Beto Almeida responde questões levantadas por leitores do Viomundo

Tempo de leitura: 3 min

Em agosto, publicamos no Viomundo o artigo As duas derrotas no campo da comunicação, do jornalista Beto Almeida. Numa mesma semana, na Câmara, havia sido aprovado o projeto que flexibiliza a veiculação da Voz do Brasil. No Senado, o mesmo acontecera com o  projeto que transfere o oligopólio da TV paga no Brasil , até agora sob domínio de grupos nacionais, para o controle do capital estrangeiro que domina as empresas de telecomunicações. Ambos com aplausos da esquerda!

Hoje, Beto Almeida respondeu as questões levantadas por leitores do Viomundo naquele artigo. Como as respostas são muito esclarecedoras, resolvemos  publicar o seu comentário, em separado, como se fosse um post, para que mais gente possa usufruí-las:

Prezados leitores, agradecendo pela leitura, informo que só agora tomei conhecimento dos comentários sobre o meu artigo. Nem sabia que tinha sido publicado pelo Viomundo, o que muito me honra.

Comento algo sobre a Voz do Brasil, primeiro informando que o projeto de flexibilização, que prepara sua extinção, é, sim, de autoria de parlamentar de esquerda e foi apoiado, além da Abert, por diversos parlamentares progressistas, de diversos partidos.

A Voz do Brasil é uma experiência de regulamentação informativa, divulga de modo plural informações sobre toda a atvidade do governo federal, inclusive informações sobre os programas sociais como a chegada dos recusos do Fundeb aos municípios, o que a mídia privada náo faz. Além disso, divulga a totalidade das atividades do Congresso, sem discriminar partidos ou políticos, seja por sua linha ideológica ou por região representada, discriminação praticada sistematicamente pela mídia privada.

A flexibilizaçao do horário da Voz levará sim à ocupação do horário predominantemente pela baixaria informativa da mídia comercial, portanto, MENOS INFORMAÇÃO ao povo. Sobre a nova lei da tv paga, a abertura sem limites para o capital externo, concentra e desnacionaliza, e a lei preservou intactos os interesses da Globo. As teles faturam na escala dos bilhões de dólares, as empresas da oligarquia nacional da mídia fatura na escala dos milhões, o que levará na prática a que os mecanismos como o de cota de produçao nacional e outros sejam, em pouco tempo, burlados, como já ocorria com a Lei do Cabo.

A nova lei veio legalizar as irregularidades já praticadas pelo capital externo na anterior Lei do Cabo. E as tvs do campo público já começam a sofrer seus efeitos: a Secom acaba de suspender, com base na nova lei, o acesso das tvs comunitárias e universitárias á publicidade institucional.

Portanto, mais concentração de recursos publicitários nas máos dos setores comerciais, só que agora tem a presença das teles, todas elas estrangeiras. A oligopolizaçao náo favorece a concorrência, mas apenas a mais concentração e internacionalização. Meu artigo não afirma que a Abert é nacionalista. O que afirmo é que teríamos que ter uma empresa pública de peso para oligopólios olios internacionais da comunicação.

No final, os oligopólios acabam impondo seus conteúdos e eles próprios pondem também fazer algo de “brasileiro”, mesmo que seja com artistas brasileiros, em Cingapura. Os oligopólios sempre determinam, como no setor farmacêutico em que importantes produtos nacionais não conseguem sequer ganhar uma licitação no Ministério da Saúde, onde domina a produção dos laboratórios estrangeiros.

Sobre a Telesur não ser aceita pela Net, que pertence ao Slim, ou pela Sky, pertencente à Telefonica de Espanha, a resposta é bastante evidente. É a TV BRasil que poderia dar grande contribuição à integração informativo-cultural da América Latina, colocando em prática o convênio de cooperação já firmado com a Telesur. Perdoem a demora por responder, muito grato, uma vez mais , a todos, pela leitura.

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Saudações, Beto Almeida

Beto de Almeida é jornalista e membro da Junta Diretiva da Telesur

PS do Viomundo: Enquanto isso, no Reino Unido, o influente colunista Martin Wolf, do Financial Times prega o fortalecimento do campo público da comunicação!

Leia também:

Beto Almeida: As duas derrotas no campo da comunicação

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Comentários

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Renato

Taí a diferença os que defendem uma ditadura legalizada chamada a Voz do Brasil(Por que em um determinado horário sou obrigado a escutar algo que eu odeio?) e os que defendem a livre escolha com o fim dela. Voto pelo fim da voz do Brasil. É democrático. O ideal seria a criação de uma emissora de rádio chamado a Voz do Brasil e ai quem odeia participação do governo na vida do indíviduo não é obrigado a escutar.

