Adilson Filho: Até onde se pode ir em nome da liberdade de expressão?

Tempo de leitura: 2 min

Je suis

Charge do cartunista Neelabh Banerjee 

por Adilson Filho,especial para o Viomundo

Um ato terrorista bárbaro e covarde como esse é, obviamente, injustificável. O que deve ser levado em conta, a meu ver,  é o processo desencadeador desse ato, esse sim é passível de reflexão. Aliás, eu diria que é fundamental, nesse momento.

Muito mais do que ‘abraçar a lagoa’ virtualmente. Acho que não vale nem a pena, a essa altura, falar na aberração do fundamentalismo religioso, pois esse pode atacar um centro de macumba, provocar uma guerra ou chacinar em nome do imponderável.

A questão que se impõe é: Até que ponto alguém está disposto a ir ameaçando um poder em nome da liberdade de expressão? 

Podemos ainda esmiuçar essa dúvida, levando em conta a distância da vara até a boca da onça. 

Falar de uma religião é sempre complicado, até falar bem, é um terreno extremamente difícil, uma hora vai dar merda (e não há palavra melhor). Fazer críticas reiteradas e contundentes já é algo que deve-se ligar o sinal de alerta.

A zombaria já é risco máximo. Em determinados contextos, como por exemplo, um país no centro da Europa com a maior população muçulmana do continente, o perigo deixa de ser uma possibilidade para se tornar apenas questão de tempo.

Para falar de liberdade de expressão — um direito inalienável do ser humano, ao mesmo tempo de uma complexidade ímpar — não bastam bravatas, é preciso trazer a discussão para a vida real de alguma forma.

Para ficar num exemplo simples. Imagina se seu filho tem o dom de desenhar e faz charges semanais para o jornalzinho do bairro. Daí, ele descobre que um vizinho policial de dois metros de altura está sendo traído pela mulher com o magrinho da outra rua; e tem a ‘genial’ ideia de fazer desenhos sobre o tema.

Numa semana a mulher que nem uma égua sendo currada e o marido com orelha de burro, na outra ela fazendo sexo oral e o marido chorando que nem criança na mamadeira, e por aí vai…

E, aí, você aconselharia seu filho a, em nome da liberdade de expressão, seguir na sua missão de fazer o bairro rir e não desistir? Ou, preferindo vê-lo vivo, o desencorajaria na hora?

Será que desencorajando-o você se consideraria um fracassado por cercear a liberdade de expressão do menino ou um pai prudente e amoroso que salvou a vida do filho?

Posso estar redondamente enganado, mas penso que não existe fórmula pronta nesse mundo; pensamento binário, “oito ou oitenta” é só nas redes sociais.

Na vida real, tudo muda e, as vezes, a liberdade de agir com sabedoria pode ser mais importante do que o aprisionamento em dogmas universais, por mais valiosos que esses possam ser.

Leia também:

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Comentários

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Morvan

Boa noite.

Adilson Filho, parabéns por vossas ponderações. Mas, tirante o próprio ato selvagem de se assassinarem pessoas, deixando claro meu repúdio à violência, como forma de resolução (até porque não os resolve) de conflitos, escrevi, no meu Blogue, e tive a felicidade de o ter também aqui, no VOM, postado, Quem É Mesmo O Intolerante? Neste artigo, mostro minha estupefação ao modo coordenado, síncrono, como toda a mídia internacional trata o tema. Inclusive, nossa Presidente também falou, com muita ênfase, no “Ataque À Liberdade de Expressão”. Não parece nem de longe ser este o pano de fundo. Muito ao contrário. A mais medieval das guerras nunca saiu de cena. A guerra das religiões “civilizadas” contra as “bárbaras”.
Sim. Em tempo. Concordo, também. As charges, além de enviesadas politicamente, são de mau-gosto extremo. Algumas impublicáveis, em ideia ou idioma.

