Mauricio Dias: A apunhalada de Cabral e Pezão em Dilma

Tempo de leitura: 3 min

Cabral, Dilma e Pezão. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

A presidenta traída

As razões de Cabral e Pezão não são as de Brutus e Cássio, nem por isso deixaram de apunhalar Dilma pelas costas

por Mauricio Dias, em CartaCapital — publicado 28/06/2014 05:17, última modificação 28/06/2014 05:48

Traição anunciada, traição consumada. O ex-governador Sérgio Cabral e o ex-vice dele Luiz Fernando Pezão, este em busca de um mandato completo de quatro anos, tornaram difícil, talvez impossível, as viagens de Dilma Rousseff ao Rio de Janeiro, para fazer campanha eleitoral em palanque armado pelo PMDB, partido com o qual o PT tem instável aliança nacional.

Nos últimos dias, Cabral e Pezão selaram desconcertantes acordos políticos com o PSDB, o PPS e o DEM no plano estadual. Esse grupo inspira o uso daquele velho jogo de palavras. É um trio partidário capaz… de tudo. Têm, agora, a missão de carrear votos para Pezão e também para o presidenciável tucano Aécio Neves. Um reforço inesperado para a oposição no terceiro maior colégio eleitoral do País com um contingente de 12 milhões de eleitores.

Para o PMDB, o racha resulta da rebelião local do PT. Após sete anos e três meses a serviço dos peemedebistas, por imposição da direção nacional, os petistas fluminenses decidiram lançar candidato próprio ao governo estadual. Lindbergh Farias, um ex-cara-pintada que emergiu da eleição de 2010 com histórica votação para o Senado. Foram 4,2 milhões de votos. Mais de um terço do total do estado.

Com a força dessa votação e apoio do ex-presidente Lula, lançou-se como pré-candidato ao governo do estado. Dilma e o PT estão diante de um caso clássico de traição. Há rompimentos em outros estados. No Rio, entretanto, há rastro de traição. Tem um gosto mais amargo. Além de substancial ajuda material do governo federal, a relação política era alimentada por juras públicas de amor sincero e lealdade política.  Sérgio Cabral não digeriu o sapo. Tentou bloquear a candidatura de Lindbergh. Fracassou quando foi chorar no ombro da presidenta. Ele mesmo divulgou a resposta dela: “Isso é coisa do Lula”.

Lula, de fato, tem um projeto de dominar politicamente o Sudeste, onde está quase 50% do total de eleitores brasileiros. Isso faz parte de uma virada no discurso dele. Ficou visível na recente convenção do PT, onde ele apareceu com uma camisa branca com a sigla “PT” sob o blazer preto desabotoado. Franca exibição. Desta vez, o ex-presidente temperou a necessidade de alcançar o objetivo nacional, a reeleição de Dilma, com ênfase na eleição de governadores, senadores e deputados petistas.  Sérgio Cabral pagou com a mesma moeda a resposta que ouviu de Dilma. Mas a moeda dele tinha cara e coroa. Refundida virou um punhal.

A arma branca estava preparada desde que emergiu um movimento chamado “Aezão” (Aécio mais Pezão), aparentemente comandado por Jorge Picciani, milionário político interiorano, presidente do PMDB fluminense e extremamente ligado a Cabral.  Diante dos afagos de Cabral e Pezão, a reação, naquele momento, parecia uma ovelha desgarrada do rebanho.

Logo após o momento em que as pesquisas começaram a indicar uma possibilidade de Dilma não ganhar no primeiro turno, armou-se a cena final de violação do acordo. Ou seja, a traição. Cabral e Pezão não são movidos pelas razões que levaram Brutus e Cássio a apunhalar César. Cabe, porém, lembrar Marco Antônio: segundo Shakespeare, diante do corpo sangrado  do cônsul abatido  aos pés da estátua de Pompeu, diz: “A ambição torna as pessoas duras e sem compaixão”.

Ambição, seu nome é política.

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Antônio de Souza: As duas caras de Aécio


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Comentários

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Arthur

Agora o palanque no Rio ficou mais simples. Não foi traição, foi um favor. Quando o povão da baixada e São Gonçalo virem juntos Lindberg, Lula e Romário, Pezão vai lamentar. Na verdade, o adversário aqui é outro.

Janemm

Análise perfeita. Texto primoroso. Só espero e confio que Dilma dê a volta por cima.

lukas

É ofensa pessoal qualquer pessoa ou partido ter um projeto que não esteja subordinado ao PT.

O sonho dos petistas é que partido, governo e Estado virem uma coisa só. Já é na cabeça deles…

Cláudio

… “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …

Julio Silveira

Política é isso aí, o PT lançou candidato no estado e o PMDB que tem seus próprios interesses, então fazer o que? Cada um corre atras de seu interesse, novidade nenhuma. Em política traições são a regra com as regras que norteiam a política. Ruim mesmo e quando resolvem trair o eleitor.

Marat

Mas o homem dos 21% não crescerá mais que isso… ele veio do pó e ao pó retornará!

FrancoAtirador

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A sempre penúltima atualização do quadro eleitoral no Estado do Rio de Janeiro.

(http://www.ocafezinho.com/2014/06/22/eleicoes-no-rio-samba-do-criolo-doido-ou-loucura-planejada)
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Zanchetta

Quer dizer então que o PMDB do RJ quer fazer seu sucessor e o partido da Presidente lança um candidato como oposição ao seu governo e o traidor ainda é o PMDB?

Que lógica é essa???

Patricio

O PT tem poucos meses para mostrar o que não é bunda-mole, ao contrário desse trio pavoroso. O PT tem sua história fincada ma luta dos trabalhadores. Será que seus dirigentes não perceberam que cada vez que se aproximam da sujeira, mais distantes ficam da limpeza?

Urbano

Se se perguntar ao cabral onde se encontra o lençol, certamente dirá que deruriu (diluiu-se)…

francisco c c pessoa

E se Pezão ganhar a Dilma também ganhar como fica o Rio de Janeiro, depois de tantas obras do governo federal?.

    marcio gaúcho

    Fica como está e continuará recebendo cada vez mais verbas federais, pois é o maior colégio eleitoral do país e o estado que mais arrecada impostos. Então, nada de anormal.

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