Altamiro Borges: Atentado fortalece fascismo europeu

Tempo de leitura: 3 min

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Atentado fortalece o fascismo europe

por Altamiro Borges, em seu blog

O atentado terrorista à sede da revista Charlie Hebdo, na manhã desta quarta-feira (7), em Paris, gera ainda maiores temores sobre o futuro do velho continente.

A onda fascista que contagiou a Europa nos últimos anos, em decorrência da grave crise econômica, tende a ganhar maior impulso – com o fortalecimento de organizações racistas e xenófobas, o crescimento de grupos paramilitares e as vitórias eleitorais dos partidos da direita.

Ainda sem a confirmação da autoria dos responsáveis pelo crime, a acusação já recai sobre os grupos fundamentalistas islâmicos. A perseguição à comunidade mulçumana, numa região já contaminada pelo ódio e o preconceito, deve crescer. O fascismo ronda a Europa.

Segundo as agências de notícia, 12 pessoas foram covardemente assassinadas, entre chargistas de renome, jornalistas e dois policiais.

Elas foram alvejadas por homens encapuzados, armados com fuzis AK-47, que invadiram o prédio da Charlie Hebdo – revista que ficou famosa por publicar charges agressivas e irreverentes contra Maomé e o islamismo.

O diretor da publicação, Stéphane Charbonnier, conhecido com Charb, foi um dos mortos.

Ao lado dele, também morreram os cartunistas Cabu (Jean Cabut), Tignous (Bernard Verlhac) e Wolinski (Georges Wolinski). Além dos 12 assassinados, cerca de dez pessoas ficaram feridas, quatro delas em estado grave.

O atentado gerou forte comoção na França. Em várias localidades ocorreram manifestações contra o terrorismo e a intolerância. Os participantes carregaram cartazes com a frase “Je Suis Charlie” (Eu sou Charlie).

Em Paris, o protesto foi convocado por sindicatos e partidos políticos e reuniu milhares de pessoas na Praça da República, próxima ao local do atentado. Em Nice, uma multidão também ocupou as ruas. François Hollande, o desgastado presidente da França, decretou luto oficial e prometeu rigor na apuração e prisão dos responsáveis pela ação criminosa.

Também ocorreram manifestações de solidariedade às vítimas do terror na Inglaterra, Holanda, Bélgica, Kosovo, Suécia, Dinamarca e Espanha.

A presidenta Dilma Rousseff enviou mensagem ao governo francês. “Foi com profundo pesar e indignação que tomei conhecimento do sangrento e intolerável atentado terrorista ocorrido nesta quarta-feira contra a sede da revista Charlie Hebdo, em Paris. Esse ato de barbárie, além das lastimáveis perdas humanas, é um inaceitável ataque a um valor fundamental das sociedades democráticas – a liberdade de imprensa. Nesse momento de dor e sofrimento, desejo estender aos familiares das vítimas minhas condolências. Quero expressar, igualmente ao presidente Hollande e ao povo francês a solidariedade de meu governo e da nação brasileira”.

Os governos dos EUA, Rússia e Alemanha, entre outros países, também repudiaram o atentado. Já o Papa Francisco classificou a ação como “uma dupla violência” – contra a vida humana e a liberdade de expressão.

As notas mais emblemáticas, porém, partiram do próprio mundo islâmico.

A Universidade de Al Azhar, a segunda mais antiga do mundo e principal autoridade do Islã sunita, destacou a “extrema gravidade” do crime. Já o Conselho Francês do Culto Muçulmano, instância representativa dos muçulmanos na França, alertou: “Num contexto político internacional de tensões, alimentado por delírios de grupos terroristas que se aproveitam injustamente do Islã, apelamos a todos os que estão associados aos valores da República e da democracia para que evitem as provocações, que apenas servem para jogar gasolina no fogo”.

Ainda é difícil prever os desdobramentos deste trágico episódio. Mas, como alerta o professor de história Henrique Carneiro, em artigo no site Opera Mundi, ele será explorado ao máximo pelos grupos fascistas. “Com dezenas de milhares indo às ruas da Alemanha contra a ‘islamização da Europa’ e a extrema-direita francesa de Marine Le Pen crescendo eleitoralmente, os assassinos de Paris não só atingiram vidas humanas e a liberdade de expressão como contribuem para a polarização entre dois tipos de fundamentalismo: o islâmico e o neofascista”. Ele prevê que o atentado desta quarta-feira dará ainda mais força ao fascismo, que “é a forma contemporânea da máxima opressão, exploração e intolerância”.