Renato M. Soares

“Estamos nos extremos”

Primeiro lugar:
Nada justifica o assassinato de doze pessoas ontem na França realizado por extremistas muçulmanos. Uma lástima.
Assim como nada justifica o assassinato de muçulmanos por potências extremistas nos últimos doze anos.
Uma lástima maior ainda.
Segundo lugar:
As charges são de um extremo mau gosto além de ser pura provocação barata.
Uma babaquice.
Queria ver os cristãos achando graça de algumas coisas por aí.
Mas nada se justifica…
Bom,
Cada vez mais temos análises prevendo uma 3° Guerra Mundial.
Não são teorias conspiratórias ou textos extremistas vindos de blogs de desconhecidos.
São texto de jornalistas e analistas de Relações Internacionais.
A cada texto que leio fico com medo do futuro que cada vez mais se aproxima.
Onde, como e por quê a 3° Guerra Mundial?
Todos apontam para a crise entre os EUA (e seus aliados europeus, leia-se: OTAN) contra a Rússia.
A Ucrânia é a tentativa real da OTAN estender suas fronteiras chegando próximo à Rússia.
Em 2008 a OTAN já havia tentado um movimento de estender suas fronteiras na Geórgia (a Rússia se impôs e venceu a “batalha”).
Em 2013 a Rússia, em defensa de seu aliado a Síria, deu um ultimato para que a Arábia Saudita parasse de colaborar com os “manifestantes”.
O Irã é um aliado russo.
Os russos se movimentam em direção da China justamente porque não tem outra alternativa econômica e geopolítica.
E a Rússia hoje luta uma guerra quase-invisível contra a Ucrânia.
E tudo isto por que?
Porque a Rússia quer uma organização com os países da chamada Eurásia (alguns de seus antigos aliados). Uma expansão de grande influência geopolítica em prol da Rússia.
Outro motivo:
Todo e qualquer país que quiser fazer seu comércio exterior com outra moeda que não seja o dólar está “f…” literalmente (que o diga Khadafi na Líbia em 2010).
E a Rússia vem negociando tal acordo com a China e o Irã.
O mundo e seus extremos.
A Arábia Saudita rebaixou o preço do petróleo afim de estrangular a economia russa (junto da economia do Irã, da Síria, e da Venezuela – os não-alinhados com os EUA).
Os sauditas serão prejudicados pela sua própria ação, porém estes são aliados próximos dos EUA.
Os europeus – leia-se novamente: a OTAN – colaboram para tentar isolar a Rússia (o que também fragiliza sua economia).
Sim, os russos ainda são uma potência mundial; voltou e quer retomar seu posto no mundo.
Não, os americanos não aceitam outros como líderes globais.
A China sabe disso. Assim como sabe de onde vieram o apoio aos “manifestantes” de Hong Kong no final do ano passado.
O mundo do lado de lá está quente.
Tá e daí, o que isso tem a ver com a França?
Pois é…
Neste jogo de extremos boa parte dos franceses passarão a apoiar o seu próprio extremo – o partido da extrema-direita o FN (Frente Nacional), este liderado por Marine Le Pen.
Hoje temos notícias de ataques realizados por franceses a prédios, restaurantes árabes/muçulmanos, além de ataques à mesquitas.
Caminhamos para os extremos.
A extrema-direita quer restringir cada vez mais a vinda de imigrantes – estes principalmente de Africanos e de Muçulmanos – oriundos das antigas colônias francesas. Sim, aqueles em que a riqueza foi pilhada e a miséria espalhada na era das colônias.
O argumento deles: é que os imigrantes é quem causam a pobreza, o desemprego, a imoralidade da França. Não o contrário.
Também não é o extremismo da União Europeia que estrangula a economia da própria Europa e é quem causa desemprego (?); isto sob a batuta da Alemanha, que é quem realmente manda e ganha.
Hoje o mundo chora pelo ataque a liberdade expressão.
O ataque não foi um atentado a “liberdade de expressão” dos chargistas.
O ataque foi de loucos/psicopatas que são filhos das guerras das grandes potências (entre estes a França) – que impulsionam a quantidade de imigrantes e de refugiados.
Os chargistas colaboraram com a guerra dos extremos.
No país da Liberdade, Igualdade e Fraternidade as mulheres muçulmanas não podem usar burcas – um claro desrespeito a liberdade cultural/religiosa.
Um choque de civilizações?
… Cristãos x Muçulmanos?
… Liberdade x Opressão?
… Ocidente versus Oriente?
… Americanos versus Russos?
… Antigas Potências x Novas Potências?
A extrema-direita francesa saberá conversar com uma possível esquerda na Espanha e/ou na Grécia?
Com o reforço do FN o que será dos muçulmanos e negros dentro da França? E fora, como evitá-los?
Os nórdicos estão nos extremos: a Suécia aumentou suas condições para imigração… a Dinamarca iniciou o ataque de “charges” aos muçulmanos em 2006… a Alemanha ameaça a Grécia se a extrema-esquerda vencer por lá… enquanto isso a Finlândia ataca com o melhor sistema educacional do mundo.
Quantos extremos…
Mais uma vez:
Nada justifica o assassinato na França ontem por loucos/psicopatas;
Assim como nada justifica o assassinato e a pilhagem no Oriente Médio e da África por loucos/psicopatas…
As consequências: os extremistas dos dois lados!!!
Não sei sobre o futuro da guerra descrita lá em cima; mas sim, estamos cada vez mais intolerantes. Leia-se: extremistas.

