Fátima Oliveira: Alunos de séries diferentes na mesma classe?

Tempo de leitura: 3 min

Escolas unidocentes e turmas multisseriadas em escolas urbanas

Elas são uma das maiores inovações no ensino no mundo

por Fátima Oliveira, no Jornal OTEMPO

Médica – [email protected] @oliveirafatima_

Ao ler a reportagem de Raphael Ramos “Estado coloca alunos de séries diferentes na mesma turma” (O TEMPO, 3.4.2012), peguei a minha beca de normalista (sim, formada em 1971!) para descobrir o que tem a ver o professor Anastasia, governador de Minas Gerais, com a socióloga Vicky Colbert, ex-vice-ministra da Educação da Colômbia, especialista em educação rural, criadora da Fundação Escuela Nueva (1987) e inspiradora do Programa Escola Ativa (1997), da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (Secad/MEC).

Reavivei na memória que, até sair de casa para estudar em Colinas (MA), só conhecia escolas unidocentes! Talvez por ser a escola unidocente a realidade tão natural do meio em que vivi, até pensar em escrever sobre o tema ela não era uma memória viva e consciente. Jamais estabeleci diferenças entre as escolas que frequentei, pois culturalmente uma escola é um farol do saber e qualquer uma é sempre melhor do que nenhuma!

Aprendi a ler com o professor Izídio, na escolinha dele. Era começo da década de 1960 quando fui para a Escola Rural Humberto de Campos, única escola pública de Graça Aranha (MA), onde lecionavam duas professoras: uma “professora rural” (havia um curso que habilitava para tanto, equivalente ao antigo ginásio); e uma professora leiga (tinha um “estudinho”, mas bastava ter o curso primário!).

Resumindo a ópera: a dona Maria do Carmo, professora rural “formada”, ficava com a turma dos 2º, 3º e 4º anos; e a galega dona Zilma, com quem não sabia ler nem escrever – os da carta de ABC, da cartilha e os desarnados do 1º ano!

Por três anos e meio, eu fui aluna de dona Maria do Carmo! Em Colinas, segundo semestre do 4º ano, foi uma diferença brutal estudar numa sala só com alunos da mesma série – e em dose dupla, porque pela manhã eu estudava no Grupo Escolar João Pessoa e à tarde frequentava o exame de admissão ao ginásio! Pulo. Passei em ambos… Aos 24 anos, estava formada em medicina…

Para mim é dificílimo entender essa “zueira” toda contra “turmas unidocentes” ou “turmas unificadas” ou “turmas multisseriadas” (para as turmas de 1º ao 9º ano do ensino fundamental), uma nova proposta do governo mineiro e, sobretudo, a rasteirice dos argumentos contrários, que enfocam apenas que o governo quer reduzir custos. Pode ser, mas será só isso? Por que não nos debruçarmos holisticamente na análise?

Sei que “turma unidocente/unificada/multisseriada” é uma coisa e “escola unidocente” é outra! Em não sendo especialista em educação, a minha visão tem muitos limites e tem a ver unicamente com a minha história de vida, que não pode ser a régua de nada, apenas o resultado do sucesso de uma escolinha unidocente furreca, mas que moralmente me credencia a, de cara, não condenar a decisão do governo de Minas.

Até onde conheço, a escola unidocente é um conceito e uma prática tradicionalmente aplicável a meios rurais. Todavia, não vejo como o fim do mundo que possa ser extensiva a meios urbanos (“turma unificada”) em determinadas circunstâncias, sem que tal postura seja em prejuízo dos alunos e rasteira no professorado, além do que a rigor o MEC não proíbe.

Os inúmeros prêmios que Vicky Colbert tem recebido e a aplicabilidade promissora de sua proposta a escolas urbanas da Colômbia, além do que as “escolas de dona Vicky” são tidas como uma das três maiores inovações no ensino no mundo, sugerem, no mínimo, cautela na análise de turmas multisseriadas.

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Comentários

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Governo de Minas tenta impedir eleições do Sind-UTE/MG « Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Fátima Oliveira: Alunos de séries diferentes na mesma classe? Governo Anastasia “inova”: Coloca alunos de séries diferentes na mesma classe […]

Mari

Comentário que escrevi em O TEMPO em resposta ao comentário do Sr. João Gonçalo dos Santos, Diadema – SP, feito em 20/05/2012 – 11h28
http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=18647

