Diário britânico registra fracasso de favoritos nas Olímpíadas: Acorda, Brasil
Tempo de leitura: 5 minAroma do café acorda os brasileiros enquanto eles se preparam para sediar as Olimpíadas de 2016
Paul Newman, 08.08.2012, no diário britânico Independent
Não foi o tipo de comportamento que agrada aos fãs, particularmente quando você vem de uma Nação doida por esportes que vai sediar as próximas Olimpíadas.
Fabiana Murer, que no ano passado se tornou a primeira campeã mundial de atletismo do Brasil, quando venceu a prova do salto com vara no Campeonato Mundial em Daegu, era uma das favoritas do país para ganhar o ouro mas não conseguiu nem mesmo chegar às finais — e culpou o vento por sua saída prematura.
Murer abortou sua última tentativa, que poderia tê-la levado à final, dizendo que as condições do vento eram “muito perigosas”. A avalanche de críticas que se seguiu foi resumida por Gustavo, um ex-jogador de vôlei que ganhou medalhas de ouro e de prata em Olimpíadas. Ele disse no twitter que Murer não tinha demonstrado “espírito olímpico” e que “qualquer sacrifício é válido para vencer representando seu país”.
O fracasso de Murer não foi a única decepção para os anfitriões de 2016. Cesar Cielo, atleta do ano no Brasil em 2008 e 2009, era favorito nos eventos de 50 e 100 metros livres nas piscinas, mas teve uma performance abaixo da esperada em ambos. Teve de se contentar com o bronze nos 50 metros, nos quais ele era o campeão e detém os recordes mundial e olímpico, e ficou em sexto nos 100 metros, nos quais ele detém o recorde mundial.
Maurren Higa Maggi, campeã olímpica do salto em distância em 2008, não chegou às finais, assim como Leandro Guilheiro, a grande esperança no judô, enquanto as equipes de vôlei e vôlei de praia do Brasil dominaram as competições da forma como sempre fizeram no passado.
[O vôlei de praia masculino brasileiro ainda não tinha perdido a final para a Alemanha]
Houve histórias de sucesso, no entanto, com Arthur Zanetti e Sarah Menezes se tornando campeões olímpicos na ginástica e no judô, respectivamente. Zanetti, que ganhou o ouro nas argolas, é tido como o possível rosto dos jogos de 2016 — o equivalente para o Rio de Jessica Ennis — enquanto Menezes ficou famosa por ser a primeira medalhista de ouro do Brasil em 2012 e a primeira campeã olímpica brasileira no judô feminino.
Será uma surpresa se não houver mais sucesso. Emanuel Rego e Alison Cerutti, campeões mundiais de vôlei de praia, estão na final desta noite, enquanto o time de futebol masculino — que, de forma bizarra, nunca conquistou medalha de ouro — é favorito para derrotar o México na final de sábado.
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Ainda assim, até o final desta tarde o Brasil ocupava a modesta vigésima terceira posição no quadro de medalhas, com apenas dois ouros, uma prata e seis bronzes. Para um país com tal pedigree esportivo e tão grande — com 193 milhões de habitantes, é a quinta nação mais populosa do mundo, depois da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia — o Brasil tem tipo uma surpreendentemente modesta história nas Olimpíadas, com a maior parte do sucesso do passado obtido no iatismo e no vôlei.
Em Sydney, 12 anos atrás, o Brasil terminou em quinquagésimo segundo e não ganhou uma única medalha de ouro. Melhorou para décimo sexto em Atenas 2004, com um total de 10 medalhas (inclusive 5 ouros) e foi vigésimo terceiro em Beijing em 2008, com 15 medalhas, mas apenas três ouros.
Tendo conquistado o direito de sediar os jogos de 2016, o Brasil dobrou seu orçamento para preparar atletas para Londres 2012, mas os frutos do investimento ainda não foram vistos e fazem a meta do país para 2016 parecer muito ambiciosa. O Comitê Olímpico Brasileiro tem como objetivo ficar entre os 10 primeiros no quadro de medalhas, o que significa ganhar cerca de 30.
De olho em 2016, os brasileiros trouxeram para Londres 16 atletas de um amplo leque de esportes, que não se classificaram para competir mas são considerados boas apostas para o Rio e estão tendo exposição completa à experiência olímpica.