Renato M. Soares
Formado em Administração, Geografo, Especialista em Rel. Internacionais.

Maria Dilma

A questão politica saiu totalmente do debate.Ficou só a questão da expressão.

Tudo e sistemico, junto e amarrado.

Outra coisa, quanto mais se le (eu leio de tudo na net) mais se percebe a ingenuidade com o poder da charge para influenciar.Sera?

E mais: ninguém mostrou charges deles que não seja “islâmica”ou não vi.

Gerson Carneiro

A pexêra vai passear no bucho de quem bulir cum meu Padim Ciço.

‪#‎ficadica‬

Rodrigo

Fazer piada com o Cristianismo, Hinduismo, Budismo etc pode, mas não pode mexer com os cabeças quentes estupradores de cabritas que prendem suas mães, esposas e filhas num cabresto de medo?

Essa eu não engulo não. A islamização da Europa é sim algo concreto, que se não for controlado pode ser muito mais perigoso para o ocidente do que até mesmo uma nova ascensão da extrema direita.

Só peço que entendam bem minhas palavras antes de me chamarem de tudo quanto é nome. Não estou falando do que é melhor para a Europa e o Ocidente, mas apenas especulando sobre o menor dos dois males.

    João

    Nossa!! Nem um pouco preconceituoso o seu comentário!

    Quer dizer que os praticantes do Islamismo se resumem a “cabeças quentes estupradores de cabritas que prendem suas mães, esposas e filhas num cabresto de medo”

    Tá precisando se informar mais!

ricardo

que post fantástico. falou tudo em poucas palavras.

a pergunta é : qual o limite ?
outra pergunta, pertinente, é : o limite é igual para todos ?

liberdade de expressão é liberdade para achincalhar ?

cordialmente

Ricardo

Wendel

Adilson, declino em comentar, pois voce já disse tudo. Pincei o abaixo:
“Fazer críticas reiteradas e contundentes já é algo que deve-se ligar o sinal de alerta. A zombaria já é risco máximo. Em determinados contextos, como por exemplo, um país no centro da Europa com a maior população muçulmana do continente, o perigo deixa de ser uma possibilidade para se tornar apenas questão de tempo.” –

Como estamos vendo nos meios de comunicação, é somente a condenação do ato, o que é lógico, mas não vão ao cerne do problema e o fazem somente na superfície, sem analisarem a repetição dos vários fatos, ao longo de anos, que provocaram a tragédia. Citam apenas a loucura dos”terroristas”, apelando para o emocional, mas sem analisarem as consequências dos atos dos chargistas do jornal!
Tudo em nome da suposta/pretensa liberdade de imprenssa”, e que se danem as vítimas imoladas neste “altar” da livre expressão, que conforme disseram no comentário abaixo, – ” .. Tudo ok para a Liberdade, mas onde ficam a Igualdade e a Fraternidade? Os ideais da Revolução Francesa, tão preciosos, estão sendo subvertidos no mundo todo. Esse tripé ficou manco e perdeu a sustentação. Precisamos restaurá-lo, sem hipocrisias.”
REPITO: Este tripé, está MANCO !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Adilson

    Verdade, Wendel a forma da imprensa tratar isso é capitalizando em cima da tragédia para colher sues dividendos. De quebra, ainda aproveitam para dizer que Dilma não foi tão contundente qto deveria com o EI, que ainda “tem gente que quer controlar a mídia” e por aí vai..Uma pena que esse debate fique esvaziado pelos interesses da mídia privada.