Professor pedir pras santas, como o senhor sabe, de nada adianta, é pra não sair do lugar mesmo. Tem de dialogar é com o governador Anastasia.
Se vocês que são professores em Minas Gerais não se mobilizarem como professores, com suas historias e seus exemplos do que funciona e do que não funciona, não adianta. Porque deixar só o sindicato falando de forma sectária? A proposta do governador já está em ação e garanto que nenhum professor vai pedir conta. Achei razoável o artigo da doutora. Ela falou o que pensa e como vê as coisas e ainda disse que a vida dela não é régua para nada, apenas sugeriu “no mínimo, cautela na análise de turmas multisseriadas”.
Aposto que se fosse um governo do PT que fizesse a proposta estaria todo mundo caladinho ou defendendo. E olhe que sou PT.
Por que não fazem um blog contando as experiências exitosas e as desastradas das turmas multisseriadas? Em plena era da internet ficam todos esperando o sindicato falar?
As turmas multisseriadas são aplicáveis a meios urbanos? Se sim ou se não, por que?

    Ana Paula

    Não vejo por que fazer um blog se já existe extensa bibliografia a respeito, não precisa ir muito longe, basta ler Saviani e Freitas, por exemplo.
    Com relação a sua resposta ao meu comentário, procuro manter uma postura civilizada, sem deixar de ser dura em meus argumentos. Sou formada em matemática e já fui professora de nível médio, por um breve período. Hoje sou pesquisadora e professora nos níveis de graduação e pós-graduação, o que sei de educação é em grande parte por intermédio de colegas da área da pedagogia e também de meu ex-marido (hoje muito meu amigo), que é pedagogo. Como pode notar, relendo meus comentários, não entrei em ataques pessoais contra nenhum dos comentaristas. Sempre argumento contra argumentos e contra discursos, deixando margem para resposta.

Nancy de Padua

Minha pergunta é simples: os contra vão pedir demissão? Se são coerentes, eu espero que sim

    Ana Paula

    “Brasil: ame-o ou deixe-o”?

    “Escola: ame-a ou demita-se?”

    Duas variedades do mesmo discurso fascista?

    Mari

    Ana Paula, como você não é uma ingênua, seu comentário é pura má-fé. Se é professora, espero que nenhum filho meu algum dia seja seu aluno. Por que não é poissível ter uma postura civilizada num debate?

João Paulo

Doutora Fátima, fiz-lhe uma pergunta sobre quantos de seus colegas conseguiram vencer na vida como a senhora conseguiu. A senhora não me respondeu. Para fazer o debate, precisaria de ler sua resposta. Só assim podemos ver se o modelo triunfou ou não.

A senhora também deve levar em conta, as condições do Brasil no tempo que a senhora estudou, e as condições de hoje. O Brasil no seu tempo era ainda grandemente rural. Hoje, quase toda a população é urbana. Os alunos de antes eram mais obedientes, e não havia tantas coisas para distraí-los das aulas como hoje, em que todo o aluno possui celular. Os professores tinham mais autonomia. Hoje não é mais assim. Uma palavra mais áspera pode levar o professor a responder em juízo.

É preciso que se faça uma avaliação do modelo para saber se ele foi vitorioso.

O que eu quis ressaltar foi que o modelo proposto pelo governo de Minas é inexequível. Como misturar alunos de idades e mentalidades diferentes numa mesma sala?

Fátima Oliveira

Car@s, professores/as não são detentores/as do monópolio da verdade e nem da ética.
Opinar sobre questões da educação é dever de cidadania de qualquer pessoa. Logo é abominável alguns argumentos que visam a desqualificar opiniões ditas leigas, tanto quanto dizer que a escola rural dos anos 2012 é MUITO diferente da escola rural dos anos 1960, ou que hoje a escola rural é outra em se tratando do seu caráter unidocente que em nada, ou quase nada, mudou no último meio século.
Como livre-pensadora não estou acorrentada a nenhuma escola de pensamento, logo escrevo o que quero e opino sobre qualquer tema desde que o considero do meu interesse e do escopo do meu dever político e ético.
Li e reli várias vezes todos os comentários onde o artigo foi postado. Infelizmente NENHUM aceitou debater com seriedade e em profundidade o tema que abordei. Lamento muito. Continuo achando que não é o fim do mundo a proposta do governo de Minas, embora eu seja defensora e lutadora “Por uma Educação Pública de Qualidade”, enquanto a luta continua, dos males o menor: qualquer escola é melhor do que nenhuma!
Sobre os comentários do tipo esculhambação, a maioria de gente que se diz professor, são sofríveis e só evidenciam que há muitas mãos e bocas sujas conduzindo a educação de crianças e jovens brasileiros. Felizmente tenho a opinião que essa gente é minoria. Felizmente!
Também não fujo da raia das polêmicas. Não é do meu feitio e não temo “pitbuls” da direita e nem da esquerda, afinal, como disse a filósofa Sueli Carneiro: ENTRE A DIREITA E A ESQUERDA EU CONTINUO PRETA!

