Paulo Galo, Hugo Ottati e Vinicius Souza: A esquerda precisa fazer chamado urgente às ruas

Tempo de leitura: 3 min
Foto: Filipe Araújo/BdF

Contra o imobilismo

É necessário um chamado da esquerda às ruas

Por Paulo Galo, Hugo Ottati e Vinicius Souza, em A terra é redonda

Em meio a uma grave crise sanitária, com uma média de mais de mil óbitos diários no país e situações como a do colapso na saúde em Manaus, a postura de Bolsonaro, ora de omissão, ora de medidas antipopulares, evidencia o seu caráter genocida e o seu projeto da morte.

Não se trata de incompetência; mas de escolha política.

Não bastasse a defesa de uma agenda econômica ultraliberal, que, por si só, abre terreno para a precarização e espoliação generalizada da vida e do trabalho do povo brasileiro, a postura assumida por seu governo frente à pandemia é traduzida na ausência de um plano efetivo de vacinação em massa; na recusa em relação à continuidade do auxílio emergencial; no discurso contra a ciência e na campanha anti vacinação; na omissão proposital diante do colapso anunciado no sistema de saúde de Manaus; e reflete sua responsabilidade direta pela morte evitável de centenas de milhares de pessoas.

Na esfera da disputa institucional, desconsiderando o seu discurso de aparência antissistêmica, Bolsonaro fez o que há de mais antigo na política e aquilo que já se imaginava: o toma-lá-dá-cá e a compra de votos de deputados e partidos fisiológicos com representação no Congresso Nacional para garantir a vitória de seu candidato à presidência da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP).

Mas não surpreende essa movimentação e nem a indiferença de Bolsonaro em relação à morte em massa; ou ao desemprego que atinge mais de 14 milhões de pessoas e ao desalento que alcança mais de 5 milhões; ou ainda ao índice crescente de brasileiros e brasileiras em situação de miséria no país.

Na verdade, o desprezo pela vida sempre foi marca de sua história e parte integrante de seu projeto político.

O que é, no mínimo, preocupante é a falta de ação; um certo “imobilismo”.

Sem a intenção de diminuir os panelaços e carreatas que se intensificam pelo Brasil, que, sem dúvidas, constituem manifestações legítimas, é preciso dizer que são evidentemente insuficientes para derrubar Bolsonaro.

Neste contexto de barbárie, no centro do debate político durante o mês de janeiro esteve uma disputa institucional na Câmara dos Deputados, polarizada entre duas candidaturas liberais, conservadores e que em nada contemplam a classe trabalhadora.

Lados que até ontem estavam trabalhando juntos no golpe de 2016; na aprovação da reforma trabalhista, da terceirização total, da PEC do Teto de Gastos, da reforma da previdência e no desmonte do tímido arcabouço de proteção social existente.

Preocupa observar que partidos e organizações socialistas, de esquerda, tenham tido suas discussões e seus esforços durante o último mês direcionados para tal disputa entre Baleia Rossi (MDB) e Arthur Lira (PP).

E que, inclusive, tenham perdido a oportunidade de, nos limites da institucionalidade, endossar uma candidatura independente e radical da esquerda, carregando em seu programa pautas que atendam às necessidades urgentes da classe trabalhadora.

Definitivamente “o anzol da direita fez a esquerda virar peixe”, como disse Criolo, durante a maior parte dos últimos dois meses.

A esquerda e o campo progressista estiveram presos nesse debate entre dois lados da mesma moeda.

No fim, venceu Arthur Lira, candidato apoiado por Bolsonaro, e a política do “quem paga mais, leva” com a liberação de bilhões em emendas – e vale dizer: contando com apoio de parlamentares ditos “do campo progressista”, escondidos no voto secreto.

A derrota de Bolsonaro passa necessariamente pela construção de um projeto de país, de um programa, e de muito trabalho de base e mobilização popular; e não de um espantalho engravatado, nos corredores do Parlamento, que contemple de Dória à Luciano Huck; de Maia à Baleia Rossi; do MDB ao DEM.