Gabro

A iniciativa do debate é boa, o exemplo que o autor usa para ilustrar seu pensamento é no entanto mal escolhido. Ridicularizar um corno nao é uma forma de rir da estupidez humana que existe por trás de toda manifestaçao de poder, politico, religioso, economico, etc. é só a ridicularizaçao de um pobre corno coitado.
vivi na França, ja li muito o charlie, algumas vezes nao achei graça das caricaturas, outras sim, algumas vezes achei inteligentes, outras de mal gosto, etc etc etc e por ai vai. Tudo isso é discutivel.
O direito de fazer os desenhos, no entanto, isso está fora de discussao.
E ainda que se julgue certas caricaturas ofensivas, revidar desenhos com uma chacina me parece uma aberraçao psicopata.
Enfim, respondendo ao autor do artigo: o limite para defender a liberdade de expressao é o limite do medo/coragem de cada um. A proposito, ha muita gente anonima que morre de muitas maneiras na calada da noita por se exprimir no exercicio de sua profissao… Uma sociedade sem critica é uma sociedade do medo (medo + paranoia = extrema direita).
abs

    Adilson

    Caro Gabro,

    permita-me uma ponderação. O exemplo foi propositalmente escolhido justamente pelo seu tom de trivialidade, para mostrar até onde vai a nossa defesa de um direito fundamental. Você tem razão, ridicularizar uma traição, de fato, por si só não é uma forma de rir da estupidez humana por trás do poder. Porém, levando-se em conta as circunstâncias mencionadas, há ali uma forma de subverter uma relação de poder. Um prato cheio para um jovem que já demonstra criatividade e talento para a arte.

    A questão central é que estamos falando de um direito fundamental, um dos pilares da Revolução Francesa, de complexidade ímpar, mas que muitos parecem tratar como se fosse o mero ato de expressar aquilo que se pensa doa a quem doer e pronto. Um direito completamente distorcido na mídia empresarial e que até um ex-presidente do STF já demonstrou sérias dificuldades em percebê-lo em toda sua abrangência.

    Tenho ouvido muitos dizerem: “Pouco importa, temos que ir até o fim, jamais nos calarão, o ser humano é livre para expressar o que bem entende, etc. ” O que o texto tenta dizer é que para falar de liberdade de expressão não bastam bravatas, tais palavras são lindas, carregadas de um sentido revolucionário e de bravura, mas eu pergunto: Será que ao dizermos isso estamos realmente conectados a realidade ou falamos apenas pelo dever de cidadão que julgamos ter de cumprir independente das circunstâncias? Será que somos mesmo tão intrépidos assim longe da tecla do computador? Será que estamos considerando a questão ética, tb fundamental?

    No meu modo de ver, não existe fórmula pronta nesse mundo, taí o fracasso das normatizações institucionais e o engessamento das cartilhas religiosas para provar. O ser humano, como muito bem diz Leonardo Boff, é tão livre que é livre para além das liberdades individuais (por mais sacrifício que essas tenham nos custado conquistar); é multidimensional, muito grande para se prender a preceitos ou dogmas, sejam eles quais forem.

    A meu ver, quando falamos em liberdade de expressão temos que tb considerar outros aspectos, e a preservação da vida é um deles. O exemplo, por mais esdrúxulo que possa parecer, é uma tentativa de reflexão para que nos coloquemos no centro do debate, não como mero opinadores mas como sujeito. Se vivêssemos numa sociedade com senso coletivista nem precisaria disso, mas não é assim. A tragédia acontece lá na França (e poderíamos até estar falando de uma favela carioca) e , sem tentar viver aquela situação, se colocar ali, vamos emitindo nossos juízos. Replicando memes como : “Prefiro morrer de pé do que de joelhos acovardado” Como assim?? Que tipo de lição isso quer passa, da bravura a qualquer preço?. Postamos isso usando a tragédia com jornalistas franceses, mas no fundo, lá no fundo mesmo, sabemos que são pouquíssimos os que tem essa postura, não é isso que a maioria sente, não passamos esses valores aos nossos filhos que amamos, por exemplo. Apenas replicamos irresponsavelmente. É um pouco isso que tentei mostrar.

