Síria: Uma saída para o gás e petróleo do Curdistão

Tempo de leitura: 3 min

As manchas vermelhas no mapa registram regiões onde vivem populações curdas

por Luiz Carlos Azenha

Um aspecto frequentemente desprezado na crise da Síria tem relação com os planos da nação curda, cujo futuro parece promissor diante da decisão dos Estados Unidos de bancarem a virtual partilha do Iraque, por causa do petróleo.

Trecho de artigo de M K Bhadrakumar, no Asia Times Online, joga luz na questão:

Os Estados Unidos esperam que a Turquia “jogue seu papel como aliado numa vasta faixa de terra que vai do Mar Negro ao Cáucaso, do Mar Cáspio até a Ásia Central. Em última análise, os Estados Unidos tem várias cartas do jogo nas mãos — um jogo que se sofisticou durante a Guerra Fria — para manipular as políticas turcas. Isso é evidente na centralidade conferida por Washington ao líder curdo iraquiano, Massoud Barzani, na estratégia mais ampla dos Estados Unidos.

Obama recebeu Barzani na Casa Branca recentemente. Barzani se tornou peça importante das políticas turco-estadunidenses na Síria. Isso aconteceu meses depois da ExxonMobil ter assinado, em outubro passado, contrato para desenvolver campos de petróleo localizados na região do Curdistão controlada por Barzani, ignorando os protestos de Bagdá, que alegava que tal contrato com uma autoridade provincial, desconhecendo o governo central, seria uma violação da soberania do Iraque.

Na semana passada, a gigante norte-americana Chevron anunciou que também comprou uma fatia controladora de 80% de uma empresa que opera numa área combinada de 1.124 quilômetros quadrados que está sob controle de Barzani.

A entrada da ExxonMobile e da Chevron muda o panorama da política regional sobre a Síria. A questão é que a melhor rota para o mercado mundial dos massivos depósitos de petróleo e gás do Curdistão será pela cidade portuária síria de Latakia, no Leste do Mediterrâneo. Na verdade, uma nova dimensão do plano de jogo dos Estados Unidos-Turquia fica evidente.

A Siyah Kalem, uma empresa de engenharia e construção turca, tem proposta para transportar o gás natural do Curdistão. Evidentemente, em algum lugar do subsolo, os interesses corporativos de Anatolia (que tem ligações com o partido islamista que governa a Turquia) e a política externa do país em relação à Síria estão convergindo. Os interesses dos Estados Unidos e da Turquia são comuns quanto à geopolítica das reservas de energia do norte do Iraque.

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Mas Barzani não é apenas um parceiro de negócios para Washington e Ancara mas também um agente chave para tratar da questão curda na Turquia. Com apoio de Washington, ele lançou um projeto para reunir todas as facções curdas — turcas, iraquianas e sírias — sob uma nova proposta política.

Barzani promoveu uma reunião com as facções curdas em Arbil [capital do Curdistão iraquino] no mês passado. Barzani, claramente, tentou subornar os líderes de várias facções curdas com fundos providenciados por Ancara. Ele afirma que foi bem sucedido na reconciliação de diferentes grupos curdos na Síria (a insurgência curda na Turquia é liderada por curdos sírios). Ele também alega que persuadiu os curdos sírios a romper suas ligações com Bashar [Assad, o presidente da Síria] e se alinhar com a oposição.

Essas ações de Arbil tem um papel vital no futuro curso do [primeiro-ministro turco Recep] Erdogan na Síria. Como um importante analista do Washington Institute para o Oriente Médio, Soner Cagaptay, indicou recentemente, ‘a inquieta e bem organizada minoria curda na Síria, em sua maior parte, não confia na Turquia'”.

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