Gerson Carneiro: Minha máscara caiu em pleno carnaval. Sou machista
Tempo de leitura: 3 min
Sou machista
por Gerson Carneiro, na sua página no Facebook
Tribunal do Face.
Personagem da vez: Gerson Carneiro.
Ofereço minha cabeça. Sou machista.
Carnaval. Período em que usam-se fantasias e máscaras.
Entediado e insone em casa, na madrugada da segunda-feira de carnaval vou às redes sociais buscar conversa e encontro todos acompanhando pela TV o desfile (para mim, chato) das escolas de samba. Na tentativa de atrair interlocutores, na desleal competição com as maravilhas do desfile, inicio uma série de provocações. E chega a mim uma foto de uma grávida sambando, acompanhada de uma manifestação de contrariedade de uma mulher.
Sem querer parar para refletir, mas ciente do consequente debate e eventuais acusações, decidi postar a foto com a mesma provocação feita pela mulher no facebook. E certo de que concordava com a manifestação de contrariedade postada por ela: “Se pode sambar no carnaval, por que não pode enfrentar uma fila?”.
E o debate foi acontecendo. E eu resistindo. Primeiro porque sem disposição para se ater à questão, as pessoas chegavam atirando pedra. Julgando o provocador e não a questão cerne proposta. Como observou uma das debatedoras: – Só me assusta ver que ainda não sabemos debater sem partir para o menosprezo ao outro.
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Aos poucos e lentamente foram surgindo argumentos consistentes que me convenceram.
Caiu a minha máscara e minha fantasia em pleno carnaval. Fiquei nu.
Eu sou machista.
Eu sou “macho”. Nasci e cresci em meio a machos pregando machismos a todo instante em volta de mim. Em uma sociedade extremamente machista. Então eu absorvi isso por osmose. Não tem jeito. Em algum momento, ainda que eu lute para combater isso, em algum momento o machismo impregnado em mim irá se manifestar. E se eu não expor isso, estarei recrudescendo ainda mais.
Não é possível guardar machismo. Ele se manifesta independente da vontade (em muito casos com vontade). E outra coisa é que não é possível aprender e corrigir preconceitos se não tiver coragem de admiti-los e discuti-los. Se refugiar no travesseiro apenas não irá desconstruí-los. A reflexão tem sim que acontecer em debate sincero e honesto.
Não faço tipo. Uma das facetas canalhas do machismo é bancar o defensor das mulheres para em seguida tentar xavecá-las. Isso ocorre muito.
Fui aconselhado a apagar a postagem. Não concordei. Tenho dificuldade em aceitar a atitude de quem comete algum deslize na internet sai apagando e colocando cadeado em tudo. Espero jamais ter a coragem de apagar alguma coisa que eu escrever. Não sou perfeito, e quero que minhas imperfeições sejam também conhecidas. Também porque há argumentos bastante consistentes distribuídos nos comentários da postagem que seria um prejuízo apagá-los.
Diante de tamanha riqueza do debate, pensei na possibilidade de alguém com o pensamento errado como eu estava inicialmente vir e aprender também. Por que apagar?
E para além, o pecado que cometi foi questionar, querer debater. Tanto que comecei minha postagem com um “Para pensar”. Jamais, ninguém deve ficar inibido de questionar. De querer debater.
Ficaria desprovido dos argumentos valiosos e seguiria com meu pensamento errado caso não tivesse questionado, me manifestado.
Como poderemos aprender se formos inibidos a não expressar nossos questionamentos e colocá-los em debate?
Sinto-me gratificado pelo debate. Aprendi bastante. E agradeço a todos que participaram.
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