discursar foi o PGR Rodrigo Janot.

Começou falando diretamente da Operação Lava Jato sem sequer citar o nome, como se fosse óbvio que aquele era o assunto sobre o qual a palestra versava.

Seguiu-se uma seção monótona durante a qual Janot gabava-se dos números da operação em termos de prisões, investigações, indiciamentos, etc.

Acrescentou já no início que fez contatos com membros do judiciário italiano envolvidos na operação Mani Pulite para ter certeza de que a Operação tupiniquim não repetisse os mesmos erros que seu “modelo” italiano.

Segundo Janot, o fato de a Mani Pulite ter jogado o poder do Estado nas mãos de Berlusconi, um político corrupto, constitui atestado de sua falência.

Em seguida, o Procurador Geral defendeu que a Lava Jato só foi possível porque o Ministério Público, a partir da Constituição de 1988, conquistou autonomia administrativa, orçamentária e funcional.

Acima de tudo, celebrou, a escolha do PGR é feita pelo presidente da república a partir de lista tríplice interna, e aprovada em sabatina pelo senado.

A grande virtude deste procedimento, segundo ele, é que o PGR obrigatoriamente tem que sair dos quadros do próprio MP.

Essa elegia à corporação que comanda foi então estendida ao judiciário.

Janot disse que na ação penal 470, vulgo Mensalão, o STF julgou e condenou “poderosos”, só não usou a expressão “nunca na história deste país” por razões que a essa altura já estavam ficando óbvias.

De burocrática a fala do PGR foi ficando cada vez mais politizada.

Logo em seguida, emendou em tom mais dramático a tese de que o Mensalão revelou uma organização criminosa que é a mesma da Lava Jato.

Voltando para a Lava Jato, protegeu Moro sem citar-lhe o nome, ao dizer que os procedimentos jurídicos tomados durante a operação estavam dentro da constitucionalidade.

Na senda da interpretação política, mas voltando para o MP, Janot festejou o fato de que a PEC 37, proibindo poderes investigativos à corporação, mobilizou as massas que foram às ruas em 2013 e puseram pressão a ponto de reverter a propensão da Câmara que era claramente de aprová-la. A narrativa a essa altura já estava bem clara.

A política está corroída pela corrupção, o “povo” percebeu isso e se revoltou, dando ao MP maiores condições de cumprir seu papel de salvador da república, auxiliado pelo judiciário.

Sua conclusão foi peremptória: não há qualquer golpe, as instituições estão funcionando muito bem, sem qualquer problema. Foi aplaudido longamente por uma plateia em pé.

Examinada friamente, contudo, a estória contada pelo PGR é escandalosamente contraditória.

Ele disse que pretendia evitar os erros da Mani Pulite, correto, caro leitor?

Pois bem, tomemos o processo todo como um caixa preta, sem nos preocupar com detalhes de sua condução: ao fim ao cabo a caçada à corrupção do PT fez com que o poder do Estado que desfruta de legitimidade popular mais intensa, o executivo, fosse parar nas mãos de Michel Temer, um membro do PMDB, partido que junto com o PP tem o maior número de políticos investigados por corrupção na própria Lava Jato, e político que obém nenhuma legitimidade do voto popular (não nos enganemos, os eleitores votaram em Dilma, Lula e o PT) e de Eduardo Cunha, agora vice-presidente de fato, político que o próprio Janot já acusou duas vezes no Supremo Tribunal Federal de esquema milionário de corrupção e até de ameaçar a vida de outro parlamentar.

O PMDB e o PP, campeões da corrupção, vão ser a base parlamentar do novo governo.

Em suma, em nome da luta contra a corrupção a Lava Jato vai redundar na cassação do voto popular dado em 2014 e entregar o governo para políticos ainda mais corruptos e ilegítimos.

É deprimente notar que a massa de estudantes brasileiros de Harvard e MIT, os supostos futuros líderes do novo Brasil, que se levantou para aplaudir Janot não teve capacidade intelectual para perceber tal falácia escandalosa.

Isso certamente fala contra os critérios de seleção usados no programa Ciência Sem Fronteiras e nos programas de bolsas da CAPES e CNPq.

Ou será que somente uma questão de etos de classe e de raça?

O PGR manteve-se na trincheira do corporativismo o tempo todo.

Não teve uma palavra crítica a respeito do comportamento altamente politizado dos procuradores de Curitiba, vazamentos seletivos das investigações para a imprensa, ou dos abusos cometidos por Moro.

No final das contas, Janot não cumpriu à risca a tarefa de imaginar um novo Brasil, mas certamente ofereceu uma justificativa racional para a narrativa que depois seria muitas vezes repetida durante o evento: o PT criou o maior esquema de corrupção do país; livrando-nos do PT, estaremos inaugurando um novo tempo.

Um dos presentes, que não o aplaudiu de pé, lembrou-o que Fernando Henrique Cardoso escolheu o 17º nome da lista do MP para PGR e não o primeiro de uma lista tríplice.

Ele respondeu que a escolha da lista tríplice não é imposição legal, mas se tornou usual nas últimas escolhas, sem sequer citar o nome de Lula, o criador desta prática.