Conforme observa, esta corrente extremista vem tomando diversas formas na Europa e cresce de maneira vertiginosa.

“Há um fascismo católico, como foi o espanhol e como é o do terrorista norueguês Breivik. Há um fascismo pagão e de inspiração até mesmo de uma leitura enviesada do hinduísmo, como foi o de Hitler. Há um fascismo evangélico. Há um fascismo judeu. E há um fascismo islâmico, que se alimenta da insatisfação dos imigrantes discriminados na Europa, mas que tem como financiadores as fortunas bilionárias do petróleo saudita ou de outros lugares… Os maiores atentados terroristas na Europa foram feitos por um fascista católico como Breivik na Noruega, por fascistas islâmicos na Espanha, e agora na França, e por fascistas cristãos ortodoxos na derrubada do avião holandês sobre a Ucrânia… O ano de 2015 começa mal”.

Leia também:

Gerson Carneiro: Cuba está infestada de coxinhas brasileiros


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Comentários

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Leonardo

Eu não sei que vontade é essa que vocês tem de falar besteira e sempre escolher o lado errado…

Edgar Rocha

Há uma máxima cristã que, se me permitem citá-la, seria muito apropriada para reflexão, dado seu teor político e estratégico, sob o ponto de vista de uma consciência do jogo que se instala durante um conflito. Disse o Cristo: “Satanás não expulsa Satanás”. Seria o equivalente a dizer: não confie em tudo que vê, não aceite o jogo de imagem com tanta facilidade. Tal premissa é o que há de mais sofisticado no entendimento da realidade.

Há dúvidas, por exemplo, quanto a natureza do atentado de 11 de setembro. Este ocorrera, segundo consta de certas análises, que teria sido uma corda salvação para o Governo Bush, no momento em que este estaria prestes a sofrer um impeachment sob acusações gravíssimas. Os EUA se uniram em torno da dor e do medo, disposto a acreditar na mais óbvia das mentiras pregadas pelo governo, sem grandes questionamentos: a de que o Iraque seria responsável pelo ataque e que possuía armas de destruição em massa. Enfim, uniu-se o útil ao agradável, sob o ponto de vista de Bush. Vale lembrar que até mesmo frases de cunho religioso foram usadas pelo governo americano para justificar a invasão ao Iraque e que, no momento posterior ao ataque, Bush mandou resgatar os membros da família Laden nos EUA e mandá-los de volta à Arábia Saudita. Eram parceiros empresariais tão intimamente ligados que eram tratados como família Bush-Laden pelos que conviviam com este círculo fechado da indústria de armas.

Agora, com a atual crise na França, com o governo francês alquebrado por acusações, com a direita sendo questionada pela opinião pública em toda a Europa e sobretudo, com o surgimento de uma nova força aglutinadora na Região, capaz de dar voz aos descontentes de todo o continente – o Podemos – mais um atentado chocante contra figuras tão emblemáticas para os franceses quanto as Torres Gêmeas para os EUA vem em socorro dos que já se banham na bacia das almas. O mote para a justificativa de um crescimento à direita não poderia ser mais hipócrita: o desagravo ao atentado contra a liberdade de expressão! Quem acredita? Retomando á máxima cristã: ora amigos, bem pensem bem. Satanás não expulsa Satanás!

Carlos J. R. Araújo

O atentado e os homicídios praticados na revista francesa, evidentemente, não têm conteúdo nem inspiração política ou ideológica. A única justificativa é de caráter religioso. E aí, creio que, neste particular, uma frase do polêmico escritor francês Michel Houellebec permite a compreensão adequada: “O Islã é a mais estúpida de todas as religiões”.

    alexandre de melo

    se um mulsumano matar um nao mulsumano isto nao é pecado.
    corao.

    islã quer dizer submissão
    quem não submeter morre.

Marcos Machado

“Ainda sem a confirmação da autoria dos responsáveis pelo crime, a acusação já recai sobre os grupos fundamentalistas islâmicos”

Você estava dormindo ou está apenas ignorando os testemunhos já confirmados por conta de suas posições ideológicas, camarada? A autoria JÁ foi definida e eles SÃO mulçumanos, e eles atacaram esta revista por conta de seu fundamentalismo religioso. Tem limite até pra tudo, meu filho, até pra suas posições ideológicas.