Rodrigo Giordani

Ainda tem gente em dúvida sobre se essas novas leis não são deletérias? Isso abre caminho à entrada da Fox News no Brasil, que está bem próxima.

beto almeida

Finalizando (4) Se a Venezuela tivesse tido sua Era Vargas não teria sido submetida à maldição do petrõleo que a levou a importar até alface de avião de Miami , isto até bem recentemente. Só agora ela começa a sua industrialização, com o apoio do BNDES, o maior banco de fomento do mundo, também uma criação da Era Vargas. Contraditório o processo histórico não? Por isso, FHC tentou demolir a Era Vargas.A Voz do Brasil nasceu na Era Vargas, a Embrafilme, presidida pelo Celso Amorim, no governo Geisel., quando o cinema nacional tinha 40 por cento do mercado, hoje o cinema de hollywood controla 90 por cento.. Beto Almeida

beto almeida

Parte 3 – O direito de voto para a mulher , a licença maternidade, também são da Era Vargas. Assim como o Instituto Nacional de Cinema Educativo, dirigo pelos geniais Roquete Pinto e Humberto Mauro, ou o Instituto Nacional de Música, dirigido por Villa-Lobos, tudo isto fruto da Era Vargas. O mundo encontrava-se no pré-guerra, o nazi-fascismo avançava, muitos países também foram obrigados a suspender o funcionamento democrãtico formal. Mas , a Era Vargas foi um gigantesco impulso progressita para o Brasil. Com todas as suas contradições, que alcançaram ,também, a muitos outros países.

beto almeida

Parte 2 -Muitas vezes, bons projetos surgem em situações contraditõrias com os momentos políticos de cada etapa. A CEME foi também outro exemplo, fornecia medicamentos grautiamente ao povo pobre, produzidos em laboratórios públicos brasileiros, mas foi privatizada para não concorrer com as multinacionais farmacêuticas que dominam cartelizadamente o setor. A Indústria naval também nasceu com Vargas, chegou a ser a segunda maior do mundo, FHC a demoliu, um país com uma costa deste tamanho, está sendo reconstruída, com Lula-Dilma.. , beto

beto almeida

Leandro, ainda nem era o Estado Novo, que começa um pouco mais tarde. Mas, lembro a voce que foi no Estado Novo em que criaram a Vale do Rio Doce, a Usina Siderúrgica de Volta Redonda, a CLT, a nacionalização do subsolo, o Conselho Nacional do Petróleo. A história requer sempre uma leitura dialética. Foi também sob a ditadura militar que se criaram a Telebrás e Embraer. A primeira privatizada criminosamente com o setor entregue para as transnacionais que cobram a tarifa mais cara do mundo para serviços prrecãrios. A Embraer acaba de assinar contrato com a Venezuela para a entrega de dezenas de aeronaves para fomentar a aviação civil bolivariana. Poderia perfeitamente sustentar o desenvolvimento da aviação regional aqui no Brasil, pa~is com mais de 5 mil municípios, mas com apenas 58 servidos por vôos regulares. Beto Almeida

beto almeida

Prezado Joe, se o rádio no Brasil é ruim com a Voz do Brasil, pior será sem ela, pois é o único espaço onde náo predomina a ditadura editorial do mercado cartelizado..Sem a Voz, haverá menos pluralidade informativa, mais propaganda consumista, mais baixaria.

Já ao Artur diria que a Voz do Brasil foi feita pensando numa imensa massa de brasileiros que sequer pode ler jornal. O curioso é que, décadas depois, as taxas de leitura de jornal e revista no Brasil continuam raquíticas, indigentes. Segundo a Unesco, lemos menos que na Bolívia, economia mais frágil da regiáo. Como jamais tivemos um programa público de incentivo à produção e leitura de jornais e revistas, ainda vivemos este tremendo apartheid cultural. Os produtos de uma tecnologia do século XXI, a imprensa de Guttemberg, ainda náo são plenamente acessíveis ao grande público. Assim sendo, a Voz do Brasil ainda cumpre um grande papel. Pode ser aperfeióada, esta deveria ser uma tarefa dos movimentos que lutam pela democratização da comunicação, jamais extinta, que é o que se prepara a partir da flexibilização. Veicular o programa em horários onde o povo do campo, que acorda com as galinhas, já está dormindo, é tornar a Voz do Brasil inaudível. Facilita sua extinção. Quem vai fiscalizar se as 5 mil emissoras de rádios estar'ão mesmo veiculando-a? Veja por exemplo os programas Telecurso, que possuem alguma qualidade informativo-histórica. São exibidos pela madrugada, quando o trabalhador não pode assistí-los. Mas, a Fundação Roberto Marinho recebe expressivas verbas para produzí-lo, mas pouco se importa com sua veiculação em horários de maior audiência, quando predomina a alienação consumista. O mesmo com Globo Ciência, ou Globo Ecologia, exibidos às 7 horas da manhã de sábado. Cuidam de não elevar o nível informativo dos brasileiros.