Lula, por sinal, até há pouco percorria o Brasil se gabando de ter dado autonomia às corporações do Estado, particularmente à PRG, ou seja, se gabando de abrir mão do direito que o voto popular lhe deu de escolher o chefe de um poder cujo único mecanismo de accountability é esse: a escolha presidencial.

Criou um monstro que, com a ajuda daqueles interessados em anular as eleições de 2014, engoliu a república e agora vai por aí a arrotar suas vanglórias.

Só não recomendo chegar muito perto, pois o odor é fétido.

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Comentários

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Mineirim

Convenhamos, os “cara” sabem fazer as coisas, né?
Palestrantes bem selecionados, platéia idem: não havia ninguém, mas ninguém ali para perguntar ao janot sobre os corruptos (inclusive os que ele representara – ainda que de mentirinha – junto ao stf) que estão assaltando o poder?
Claro que eles não deixam que em seus eventos não haja infiltrações, ao contrário do Governo Federal, que deixa que os raivosos invadam suas organizações (vide exemplo recente em cerimônia no Palácio do Planalto e aquela nos EEUU, quando um cão raivoso se infiltrou na delegação brasileira).

Marcelo Mar

No nosso país parece que é o rabo abana o cachorro.
Os políticos no dia 17 deram um show de irresponsabilidade. Pena que povo não percebeu aquilo que aconteceu: piratas pagos tomando de assalto o barco da democracia.
Mas quanto ao Janot, o Lula cometeu o pecado do Republicanismo. Ele acreditou nas instituições, mas infelizmente
sua ingenuidade nos atirou, sem roupa, no colo dos canalhas.

FrancoAtirador

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Um Colunista Inglês, da Revista Britânica The Economist,
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definiu em uma Frase a Parcialidade da Mídia Brasileira
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“O Partidarismo da Mídia deu Peso para a Imprensa Internacional.”
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Por Paulo Nogueira, no DCM (https://t.co/gZ43Z2MuN3)
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Esta frase encerra a resistência cínica e patética
que a mídia brasileira e seus vassalos querem opor à verdade
de que as empresas jornalísticas nacionais são brutalmente parciais.
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Quem a pronunciou foi o especialista em América Latina
da Economist, Michael Reid, responsável pela coluna Bello.
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Citei no DCM diversas vezes a Economist como exemplo
de uma revista conservadora que deveria ser seguida no Brasil.
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É de direita — mas não briga com os fatos, como diz Reid.
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Acrescento eu:
a imprensa brasileira faz mais que brigar com os fatos, a rigor.
Omite, distorce, manipula.
Cria um mundo paralelo através do qual defende seus interesses — os da plutocracia.
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A Economist — que li ao longo de todos os anos em que militei no jornalismo de negócios — procura convencer seus leitores à base de ideias.
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A mídia nacional tenta ludibriar seu público à base de mentiras.
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Esta a diferença essencial.
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Há um outro acréscimo que deve ser feito à fala de Reid, publicada na BBC Brasil — este sim um site pluralista.
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A parcialidade da imprensa brasileira abriu um espaço extraordinário aos sites independentes, como o DCM e tantos outros.
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Várias vezes refleti como teria sido mais árdua a trajetória do DCM em sociedades com mídia plural.
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No Reino Unido, teríamos que disputar leitores de centro-esquerda com o Guardian, para ficar num caso.
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O público de centro, centro-esquerda e esquerda foi sendo progressivamente afastado da mídia tradicional.
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A Veja foi pioneira nisso.
A revista se tornou influente e maciçamente lida com a fórmula oposta à de hoje.
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Desde que o PT subiu ao poder, a Veja virou um panfleto desprezível de direita.
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Perdeu completamente o respeito e a credibilidade ao se encher de pseudojornalistas como Mainardi e Azevedo.
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Sobraram entre seus leitores apenas os fanáticos antipetistas.
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A Veja deveria ser um caso a não ser seguido no universo da mídia, tal os estragos que sua postura provocou entre um imenso contingente de leitores.
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Mas — numa prova da inépcia das grandes empresas jornalísticas, tocadas por herdeiros e dependentes visceralmente de dinheiro público e não de seus talentos gerenciais — virou modelo.
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A Globo é hoje a Veja por outros meios.
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Seu Jornal Nacional poderia perfeitamente ser editado pelos jornalistas da Veja.
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Foi neste ambiente que o consagrado jornalista americano Glenn Greenwald, radicado no Brasil, se declarou chocado com o que ele chama de “mídia plutocrática”.
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Como fundador e editor de um site independente, desde cedo vi o espaço que havia no mercado brasileiro de notícias para quem fosse uma alternativa à parcialidade do conteúdo produzido pelas famílias Marinho, Frias, Civita e Mesquita.
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Estas famílias falam abusivamente de mercado sem praticá-lo.
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Não vivem e nem sobrevivem sem dinheiro público,
ou por meio de publicidade ou por meio de financiamentos do BNDES,
para ficar apenas em duas fórmulas de bater a carteira do Povo.
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Nenhuma delas fala disso, mas são beneficiadas até hoje,
por incrível que pareça, por um sistema arcaico de reserva de mercado
que as protegeu da concorrência estrangeira e perpetuou suas deficiências administrativas.
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Mas em sua cegueira invencível, em sua obtusidade editorial
Globo, Abril, Folha etc acabaram abrindo espaço para sites
que não fazem da mentira a razão de sua existência e, como disse Reid, para publicações estrangeiras que não brigam com os fatos.
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(http://www.diariodocentrodomundo.com.br/como-um-colunista-da-economist-lacrou-a-discussao-em-torno-da-parcialidade-da-midia-brasileira-por-paulo-nogueira)
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Bacellar

