João Paulo Rillo: No caos em que o país se encontra, é urgente ampla unidade da centro-esquerda contra o fascismo

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Por João Paulo Rillo

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Nem tudo que reluz é ouro

Por João Paulo Rillo*

O lançamento da pré-candidatura do companheiro Glauber Braga à Presidência da República cria uma saudável movimentação interna no PSOL.

Estabelece catarse e mexe com o imaginário psolista de se constituir como alternativa da esquerda nacional.

Inflama uma torcida apaixonada, voltada para si mesma, que pouco se importa se o time está ganhando ou perdendo, quer vestir a camiseta e ir pro estádio xingar o juiz, enfrentar a torcida adversária e morrer abraçada com seus ídolos.

Isso é bonito e ajuda a compor a nossa alma partidária com diversidade, magia e liberdade.

Esse foi o efeito impactante do lançamento da pré-candidatura do Glauber dentro do PSOL.

Qual o impacto desse gesto político para além das muralhas partidária?

Hoje, na real política, quase nenhum.

Ainda não consigo decifrar com precisão os cálculos políticos feitos pelo deputado com esse lançamento.

Mas é nítido que o gesto serve de instrumento para a disputa interna pela qual vai passar o PSOL com a realização do congresso nacional em setembro.

E a tese da candidatura própria ajuda muito a autoconstrução das correntes internas com as quais Glauber nunca se identificou.

É um jogo legítimo de minoria.

Não esperem de mim ataques ou críticas no sentido de considerá-los oportunistas, ou fazer ilações sobre seus cálculos eleitorais.

Glauber não é um oportunista. É, sim, um centroavante ligeiro, gosta do jogo jogado e não perde a oportunidade de ir para cima da defesa adversária.

Glauber é um craque, um ser humano repleto de sonhos sinceros e audaciosos.

Se insatisfeito com as regras, não titubeia, joga com a torcida, mesmo que pequena, e vai para cima da arbitragem com coragem – quem não se lembra do que ele fez com o Eduardo Cunha na votação do impeachment da Dilma e com o finado juiz de primeira instância de Curitiba em seu depoimento na Câmara dos Deputados?

Glauber é um guerreiro, um militante que todos nós estimamos e admiramos.

Vamos aos efeitos e desdobramentos internos esperados pelos grupos que dão suporte ao lançamento da candidatura do deputado federal carioca, que é muito conhecido no espectro da militância de esquerda e absolutamente desconhecido para a grande massa de trabalhadoras e trabalhadores do Brasil.

Ah, mas o Plínio, a Luciana e o Boulos também eram desconhecidos da grande massa quando os lançamos.

Sim, é verdade. E foram importantes para a construção partidária e, principalmente, para fazer um contraponto pela esquerda ao projeto petista.

No entanto, 2022 nada tem a ver com 2010, 2014 ou 2018, mesmo depois de um impeachment e da prisão do Lula.

Em 2018, até nossos intelectuais e analistas preferidos profetizavam que Bolsonaro perderia para qualquer um no segundo turno.

A tática das correntes minoritárias é criar uma falsa polêmica em torno de ter ou não candidatura própria.

Mas esse debate não está posto no momento, ainda estamos na fase de vários ensaios e intensas conversas bilaterais sobre a necessidade de unificação de parte da esquerda e de centro-esquerda.

A direção nacional do PSOL tem se esforçado muito e feito gestos e conversas no sentido de estabelecer desde já uma mesa permanente de diálogo nesse campo. Embora seja imprescindível, não é uma tarefa fácil.

Dois sentimentos dessemelhantes dão base aos argumentos de defesa da candidatura própria.

Um ainda muito influenciado pelo antipetismo e pelos ventos lavajatistas do sul.

Uma espécie de udenismo do século 21 em que a moral se coloca como referência suprema da ação política.

Para impor essa linha, criam um inimigo imaginário para unificar suas bases, o ex-presidente Lula.

Alarmam que, ao apoiar Lula, o PSOL estará em perigo eminente, se sujará e virará ‘puxadinho do PT igual o PCdoB’.

Desrespeitam possíveis aliados e demonstram a inépcia para dirigirem o partido rumo a uma frente ampla de centro-esquerda para derrotar os fascistas e os ultraliberais.