    Ana Paula

    “Li e reli várias vezes todos os comentários onde o artigo foi postado. Infelizmente NENHUM aceitou debater com seriedade e em profundidade o tema que abordei. Lamento muito.”

    Eu tratei com seriedade o tema que você abordou, Fátima. Nada do que escrevi ali é mentira, existe extensa bibliografia que relata as tentativas históricas de aplicação da Escola Nova no Brasil, das salas multiseriadas e todas foram fracassos retumbantes. É praticamente um consenso entres os pesquisadores da área da educação.
    Trouxe para a questão as semelhanças da Escuela Nueva com a Escola Nova de John Dewey e também alguns traços do Tecnicismo (outra teoria pedagógica que tem ganhado muito terreno nos últimos anos), como a obsessão pela eficiência de gestão e a tendência a parcerias público-privadas.
    Faltou acrescentar algo nos meus comentários anteriores: como se instaura do dia para a noite uma mudança de método e se toma o método como salvacionista (característica da Escola Nova e do Tecnicismo) sem que se mude a forma como os educadores são treinados? Os profissionais de educação do Brasil não são treinados para ensinar salas multiseriadas, não recebem o suficiente para isso e não têm os alunos em condições adequadas para se situar numa sala organizada em idades discrepantes. No dia a dia, na prática, os professores têm que lidar com crianças que estão com fome porque não tomaram café da manhã, quando não têm desnutrição crônica, mal atendimento dentário, apanham dos pais, têm irmãos já envolvidos nas drogas… é dramático para o professor, não se muda a escola através do fetiche pelo método, mas num esforço conjunto COM os professores, valorizando a profissão, ouvindo as propostas deles para melhorar.

    Ana Paula

    Com relação a escola rural de hoje não ser a mesma dos anos 60, isso é um truísmo… na verdade me sinto ingênua de ter que repetir isso, de tão senso comum que é.
    A pirâmide demográfica foi invertida em 30 anos no Brasil, processo que foi aprofundado durante a Ditadura Militar: em 30 anos o Brasil mudou de um país que era 35% urbano para um país 70% urbano (já no fim dos anos 80). Hoje mais de 90% da população reside nas cidades.
    Como pensar que a escola rural é a mesma coisa se mudaram as condições objetivas de existência? Mudou o mundo do trabalho no campo também. Aprofundou-se a exploração, o maquinário, a proletarização do campesino, a vivência rural. Não é de agora, por exemplo, que boa parte da população que trabalha no campo mora nas periferias da cidade e faz o movimento pendular para o campo todos os dias, com sua marmita de 2 kgs e a térmica cheia de café… volta pra casa de noite, com 15 ou 20 reais no bolso e no dia seguinte é a mesma coisa… os filhos dessa população rural estudam na cidade, e os filhos dos trabalhadores rurais que moram no campo muitas vezes também estudam nas escolas da periferia. A escola rural mudou muito sim: ela não é mais privilégio da zona rural, ela está na cidade também.

    João Paulo

    Parabéns Professora Ana Paula pelo felicíssimo comentário. A senhora aduziu considerações que eu desconhecia, como o fracasso da chamada Escuela Nueva. Já supunha isso quando perguntei a Doutora Fátima quantos dos condiscípulos dela haviam vencido na vida como ela venceu.

    Ana Paula

    “Opinar sobre questões da educação é dever de cidadania de qualquer pessoa. Logo é abominável alguns argumentos que visam a desqualificar opiniões ditas leigas.”

    Também sou contra a abominação prévia de opiniões ditas leigas, contudo as opiniões a respeito de quaisquer áreas precisam se fundar no mínimo numa estrutura argumentativa consistente, ou seja: a conclusão precisa derivar imediatamente das premissas apresentadas.
    Mas esta é uma questão longa e cujo debate seria infrutífero. O que realmente me incomodou neste trecho foi o sentido subjacente dele: o de que a educação não têm suas especificidades técnicas como outras áreas, por exemplo, a engenharia civil, a medicina ou o direito. Agora experimenta você, pedagogo ou licenciado, opinar a respeito de algum tema médico, experimenta você sugerir uma viga de material diferente para a sustentação dos prédios urbanos ou experimente você fazer uso do burocratismo advoguês…