Republicanismo foi erro (meus Deus como é horrível escrever uma frase assim). Porém aposto mais no tal ethos (escravocrata, americanófilo, subserviente, elitista, totalitário, incompetente, aculturado, etc,etc,etc,etc,etc….), esse monstro nasceu junto com a república e é cria do monstro imperial.

Escalete

Quer dizer que Janot fez questão de manter contato com membros do judiciário italiano envolvidos no Mani Pulite , para ter certeza que aqui o governo não cairia nas mãos de corruptos? E afirma que Berlusconi ter assumido o governo foi um atestado de falência da operação?
Então, ele foi se assegurar de como fazer com que a Lava jato fosse cópia fiel da Mani Pulite .
E ao afirmar que nas manifestações de 2013 o povo se mobilizou para protestar contra PEC 37, ele sabe que isso é uma mentira. A maioria das pessoas nem sabiam do que se tratava tal PEC, foi tudo estrategicamente plantado.
Quando leio em qualquer análise, inclusive internacional sobre a crise que vivemos da possibilidade de derrubada de um Governo legítimo, e que a intenção maior é acabar com a Lava jato…minha vontade é rir. Não entendo porque jornalistas investigativos sérios, acreditam nessa piada. Nesta matéria mesmo deixa claro o caráter politico anti pt da PGR e tudo mais que assistimos impotentes sobre os abusos da lava jato e seus agentes da “Liga da INjustiça”…como podem ainda acreditar que a operação corre risco de ser “sabotada” pelo novo governo ilegítimo? Se contradizem, afinal está claro que a operação foi a espinha dorsal do GOLPE, essa operação nasceu para se autodestruir assim que a missão estiver cumprida.
Tudo não passa de jogo de cena da PF ao se dizer preocupada que a operação possa vir acabar…estão apenas preparando a opinião pública para o óbvio!!
E uma vez Governo Temer/Cunha tomando posse, que DEUS nos livre disso, certamente viveremos um estado de exceção e a internet será a primeira vítima. Farão de tudo para calar nossa voz!

    Paulo Paulista

    Será que vai ser nessa hora que o Brasil vai virar Síria; com direito á rebeldes,exército do governo, ajuda estrangeira, de armas, tropas, cidades sitiadas,pessoas fugindo pra dentro da floresta amazônica, etc… ???

Sidnei Brito

“Um dos presentes, que não o aplaudiu de pé, lembrou-o que Fernando Henrique Cardoso escolheu o 17º nome da lista do MP para PGR e não o primeiro de uma lista tríplice.”
Fiquei curioso de saber quem é esse herói.

Maria

Para leigos parece que não seguem nenhum código. Chega a ser pior que o supremo. Pois o supremo dispensa as leis em casos específicos (domínio do fato) mas não tem essa liberdade de ser um arquivador permanente tal Gurgel, ou possivelmente um ator oculto de um golpe no nível que foi Janot.(ggn)

O que se tem de fazer é reformar o Orgão podre e regulá-lo para não termos políticos nele. E para que não trabalhem soltos em suas vontades.Pode aparecer um partido ainda pior que o PSDB, ou um presidente tal Bolsonaro.
E o que faremos?

Ronaldo

Só para contar. O Papão tá na final da Copa Verde me esqueci de citar.

Ronaldo

Eu como torcedor apaixonado do PAPÂO e tão apaixonado republicano e democrático, gostaria imensamente que minha grandiosa torcida se juntasse aos SANTACRUZENSES nessa luta pela democracia por que não lutaremos somente por nos, mas por toda uma nação .

FrancoAtirador

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O BraZil não conhece o BraSil
O BraZil não merece o BraSil
O BraZil tá matando o BraSil
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Querelas do Brasil
(Aldir Blanc/Maurício Tapajós)
.
Por Elis Regina, em Transversal do Tempo
.
(https://youtu.be/R-mfoXTfsdw?t=3950)
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(http://www.vagalume.com.br/elis-regina/querelas-do-brasil.html)
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Anizio Silva

“Golpistas são denunciados no estádio do Nacional do Uruguai”? Corrige isso, Azenha, esse é o Estádio do Arruda em Recife, onde a torcida do Santa Cruz exibiu a faixa contra a Globo Golpista \o_

    Conceição Lemes

    Obrigadissima tanbém, Anísio. Corrigimos. abs

lucas

Olá, o estádio da foto é da final da Copa do Nordeste, no Arruda, não do Nacional.

att

    Conceição Lemes

    Obrigadissima, Lucas. Corrigimos. abs

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