    Liberdade de expressão é um direito fundamental humano que abarca toda a sociedade. Da liberdade do professor em sala de aula, a liberdade do artista, dos blogueiros nas redes sociais até um jovem talento que desenha para um jornalzinho de bairro. um abraço.

    Gabro

    Suas ponderaçoes sao mais interessantes do que a sua postagem original. :)
    Grosso modo concordo com o fundo da sua argumentacao e aplaudo a iniciativa de ampliar o debate sobre a liberdade de expressao. Mas acho que alguns conceitos precisam ser melhor definidos e articulados. Um exemplo apenas : o caso envolve um jornal satirico, modo de discurso que tem suas particularidades, dentre as quais um certo grau de ficcionalizaçao e o apelo ao riso ; a questao é nao apenas a “o que podemos dizer”, mas também “como podemos dizer”. (talvez valha a pena esperar a poeira baixa para analisar com calma os acontecimentos)
    Vc tem razao de apontar que a liberdade envolve responsabilidade. Por isso mesmo, a despeito das suas justificacoes, continuo achando que o exemplo do corno foi infeliz, na medida em que traz mais confusao do que luz à discussao. Estamos falando de satira ou gozaçao, deboche, humilhaçao (ou bullying, pra usar uma expressao na moda)? A discussao é complexa. Sinceramente, cada caso é um caso ; de modo geral, nao acho que o charlie seja uma especie de cqc ou pânico francês..

    abs

    Adilson

    Caro Gabro,

    permita-me uma ponderação. O exemplo foi propositalmente escolhido justamente pelo seu tom de trivialidade, para mostrar até onde vai a nossa defesa de um direito fundamental. Você tem razão, ridicularizar uma traição, de fato, por si só não é uma forma de rir da estupidez humana por trás do poder. Porém, levando-se em conta as circunstâncias mencionadas, há ali uma forma de subverter uma relação de poder. Um prato cheio para um jovem que já demonstra criatividade e talento para a arte.

    A questão central é que estamos falando de um direito fundamental, um dos pilares da Revolução Francesa, de complexidade ímpar, mas que muitos parecem tratar como se fosse o mero ato de expressar aquilo que se pensa doa a quem doer e pronto. Um direito completamente distorcido na mídia empresarial e que até um ex-presidente do STF já demonstrou sérias dificuldades em percebê-lo em toda sua abrangência.

    Tenho ouvido muitos dizerem: “Pouco importa, temos que ir até o fim, jamais nos calarão, o ser humano é livre para expressar o que bem entende, etc. ” O que o texto tenta dizer é que para falar de liberdade de expressão não bastam bravatas, tais palavras são lindas, carregadas de um sentido revolucionário e de bravura, mas eu pergunto: Será que ao dizermos isso estamos realmente conectados a realidade ou falamos apenas pelo dever de cidadão que julgamos ter de cumprir independente das circunstâncias? Será que somos mesmo tão intrépidos assim longe da tecla do computador? Será que estamos considerando a questão ética, tb fundamental?

    No meu modo de ver, não existe fórmula pronta nesse mundo, taí o fracasso das normatizações institucionais e o engessamento das cartilhas religiosas para provar. O ser humano, como muito bem diz Leonardo Boff, é tão livre que é livre para além das liberdades individuais (por mais sacrifício que essas tenham nos custado conquistar); é multidimensional, muito grande para se prender a preceitos ou dogmas, sejam eles quais forem.