    A área da educação, tomada enquanto disciplina, é complexa, tem extensa bibliografia, séculos de conhecimento acumulado e tantas características técnicas específicas como qualquer outra e tem também o seu profissional especialista e estudiosos especialistas, os quais devem ser tomados em consideração. O discurso de que para se opinar sobre educação “qualquer coisa vale” desvaloriza ainda mais a figura do professor, e legitima o arrocho salarial sofrido pela categoria. Ser professor é considerado praticamente sub-profissão (hobby?), e se se levar em conta que a profissão de pedagogo é uma profissão eminentemente feminina, isso toma um tom ainda pior: o tom do machismo.
    Lutar pela valorização salarial e social da profissão de professor é lutar pela emancipação da mulher trabalhadora também. Qualquer um que tenha entrado num instituto de pedagogia, por exemplo, no estado de SP (que é onde conheço melhor) sabe que formamos mais pedagogas que pedagogos.
    Ou seja, legitimar o discurso de que a voz do professor não “vale mais do que a de um leigo” sobre a educação é ser reacionário em duas vertentes diferentes: na questão trabalhista e na questão feminista.
    Legitima ainda a má formação dos professores, como se qualquer formaçãozinha fosse o suficiente pra se instruir a criançada, legitima a proliferação de cursos de pedagogia a distância e de fábricas de diploma… é um discurso muito pernicioso e sutil, e precisa ser combatido pela categoria, organizada, destemida e num movimento que ultrapasse a barreira administrativa dos estados.
    Tenho o entendimento de que a história de militância de uma pessoa deva ser respeitada, e respeito a trajetória da Fátima, mas o que está em questão aqui não é o histórico e sim o posicionamento demonstrado no artigo, que está gerando reação, e sempre gerará reação entre os profissionais envolvidos com a educação.

Ana Paula

Aparentemente a Escuela Nueva de Vicky Colbert é parecida com a Escola Nova de John Dewey. Então nem precisa implementar pra saber que será um fracasso: todas as experiências de implantação da Escola Nova num contexto de estudantes oriundos de diferentes realidades sócio-econômicas (contudo, todos pobres, em maior ou menor medida) foi um fracasso. Foi pior que a escola tradicional, e acentuou a diferenciação de desempenho dos alunos de acordo com o nível de renda as famílias. A Escola Nova acabou bem sucedida nos colégios particulares de elite, principalmente nos EUA.
Vejamos o que o site da Escola Nueva diz: “Escuela Nueva is child-centered, community-based education led by teachers who are facilitators for active, participatory and cooperative learning”

Agora vejamos os pontos em comum com a Escola Nova de John Dewey:

1) “Child centered” (a iniciativa do conhecimento parte da criança)
2) “Teachers who are facilitators” (o educador deve intervir pouco nos interesses da criança)

Contudo, a meu ver, a Escuela Nueva tem um caráter mesclo entre Escola Nova e Tecnicismo. Porque prima pela eficiência de gestão e pelas parcerias público-privadas, apesar de, aparentemente (teoricamente) não responsabilizar os professores pelo mau ou bom desempenho dos alunos (característica chave do Tecnicismo).

Gostaria de ressaltar o ponto que vários outros “comentaristas” já falaram: a realidade de uma escola rural dos anos 60 não é a mesma da de hoje. Gostaria de fazer um adendo a isso: o sucesso de um estudante oriundo deste modelo (a Fátima) não é indicativo de sua funcionalidade. Encontramos exceções oriundas dos piores modelos possíveis de educação, pessoas que passaram em universidades públicas concorridas com mérito oriundas de escolas degradadas, sem professor e de uma realidade sócio-econômica de extrema pobreza. Eles existem. E existem para confirmar que seus amigos foram para caminhos diversos: morreram nas mãos do tráfico, desistiram da escola antes do ensino médio, acabaram engordando as fileiras dos desempregados de baixa qualificação. Honestamente, não acredito que de uma escola rural, ou uma escola pública urbana de periferia (que na PRÁTICA absorve estudantes da zona rural) possam sair médicos hoje em dia, ao menos não nos estados que têm os cursos mais concorridos ou mais caros de medicina do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais… sem muito dinheiro da família para investir PELO MENOS em um cursinho de ponta por 1 ou 2 anos, e SEM trabalhar neste período, na média, ninguém passa em medicina. E afirmo isto levando em consideração alunos que não têm déficits de aprendizado do ensino básico, da 5ª ou da 6ª série, que dificulta consideravelmente o aprendizado posterior, no ensino médio.

Caio

Controlem os ânimos, senhores! Não precisa mostrar os dentes para a doutora. francamente…
Mas esse “lance” do governo de minas ter esse medida não parece ter sido muito pedagógica e sim orçamentária. É viável aplicar este tipo de método de modo que seja um sucesso? essas são as questões.