Esse argumento não é assumido publicamente pelas principais lideranças dessas correntes. Mas a gente sabe e vê que, internamente, as lideranças intermediárias desses agrupamentos tocam o terror ideológico na turma.

O outro sentimento, com mais política e razoabilidade, é o de que a candidatura própria ajudaria a fortalecer o PSOL em uma mesa de negociações.

Isso faria sentido se a conjuntura política fosse outra e se existisse correlação mínima de forças entres os diversos candidatos do nosso campo (como é o caso do estado de São Paulo, entre Boulos e Haddad).

Não é impondo uma candidatura própria que vamos conseguir estabelecer essa mesa de conversa e avançar em um programa mínimo que unifique o máximo de partidos e forças progressistas possíveis.

Se esse fosse o melhor método, as direções nacionais do PCdoB e PSB já teriam lançado figuras com muito mais densidade eleitoral, como Flavio Dino e Ricardo Coutinho, para forçar o PT e o Lula a fecharem um programa mínimo e alianças estaduais.

O argumento de que é necessária uma candidatura que radicalize no programa para se diferenciar do candidato petista é de um internismo e sectarismo sem limites.

Lembra-me uma reflexão do dramaturgo alemão Bertold Brecht que tanto denunciou o nazismo: “E, na lama, ver uma clara diferença entre argila e marga não convém”.

Dizer que não é possível apoiar o Lula porque ele está conversando com setores da direita me soa como uma confissão de culpa atrasada.

Nessa lógica, não deveríamos ter apoiado o Lula nunca, já que ele sempre conversou com todos os setores ideológicos desde 1975. Essa observação está com pelo menos 45 anos de atraso.

Não se trata aqui de fazer adesismo à candidatura Lula ou de engavetar todas as críticas que temos – e devemos expô-las – em relação aos governos petistas.

Há uma urgência histórica e imperativa para a qual não cabem vacilos e relativizações de nenhum segmento minimamente progressista e democrático: defender uma ampla unidade da centro-esquerda contra um fascismo de estado que caminha a passos largos.

O bolsonarismo se mostra uma força cristalizada e estável, tem base social de apoio e muito provavelmente chegará ao segundo turno. Dificilmente será impedido, por mais importante e necessário que seja o funcionamento da CPI da pandemia.

No meio do caos em que se encontra o país, sem poder oferecer resistência nas ruas, colocar os carros na frente dos bois e tentar criar profunda diferenciação no campo progressista parece mais um impulso secundarista do que uma posição de quem quer se colocar como um partido maduro e preparado para dirigir o estado em suas esferas.

Glauber pode até ser o nosso candidato a Presidente da República se o tempo e a conjuntura nos mostrarem que não vale a pena a unificação em torno do nome mais forte e agregador do nosso campo, o ex-presidente Lula.

E se o PT se mostrar pequeno e prepotente a ponto de não discutir um programa mínimo e não construir candidaturas majoritárias estaduais que garantam a diversidade e o fortalecimento dos partidos aliados e de uma frente ampla de atuação não apenas na eleição, mas principalmente depois dela.

Pode acontecer uma posição equivocada do PT e do Lula que leve ao desmonte de uma frente de centro-esquerda?

Pode. Se acontecer, nós não sucumbiremos à prepotência e ao hegemonismo obtuso de quem quer que seja.

Mas o momento dessa avaliação ainda não chegou. E todos nós, sem exceção, sabemos disso.

A precoce pré-candidatura do companheiro Glauber Braga em nada contribui com o esforço da direção nacional do PSOL em construir unidade no campo progressista.

Mas ela serve para criar falsas polêmicas e facilitar a conquista de dividendos políticos para as forças minoritárias na disputa do congresso do partido.

Isso tudo é legítimo, faz parte do jogo interno.

Mas também é legítimo expormos nossa leitura política sob a luz dos fatos.

Vamos ao congresso partidário!

Viva a democracia interna do PSOL!

*João Paulo Rillo é vereador do PSOL

 

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João Paulo Rillo

Vereador em Rio Preto e presidente do PSOL-SP.


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Zé Maria

“STF retoma na quarta-feira Julgamento
da Suspeição do ex-juiz Sergio Moro

[ Reportagem: Severino Goes | ConJur ]

O Supremo Tribunal Federal deverá concluir nesta quarta-feira (23/6) o julgamento sobre a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro.

