Manifesto de sete pesquisadores contra Nicolelis

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Manifesto Eu apoio a ciência Brasileira, no site da da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento

A iniciativa de criação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) visa impulsionar a ciência nacional a partir da articulação de redes formadas pelos principais grupos de pesquisa do País. Ligada a esse programa foi aprovada em 2009 a proposta do INCT “Interfaces Cérebro-Máquina” (InCeMaq), que tinha como coordenador o Prof. Miguel Ângelo Laporta Nicolelis, e nós abaixo assinados como pesquisadores principais e membros do Comitê Gestor. O Comitê Gestor do InCeMaq se reuniu apenas duas vezes. A pauta do primeiro encontro, realizado nos dias 1 e 2 de julho de 2010, se restringiu à apresentação de projetos em andamento pelos laboratórios vinculados ao InCeMaq. Todos os que assinam este manifesto estavam presentes àquela reunião. Durante as apresentações individuais, representando o Núcleo de Neurociências da UFMG, o Prof. Dr. Márcio Flávio Dutra Moraes apresentou resultados preliminares de um novo experimento realizado pelo seu grupo, incluindo imagens de um rato implantado com um receptor de infra-vermelho (I-V) acoplado a um estimulador cerebral. O sensor captava ondas de I-V emitidos por LEDs, de forma que a intensidade do sinal detectado era proporcional ao alinhamento da cabeça do animal com o emissor. Esses sinais eram enviados a um computador para controlar um estimulador elétrico, que por sua vez estava conectado a um eletrodo bipolar implantado no cérebro do animal. A proposta, em andamento, é o tema central de uma tese de doutorado e foi submetida a congressos locais, exames de qualificação, e defesa de trabalhos finais de graduação (ver imagens e documentos anexados aqui). Em 26 de julho de 2012, os integrantes do Comitê Gestor do InCeMaq foram comunicados por correio eletrônico pelo próprio coordenador que estavam sendo desligados deste INCT.

Passados quase três anos desde a primeira reunião do Comitê Gestor, nos deparamos há poucos dias com o artigo publicado na revista científica Nature Communications e assinado pelo Prof. Nicolelis. No artigo é apresentado um implante craniano com um detector de infravermelho (I-V) acoplado a um sistema de estimulação elétrica intra-cerebral.

Este documento não tem a intenção de discutir autoria de ideias, um assunto delicado dentro da temática de produção científica, mas pode ser resumido às seguintes perguntas: existiu

neste episódio, por parte da coordenação do InCeMaq, a real intenção de promover a ciência nacional? Se o trabalho já estava sendo feito na Duke University durante a apresentação no InCeMaq, por que manter segredo durante a reunião? Se, por outro lado, o trabalho ainda não havia sido iniciado, mas Miguel Nicolelis considerou a ideia interessante, por que não firmou colaboração com o grupo da UFMG?

Havia a crença, endossada pelo Governo Federal, de que Miguel Nicolelis seria um parceiro de boas ideias oriundas da ciência nacional, pronto para alavancar, via INCT, uma produção de alta qualidade e vanguarda científica produzida no Brasil. Paradoxalmente, o artigo citado acima inclui afiliação do primeiro autor, Eric E. Thomson, ao Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lilly Safra (IINN-ELS), sendo ele pós-doutorando sediado na Duke University sem atuação no Brasil. Utilizar a produção de um laboratório no exterior como justificativa para prestação de contas de um financiamento nacional tem grande potencial de comprometer o trabalho sério e sólido das agências de fomento brasileiras nas últimas décadas. A produção deve ser resultante do investimento em infraestrutura para geração de conhecimento, formação de recursos humanos e nucleação de grupos de pesquisa EM TERRITÓRIO NACIONAL. Ao privar a Ciência Brasileira de uma parceria justa e prometida, o InCeMaq, na figura do seu coordenador Prof. Miguel Nicolelis, não agiu pelo interesse coletivo, como seria de se esperar de um coordenador de Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, mas exclusivamente em proveito próprio.

Em ordem alfabética, assinam este documento de 22/02/2013 os professores Antônio Carlos Roque da Silva Filho (USP-RP), Cláudia Domingues Vargas (UFRJ), Dráulio Barros de Araújo (UFRN), Márcio Flávio Dutra Moraes (UFMG), Mauro Copelli Lopes da Silva (UFPE), Reynaldo Daniel Pinto (USP-SC) e Sidarta Ribeiro (UFRN).

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Comentários

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[…] No manifesto, eles insinuam que a ideia da pesquisa de Nicolelis, Eric Thomson e Rafael Carra, publicada na edição de 12 de fevereiro da revista Nature Communications, teria sido desenvolvida originalmente por um dos signatários, Márcio Flávio Dutra Moraes. Diz o manifesto (aqui, na íntegra): […]

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