    Ana Paula

    Não estamos mostrando os dentes para a Fátima, mas para o “Choque de Gestão” do Anastasia e da Vicky Colbert…

Paulo chacon

É o psdb(minúsculo mesmo) e seu projeto de destruição da educação pública. Isto não tem nada a ver com projeto pedagógico; é apenas contenção de gastos, ou seja, estão fazendo economia com a educação do pobre.

abolicionista

Será que o governo mineiro estava buscando pedagogias alternativas quando arapongava as reuniões do sindicato? Algum pedagogo consegue responder?

Lu Witovisk

Não sei não… mas um professor para dar conta de turma multisseriada, a turma deverá ser pequena. E ai?? vão juntar 50 numa turma e querer qualidade de ensino?? ahhh ta… sei. Coitados dos professores e do povo, so se ferram.

E, me desculpe Fatima Oliveira, alunos urbanos de hoje são muuuiiito diferentes dos rurais da decada de 60. Naquela época, criançada tinha educação de casa. Hj escola virou deposito.

Molina

Talvez o súbito encantamento e voluntarismo de Fátima Oliveira e outros esquerdistas (que não estão ligados ao meio educacional e nunca pegaram um giz na mão, mas adoram dar palpites) por esta modalidade de ensino e sua popagandista, a socióloga Vicky Colbert(pouco conhecida por quem lida seriamente com educação) esteja nas saudades de um mundo rural pré-moderno (ecos do “bom selvagem”) ou de experiências de países totalitáros como China e o Camboja de Pol Pot.
Mesclar turmas diferentes não é novidade na história da educação. Todavia o que interessava era uma aprendizagem bem sucedida. Provavelmente esta concepção em debate seja uma modalidade barateada, para reduzir custos, como já foi aventado aqui, ou simplismente um produto do espírito dos tempos atuais: misturar todo mundo porque a diversidade pela diversidade é boa em si, e, principalmente, ver crianças e adolescentes repetindo palavras de ordem e bobagens politicamente corretas (não é a toa que um número reduzido de professores seja empregado); pouco importanto um projeto consistente e o interesse em formar sujeitos letrados e com base cultural sólida (já que este ideal seria “elitismo” e o próprio ato de um adulto ensinar alguma coisa a uma criança ou adolescente seja “escandaloso” e “autoritário”).

Cídio Lopes de Almeida

Por que médico sabe de tudo? Até quando diz não saber?
Estudei em uma escola desse tipo, no interior de minas na década de 80. Tive que lutar até hoje contra a má qualidade daquele ensino.

Cídio

Rejane

É n mímimo escandaloso esse texto dessa senhora ,que diz entender de educação,pois ,gostaria que ela viesse até Minas Gerais , nas escolas precárias rurais e urbanas e constatasse o descaso do poder público com qualidade de ensino.O governo de MG , não aplica o percentual míno de investimentos na educação.Sem aplicar o mínimo dos investimentos ,em educação sob a cobertura do TCE/MG, que em recente documento de TAC,exíme o governo de aplicar 25% em educação,conforme legislação federal.
Falar que as turmas unideocente,”multiuso”, “quebra galho”, são iguais a outra qualquer ,é virar as costas para a precariedade e rasgar a constituição, que defende a obrigatoriedade de escola pública,gratuita e de qualidde para todas as crianças brasileiras.
Sra. Fátima é uma “tucana enrrustida “que defende as fraudes do governo mineiro custe o que custar e doa a quem doer.”Multi sem vergonha”, é quem se dá ao desserviço,deenaltecer a prática excusa do governador ANASTASIA, de economizar investimentos em funcionários habilitados e preparados para promover a educação de qualidade para todos.

    Milton Ferreira

    Escandaloso é o palavreado da digníssima professora. Mais uma vez, Fátima Oliveira está coberta de razão em dizer que a contraargumentação dos que se opõem à medida do governador é rasteira e chula, demonstrando o baixo nível daqueles que educam nossos filhos.
    Para seu azar Fátima Oliveira mora em Minas, mais precisamente em Belo Horizonte há pelo menos uns trinta anos, e é colunista do jornal O TEMPO. Se você não a conehce, em que mundo vive? E tem toda uma historia de esquerda amplamente conhecida, além de livre-pensadora.

    João Paulo

    A Professora Rejane tem toda a razão. Eu quisera ter feito comentário igual ao dela. Já que para o senhor está muito bem os alunos em classes multisseriadas, espero que matricule os seus numa escola desse tipo, de preferência de 6° ao 9° ano numa só sala. Se uma escola assim é boa para o senhor, então deve ser boa para os seus filhos também. O que não é justo é querer-se uma péssima escola para os filhos dos pobres e uma ótima escola para os seus próprios.

    Post Scriptum

    Sou Professor.

