Raimundo Bonfim: Movimentos populares têm de continuar nas ruas

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Por um governo mais à esquerda

Raimundo Bonfim, especial para o Vimundo      

O resultado da disputa eleitoral com a vitória da candidata do Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff, por apenas 3,5 milhões num total de 105 milhões de eleitores votantes, nos obriga a fazer uma ligeira e parcial análise do ponto de vista de um militante do movimento popular que participou intensamente no processo que se encerrou neste domingo.

É repetitivo, mas importante enfatizar que, desde 1989, esta foi a mais difícil e disputada eleições dos últimos tempos, tendo em vista que a oposição jogou com todas as armas e instrumentos para nos derrotar. Ela contou especialmente com papel preponderante dos meios de comunicação, não só agora, mas desde as manifestações de junho de 2013, passando pela Copa do Mundo.

Desde aquelas manifestações, já era sabido que de alguma forma aquele movimento teria incidência no processo eleitoral de 2014, visto que ele começou por demandas sociais justas e questionamentos sobre as formas tradicionais de representação política, protestando contra todas as esferas de governo. Mas, ao final, foi manipulado pela mídia oposicionista e acabou se transformando num movimento contra a esquerda, os movimentos sociais e o governo Dilma.

Naquele momento, a presidenta Dilma, dentre outras iniciativas, apresentou a proposta de convocação de uma Constituinte Exclusiva para fazer a Reforma do Sistema Político.

Imediatamente a proposta foi rejeitada pela maioria do Congresso Nacional, inclusive por parte de parlamentares do PT, sabedores de que o Congresso Nacional não tem a mínima disposição de alterar as regras pelas quais foram escolhidos, em especial o financiamento privado das eleições.

Em setembro de 2013, os movimentos sociais e entidades populares, dentre as quais, à CMP — Central de Movimentos Populares, decidiram organizar um Plebiscito Popular para pressionar a convocação do Plebiscito Oficial para fazermos a Reforma Política. Foram 7,5 milhões de votos a favor da proposta, documentados e sistematizados e entregue à presidenta Dilma Rousseff, em reunião com os movimentos, no dia 14 de outubro deste ano.

Na ocasião, a presidenta não só se comprometeu com a realização do Plebiscito, como logo em seguida levou ao programa eleitoral de TV e Rádio as imagens e informações da reunião. Com isso, a oposição reunida na candidatura de Aécio Neves e a direita representada pelos grandes meios de comunicação, que já estavam usando de meios espúrios, decidiram que teriam que ganhar as eleições a qualquer custo.

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Imaginaram que a disputa se daria apenas no campo da propaganda eleitoral oficial, e que levariam vantagem por terem ao seu favor os seus meios de comunicação para propagar entre os eleitores o sentimento de um país quebrado economicamente, inflação descontrolada e que o governo era um mar de corrupção.

Ocorre que, mesmo relegada a segundo plano nos governos Lula/Dilma e em menor escala pelo próprio PT, a militância dos movimentos populares, que já estava empenhada na eleição no primeiro turno, no segundo tomara pra si a tarefa de desempatar o jogo a favor de Dilma nas ruas e praças.

Infelizmente, a estratégia meramente eleitoral — sem disputa de hegemonia política e prioridade de alianças com setores conservadores — quase custou um retrocesso político em nosso país.

O que nos deixa animado, depois dessa batalha é que  torna-se imperativo que a esquerda brasileira não fique apenas encastelada nos palácios e nas estruturas administrativas e burocráticas do Estado.

Obtivemos, no último dia 26 de outubro, não só uma vitória eleitoral, mas sobretudo uma vitória política, com um protagonismo sem precedência dos movimentos sociais, da imprensa livre e alternativa, das redes sociais, da juventude, das mulheres e do povo brasileiro, não obstante o bombardeio midiático contra nós.

Enganam-se aqueles que imaginam que agora a oposição vai se acomodar e atender o chamado para o diálogo. Não haverá lua de mel. A luta será sem trégua.

O fato de milhares de militantes de movimentos populares, a juventude, os setores progressistas, democráticos e de esquerda saírem às ruas para assegurar a vitória de Dilma é uma demonstração cabal de que não é correto renegá-los em detrimento de alianças com partidos e setores conservadores, em nome da governabilidade e de tempo para propaganda eleitoral de TV e Rádio, por mais importante que sejam os sistemas de comunicação num país de dimensões continentais como é o Brasil.

Não podemos  sair das ruas e praças. Pelo contrário, devemos intensificar a organização e a luta popular em defesa das reformas estruturais necessárias que precisamos fazê-las, para o país avançar nas conquistas políticas democráticas e sociais.

Será grande ingenuidade imaginar que as reformas, em especial a política, terão êxito a partir de consenso em um Congresso Nacional, mais conservador do que o eleito em 2010.

O segundo governo Dilma, e em especial o PT, precisa traçar com os movimentos sociais uma pauta política de embate com a direita. Destaco a Constituinte Exclusiva para Reforma Política, o fim do monopólio dos meios de comunicação, a redução da jornada de trabalho para 40 horas, o fim do fator previdenciário, prioridade para as reformas agrária e urbana (que não é só construir moradias, mas avançar na função social da propriedade urbana).

Se o governo Dilma e o PT levarem em frente essa política de conciliação entre capital e trabalho, a prioridade na governabilidade parlamentar e não restabelecer uma aliança estratégica com os movimentos sociais, de nada valeu a pena a resistência e o bom combate com a direita que fizemos nos últimos meses.

Nossa luta não terminou no último dia 26 de outubro, precisamos intensificá-la e esta batalha só será vitoriosa com muita pressão e mobilizações de massa.

Urge que a esquerda e os movimentos populares disputem nas ruas e praças os grandes temas de interesse do povo.

Para tanto, é necessária uma ampla unidade com a conformação de uma frente com os partidos de esquerda e os movimentos sociais para disputar com a direita (incluindo a da situação) os rumos do segundo governo Dilma. Para esta jornada precisamos preparar desde já um grande movimento de massa entorno do Plebiscito Oficial para a Constituinte Exclusiva da Reforma Política.

Se ganharmos essa primeira luta, abriremos caminhos para um governo mais à esquerda que garanta a continuidade dos avanços e mudanças necessárias pleiteadas pelos movimentos sociais e por 55 milhões de eleitores.

Raimundo Bonfim é advogado, coordenador geral da Central de Movimentos Populares do Estado de São Paulo (CMP-SP) e integrante da coordenação da campanha do Plebiscito Popular para Constituinte Exclusiva.

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