Andre

O chamado ‘fundamentalismo islâmico’ não tem suas raízes na religião mulçumana, mas no nazismo. Os impérios islâmicos da idade média acolhiam todas as religiões em seu interior(inclusive judeus que estavam em situação melhor nos impérios islâmicos do que na Europa medieval), sem qualquer tipo de perseguição ou fanatismo. Amin al-Hussein, o mufta (lider religioso) de Jerusalém na década de 1930, colaborou com o nazismo, recrutando mulçumanos da Bósnia para fazer parte das Wafen-SS.A irmandandade mulçumana, também formada na década de 1930 por um parente de al-Hussein também colaborou com o nazismo. Há um video em que adeptos do estado islâmico afirmam sua lealdade ao seu califa fazendo a saudação nazista.
Os neofacistas europeus e os nazi-islamitas são dois lados da mesma moeda. A retórica anti-mulçumana do neofacismo europeu coloca em risco a população mulçumana pacífica da Europa, da mesma forma que o Estado Islamico faz nos territórios árabes.
Além dos elementos históricos, os indicios da colaboração e complementariedade são muito claros, para além da retórica cujo único objetivo é espalhar o ódio ( a retórica é a mesma dos ‘dois’ lados!). Ha uma identidade estratégica: Os neofascistas europeus querem fundar um império ‘etnicamente’ puro na Europa, o mesmo que os fanáticos islamitas querem na região mulçumana. Há uma identidade tática: O atentado tem todas as características de uma ação de ‘lobo solitário’. Essa estratégia foi criada por um supremacista branco dos EUA na década de 1980. O objetivo é fazer parecer que se trata de uma ação isolada, de alguém sem nenhum tipo de ligação com qualquer grupo, para preservar o grupo. É bom lembrar, já que o nazi norueguês Brevik foi citado, que em uma carta na prisão ele defendeu a colaboração entre nazis e jihadistas(artigo de Robert Spencer no Jihad Watch, de 1 de dezembro de 2014).
Em resumo a Frente Nacional e os neofascistas ganham com isso, o Estado islâmico e o nazijihadismo também. Isso vêm em um momento em que O movimento anti-imigração PEGIDA, ligado a extrema direita, cresce na Alemanha (!!!!) e pela primeira vez uma partido da extrema direita européia, a Frente Nacional francesa, tem reais chances de chegar ao poder em um Estado grande e forte(já estão na UCrânia). Foi uma operação planejada “em rede”, acertada entre os dois grupos??? Não há como saber, mas é uma hipótese plausível.

Lukas

Interessante que o tom da imprensa progressista sobre os atentados é o mesmo. Longe de destacar a bárbarie ocorrida, os textos, antes mesmo do enterro das vítimas, já trata dos possíveis desdobramentos contra os muçulmanos europeus, desde já criticando os extremistas europeus (brancos e de olhos azuis, de preferência). Ontem Mário Magalhães no UOL (replicado pelo Conversa Afiada) foi pelo mesmo caminho.

Agora, aguardar os comentaristas de Viomundo que, pela minha experiência, ou vão relativizar o atentado (geralmente chegam até as Cruzadas), ou vão iniciar teorias da conspiração sobre quem realmente teria cometido os atentados.

Espero não me decepcionar.

    Viviane

    Claro, porque, para você, imparcial mesmo deve ser a globo e sua cobertura focada no “atentado à liberdade de expressão”. O malabarismo feito para esconder que a Charlie Hebdo e seus cartunistas são de esquerda é tão grande (e patético) que, no Jornal Hoje (ontem, 08/01), mostraram o diretor da publicação citando uma das mais conhecidas frases de Che Guevara (“Prefiro morrer de pé a viver de joelhos”.), sem mencionar o autor da frase! Mas, diferente dos blogueiros progressistas, a globo certamente sumirá com esse vídeo em pouco tempo…

FrancoAtirador

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Destino Manifesto e os Novos Velhos Tempos Sombrios no Ocidente

Evidente que a Cruzada Judaico-Cristã Ocidental contra o Islamismo

não ficaria sem resposta no Terceiro Milênio ‘depois de Cristo’.

A Fascistização Fundamentalista é o Retorno à Barbárie Medieval.
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    FrancoAtirador

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    CHOQUE DE BARBARISMOS:

    A GUERRA AO TERROR

    E O TERROR DA GUERRA

    (http://resistir.info/mreview/barbarie.html)
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    FrancoAtirador

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    AOS QUE VIRÃO DEPOIS DE NÓS
    (Bertolt Brecht)

    Eu vivo em tempos sombrios.
    Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez,
    Uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
    Aquele que ainda ri
    É porque ainda não recebeu a terrível notícia.
    Que tempos são esses,
    Quando falar sobre flores é quase um crime,
    Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?