João Paulo

A simples possibilidade de eu ter que estar na sala de aula com uma turma do 6° ao 9/ ano me encheria de horror se eu fosse professor do ensino fundamental.

Imagine um aluno de 17 anos do 9° ano, matriculado por ordem do Ministério Público e que diga comumente: ”adote um traficante, mate um professor” ”meu pai e meus irmãos mais velhos estão presos, e minha mãe e minhas irmãs mais velhas estão na zona”. (Não estou inventando, realmente houve um caso desses em outra escola da cidade onde leciono. Este fato foi comentado com pavor pelos professores).
Imagine que na mesma sala estejam turmas de 6°, 7° e 8° ano, com crianças de onze a quatorze anos de idade. Será se eles, que estão formando a sua personalidade conseguiriam discernir que aquele colega está defendendo o mal? Lembrem-se do Fernando Ramos da Silva, o menino do filme, Pixote a lei do mais fraco. Ele não teve estrutura para entender que um filme era um filme e acabou engolido pelo crime, e morto pela Polícia.

Será se essa reunião de várias séries na mesma sala será produtiva? Será se a maçã podre de 17 anos não irá perverter os menores? Talvez até persuadi-los a fumar maconha, cheirar cocaina, crak e cola de sapateiro? Ou alguma mistura? Ou mesmo dizer que o crime compensa?
A Doutora Fátima Oliveira estranha as reações porque não seguiu a carreira do magistério. Talvez a ideia que ela faça de escola, seja a escola em que os alunos eram disciplinados, tomavam a bênção a professora, e esta tinha autonomia para agir. Podia dar um beliscão, puxar a orelha, podia pôr de castigo.

Hoje, a realidade é muito diferente. Não só os alunos não são disciplinados, como os professores não têm mais autonomia para agir. Uma simples negativa a um aluno que pede para sair de sala pode gerar um processo judicial contra a professora. Uma palavra impensada, faz com que um professor padeça o diabo diante dos pais, do Conselho Tutelar, da Escola, e de Juízes e Promotores. Hoje somos tratados como réprobos. Acho que um criminoso de pedofilia despertaria mais compaixões do que um professor.

Isto sem contar que o professor não conseguiria transmitir ao mesmo tempo quatro conteúdos, que embora da mesma disciplina, são diferentes.

Pergunta para a Doutora Fátima:

Quantos de seus colegas de sala de aula que venceram na vida igual a senhora? Se a maioria tiver vencido na vida, eu me rendo aos seus argumentos.

abolicionista

É palhaçada sim. Eu estudo educação, sou professor e sei muito bem que a hipocrisia aplicada ao caso. Ou começamos a debater os problemas reais ou ficaremos eternamente presos a discussões como essa. Se você tivesse lido com atenção, veria que não sou contra turma unidocente, unificada, multisseriada ou o que quer que seja. A própria proliferação de conceitos mostra que o problema não está nesse plano. A revista Escola que você cita, aliás, é para mim um exemplo claro da idiotice generalizada que tomou conta do pensamento pedagógico brasileiro.

PS: achei interessante o fato de você me mandar estudar ou pesquisar, todo mundo que estudou um pouco de pedagogia sabe o quando de preconceito está implícito em sua frase. Grato.

    Alberto

    Pois bem Abolicionista, eu havia entendido que o artigo versava sobre um ponto específico dos problemas/soluções/polêmicas da Educação. Reli para ver se eu havia entendido errado, mas não. O artigo é sobre a medida do governo de Minas de adotar turmas multisseriadas no caso de em uma escola urbana contar com turmas muito pequenas.
    A grita geral é que na roça pode haver turmas multisseriadas e na cidade ninguém aceita. Deve haver motivos sim, com certeza. Bons e ruins. O artigo não é sobre as desgraças da educação brasileira. Que concordo, precisam ser discutidas. Mas o artigo não se propôs a isso.
    Mas gostaria de saber de um especialista, e é o seu caso, o que acha da reportagem de Rodrigo Cunha, publicada agora em 10/02/2012 numa revista que considero séria: “População urbana aprofunda desigualdades entre escolas do campo e da cidade”
    http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=74&id=922

    abolicionista

    Caro Alberto, o meu comentário era uma resposta a outro post que se encontra mais abaixo. Não sou especialista em educação, mas estudei sim sobre o assunto, que, evidentemente, é de amplo escopo. Conforme você bem notou, o artigo discorre sobre a questão das escolas rurais multisseriadas. Minha indignação se deve ao fato de que, após muitos anos trabalhando com a educação, parece-me bastante óbvio esse não é um problema relevante. O nó aperta é quando se fala de recursos.
    Li o texto que você indicou e gostei, pelo que pude perceber há um aumento significativo do número de professores no Norte e Nordeste:

    “Mas o aumento do número de professores nas escolas rurais foi generalizado em todas as regiões do país, mais uma vez triplicando no Nordeste e multiplicando por quatro no Norte. Outro fator que vem impulsionando o crescimento do ensino médio, além do aumento do número de concluintes do ensino fundamental apontado pelo Inep, é a aprovação, em 2009, de uma emenda constitucional que estende a educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade.”

