O “tecnocrata taciturno”, o acordo do “insider” e o Ibope

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Telegramas de diplomatas americanos referentes à eleição 2010

225709 9/17/2009 20:11 09SAOPAULO551 Consulate Sao Paulo UNCLASSIFIED//FOR OFFICIAL USE ONLY

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LEADING PSDB PRESIDENTIAL CONTENDERS STEER AWAY FROM PRIMARY SPLIT

1. (SBU) Resumo: Na semana passada, o candidato potencial do Partido Socialista Democrático do Brasil (PSDB) [sic] e atual governador de Minas Gerais Aécio Neves — embora ainda candidato à nomeação pelo PSDB — voltou atrás em sua insistência anterior de que o partido precisa promover primárias, uma demanda chave que era a base para o desafio de Neves à nomeação do líder, governador de São Paulo José Serra. O reposicionamento de Neves é provavelmente guiado em parte por recentes pesquisas que mostram Serra com uma vantagem importante sobre a provável nomeada do PT Dilma Rousseff. Sua [de Neves] repentina flexibilidade é boa notícia para Serra e para o PSDB. O partido agora pode evitar um nocaute debilitante, uma luta contínua pela nomeação e se concentrar em aperfeiçoar sua mensagem emergente, que parece ser um apelo pela maior descentralização na administração do país. Fim do resumo.

No Primary Needed

2. (SBU) Durante o último ano, o governador de Minas Gerais Neves tem insistido que o PSDB precisava fazer uma primária para escolher seu candidato presidencial. Tal mecanismo representava a melhor e talvez única esperança [de Neves] para desafiar a nomeação do líder José Serra e, assim, emergir como o principal candidato de oposição à candidata Dilma Rousseff do governista Partido dos Trabalhadores (PT). Serra é amplamente visto como um tecnocrata taciturno que tem apoio da liderança do PSDB, enquanto Neves, o jovem e carismático governador de um dos estados economica e historicamente mais importantes, tem demonstrando grande habilidade para empolgar a base do partido e apelar àqueles de fora do PSDB.

A disputa entre os dois peso-pesados preocupa alguns no partido, que temem uma luta intra-partidária debilitante que os faz lembrar de 2002, quando o então candidato José Serra fracassou na tentativa de juntar todos os elementos do PSDB e subsequentemente perdeu a eleição para o presidente Lula. Mais que isso, o PSDB nunca fez uma primária, e regras para tal evento nacional teriam de ser definidas do zero. Finalmente, até recentemente, alguns especularam que Neves poderia abandonar o PSDB e buscar uma nomeação do PMDB, dividindo o voto anti-PT e prejudicando significantemente as chances do PSDB nas disputas presidenciais de 2010.

Insiders Talk of a Deal

3. (SBU) Em contraste com tensões superficiais, em semanas recentes insiders políticos tem falando de uma crescente possibilidade de um acordo entre Serra e Neves, no qual Serra receberia a candidatura presidencial e Neves o lugar de vice-presidente. O jornalista William Waack afirmou em um almoço com o CG em 4 de setembro que Serra e Neves já tinham fechado um acordo, concordando em disputar juntos, com Serra na cabeça da chapa. Um segundo participante do evento, o diretor do Instituto Fernando Henrique Cardoso (FHC) Sergio Fausto expressou surpresa em relação à afirmação de Waack, mas acrescentou que FHC não permitiria que a rivalidade Serra-Neves dividisse o partido. A combinação Serra-Neves unificaria o PSDB e poderia se provar formidável. Ambos governadores são altamente populares em seus respectivos estados (pesquisas recentes dão a Serra aprovação de 77% em São Paulo e Neves tem mais de 90% de aprovação em MG) e eles tem estilos políticos contrastantes, mas potencialmente complementares.

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Neves Shifts Rhetoric

4. (U) Em uma entrevista em Belo Horizonte em 9 de setembro, Neves afirmou que embora continue a preferir primárias no PSDB, outros “instrumentos” para a escolha do candidato existem, inclusive pesquisas e outros mecanismos para consultar a base do partido. Desde sua entrevista, Neves faz várias declarações enfatizando as boas relações com Serra. Numa aparição conjunta em São Paulo no 14 de setembro com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Serra e Neves falaram da unidade partidária e da disposição de dar apoio um ao outro, qualquer que seja o candidato que obtiver a nomeação do PSDB. Neves reiterou sua preferência pela primária, mas não fez dela uma demanda absoluta. Ambos enfatizaram a importância de seus respectivos estados em manter autonomia em relação ao governo central, que eles disseram ser muito centralizador e arrecadador de impostos demasiados.

Neves Looking to the Future?

5. (SBU) Enquanto na imprensa fermenta um possível “pacto” entre Serra e Neves, analistas locais apontam para um acerto menos óbvio, ainda assim significativo. O consultor Thiago d’Aragão disse ao Poloff* que Neves  “não tem escolha”, mas se acomodar com Serra e o PSDB. O PMDB foi afetado por recentes escândalos e não pode dar uma plataforma adequada às ambições futuras de Neves. O governador de Minas tem excelentes chances de se tornar presidente do Brasil algum dia, mas precisa escolher a hora. O cientista político Rogerio Schmitt, do Centro para Liderança Pública, concordou, afirmando que ele e outros analistas de SP consideram a nova postura de Neves como abertura de caminho para uma saída elegante de sua campanha pela nomeação do partido, se o seu desafio não prosperar.

Comment: Not a Pact, But A Most Productive Understanding

6. (SBU) Embora talvez seja demais chamar o novo relacionamento entre Serra e Neves de um pacto, parece que Neves recuou de seu confronto potencialmente demolidor do partido com o governador de São Paulo. O reposicionamento de Neves veio depois de uma pesquisa IBOPE do fim de agosto que deu a Serra uma vantagem importante sobre a principal candidata do PT Dilma Rousseff em um segundo turno potencial (57-23). Isso, mais os desafios logísticos de organizar pela primeira vez uma primária no PSDB, provavelmente convenceram o governador de Minas Gerais a moderar sua posição. Com as coisas como estão, Neves pode continuar a disputar a nomeação de seu partido, mas fazer isso dentro de limites que não impeçam uma reconciliação ao fim do processo. WHITE

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