Milly Lacombe: Zé Celso e seu derradeiro espetáculo, um levante de fato; vídeos

Tempo de leitura: 2 min
Foto tirada na noite de 6 de julho de 2023. Uma multidão do lado de fora do Teatro Oficina aguardava a chegada do corpo do ator e dramaturgo José Celso Martinez para a última despedida. Lá dentro, muito choro já de saudade, mas também abraços, festa, música, dança, palmas, que certamente ele aprovaria. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Milly Lacombe: “As imagens do velório dançante e alegre, compartilhadas freneticamente, contam uma história. A história do artista que re-existiu, como ele gostava de dizer, por 86 anos nesse planeta”. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Zé Celso e seu derradeiro espetáculo: um levante

Por Milly Lacombe, no UOL

As imagens do velório de Zé Celso, realizado no teatro que ele fundou, compõem em si um derradeiro espetáculo escrito, dirigido e representado por ele.

“É um levante”, me disse emocionado o amigo Antonio Amâncio, artista, poeta, dramaturgo.

É um levante de fato.

E também um teatro dos sonhos sobre como se despedir de uma vida dedicada à arte, ao próximo, à irreverência e à identidade cultural de uma nação.

Alguém que morreu precocemente aos 86 anos e que, antes de baixar as cortinas pela última vez, nos convida a uma catarse coletiva de danças, cirandas, afeto e amor.

É de se imaginar que Zé Celso aplaudiria esse espetáculo derradeiro.

E também podemos supor que ele gostaria que cada um de nós carregasse um pouco desse legado, desse sentimento em nossas vidas.

As imagens do velório dançante e alegre, compartilhadas freneticamente, contam uma história. A história do artista que re-existiu, como ele gostava de dizer, por 86 anos nesse planeta.

A história do poeta que nos ensinou a amar, a cantar e a dançar mesmo em tempos brutos. A história da irreverência, da criatividade, dos pontos de vista que nos fazem enxergar a partir de outros ângulos.

A história daquele que não tinha medo de se deixar afetar e, inundado por afetos, transformava vidas.

Está tudo ali no espetáculo final que nos chama para ocupar o espaço do comum, um espaço que o neoliberalismo todos os dias encolhe e apequena em nome de alargar o ambiente do privado.

Zé Celso não habitava esse lugar encolhido, frio e sombrio. Já estava em outra dimensão antes mesmo de morrer.

Nas palavras da antropóloga Paola Lins de Oliveira: “Essa festança-funeral deu uma descida no céu pra gente sentir a energia das estrelas”.

O adeus ao Zé Celso foi também um momento de celebrar a vida, e não poderia ser diferente.

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Comentários

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Edilson Dias Fernandes

Tal vida, tal transmutação: no mais amplo sentido o mais pirofobo ateador de nuestro contemporáneo Teatro nacional brasileiro. Zé sempre gostou de brincar com o fogo. Dirá ao deus Baco: RÁ! Evoé.

*Indigno sinistro*

Pós nupcial, entre ambas parcerias, nonagenar, por procuração, dionisíaco, Zé prorrogaria por mais alguns dias. O Teatro Oficina, dissolvido litígio despertar o SBT,
insone, ao Silvo Santos seja doravante, imputado
macabro, desfeito
anti _Sonho numa noite de verão_

Chovia bastante, não havia corpo bombeiros
nem abastecido hidratante.

Medeia paga barato. Vem te buscar, Thanatus,
em mala direta, até o Hades.

– Quem abrirá antes,
tal Caixa de Pandora?

– Vem Medusa, te lambuzar,
no fundo do baú, inverossímil.

Infra fatalidade tem script:
canalha, canalha, canalha.

Ó diretor-encenador, iça
as tuas velas. Ao mar-de-lama,

El admirável Rei da vela,
ogro em mãos moribundas.

Abelardo I Abelardo II e Tutti-Frutt extratos de espermacete in icônica trilogia do dramaturgo Oswald de Andrade: O homem e o cavalo, A Morta e O Rei da Vela.

– RÁ! Te escuto,
Zé Celso
de nós outros atores/Brincantes.

– Adão era vegano; só comia ervas. Evoé.

Nosso Xamã
Tramutou-se

Tomado
por holocausto,
pós Balsa n’agua, empastelados.

Vai, que o Olimpo é teu,
querido diretor-dramaturgo
JOSÉ MARTINES CORREIA.

Saúde por mim o deus Baco.
– Evoé!

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