João Paulo Rillo: Presidente, a elite financeira não tem limites. Todo cuidado é pouco. Orai e vigiai, Luiz Inácio

Direito à felicidade

Por João Paulo Rillo*

Logo a após a vitória de Lula, muitas pessoas me perguntaram se eu estava feliz. Eu respondi que estava mais aliviado do que feliz.

Aliviado por termos interrompido um ciclo trágico que só promoveu violência, desmonte do estado de bem-estar social e sofrimento agudo para a classe trabalhadora mais precarizada e excluída.

Aliviado por saber que um monstro não governaria o país por mais quatro anos e que um grande líder, sensível e habilidoso tiraria, mais uma vez, o país do mapa da fome.

Feliz eu vou ficar quando o país voltar a promover desenvolvimento social, humano e cultural. Quando voltar a gerar bons empregos, distribuição de renda e estado de bem-estar financiado com justiça tributária.

Vou ficar muito feliz quando o Ministério da Saúde enfrentar os que atentaram contra a vida e retomar investimentos na saúde básica e preventiva. Quando o governo recuperar a unidade nacional do SUS.

Vou gargalhar de felicidade quando o Ministério da Educação lançar um programa sério de avaliação e acompanhamento da educação básica em todo o país e exigir dos governantes municipais e estaduais respeito aos educadores e suas conquistas.

Quando o governo lançar uma campanha nacional para zerar o analfabetismo e o déficit de vagas em creches, além de tantas outras ações fundamentais na área da pesquisa, ciência e tecnologia.

Vou comer uma bomba de chocolate quando for anunciado a volta do programa Minha Casa Minha Vida, só que, dessa vez, mais distante das empreiteiras e especuladores imobiliários e mais próximo dos movimentos populares de moradia e do desenvolvimento urbano sustentável e includente.

Quero explodir de felicidade e abrir uma cerveja gelada para comemorar o retorno dos pontos de cultura e a reconstituição da nossa histórica bandeira por um sistema único de cultura no país inteiro.

Porque junto com a barriga cheia, saúde bem cuidada, emprego digno, boa educação para nossos brasileirinhos, nós queremos poesia na veia, samba, folia de reis, hip hop, respeito à diversidade, liberdade religiosa e acesso livre à diversão e arte em qualquer parte.

Necessitamos resgatar urgentemente nosso direito à felicidade!

Não a felicidade rebaixada de cliente iludido com anúncio de ofertas e liquidação, como se o Estado fosse um supermercado.

O Estado tem que ser o organizador de civilidades e afetos, o garantidor de direitos. O cidadão brasileiro não é cliente do Estado, ele é a razão de sua existência, o seu dono.

Governo bom é aquele que promove sentimento de pertencimento e identidade com seu povo.

É dever do novo governo preservar a memória coletiva do país e não esquecer o que a história recente mais uma vez nos ensinou: a elite financeira nacional é perversa e não tem limites. Todo cuidado é pouco. Orai e vigiai, Luiz Inácio.

A luta pela civilidade e preservação de valores democráticos é incessante e o direito à felicidade só se consolidará com memória e justiça.

Pelas 700 mil mortes na pandemia, por aqueles que voltaram a passar fome, pelos pobres assassinados pela polícia de estado, pelas negras e negros expostos a uma condição de violência e preconceito, pelas mulheres trans assassinadas, por todos LGBTS sufocados, por Marielle e tantos mais, não esqueceremos e nem perdoaremos os algozes da humanidade.

Lula, eles não podem voltar.

Você já fez muito pela democracia e pela paz entre os povos, mas o seu retorno à Presidência da República não foi uma mera coincidência histórica. Seu principal legado nessa quadra é derrotar o fascismo patriótico nas urnas e nas ruas.

Não queremos perseguições nem vingança, queremos justiça.

Jair Messias precisa ser investigado, processado e condenado por todos os seus crimes contra o povo brasileiro e toda a humanidade. Isso será pedagógico para nossa tarefa de reconstrução dos afetos nesse país.

Compreendo e concordo em grande parte com a tática de composição ampla de governo. Foi a frente ampla que nos garantiu a vitória eleitoral, natural, portanto, que ela também governe, com todas as suas contradições.

No entanto, temos pontos caros e estratégicos dos quais não podemos abrir mão, entre eles está o direito à memória, à justiça e à felicidade.

Estamos com você, presidente Lula!

*João Paulo Rillo é vereador em Rio Preto e presidente do PSOL-SP.

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