Essa equipe é pequena diante do grande número de autoridades do esporte brasileiras que estão aqui. Os organizadores da Rio 2016 trouxeram 152 observadores com o objetivo de aprender com a experiência de Londres, enquanto há outras 51 autoridades do governo estudando questões como a da segurança. Como Londres, o Rio 2016 vai usar muitas instalações já existentes. Quando o Rio ganhou o direito de sediar os Jogos Panamericanos de 2007, muito foi feito já pensando em futuros Jogos Olímpicos. O principal estádio de atletismo, por exemplo, foi construído com capacidade para 45 mil pessoas, mas com possibilidade de expansão para 60 mil.
Os que fazem campanha para mudar o nome do estádio provavelmente vão se decepcionar. Ele é chamado Estádio João Havelange em homenagem ao legendário cartola, que subsequentemente, se soube, recebeu pagamentos ilegais de uma empresa que vendia direitos de transmissão da Copa do Mundo. Autoridades insistem: o nome vai ficar.
O icônico estádio do Maracanã, onde vão acontecer as cerimônias de abertura e encerramento e a final do futebol, está sendo reformado para a Copa do Mundo de 2014, enquanto o Sambódromo, casa do Carnaval do Rio, vai sediar as competições de arco e flecha e a largada e a chegada da maratona de 2016, depois de ter sido reaberto em fevereiro deste ano.
Quase metade das sedes de competições de 2016 já existem, enquanto outras 25% serão abrigadas em estruturas temporárias. As demais serão novas. O trabalho de construção do Parque Olímpico, que não inclui os estádios João Havelange e Maracanã, começou no mês passado, e os empreiteiros vão começar a trabalhar em quatro aglomerados olímpicos em Deodoro no ano que vem.
Haverá dois novos esportes olímpicos nos jogos de 2016 — rugby e golfe. Uma companhia baseada na Pensilvânia foi selecionada para construir o campo de golfe, mas o trabalho só deve começar em dois ou três meses.
O discurso oficial sobre os preparativos para 2016 é que tudo vai bem. No entanto, não parece haver certeza. “Só as autoridades dizem que está tudo certo para 2016”, diz um veterano jornalista brasileiro. “Essas pessoas sabem que temos muito a fazer quanto à preparação de atletas e das sedes olímpicas”.
Leonardo Gryner, presidente do comitê organizador de 2016, admite que acomodações e transportes serão os maiores desafios. Mais hotéis estão em construção, mas o número de apartamentos está abaixo do exigido e uma vila olímpica extra pode ter de ser construída.
Uma nova linha de metrô está em obras, enquanto a revitalização do distrito portuário pode ser um dos maiores legados que a cidade terá depois dos jogos. Questões legais causaram atraso em construções e tem havido críticas sobre a forma como milhares de famílias, especialmente em bairros mais pobres, foram expulsas de suas casas por causa de projetos olímpicos.
O Comitê Olímpico Internacional alertou que os prazos estão vencendo e que os organizadores do Rio tem muito a fazer, mas Gryner insistiu: “O tempo é um adversário mas também está ao nosso lado. Vamos passar por suadouros, mas isso é normal. Estamos dentro dos prazos e de acordo com o planejado”.
O orçamento inicial de infraestrutura para 2016, que é de responsabilidade de autoridades federais, estaduais e da cidade do Rio, é de U$ 11,6 bilhões (7,4 bilhões de libras), menor que o de Londres 2012 (9,3 bilhões de libras). Há também um orçamento operacional de U$ 2,8 bilhões (cerca de 1,8 bilhão de libras), que os organizadores pretendem obter privadamente através de patrocínios, vendas de ingressos e outras fontes. No entanto, os números finais ainda não foram acordados.
Na cerimônia de encerramento, domingo à noite, Boris Johnson, o prefeito de Londres, vai entregar a bandeira olímpica para Jacques Rogger, presidente do Comitê Olímpico Internacional, que por sua vez vai passá-la a Eduardo Paes, o prefeito do Rio de Janeiro. Ele terá quatro anos de muito trabalho pela frente.
PS do Viomundo: Os britânicos estão certamente embriagados com o desempenho de seus próprios atletas, com 25 medalhas de ouro em um total de 52. Ajuda a esconder a decadência relativa do país no cenário internacional.
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