Adilson Filho: Até onde se pode ir em nome da liberdade de expressão?

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Charge do cartunista Neelabh Banerjee 

por Adilson Filho,especial para o Viomundo

Um ato terrorista bárbaro e covarde como esse é, obviamente, injustificável. O que deve ser levado em conta, a meu ver,  é o processo desencadeador desse ato, esse sim é passível de reflexão. Aliás, eu diria que é fundamental, nesse momento.

Muito mais do que ‘abraçar a lagoa’ virtualmente. Acho que não vale nem a pena, a essa altura, falar na aberração do fundamentalismo religioso, pois esse pode atacar um centro de macumba, provocar uma guerra ou chacinar em nome do imponderável.

A questão que se impõe é: Até que ponto alguém está disposto a ir ameaçando um poder em nome da liberdade de expressão? 

Podemos ainda esmiuçar essa dúvida, levando em conta a distância da vara até a boca da onça. 

Falar de uma religião é sempre complicado, até falar bem, é um terreno extremamente difícil, uma hora vai dar merda (e não há palavra melhor). Fazer críticas reiteradas e contundentes já é algo que deve-se ligar o sinal de alerta.

A zombaria já é risco máximo. Em determinados contextos, como por exemplo, um país no centro da Europa com a maior população muçulmana do continente, o perigo deixa de ser uma possibilidade para se tornar apenas questão de tempo.

Para falar de liberdade de expressão — um direito inalienável do ser humano, ao mesmo tempo de uma complexidade ímpar — não bastam bravatas, é preciso trazer a discussão para a vida real de alguma forma.

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Para ficar num exemplo simples. Imagina se seu filho tem o dom de desenhar e faz charges semanais para o jornalzinho do bairro. Daí, ele descobre que um vizinho policial de dois metros de altura está sendo traído pela mulher com o magrinho da outra rua; e tem a ‘genial’ ideia de fazer desenhos sobre o tema.

Numa semana a mulher que nem uma égua sendo currada e o marido com orelha de burro, na outra ela fazendo sexo oral e o marido chorando que nem criança na mamadeira, e por aí vai…

E, aí, você aconselharia seu filho a, em nome da liberdade de expressão, seguir na sua missão de fazer o bairro rir e não desistir? Ou, preferindo vê-lo vivo, o desencorajaria na hora?

Será que desencorajando-o você se consideraria um fracassado por cercear a liberdade de expressão do menino ou um pai prudente e amoroso que salvou a vida do filho?

Posso estar redondamente enganado, mas penso que não existe fórmula pronta nesse mundo; pensamento binário, “oito ou oitenta” é só nas redes sociais.

Na vida real, tudo muda e, as vezes, a liberdade de agir com sabedoria pode ser mais importante do que o aprisionamento em dogmas universais, por mais valiosos que esses possam ser.

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