    A questão fica bastante evidente: houve mais liberação de recursos. Consequentemente o número de escolas aumentou, o desempenho dos alunos melhorou, etc. Não é uma equação muito difícil… mostra que também as escolas rurais melhoram quando se investe nelas. Gostei também porque o texto termina com a questão da reforma agrária.

    Quanto ao governo mineiro, parece-me óbvio que eles estão apertando a torneira dos recursos destinados à educação. “Para que contratar um monte de professores se um consegue dar conta do recado?”. O que não quer dizer que uma escola com uma estrutura não-tradicional não possa funcionar, mas essa é uma outra discussão. O Governo de Minas está utilizando isso como desculpa ideológica, é óbvio. O governador araponga as reuniões do sindicato (tem até uma matéria sobre isso aqui no site, com tudo registrado em vídeo). Vão transformá-lo num inovador da educação? Vai pregar noutra paróquia, não acha? Minha sugestão é que, em vez de turmas multisseriadas sejam criados grandes galpões com barras de ferro reforçadas. Aí nem precisa de professor, a gente joga os delinquentes lá dentro de manhã e vai buscar no fim do dia…

Molina

Só o Viomundo mesmo para elogiar essa medida tacanha e irresponsável!

    Alberto

    Onde estão os elogios? Não os encontrei.
    No artigo Fátima Oliveira e não o VI o Mundo deu a opinião dela sobre o tema e com muita clareza:

    Sei que “turma unidocente/unificada/multisseriada” é uma coisa e “escola unidocente” é outra! Em não sendo especialista em educação, a minha visão tem muitos limites e tem a ver unicamente com a minha história de vida, que não pode ser a régua de nada, apenas o resultado do sucesso de uma escolinha unidocente furreca, mas que moralmente me credencia a, de cara, não condenar a decisão do governo de Minas.

    Até onde conheço, a escola unidocente é um conceito e uma prática tradicionalmente aplicável a meios rurais. Todavia, não vejo como o fim do mundo que possa ser extensiva a meios urbanos (“turma unificada”) em determinadas circunstâncias, sem que tal postura seja em prejuízo dos alunos e rasteira no professorado, além do que a rigor o MEC não proíbe.

    Os inúmeros prêmios que Vicky Colbert tem recebido e a aplicabilidade promissora de sua proposta a escolas urbanas da Colômbia, além do que as “escolas de dona Vicky” são tidas como uma das três maiores inovações no ensino no mundo, sugerem, no mínimo, cautela na análise de turmas multisseriadas.


    Fátima Oliveira, que comc erteza jamais votou em Anastasia e do que conheço jamais votará, chamou para o debate e aprofundamento do assunto, mas o fundamentalismo não quer debater. Se fosse uma medida de algum governo do PT estaria todo mundo defendendo rsrsrsrsrrsrs mesmo que fosse para retirar direitos conquistados

Juliana

Não se preocupar? Então pode fechar? Como não é assunto importante?

Manifesto denuncia fechamento de 24 mil escolas rurais no Brasil

Recentemente, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) lançou, junto com outras entidades, manifesto em que denuncia o fechamento de 24 mil escolas no campo no Brasil, desde o ano de 2002. Organizações ressaltam a importância de garantir escola acessível às crianças do campo, bem como uma educação cujo currículo esteja ligado ao contexto dos estudantes. Segundo o Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação (MEC), no meio rural havia 107.432 escolas em 2002. Já em 2009, o número de estabelecimentos de ensino reduziu para 83.036. O manifesto pode ser assinado neste link (clique para acessar).

http://www.agrosoft.org.br/agropag/219933.htm

Tetê

Retratos do ensino rural brasileiro – Estudo revela as condições das salas multisseriadas e como elas interferem na aprendizagem dos alunos, uma reportagem de Agnes Augusto, Beatriz Fugulin e Cinthia Rodrigues.