    A meu ver, quando falamos em liberdade de expressão temos que tb considerar outros aspectos, e a preservação da vida é um deles. O exemplo, por mais esdrúxulo que possa parecer, é uma tentativa de reflexão para que nos coloquemos no centro do debate, não como mero opinadores mas como sujeito. Se vivêssemos numa sociedade com senso coletivista nem precisaria disso, mas não é assim. A tragédia acontece lá na França (e poderíamos até estar falando de uma favela carioca) e , sem tentar viver aquela situação, se colocar ali, vamos emitindo nossos juízos. Replicando memes como : “Prefiro morrer de pé do que de joelhos acovardado” Como assim?? Que tipo de lição isso quer passa, da bravura a qualquer preço?. Postamos isso usando a tragédia com jornalistas franceses, mas no fundo, lá no fundo mesmo, sabemos que são pouquíssimos os que tem essa postura, não é isso que a maioria sente, não passamos esses valores aos nossos filhos que amamos, por exemplo. Apenas replicamos irresponsavelmente. É um pouco isso que tentei mostrar.

    Liberdade de expressão é um direito fundamental humano que abarca toda a sociedade. Da liberdade do professor em sala de aula, a liberdade do artista, dos blogueiros nas redes sociais até um jovem talento que desenha para um jornalzinho de bairro. um abraço.

LEANDRO

Nunca li tanta bobagem num artigo só. Para coibir e punir os excessos existem as leis. O que o autor prega é que o medo vença a liberdade. Que em nome de preservarmos a segurança nos deixemos ser ameaçados por qualquer maluco. Isso é tudo que os terrorristas querem, que tenhamos medo.

Regina Fe

Perde-se a medida quando se defende uma causa como a única a ser elevada ao posto supremo. E esse tem sido o mantra da liberdade de expressão, ou melhor, da liberdade de imprensa. Tudo ok para a Liberdade, mas onde ficam a Igualdade e a Fraternidade? Os ideais da Revolução Francesa, tão preciosos, estão sendo subvertidos no mundo todo. Esse tripé ficou manco e perdeu a sustentação. Precisamos restaurá-lo, sem hipocrisias.

    Tô de Olho na oPósição

    Perfeito, Regina!!!

    Adilson

    Exatamente,Regina. Se esse mundo louco fosse pra ser levado a sério, nesse momento, não haveria dúvidas nem divisões. A luta é contra o terrorismo e ponto pacífico. Mas não, tudo, absolutamente tudo é capitalizado no cabo de guerra de forças poderosíssimas e seus interesses inconfessáveis. O símbolo e o sentido dessa tragédia seguem em disputa. As corporações midiáticas mundo afora tentam nos fazer crer que a França marcha pela liberdade de expressão, um direito fundamental que usam para sensibilizar as pessoas; pois se falarem em “liberdade de imprensa”, o que é bem diferente, é dar muita bandeira.

    Ao mesmo tempo, numa marcha “pela vida” estão presentes não só a extrema direita xenófoba como alguns de seus principais lideres, comandantes de máquinas de guerra com poder de destruição humana em larga escala. E onde esses paradoxos se unem? Em Londres, por exemplo. Sob a justificativa de combate à violência, David Cameron diz que não se importa nem um pouco em mexer nas liberdades individuais para garantir a segurança de seu povo. No domingo, colocam a liberdade de expressão como direito acima de todas as coisas. Na segunda, dizem abertamente que não há problemas em mexer em outros direitos, de acordo com as circunstâncias.

    Os donos dos poder, de Estado e empresarial (no caso a mídia). decidem, assim, como você, cidadão comum, deve ou não se indignar e em qual direção seguir. E pouco importam contradições gritantes como as citadas. Assim como também parece não importar que na Nigéria acaba de ocorrer uma das mais sangrentas carnificinas- onde alvos preferenciais foram mulheres e crianças. Talvez por que o local da tragédia não seja estratégico. A história nos mostra que o poder trabalha em cima das comoções coletivas, conduzindo as massas com a eficiência igual ou até maior que a de líderes fundamentalistas. Nesse mundo louco, nem o choro é livre.

    Na minha opinião, possivelmente perderemos uma oportunidade ímpar de, passado o impacto da tragédia, discutir talvez a única coisa que é passível de discussão, entendimento e, quem sabe, até de repactuação no mundo atual: a liberdade de expressão. Esse é um conceito absolutamente central e que impacta diretamente a vida humana em sua mais larga abrangência. Muito além do reducionismo do “poder dizer o que se pensa” ou do binarismo do “eu sou…” x “eu não sou…”. Com pesar eu digo que a humanidade caminha a passos largos para mostrar que não aprenderemos nada com esse episódio.

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