. Ao prezado Morvan, digo que estamos plenamente de acordo e que devemos estimular a reflexão sobre o positivo papel desempenhado pela Voz do Brasil. Por exemplo: a melhor cobertura jornalística da Marcha das Margaridas que trouxe 70 mil trabalhadoras rurais a Brasília, foi exatamente da Voz do Brasil, e foi também a que mais levou a informação objetiva para o público do interior e dos grotões, relatando os importantes convênios firmados entre Governo e Contag. A mídia do mercado cartelizado náo informou, distorceu, torceu contra..Grato, uma vez mais, pela leitura. Abs, Beto Almeida

    Joe

    Olá Beto, obrigado pela resposta.
    Concordo que sem a Voz do Brasil, provavelmente ficará pior e com " menos pluralidade informativa, mais propaganda consumista, mais baixaria." Mas não vejo a pluralidade de informação por essa via. Ouço sempre e gosto da Voz do Brasil, que últimos anos tem melhorado muito, inclusive fazendo criticas ao governo (dentro da ética jornalistica). Mas a pluralidade não pode vir pela imposição, ou só por ela. Sem a regulamentação das rádios, sempre vai parecer imposição, mesmo que com qualidade.
    grande abs

    joe

leandro

Ver um esquerdista defendendo a manutenção da voz do Brasil é estranho. Essa ditadura do rádio foi criada num governo ditadorial.
"A voz do Brasil foi veiculada a primeira vez em 22 de Julho de 1935 durante o período ditatorial do governo de Getúlio Vargas, conhecido por Estado Novo."

Morvan

Boa tarde.

Felicitações ao Beto Almeida.
Seu ativismo em prol de uma mídia responsável é bastante enriquecedor.

Há alguns anos, não sei precisar bem quando, houve uma massiva campanha para sepultar "A Voz do Brasil". Um dos "arautos" dos novos tempos, tempo de "democracia" no rádio, era Jô Soares. Ele bateu o quanto pôde, mas ele e sua curriola da Göebbels, incluso aí o dublê de cienasta, o Arnaldo Jabor, não levaram a melhor.
À época, escrevi para o jornal "O Povo", Fortaleza, na Secção "Carta dos Leitores" (tentei recuperar a carta, mas, aparentemente, não está disponível digitamente, no sítio do jornal), argumentando, basicamente, o mesmo que o caro Beto.
Dizia que, em um país com pouquíssima apetência política, onde o povo quase não vê estímulo em discutir e viver política, um país repleto de analfabetos políticos (aqueles que se vangloriam de serem avessos à política são o verdadeiro analfabeto político, bem frisado pelo grande Bertold Brecht), o fim da Voz do Brasil significaria um distanciamento maior deste mesmo povo e enfraqueceria a democracia, pois este é, ainda, um espaço onde o eleitor pode saber o que o seu representante está fazendo!
Ouço, às vezes, "a Voz". Gosto de ver o que cada representante faz, a dinâmica do Congresso, como pensa o eleito. O mais triste disto tudo é que a categoria de políticos não tem, em sua grande maioria, noção da importância deste espaço, senão preservá-lo-iam.

:-)

Morvan, Usuário Linux #433640.

Arthur Schieck

Quero ver ele apontar todo dia no gasômetro às 18h58 e descobrir que, além de ter de enfrentar mais de uma hora de engarrafamento em cima da ponte até Niterói ainda vai ter que ouvir a voz do Brasil. TODO DIA! Sinceramente, preferia ouvir a radio MEC.

Joe

O que adianta a Hora do Brasil se não há pluralidade no rádio????? A rede Bandeirantes tem 8(OITO!!!!???) rádios na cidade de de SP. A questão é muito maior que isso, afeta a todo o mercado musical brasileiro.
Não há uma gravadora pequena no país, não há mercado alternativo. Só há "Jabá"!!!!
Não há sucesso musical no Brasil sem "Jabá" para "Tutinhas e etcs.

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