O ministro Marco Aurélio havia interrompido o julgamento com pedido de vista mas devolveu os autos, em 30 de abril, para julgamento .

O Plenário da corte já formou maioria para manter a decisão da 2ª Turma que declarou Moro suspeito para julgar o ex-presidente Lula no caso do tríplex do Guarujá (SP).

Apenas o decano [Marco Aurelio Mello] e o ministro Luiz Fux [Presidente do STF] ainda não apresentaram seus votos.

Gilmar Mendes proferiu o voto que prevaleceu. Ele considerou que a declaração de incompetência da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba para julgar Lula não prejudicaria o julgamento sobre a suspeição do seu antigo juiz titular, já que teria efeitos mais amplos. A suspeição anularia os atos processuais, por exemplo, enquanto a declaração de incompetência da vara possibilita a manutenção desses atos caso sejam ratificados pelo novo juiz.

O voto de Gilmar já ganhou apoio dos ministros Nunes Marques, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Rosa Weber, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski.

Ficaram vencidos os ministros Luiz Edson Fachin, relator do caso, e Luís Roberto Barroso. Fachin considerou que o processo deveria ser extinto, já que a análise de suspeição deveria ocorrer antes da de incompetência. Já Barroso entendeu que o julgamento da 2ª Turma seria nulo após o relator ter extinguido o processo.

A inclusão do tema na pauta de julgamento ocorre após pedido de Lula, feito no final de maio. A defesa do ex-presidente apontava demora na conclusão do julgamento, já que Marco Aurélio havia devolvido os autos no dia 29/4. Assim, o julgamento vai se encerrar antes da aposentadoria do decano, marcada para 12 de julho.

HC 193.726:
(https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6043118)

https://www.conjur.com.br/2021-jun-21/stf-julga-suspeicao-ex-juiz-sergio-moro-quarta-feira-236

Zé Maria

.
Não temos inimigos mortais como o Miliciano-Mor Bolsonaro.
.
https://pbs.twimg.com/media/E1Yh95RWQAI3waE?format=jpg

“Segundo o boletim médico, o quadro de saúde
do prefeito Bruno Covas é tão grave
que já seria irreversível.
Nossa total solidariedade aos amigos e familiares.
Desejamos muito força nesse momento dramático.”

Vereador Celso Giannazi (PSoL=SP)
https://twitter.com/CelsoGiannazi/status/1393343684054237188

“Minha solidariedade ao prefeito Bruno Covas,
que teve nova piora no seu estado de saúde.
Que a família tenha a força e resiliência
neste momento difícil.”

Deputado Federal Paulo Pimenta (PT=RS)
https://twitter.com/DeputadoFederal/status/1393344047310311425

“Dada a notícia de irreversibilidade da condição de saúde
do prefeito Bruno Covas, transmito a todos a minha tristeza,
oração a Deus, vontade que possa ainda ocorrer um milagre
para que ele se recupere plenamente.”

Eduardo Suplicy
Eterno Senador, hoje Vereador (PT=SP)
.

    Zé Maria

    E a Globo tirando lasquinha Político-Partidária do Falecimento do Prefeito Tucano de São Paulo.
    Agora mesmo é que os Neoliberais vão tratorar
    o Povo Paulistano, Paulista e Brasileiro.

    Zé Maria

    .
    A Mídia Venal é Anti-Ética, Pervertida e Amoral.

    Utilizar-se da Idade do Prefeito de São Paulo que faleceu novo (41), para fazer Propaganda Subliminar de Políticos Jovens (Huck?) e
    agora do Vice-Prefeito Demo-Tucano falando que esse Fulano que
    assumirá a Titularidade do Cargo, afirma que é ‘Conservador’, que
    é a favor do projeto de Escola Sem Partido, que luta contra a tal
    ‘ideologia de gênero’ (leia-se: “Machista” “contra a Diversidade”),
    tudo isso para ao final afirmar que é ‘de centro’, não de Direita,
    é de uma Desfaçatez e Falsidade sem tamanho.

    Lamentar a Morte de Bruno Covas é um Dever Humano.
    Mas se aproveitar do fato para tentar mudar a Realidade,
    como estão fazendo os Veículos Jornalísticos Neoliberais,
    é Indecente e Ultrajante mesmo à Memória do Falecido.

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