Esses personagens e partidos nunca se preocuparam verdadeiramente, para além de discursos vazios, com as nossas vidas.

A manutenção da mobilização da extrema direita estadunidense mesmo com a derrota eleitoral de Trump nos dá a chave para entender que esses fenômenos da nova extrema direita não podem ser derrotados apenas nas urnas.

É preciso que abandonemos as ilusões puramente institucionais como a que colocou no centro do debate político do país essa eleição da Câmara, ao mesmo tempo em que o Brasil é varrido por um tsunami de mortes, sem aqui retomar os impactos diretos que a crise tem nos setores explorados e oprimidos do Brasil.

É necessário romper com os limites impostos pela visão puramente institucional da política (o que não quer dizer abandonar a luta institucional), que nos coloca dentro de um jogo onde não importando o resultado o trabalhador sai derrotado.

Por isso, se faz urgente que a esquerda, que saiu às ruas para pedir voto durante o processo eleitoral, entendendo as contradições e os desafios colocados naquele momento, não tenha medo de fazer um chamado urgente pelo Fora Bolsonaro, pela vacinação de todos e pelo direito à quarentena com renda digna; através da construção de uma frente de luta nas ruas, desde a base, para derrubar o projeto genocida em curso no país.

*Paulo Galo é entregador.

*Hugo Ottati é advogado sindical.

*Vinicius Souza é militante do PSol.


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Comentários

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Bíblia do 17

é preciso lembrar que a cada 8\10 meses que se imunizou terá que fazer novamente. Isso significa que só estaremos totalmente imunizados para permitir qualquer aglomeração daqui uns 20 anos. Ano disto, qualquer manifestação é absurda e doentia

Ingenuidade

Pura ingenuidade: pros Bolsonaristas raiz, Bolsonaro é o melhor líder da história do país. Eles atribuem as mortes “à falta de tratamento precoce com cloroquina, que milhares de vidas poderiam ter sido salvas”. Fazem vista grossa pras demências do seu líder, quando são contraditos com coisas como “ele disse que você vai virar jacaré se tomar a vacina”. Como já me disseram, o eleitor do Bozo é tão ruim quanto ele, querendo exatamente o que ele está fazendo: ver o país de joelhos, sendo uma colônia estadunidense, longe da China, que é má. É uma relação que lembra a Síndrome de Estocolmo. Ao mesmo tempo, revela a crueldade dessas pessoas, que destilam ódio por pobre e Estado, sem entender (ou querer aceitar) que também são pobres (quem desses Bolsonaristas tem jatinho ou ilha em Angra dos Reis?), mas acreditam que se apoiarem “o candidato dos ricos” ou “a política dos ricos” se aproximam deles, logo, se diferenciam do “povão”. Afinal de contas, quem não quer ser chamado de “massa cheirosa”?

Preparem-se pra Bolsonaro reeleito em 2022. Com pandemia, com tudo.

Zé Maria

Em Junho de 2013, foi escrito um comentário
a um post do Jornalista Luiz Carlos Azenha,
aqui no Viomundo, nos seguintes termos:
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FrancoAtirador
19 de junho de 2013 às 07h23
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Um Movimento de Massas contra tudo e contra todos,
isto é, contra o ‘Status Quo’, pode resultar em:

1) Nada; ou
2) Uma Revolução de Esquerda; ou
3) Um Golpe Fascista.

O Resultado será definido por três Fatores Primários:

1) As Forças Armadas e todo Aparelho Repressor do Estado; e
2) A Organização e a Articulação em todas as Esferas; e
3) Os Meios de Comunicação de Massa.

E por três condicionantes fundamentais no Processo:

1) A Instabilidade Econômica do País;
e
2) Um ‘Grande Líder’;
e
3) O apoio da ‘Comunidade Internacional’.
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Em qual fase, precisamente, o Brasil está?
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