    Aquele que cruza tranqüilamente a rua
    Já está então inacessível aos amigos
    Que se encontram necessitados?
    É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
    Mas acreditem: é por acaso.
    Nada do que eu faço
    Dá-me o direito de comer
    Quando eu tenho fome.
    Por acaso estou sendo poupado.
    (Se a minha sorte me deixa, estou perdido!)

    Dizem-me: “Come e bebe! Fica feliz por teres o que tens!”

    Mas como é que posso comer e beber,
    Se a comida que eu como,
    Eu tiro de quem tem fome?
    Se o copo de água que eu bebo,
    Faz falta a quem tem sede?
    Mas, apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.

    Eu queria ser um sábio.
    Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
    Manter-se afastado dos problemas do mundo
    E sem medo passar o tempo
    Que se tem para viver na terra;
    Seguir seu caminho sem violência,
    Pagar o mal com o bem,
    Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
    Sabedoria é isso!
    Mas eu não consigo agir assim.

    É verdade, eu vivo em tempos sombrios…

    Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
    Quando a fome reinava.
    Eu vim para o convívio dos homens
    No tempo da revolta
    E me revoltei ao lado deles.
    Assim se passou o tempo
    Que me foi dado viver sobre a terra.
    Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
    Deitei-me entre os assassinos para dormir,
    Fiz amor sem muita atenção
    E não tive paciência com a Natureza.
    Assim se passou o tempo
    Que me foi dado viver sobre a terra.

    Vocês, que vão emergir das ondas em que nós perecemos,
    Pensem, quando falarem das nossas fraquezas,
    Nos tempos sombrios de que tiveram a sorte de escapar.
    Nós existíamos através da luta de classes,
    Mudando mais seguidamente de governos que de sapatos,
    Desesperados!
    Quando só havia injustiça e não havia revolta.

    Nós sabemos:
    O ódio contra a baixeza
    Também endurece os rostos!
    A cólera contra a injustiça
    Faz a voz ficar rouca!
    Infelizmente, nós, que queríamos preparar
    O caminho para a amizade,
    Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.

    Mas vocês, quando chegar o tempo
    Em que o humano seja amigo do humano,
    Pensem em nós com um pouco de compreensão.

    (http://www.viomundo.com.br/politica/aninha-zortea-como-esse-moco-quer-chegar-algum-dia-ao-poder.html)
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    FrancoAtirador

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    A GUERRA SANTA NA IMPRENSA

    Entender o atentado de 7 de janeiro, um dos mais graves já ocorridos na França,
    apenas como um ataque à liberdade de expressão é uma meia verdade
    e envolve um grande risco político de interpretação.

    A sátira ao Islã nas páginas do Charlie Hebdo
    dava-se a partir de uma leitura progressista,
    de rejeição ao conservadorismo clerical,
    diretamente alinhada a posições tradicionais do semanal
    contra o sionismo, o fascismo, o imperialismo e o capitalismo.

    A liberdade de expressão de Charb, Cabu, Wolinski e a equipe do Charlie Hebdo
    era um meio para um posicionamento político radicalmente democrático
    e profundamente progressista, na tradição da extrema-esquerda francesa.

    O risco de interpretar o atentado como meia verdade é alimentar ainda mais
    um dos principais oponentes do semanal satírico, o fascismo europeu,
    e fomentar a polarização entre os extremistas de direita e do Islã.

    Não indicar os assassinatos de Paris como um atentado à extrema-esquerda
    – e simplesmente contra a sociedade ocidental e a liberdade de expressão no abstrato –
    abre espaço para fortalecer aquilo que os jornalistas
    do Charlie Hebdo mais repudiavam: a extrema-direita.

    E, como dizia Charb:

    “a Frente Nacional [de Le Pen] e o fascismo islâmico são da mesma seara
    e contra eles não economizamos nossa arte”.

    boitempoeditorial.files.wordpress.com/2015/01/marx-manual-de-instruc3a7c3b5es_sarkozy.jpg

    (http://blogdaboitempo.com.br/2015/01/07/atentado-contra-a-extrema-esquerda-na-franca)
    .
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    Marcos Machado

    “MENAS”, colega. “MENAS”.

Tomudjin

Ou esses terroristas contemporâneos resolveram definitivamente não mais se auto-explodir ou a coisa vai sobrar para algum garí, do qual será “encontrado intacto” o seu passaporte, em meio aos destroços.

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