Essa é a realidade das escolas de campo, categoria em que estão 58% das instituições de Ensino Fundamental no Brasil (cerca de 77 mil). Elas recebem 4,8 milhões de crianças – ou 18% das matrículas
http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/modalidades/retratos-ensino-rural-brasileiro-pesquisa-educacao-590840.shtml

Bem foi numa realidade tal qual atuou a proposta Escola Nova de Vicky Colbert e conforme Claudio de Moura Castro no artigo “As escolas de dona Vicky”: “Após a implantação da Escuela Nueva na zona rural, caíram a repetência e a reprovação. Aumentaram também os escores nos testes. Os resultados passaram a ser melhores que os das urbanas (e, junto com Cuba, os mais elevados na América Latina)”.
“Agora que as escolas rurais têm uma fórmula consolidada, dona Vicky está adaptando o modelo para as urbanas. Ainda não foi possível avaliar os resultados, mas, segundo ela, parecem promissores.
http://veja.abril.com.br/231209/escolas-dona-vicky-p-028.shtml

abolicionista

Nada tenho contra o conceito de escola “multisseriada”, mas é um palhaçada ficar discutindo esse tipo de coisa quando a educação brasileira está na lata do lixo. E não foi sempre assim:

http://portal.aprendiz.uol.com.br/2011/06/28/ginasiosvocacionais/

    Tetê

    Como palhaçada? Vá estudar/persquisar para conhecer a realidade caraPra seu governo:
    Essa é a realidade das escolas de campo, categoria em que estão 58% das instituições de Ensino Fundamental no Brasil (cerca de 77 mil). Elas recebem 4,8 milhões de crianças – ou 18% das matrículas
    http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/modalidades/retratos-ensino-rural-brasileiro-pesquisa-educacao-590840.shtml

    abolicionista

    Nada como uma pesquisadora estudada para abrir nossos olhos para a realidade. Vou estudar e pesquisar bastante para um dia poder mandar os outros fazerem o mesmo.rs

Valdecir

Eu também estudei até o 3º ano primário em turmas multiseriadas, na zona rural. Hoje estou fazendo doutorado. Mas isto não quer dizer que eu deseje aos estudantes de hoje o mesmo suplício que me foi imposto no início de minha formação formal.
A gente perdia muito tempo escutando lições já repassadas em anos anteriores. Foi um grande salto ter ingressado na minha saudosa turma do 4º ano, sob a responsabilidade da professora Maria das Graças, uma belo-horizontina entusiasmada e dinâmica.

    Juliana

    Valdeci na zona rural as escolas são unidocentes, ainda. No máximo multisseriadas. Quer dizer que a realidade é assim. E tem de melhorar. Eis a solução e não fechar a escola. Sem sua escolinha roceira voc~e não teria chegado ao doutorado. De certeza.

Larissa Dias

Para quem não conhece ou conhece pouco, dou a ideia:
A Escola Multisseriada e seus Papel Educacional na Formação Básica da População Rural Brasileira: Um Estudo de Caso, de Simone Rocha
http://amigonerd.net/trabalho/32833-a-escola-multisseriada-e-seus
Não custa ler para conhecer mais e poder comentar com base de fato
Também quero dizer que a autora foi muito ponderada ao dizer:
Para mim é dificílimo entender essa “zueira” toda contra “turmas unidocentes” ou “turmas unificadas” ou “turmas multisseriadas” (para as turmas de 1º ao 9º ano do ensino fundamental), uma nova proposta do governo mineiro e, sobretudo, a rasteirice dos argumentos contrários, que enfocam apenas que o governo quer reduzir custos. Pode ser, mas será só isso? Por que não nos debruçarmos holisticamente na análise?”

Larissa Dias

João e Josaphat, sejamos menos sectários. A proposta é JUNTAR turmas pequenas demais. Mesmo de séries diferentes no ensino fundamental. Por que o interesse seria só diminuir custos? E um governo não tem de se preocupar em diminuir custos também ou só em lascar o pau e gastar e gastar o que não tem e sem motivos? Apenas um pequeno parentêsis para dizer que diminuir custos e ficar dentro dos limites da responsabilidade fiscal não é crime. Pelo menos o PT também não acha isso. O que mais gostei do artigo foi de a autora chamar para a discussão. Como gostei muito da recomendação da ex-ministra colombiana, que tem um trabalho magnífico. Por fim classes multisseriadas é o que rola em toda zona rural brasileira. Ou não sabiam? Vamos nos in foirmar melhor gente.

josaphat

É simples isso aí. Colocam-se maçãs podres junto de outras, em perfeito estado, e acontece o milagre: as podres se curam.
Chama-se zona de conhecimento proximal.
Ou, simplesmente, “zona”.

joão33

alguem já viu algun ato de tucano sériamente preocupado com educação para o povo , sinto muito , mas a intenção é mesmo reduzir custo no governo de minas , apenas isso.

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