Paulo Sergio Passarinho polemiza sobre a “narrativa” da soberania brasileira
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por Paulo Sergio Passarinho, no Facebook, recomendado por Milton Temer no twitter
Nessa era da chamada pós-verdade, não é gratuito, me chama atenção a frequência com que se passou a utilizar o termo “narrativa”, para a caracterização do que sempre foram as versões para fatos históricos e políticos.
De qualquer forma, sendo a “narrativa” um termo oriundo da literatura, incluindo a ficcional, nada mais lógico ou corrente nesses tempos de “pós-verdade”.
Um dos exemplos de “narrativa” que mais me impressiona é aquela que procura apresentar a operação lava-jato como uma mera conspiração do imperialismo estadunidense contra a “política externa progressista” dos governos pós 2002 e os interesses nacionais.
A propósito, reproduzo abaixo ponderações feitas por mim, aqui mesmo no face, a um amigo que postou matéria de um grupo autodenominado “jornalistas livres”, onde essa “narrativa” lulista é difundida.
Minha resposta:
“não deixa de ser salutar setores ainda iludidos com o lulismo passarem a denunciar e alertar as ações do imperialismo estadunidense. Mas, a crítica deve ser mais aprofundada e evitar simplismos que mais confundem do que esclarecem. Não há dúvidas do faccionismo da turma do Sérgio Moro e dos procuradores de Curitiba. É mais do que plausível o “apoio” que essa turma tenha tido dos states.
Mas, cá pra nós, querer colocar os governos de Lula e Dilma como meras vítimas de um complô internacional, reforçando imposturas como a tal “política externa soberana” não resiste a fatos bem objetivos.
Inicialmente, somente a ciência política instrumentalizada pelo oportunismo político pode desvincular as opções de política econômica adotadas por um país, dos contornos e objetivos de sua política externa.
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Desse modo, considerando que os governos pós 2002 mantiveram a política de liberalização financeira e de integração subalterna do país no jogo global, como defender a tal soberania da política externa?
Mas, muito além de considerações conceituais, temos exemplos: a nomeação de Meireles como presidente do Bacen, em Washington, logo após uma reunião da cúpula do PT com o secretário de tesouro norte-americano; o envio de tropas brasileiras ao Haiti; o boicote do governo brasileiro à moratória argentina; a oposição do governo brasileiro às propostas mais avançadas da Unasul, em especial ao projeto do Banco do Sul e à Telesur; o impedimento à própria veiculação da Telesur em canais abertos, no nosso país; o restabelecimento de um acordo militar com os EUA, pelo governo de Lula; as posições do Brasil — sustentadas pelos ministérios da agricultura e da indústria, comércio e desenvolvimento — no âmbito das negociações da OMC, extremamente flexíveis frente às exigências dos paises centrais de abertura dos mercados industrial, de comércio, de serviços e de compras governamentais, e na contramão das posições da maioria dos países do chamado grupo 77, reunindo os países em desenvolvimento.
Esses são exemplos cristalinos que colocam em xeque a tal soberania da política externa lulista.
Isso não significa que a política DIPLOMÁTICA brasileira não tenha tido contornos próprios e progressistas.
Mas, com quais objetivos? Fundamentalmente, ampliar nossos saldos comerciais, através de “players” com a cor verdeamarela, os mal designados “campeões nacionais”.
Uma politica de apoio a multinacionais brasileiras que, no âmbito da América Latina, por exemplo, atropelou a proposta de integração defendida pelos bolivarianos, além de deixar um passivo negativo nos nossos países vizinhos, em termos financeiros, políticos e ambientais.
A própria superestimacao da proposta dos BRICS e do papel exercido pelo Brasil nessa aliança estratégica deve ser entendida de forma cuidadosa e crítica.
Afinal, é somente examinar os números, que veremos o quanto a China e seus “negócios” têm evoluído na África e na América Latina, a partir das “cabeças de ponte” fincadas na África do Sul e no Brasil.
Por fim, quero lembrar que — muito além das decisões de Moro e cia — os responsáveis pela paralisação dos investimentos da Petrobrás no complexo petróleo/gás/construção pesada foram a antiga CGU e a administração de Aldemir Bendine, na Petrobrás, incluindo o irresponsável programa de venda de ativos da empresa. Ambos, o chefe da CGU e o presidente da Petrobrás, subordinados a Dilma Rousseff.
Perdão por me alongar. Mas, em nada nos ajuda alimentar imposturas que nos dificulta enfrentar a nossa grave crise.”
E frente ainda a argumentações sobre o papel de órgãos de espionagem dos Estados Unidos na Petrobras e suas ligações com Moro e cia, ponderei:
” os órgãos de inteligência dos states não inocularam nenhum novo instrumento em nossa institucionalidade. Podem ter, no máximo, reforçado mecanismos de controle no nosso país. Empresas norte-americanas, por exemplo, há muitos anos dominam setores estratégicos dentro da ANP e da Petrobrás. Afora a ampla liberdade com que o escritório da CIA no Brasil e os serviços do FBI, dentro da Polícia Federal, desenvolvem os seus “trabalhos” no país. Isto se dá há muitos anos e durante os governos pós-2002 apenas se aprofundaram. Não precisamos recorrer ao Snowden, ao WikiLeaks ou ao Moniz Bandeira. O DOU — o Diário Oficial da União — nos informa.”
PS do Viomundo: O texto vale um bom debate, para além do ataque gratuito e mesquinho aos Jornalistas Livres
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